Também conheci a série com alguns anos de atraso (quando comecei a assistir a primeira temporada a série já estava na terceira no Estados Unidos) e, assim como ocorrei quando comecei assistir House, não gostei muito logo de cara. A princípio me pareceu só uma transposição para a tv da tradição do cinema americano de retratar assassinos em série. E de fato é - com todos os clichês (trauma na infância, obssessão por ordem e limpeza, normalidade apenas aparente, falta de interesse por sexo, inteligência acima da média.... tudo aquilo que quem já assistiu filmes de mesmo tema já conhece de cor). A sacada maior da série talvez seja colocar esse assassino a "serviço do bem", da justiça, dando um propósito nobre aos seus impulsos. Uma espécie de vigilante, um tema bastante recorrente nas séries americanas atuais, já que nelas, hoje em dia, não se encontra um protagonista totalmente honesto, todos cometem algum tipo de transgressão e alguns beiram ou ultrapassam os limites morais e legais. Não é à toa que o pai do Dexter seja policial e se chame Harry (referência ao lendário personagem de Clint Eastwood, ícone da chamada justiça com as próprias mãos) e, percebendo os impulsos homicidas precoces do filho, resolva dar-lhes uma boa direção - já que o filho está destinado a se tornar um assassino, que seja um assassino do bem - e ensiná-o um código, um filtro para decidir quem serão suas vítimas, apenas assassinos que escapam ao sistema justiciário. O outro grande trunfo da série (fora os roteiros muito bem escritos, algo que se tornou padrão na tv americana) é o ator Michael C. Hall (ex-Six Feet Under, ou A Sete Palmos do Chão) que, assim como Hugh Laurie em House ou Charlie Sheen em Two and a Half Man, se encaixe naqueles raros casos de ator perfeito para o papel. Ou alguém consegue imaginar um outro nome para representar tão bem esse assassino?
Um dos defeitos da série reside na sua qualidade: Dexter Morgan é um serial killer que mantém uma vida aparentemente normal e segue o código do pai simplesmente porque é a única maneira dele matar e não ser preso, dele sobreviver; a todo instante ele diz que seu emprego, a relação com a irmã, com os colegas e com a namorada não passam de um disfarce, que apesar de saber como uma pessoa normal e com sentimentos se comporta, e de saber simular isso, ele não sente nada; que a única coisa que o tira de seu torpor é a compulsão por matar. Mas seu discurso não convence muito, já que os roteirstas da série, no intuito de fazer com que o espectador se identifique com o anti-herói, suavizam cada vez mais o personagem, toranando-o mais humano. Afinal quem se identificaria com um assassino em série, frio, violento, que mata pessoas inocentes? Certamente não o público americano, com sua relação tão traumática com serial killers na vida real. Então, série ousa, mas ousa pela metade. E também é uma série de um único tema que tende a se esgotar rápido. As duas primeiras temporadas (as melhores) são as mais sombrias e mais bem escritas, talvez por ser ainda novidade e por se basearem quase que totalmente nos livros. A terceira é fraca, uma bela de um derrapada corrigida na quarta temporada com a participação do veterano do cinema (embora não muito conhecido) John Lightgow, como um serial killer mais vivido e rival de Dexter e a volta do agente do FBI Lundy. Já na quinta, temporada fraquinha também, e a primeira que não se baseia nos livros originais, a série mostra sinais visíveis de cansaço. Para mim o tema já esgotou. Só espero que a sexta temporada traga algo de instigante e não façam como vem sendo feito com House, mantendo a série em estado de vegetação, apodrecendo, ao invés de desligar os fios enquanto os fãs ainda tem uma boa lembrança dela.