THE FLASH BACK CLUB
Estrada do Rosário com Rua Projetada A - Jd Primavera - Caxias
Sabe quando você constata que não fez tantos amigos do jeito que queria ter feito? Quando rebobina o filme da sua vida e vê que a maior parte deles eram apenas escoltas ocasionais para algum tipo específico de empreitada e que suas descobertas foram, em maioria, solitárias. Muitos desses supostos amigos ficaram perdidos no tempo, esquecidos no limbo que vegeta entre o mero coleguismo e a amizade sólida. Porém, não se culpe pelo seu deserto pessoal, não admita que julguem a sua solidão. Há homens que descendem de Lobos e ser um misantropo, um licantropo, faz parte da sua natureza. Também existem os outros, aqueles que evoluem de Antílopes, Cervos, ou Gazelas, não sobrevivem sem a pseudoalegria ruidosa das manadas.
A liberdade não gosta de companhia.
Sobre o sexo, quase não me atrai mais o cativeiro bolorento e tedioso das Termas, com seus tipos enfadonhos e mulheres cansadas; pouco, também, me apetece o ganancioso esquema delivery das Frees. Meu desejo precisa da adrenalina, do ilusório sabor doce e quente da caça.
Sou um trivial Professor durante a claridade do dia, mas após o por do Sol desço às estepes escuras e me transformo em personagem de mim mesmo.
Anoitece!... Entro no carro, giro a chave na ignição sem engatar o câmbio; acelero e escuto o grito indomado do motor; aciono o bigorrilho e o letreiro no teto do automóvel se acende: táxi. Ligo o CD e uma balada forte estremece a cabine – Evanescence: Call me when you’re sober.
http://www.youtube.com/watch?v=cEoP43Pv57k
Solto o freio de mão, encaixo a marcha e deixo os pneus deslizarem sobre o asfalto, nosso Oceano.
A partir de agora, qualquer aventura é possível!...
Sábado, perto das nove da noite. Os faróis cortam as vias penumbrosas da Tijuca, ganho a Rua Uruguai e dobro na Maracanã. Avisto a mão que acena pela minha parada, encosto, duas mulheres entram no carro e me pedem para levá-las ao Nova América.
As fêmeas eram bonitas e eu poderia dizer que estavam “vestidas para matar”. Minissaias ousadas, decotes provocantes e um charme dissimulado. Sim, colega Forista, nossos pensamentos estão sintonizados, cheguei a cogitar que pudessem ser GPs, mas nem todos os enigmas surgem para serem desvendados.
Não demorou para que eu cruzasse o sombrio bairro do Jacaré e alcançasse o Shopping de Del Castilho. Havia um burburinho forte nos arredores, as garotas desembarcaram e uma velha entrou afoita para tomar o lugar delas no banco de trás, queria ir para Irajá. Navego pela Automóvel Clube e ancoro na Monsenhor Félix, é onde ela fica.
Tentando voltar para a Tijuca, atravessei a Vila da Penha e próximo ao Largo do Bicão vejo um rapaz esticando os braços. Paro e ele me pergunta se posso levá-lo a Duque de Caxias, explico que nada conheço naquelas bandas, mas ele se prontifica a me explicar o caminho. Desembocamos na Av. Brasil, e os ventos do acaso nos guiaram pela Washington Luís.
O trajeto durou alguns punhados de minutos e finalmente alcançamos um lugar chamado Estrada do Rosário, em Jardim Primavera, um bairro remoto, enfurnado nas entranhas de Caxias. O sujeito me pede para encostar próximo a um galpão, numa Rua de ladeira chamada “Projetada A”. Havia uma espécie de baile e o rapaz me revelou sussurrando que era um Flash Black conhecido na região, recheado de mulheres e “primas” da Baixada.
Como nada é por acaso, se eu havia chegado até ali é porque o velho Destino me convidava para desbravar a boate. Mesmo sem apetite por mulheres biscates àquela noite, decidi arriscar. Estacionei o carro um pouco mais adiante, abri a porta-malas e troquei minha blusa de malha por uma camisa social preta que levo para me servir em situações imprevistas. Com o novo traje, eu estava devidamente uniformizado para enfrentar a batalha com o desconhecido.
A adrenalina só flui diante do imprevisível.
Logo na entrada, avisto a faixa que dá nome ao lugar: The Flash Back Club.
Pago o modesto ingresso de R$ 10,00 e acesso o salão. Ambiente espaçoso, não muito iluminado, decorado com um enorme globo espelhado no centro e a pista retangular coberta por um imenso tapete vermelho margeado por flores artificiais, o que dava um toque cafona à paisagem. Quantidade razoável de mulheres, algumas com aparência óbvia de Gps e outras que eu não me atreveria em abordar agressivamente.
Assim que rompo a recepção o DJ engrena um antigo sucesso do Air Supply – All Out of love – e foi ao som dessa balada que, logo de cara, avistei uma loura com rosto de anjo, cabelos compridos, sombras fortes em torno dos olhos, uma franjinha que lhe realçava as feições inocentes e o corpo emoldurado por um comprido vestido em estilo hippie.
O Destino é um velho fanfarrão, gosta de nos pregar peças, conduziu-me às profundezas de Caxias, me fez entrar numa boate de flash back e tentou impressionar me mostrando uma loura de face suave surgindo à minha frente ao embalo de Air Supply. Mas não nego, ele atingiu seu intento, fiquei inebriado com a aparição da loura e desconcertado com o tema All out of love que tocava ao fundo.
