(by Zé domingos)
CONCURSO “A MAIS BEM BOLADA” OUTRA ATRAÇÃO QUE DESAPARECE IDEALISTAS MANTÉM CARNAVALNotícias — 05 março 2011
Por Zé Domingos
Curitiba nunca foi uma cidade voltada inteiramente para o Carnaval. Talvez pelo próprio jeito de ser de sua gente o Carnaval aqui não encontra a mesma receptividade popular que outras localidades. Há seguimentos que defendem que Curitiba deveria buscar alternativas promocionais para atrair para cá pessoas que nestes dias procuram tranqüilidade para descansar. Mesmo sem campanhas publicitárias neste sentido muitas pessoas vem para Curitiba, no sentido de passear, visitar amigos ou parentes, outras para conhecer. Mesmo tendo algumas promoções carnavalescas a cidade fica nestes dias bastante tranqüila.
Uma das mais tradicionais promoções carnavalescas surgida nos anos 70 por iniciativa de um cidadão conhecido por Barriga funcionário do jornal Tribuna do Paraná, o concurso “A MAIS BEM BOLADA”, reunindo mulheres das casas noturnas da cidade e que alcançou grande sucesso, atraindo grandes públicos teve sua ultima edição no ano passado.
O fotógrafo Mário Neri que substituiu Barriga, na organização do evento vinha a alguns anos enfrentando diferentes desafios para desenvolver o projeto. A promoção que teve como primeiro local a Sociedade Batel depois passando para a sede do Atlético Paranaense, naquele tempo Ginásio de Esportes, passou a ser realizada em diferentes locais. Arrumar local passou a ser um dos problemas. As mudanças seguidas evidentemente traziam problemas, até mesmo para a presença de público. Este foi diminuindo e com mais dificuldades surgindo.
Mulheres deixaram de se interessar pela participação por entenderem não se interessante profissionalmente. Proprietários de boates também passaram a apresentar barreiras para a presença de suas freqüentadoras. Enfim uma série de fatores fez com que a promoção que teve anos gloriosos deixasse de ser realizada à partir deste Carnaval. É mais uma das atrações do Carnaval de Curitiba, que desaparece.
A idéia do concurso “A Mais Bem Bolada” surgiu do sucesso dos bailes de segundas-feiras no Operário, onde travestis participavam de um concorrido concurso. Os travestis se apresentavam com lindos vestidos, belos penteados, maquiagens avançadas, procuravam o melhor para ganhar as simpatias do público e da comissão julgadora. Vinham travestis de vários estados. Era uma grande festa e vários anos fui seu apresentador, bem como participei de comissões julgadoras.
Os bailes de Carnaval no Operário eram dos mais concorridos e os das segundas-feiras dia do concurso era sucesso garantido. Meses antes as mesas estavam vendidas, convites igualmente. O clube lotava. Compareciam personalidades da mais alta sociedade, autoridades, a maioria com mascaras para não serem identificadas. Um grande “auê” com o Presidente Edgard Antunes da Silva – Tatu, o Diretor Social o radialista Moisés Harmuch, o homem do programa das bandinhas pela Rádio Marumbi, satisfeitíssimos. Havia participação de toda a diretoria, pois, o Carnaval no Operário, era trabalhoso, mas altamente lucrativo. Aqueles velhos dirigentes foram falecendo, os costumes foram mudando e o Operário, perdeu a força e hoje está fechado, o que é lamentável, pois é um dos mais antigos e tradicionais clubes da cidade. A sede está abandonada. Várias sociedades desapareceram, algumas se arrastam, outras estão fechadas ou em caminho de extinção.
Mas diante do sucesso do baile dos travestis o Barriga lançou a idéia do concurso “A Mais Bem Bolada” e logo no primeiro ano foi sucesso total. Mulheres de praticamente todas as boates se inscreveram e naquela época eram muitas as casas noturnas em Curitiba, Moulin Rouge, Marrocos, Stardust, Graceful, Metrô, Jane 1 e 2, La Vie em Rose, Cádiz, Manhattan, Tropical, Cavanhaque, Gogô da Ema, Quatro Bicos, Castelinho, Casa de Campo, isto para citar apenas algumas. Os primeiros concursos ocorreram na Sociedade Batel, nas noites de domingo justamente para não concorrer com o do Operário. Face ao sucesso e o salão da Sociedade Batel, ser pequeno e também apresentar problemas de falta de segurança foi transferido para a sede do Atlético.
