bem, esse texto foi copiado de uma e-mail que recebi.
Adultério, uma questão delicada“Já pensei muito no que aconteceu comigo, não consigo entender, não consigo me conformar...Olha, eu acho que descobrir que o marido é pansexual é muito pior do que descobrir que o marido é gay. Preferiria muito mais ter surpreendido meu marido na cama com outro homem do que passar o que eu passei: entrar em casa e flagrar o meu marido com a mesinha de centro.
O pior é que eu nem consegui acabar com o meu casamento. Como é que eu ia acabar com um casamento aparentemente tão feliz? As nossas famílias, os nossos amigos, todo mundo pensava que a gente era feliz, eu também pensava. Acho até que a gente era, não fosse a mesinha de centro. Resolvi continuar com o casamento porque, sabe, o meu marido também ficou arrasado, chorou e tudo, disse que era uma fraqueza dele, até pediu perdão. E depois, perder o marido pra mesinha de centro? Isso eu não merecia.
Mal sabia eu que aí começava o verdadeiro inferno do meu casamento. Imagine só como é a vida doméstica com um marido que não faz restrições ao prazer. Comecei a desconfiar de todos os meus eletrodomésticos, morria de ciúmes do liquidificador, do jeito carinhoso como ele segurava o telefone sem fio. Fiz um escândalo a manhã que encontrei um melão ao lado da cama, a nossa cama. Uma outra vez, absolutamente descontrolada de ciúmes, enchi a lava-louças de chutes, aquela ingrata, eu que tinha botado ela pra dentro de casa e agora me aprontava essa.
E eu sempre me esforçando para parecer mais bonita que a geladeira, abusando dos decotes, das fendas e saltos para ficar mais sedutora que o abajur. Cortes de cabelo carésimos, queratinização molecular dos fios, uma coloração nova a cada semana. Aplicação de polifenóis de alcachofra, mesoterapia e esfoliação no rosto dia sim dia não. Tudo para competir com a escrivaninha, o escorredor de pratos, minha bicicleta ergométrica.
Nem desabafar com as minhas amigas eu podia. Nem com a minha mãe, como é que eu ia dizer pra minha mãe: “Eu acho que me marido anda me traindo com os meus móveis.”? A mulher do pansexual não tem voz, não tem direito nem ao desabafo.
Anos vivendo assim. Eu sentia a cara dos meus móveis me olhando, cada um dos meus eletrodomésticos e até as minhas roupas riam de mim. Alguns poucos demonstravam piedade – a estante de livros do nosso quarto era uma das únicas - mas eu sei que era motivo de piada para a maioria, e cada um deles era um inimigo em potencial. Seis anos vivendo essa tortura doméstica.
Até que um dia, à noitinha, quando entrei em casa, meu marido não estava e as luzes ainda estavam todas apagadas, assim que abri a porta fui recebida com uma estridente gargalhada do mancebo que fica no hall de entrada, o mancebo austríaco do século XVII que eu mesma havia restaurado. Foi exatamente ali que eu resolvi abandonar aquela casa de horrores. A minha casa toda zombava de mim, eu não podia mais continuar lá dentro se até o mais cafona objeto de decoração me lançava olhares provocativos de “eu sou amante do seu marido”.
Parada na porta ainda pensei em incendiar a casa antes de partir, queimar todos aqueles traidores. Depois achei que não valia a pena, o mundo está cheio de outros móveis e em qualquer esquina haveria outra mesinha de centro. Admiti que tinha perdido e resolvi ser uma boa perdedora, deixei a casa com todos os amantes dentro para meu marido infiel e seu prazer irrestrito. Tranquei a porta e saí, para sempre.
Aceitei dar o depoimento porque imagino que muitas mulheres vivem esse mesmo drama em segredo. Resolvi falar para encorajar essas sofredoras que assim como eu vivi, vivem reféns de suas próprias casas, sem coragem de admitir para o mundo que foram trocadas pela mesinha de centro."