Contrariando meus temores com a lei seca, procurei o bar da boate, percebi que precisaria despertar meus talentos, era hora da Ypioca com Catuaba. Infelizmente, fui informado pelo Barman que a Catuaba estava em falta. Rapidamente bolei uma mistura nova, juntei uma generosa dose da cachaça a uma fração de guaraná. Ao ingerir o primeiro gole tive a sensação de que o meu corpo inteiro estalava, uma nova onda de energia se apoderava do meu espírito.
Retornei ao ponto onde vi a loura, ela permanecia ao lado de uma mesa em que duas coroas esbaldavam-se na cerveja.
Acredite, Forista sem fé, neste momento as caixas de som exalaram o tema de Ghost - Unchained Melody – na voz de Elvis Presley. Iniciou-se uma invasão de casais ao centro da pista, hora da dança. Esbaforido, sem dar espaço ao pensamento, transpirando pelo efeito da aguardente, me adiantei e convidei a loura para dançar. Creia, meu colega cético, ela aceitou.
Nesta altura do relato, me cabe reforçar uma antiga teoria. Putanheiros e Putas são como mercúrio e se atraem de maneira irrefreável. Por mais que um Libertino tente fugir ao seu fado, ele sempre acaba esbarrando nas grades invisíveis da putaria. Ser Putanheiro é padecer aprisionado no Paraíso da promiscuidade.
Colei meu corpo ao da loura, ela era esguia. Senti um perfume envolvente que vinha dos seus cabelos, aroma de pêssego. A mulher cheirava a pêssego! Amarrado àquele corpo, nada podia ser mais afrodisíaco do que pêssego. Inaugura-se, então, o diálogo que confirma a tese que citei acima.
- Eu conheço você – diz a loura.
- De onde?! – respondo surpreso.
- Já te vi na Help.
- Na Help?! Mas pouco tenho ido lá. Deve estar me confundindo.
- Não. Foi você mesmo que vi.
- Qual seu nome? Você trabalha na Help?
- Clara. Às vezes vou lá.
- E hoje? Vamos poder ficar juntos, Clara? – Entro de sola.
- Se você me der uma “caixinha”... – Ela é quem atinge minha canela.
- Quanto?
- R$ 80,00
- Só posso te dar R$ 50,00
- Tá Bom!
- Conhece algum Motel aqui perto?
- Têm alguns bons na Washington Luís.
- Você vai ter que me ajudar a chegar lá, não conheço nada por aqui.
- Quer ir agora?
- Podemos?
- Vamos! Vou só pegar minha bolsa.
Sim, colega Forista, o Putanheiro é um amaldiçoado. Naquela noite, em que pretendi fugir da putaria, terminei com uma Puta de Flash Back na cama.
Escolhemos um dos inúmeros motéis da Washington Luis. Entrando no quarto, encosto a mulher na parede e provo sua boca. Um beijo delicioso.
Ela desabotoa minha camisa, afrouxa meu cinto e eu trato de me despir.
Deito na cama e ela, em pé, começa a suspender o comprido vestido hippie. Confesso, ao ver a barriguinha chapada, zero de gordura, fiquei bem impressionado. No entanto, a pouca luz do quarto denunciou o resto do corpo: as pernas também seguiam a linha zero de gordura, não havia coxas, eram finas como as de uma garça; zero de seios, que demonstravam existir apenas pelos pequenos biquinhos rosados e saltados; o bumbum, seguindo essa mesma escala, poderia ser classificado com o grau menos um, parecia curvado para dentro e não para fora, como seria o natural.
A loura era um rosto de Anjo Barroco sobre um esqueleto Gótico.
Não sei se a culpa foi do meu entusiasmo pelos belos traços angelicais da menina ou se o vestido hippie funcionava como estratégia para disfarçar o corpo cadavérico. O que sei é que não notei a magreza da moça até que ela tirasse a roupa.
Continuamos a bolinação, eu insistia na tentativa de encontrar vestígios de carne naquele baú de ossos. Ela veio por cima de mim, desceu lambendo meu tórax e me fez um boquete bem caprichado. Mudou de posição de repente, ficou de quatro, foi quando reparei que a região onde deveria existir a bunda se transfigurou, assemelhando-se a duas lanças pontudas e voltadas para trás. Era o efeito da aridez de pele sobre os ossos curvados. De quatro, a loura se transformava numa arma branca.
Confiei que o meu abdômen, acolchoado pelos quilos a mais que ganhei recentemente, amorteceria o impacto do choque com os dois punhais que emergiam daquele bumbum. Penetrei na chaninha úmida da Clara. O gemido gostoso da menina me fez esquecer o perigo pontiagudo de suas nádegas e gozei rápido.
Aleguei que precisava ir embora e ela me disse que iria aproveitar o período de doze horas para dormir no Motel, me pediu um extra para o táxi. Recoloquei meu uniforme, deixei o dinheiro sobre a mesa de cabeceira e saí.
A madrugada ia alta, embarco no Sucatão, meu fiel veículo, estou cansado, mas sinto o êxtase do instinto pacificado. Encaixo a chave na ignição e giro sem engatar o câmbio, o motor ronca sua fúria indomada, acendo o bigorrilho sobre o teto do carro e o letreiro exibe a palavra “táxi”. Não sei qual será o nosso rumo... Talvez eu esbarre com a sua mão me acenando, colega Forista, talvez seja você quem me aponte o caminho da próxima jornada.
Passo a marcha e solto lentamente a embreagem enquanto acelero, os pneus invadem o mar negro do asfalto. Ligo o CD e a batida rebelde do U2 inunda a cabine: Spanish Eyes.
http://www.youtube.com/watch?v=h2arCAn1 ... re=related
A partir de agora, qualquer aventura é possível!...