Depois surgiu o baile da “Mistura”, imaginado pelo empresário artístico Antonio Gil, então Diretor Social do Atlético. Tal baile foi realizado durante alguns anos na terça-feira. Houve também o Baile da Ressaca, realizado no Operário, no primeiro sábado após o Carnaval. Praticamente todos os clubes realizavam bailes de Carnaval com orquestras, raros os que usavam música mecânica.
Nos anos 50, 60 e até 70 havia o corso com homens e mulheres fantasiados desfilando pela Rua XV de Novembro. Naqueles tempos o transito era aberto para carros e muitos com seus veículos sem capota desfilavam jogando lança perfume, confetes, serpentinas e água nos foliões. Era só alegria. Havia desfiles de escolas de samba, mas sem concurso.
Depois passaram a ser organizados pela Prefeitura os concursos das escolas de samba que aconteciam como ocorrem hoje no sábado. Colorados, Não Agite, Asas da Alegria, Embaixadores da Alegria, Bola Preta, algumas das escolas. Com o desaparecimento da Asas da Alegria, ligada a Base Aérea e ao Ícaro Atlético Clube, do Bacacheri, sendo um dos seus baluartes Lauro Carvalho Chaves, o Baio, vereador de vários mandatos em Curitiba, seus componentes fizeram acordo com a Sociedade Dom Pedro II, ensaiando em suas dependências. A escola passou a ser chamada D. Pedro II. Doisou três anos depois a Sociedade D. Pedro II, resolveu não apoiar a escola e ela se transferiu para o Pinheiros, passando a ser chamada Mocidade Azul, denominação que tem até hoje. Osvaldo Afunda, Jubal, Charrão, Orlando, Amauri, Noli, foram grandes nomes da Mocidade Azul, como Glauco Souza Lobo, Carlos Fernando Mazza, Lima, Carlos Nasser, pela Não Agite, Embaixadores da Alegria, com a liderança do Advogado José Cadilhe de Oliveira, depois da família D’Avila, aliás, até hoje, Ismael Cordeiro, Neil, Vico, Nelson Cordeiro, na Colorados.
Ainda surgiram Ideais do Ritmo, comando do saudoso Chocolate, Aristocratas do Ritmo com liderança do Mauro, Unidos do Boqueirão, com Mestre Libanio, Foliões da Mocidade, Sapolandia com Julinho, Zebra no Batuque e outras. Houve também durante dois ou três anos o Concurso da Resistência, na Praça Tiradentes, onde hoje tem uma agencia do Banco do Brasil. O objetivo ficar sambando durante três noites e três dias sem parar. O que mais agüentasse ganhava premiação em dinheiro. Entendendo ser a promoção uma afronta a saúde, as autoridades a proibiram. Havia concursos de fantasias infantis e adultos em vários clubes.
Eram inúmeras as promoções de Carnaval e hoje estão restritas. Poucos clubes realizam bailes, os concursos desapareceram e o desfile das escolas de samba não tem mais a mesma força de anos passados. Por isto o destaque de que Curitiba é uma cidade tranqüila no Carnaval e para quem não quer balburdia e um ótimo local para se descansar.
Os hotéis estão lotados, mas a maioria dos hospedes tem o objetivo de fugir do Carnaval, agitado de outras cidades. Para aqueles que gostam tem bailes em alguns clubes, bem como o bloco Rancho das Flores, que abre o desfile no sábado e todos podem participar e o desfile das escolas de samba no sábado. A cidade não fica totalmente alheia, mas é diferente de outras que promovem o Carnaval com toda a intensidade possível.
José Domingos Borges Teixeira; in
http://www.josedomingos.com.br/2011/03/ ... -carnaval/