Adultério, uma questão delicada“Já pensei muito no que aconteceu comigo, não consigo entender, não consigo me conformar...Olha, eu acho que descobrir que o marido é pansexual é muito pior do que descobrir que o marido é gay. Preferiria muito mais ter surpreendido meu marido na cama com outro homem do que passar o que eu passei: entrar em casa e flagrar o meu marido com a mesinha de centro.
O pior é que eu nem consegui acabar com o meu casamento. Como é que eu ia acabar com um casamento aparentemente tão feliz? As nossas famílias, os nossos amigos, todo mundo pensava que a gente era feliz, eu também pensava. Acho até que a gente era, não fosse a mesinha de centro. Resolvi continuar com o casamento porque, sabe, o meu marido também ficou arrasado, chorou e tudo, disse que era uma fraqueza dele, até pediu perdão. E depois, perder o marido pra mesinha de centro? Isso eu não merecia.
Mal sabia eu que aí começava o verdadeiro inferno do meu casamento. Imagine só como é a vida doméstica com um marido que não faz restrições ao prazer. Comecei a desconfiar de todos os meus eletrodomésticos, morria de ciúmes do liquidificador, do jeito carinhoso como ele segurava o telefone sem fio. Fiz um escândalo a manhã que encontrei um melão ao lado da cama, a nossa cama. Uma outra vez, absolutamente descontrolada de ciúmes, enchi a lava-louças de chutes, aquela ingrata, eu que tinha botado ela pra dentro de casa e agora me aprontava essa.
E eu sempre me esforçando para parecer mais bonita que a geladeira, abusando dos decotes, das fendas e saltos para ficar mais sedutora que o abajur. Cortes de cabelo carésimos, queratinização molecular dos fios, uma coloração nova a cada semana. Aplicação de polifenóis de alcachofra, mesoterapia e esfoliação no rosto dia sim dia não. Tudo para competir com a escrivaninha, o escorredor de pratos, minha bicicleta ergométrica.
Nem desabafar com as minhas amigas eu podia. Nem com a minha mãe, como é que eu ia dizer pra minha mãe: “Eu acho que me marido anda me traindo com os meus móveis.”? A mulher do pansexual não tem voz, não tem direito nem ao desabafo.
Anos vivendo assim. Eu sentia a cara dos meus móveis me olhando, cada um dos meus eletrodomésticos e até as minhas roupas riam de mim. Alguns poucos demonstravam piedade – a estante de livros do nosso quarto era uma das únicas - mas eu sei que era motivo de piada para a maioria, e cada um deles era um inimigo em potencial. Seis anos vivendo essa tortura doméstica.
Até que um dia, à noitinha, quando entrei em casa, meu marido não estava e as luzes ainda estavam todas apagadas, assim que abri a porta fui recebida com uma estridente gargalhada do mancebo que fica no hall de entrada, o mancebo austríaco do século XVII que eu mesma havia restaurado. Foi exatamente ali que eu resolvi abandonar aquela casa de horrores. A minha casa toda zombava de mim, eu não podia mais continuar lá dentro se até o mais cafona objeto de decoração me lançava olhares provocativos de “eu sou amante do seu marido”.
Parada na porta ainda pensei em incendiar a casa antes de partir, queimar todos aqueles traidores. Depois achei que não valia a pena, o mundo está cheio de outros móveis e em qualquer esquina haveria outra mesinha de centro. Admiti que tinha perdido e resolvi ser uma boa perdedora, deixei a casa com todos os amantes dentro para meu marido infiel e seu prazer irrestrito. Tranquei a porta e saí, para sempre.
Aceitei dar o depoimento porque imagino que muitas mulheres vivem esse mesmo drama em segredo. Resolvi falar para encorajar essas sofredoras que assim como eu vivi, vivem reféns de suas próprias casas, sem coragem de admitir para o mundo que foram trocadas pela mesinha de centro."