Em 2014, às vésperas da Copa do Mundo no Brasil, o guri gremista de 9 anos chega todo eufórico para o jogo contra o São Luiz de Ijuí, pelo Gauchão, única competição que ele viu seu time ganhar até então. Ao entrar no estádio ele se dirige ao pai:
– Pai, porque nosso estádio não tem o distintivo do nosso time?
– É porque... bem... deve ser porque o estádio ainda não é nosso, meu filho... só vai ser nosso quando tu tiveres uns trinta anos.
– Ah, que pena! Por isso que a Copa vai ser no Beira-Rio?
– Não sei direito, deve ser porque na época em que escolheram os estádios a gente ainda não tinha um.
O menino resolveu então mudar de assunto, pois viu que o pai ficou um pouco incomodado. Ainda mais entusiasmado, ele comenta:
– Pai... ontem o meu amigo falou sobre uma vitória heróica do nosso time, uma tal de Batalha dos Aflitos. Como foi isso pai? Foi decisão do Mundial, da Libertadores, Sulamericana, Brasileiro?
– É... humm... foi final do Brasileiro, meu filho!
– Legal pai... e contra quem foi? Inter, São Paulo, Flamengo, Santos?
– Não filho... na verdade foi pelo Campeonato Brasileiro da 2ª Divisão, contra o Clube Náutico Capibaribe, de Pernambuco, Estado com grande tradição no futebol brasileiro daquela época. Com isso conseguimos subir para a Série A pela segunda vez!
– Segunda vez? Então teve outra Batalha dos Aflitos, pai?
– Não filho... na outra vez acho que ficamos em nono ou décimo.
– Ué, mas não sobem só 4?
– É que naquele ano a CBF mudou o regulamento para nos dar uma forcinha.
– Ah tá... – sussurrou o guri, meio cabisbaixo.
Ficou calado por alguns segundos e voltou a questionar o pai:
– Mas o Inter já passou por algum fiasco parecido com esse pai?
Aí o pai se encheu de orgulho, estufou o peito e relatou:
– Filho, tu nem sabe... uma vez eles perderam de dois a zero para um tal de Mazembe!
– É mesmo pai? Hahahaha. Que legal! Foi pela 2ª divisão do Brasileiro também?
– Não filho... foi pela semi-final do Mundial de Clubes da Fifa, em 2010. Era um time do Congo, campeão do continente africano. Naquele ano o Inter acabou ficando em terceiro ou quarto, nem lembro.
– Bah... que vexame! Nós nunca ficamos em terceiro no Mundial de Clubes da Fifa, né pai?
– Não filho... na última vez que a gente chegou lá, no século passado, quando o pai ainda era guri, só jogavam dois times, um europeu e um sul-americano.
– Mas pai... naquela época o mundo só tinha dois continentes?
– Claro que não, meu filho... tinha cinco, como hoje!
– Mas então porque a Fifa não convidava os outros campeões continentais?
– Bem filho... na verdade naquela época não era a Fifa que organizava o torneio... era uma montadora de carros.
– Ah... então nós fomos vice-campeões de um torneio mundial de dois times organizado por uma fábrica de carros?
– É filho... na verdade era um torneio Intercontinental, mas a gente chamava de Mundial... deixa isso prá lá... Olha lá nosso time entrando em campo!!!
– Pai... eu queria um argumento para zoar os meus colegas colorados, mas não consigo.
Eles têm mais sócios, nos venceram mais vezes, têm estádio próprio e já ganharam todos os títulos importantes que nós já ganhamos.
Como eu posso tirar sarro deles então?
– Ah... sei lá... diz que ganhamos o primeiro Gre-nal por 10 a 0.
– Isso... legal pai... pelo menos tenho uma coisa para falar!!! Tu chegaste a ver esse jogo pai?
– Não filho... mas o pai do teu bisavô viu!
Depois dessa o guri resolveu ficar quieto, assistiu o jogo e no final saiu vibrando com a conquista de uma vaga para a final do Gauchão, pois desde pequeno se acostumou a ver o pai comemorando vagas ao invés de títulos...