SADOMASOQUISMO: ESTE INCOMPREENDIDO ...
Dr. Bernardo Lynch de Gregório
Médico Psiquiatra e Psicoterapeuta
São Paulo/SP
O termo Sadomasoquismo (SM) designa uma tendência para práticas sexuais que incluem as idéias de dominação e submissão ou de impingir ou receber estímulos dolorosos mais ou menos intensos ligados ao prazer, bem como a idéia de diversos tipos de sofrimentos impingidos a si ou ao(s) parceiro(s). O termo “sadismo” refere-se ao escritor francês Donatien Alphonse François, o Marquês de Sade, e o termo “masoquismo”, ao escritor austríaco Leopold Ritter von Sacher-Masoch, que da mesma forma que Sade, punha em prática na sua vida cotidiana as fantasias de castigos corporais, de humilhações, imaginados nos seus romances. As tendências sadomasoquistas existem, em maior ou menor grau, em qualquer pessoa e fazem parte das múltiplas expressões da complexa sexualidade humana, apesar de, muitas vezes, encontrarem- se reprimidas em cantos obscuros do inconsciente ou, mesmo vindo à consciência sob forma de sonhos ou fantasias, jamais serem expressar na prática. Por outro lado, existem muitíssimas pessoas em todo o mundo que exercitam esta sua porção sadomasoquista, especializando- se em técnicas sádicas, masoquistas ou em ambas, constituindo estes últimos os verdadeiros sadomasoquistas, na mais pura acepção da palavra.
Uma relação sadomasoquista pode se apresentar sob formas muito variadas: relações estáveis e duradouras, eventuais e fortuitas, heterossexuais, homossexuais, bissexuais, em duplas ou em grupos. Suas expressões são tão variadas e distintas quantas são as expressões da sexualidade humana. No entanto, ao contrário do que pensam muitas pessoas, não há nada de pervertido ou violento: o SM é uma prática relativamente comum, na qual pessoas praticam técnicas diferentes, mas estão de pleno acordo com o que será feito. Paradoxalmente ainda hoje em dia o sadomasoquismo é visto pela Psiquiatria clássica como um desvio de sexualidade, incluída na lista das ditas “parafilias”, e encarada como uma doença em potencial ou um processo patológico. A grande incoerência está que mesmo Sigmund Freud já descrevia o SM como uma fase normal do desenvolvimento infantil e sob este tema, seu discípulo Wilhelm Reich muito discorreu, identificando detalhadamente a fase masoquista e a fase sádica como etapas consecutivas da chamada fase anal (dos 2 aos 3 anos de idade). Apesar do diagnóstico ainda figurar na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde, a maioria dos psiquiatras e dos psicólogos já entendem o SM como uma expressão aceitável da sexualidade, quando ocorre de forma consensual e livre entre pessoas adultas e em plena consciência de seus atos. Tapas, chicotadas, mãos amarradas, boca amordaçada: os psicólogos e os psiquiatras estão chegando à conclusão de que o sadomasoquismo não é doença e pode até dar mais satisfação a algumas pessoas do que o sexo convencional. Há uma regra básica que deve ser seguida sempre: tem que haver consentimento. Como qualquer contato sexual, nenhum ato sadomasoquista pode acontecer sem a concordância do parceiro. E não é só isso: mesmo que os dois estejam de acordo, a prática não pode deixar lesões sociais, físicas e psicológicas. Ou seja, só é possível experimentar alternativas radicais quando há total respeito e confiança entre os parceiros.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, classificado sob o número F65.5, é sadomasoquista aquele que tem "preferência por um atividade sexual que implica dor, humilhação ou subserviência. Se o sujeito prefere ser o objeto de um tal estímulo fala-se de masoquismo; se prefere ser o executante, trata-se de sadismo. Comumente o indivíduo obtém a excitação sexual por comportamento tanto sádicos quanto masoquistas (CIDX, 1994)". Na década de 80, a Associação Americana de Psiquiatria tirou o sadomasoquismo da sua lista de desajustes mentais. Ou seja, pelo menos nos Estados Unidos, ele deixou de ser considerado uma doença. Nossa sociedade, no entanto, é mais moralista que a deles, o que justificaria o fato de que muitos especialistas brasileiros continuam mantendo a opinião tradicional. Mas o fato é que deixou de ser absurda a idéia de que algumas pessoas se satisfazem quando sentem dor ou quando passam por situações humilhantes. Homens e mulheres que têm dificuldade de se entregar completamente no ato sexual, por exemplo, podem sentir-se paradoxalmente liberados dessa cobrança quando estão amarrados. Assim, inteiramente expostos ao parceiro e sem poder opor-se aos avanços dele, forçam-se a se envolver completamente no sexo. dessa forma, terão mais prazer. E não há nada de errado nisso.
Com freqüência as pessoas de fora da cena (do "meio BDSM") não vêem o "appeal" em nenhum dos jogos, aparentemente dolorosos, praticados pelo pessoal SM. O que há de agradável em ser golpeado? Qual a graça em ser machucado? Bem, pense nisso: você já teve sexo intenso e depois notou marcas de mordidas no seu pescoço, mordidas que você nem se lembrava que tinha levado? O que aconteceu foi que seu parceiro mordeu você, COM FORÇA, com força suficiente para te marcar, e tudo o que você sentiu foi outro arrepio de prazer. Se te mordessem assim tão forte numa ocasião em que não existisse sexo, você gritaria, porque isso machucaria muito. Mas, quando você está sexualmente estimulado, a sua tolerância à dor aumenta, e o estímulo que habitualmente você sente como dor se torna, então, prazeroso. Outra explicação comum é que o cérebro produz endorfinas, anestésicos naturais, para compensar a dor. E você, na verdade, acaba se livrando da sensação de dor. A sensação de bem estar, extremamente gostosa que vem junto com o exercício físico continuado, o chamado "runner´s high" vem de forçar o corpo dolorosamente por tanto tempo que as endorfinas acabam por arrebatá-lo; a sensação que você tem depois de comer algo apimentado vem da mesma origem; e é isso que faz com que os praticantes de SM sintam prazer em serem açoitados ou espancados, ou seja, lá o que for. Não é dor; é prazer! Todos os atletas que são "doidos por exercícios" são essencialmente masoquistas que gostam de desgastar seus corpos para terem a resposta química. Então, aquele seu amigo que adora ser espancado pode, na verdade, estar sendo muito menos masoquista do que você é quando faz uma corrida! Um ato SM é então muitíssimo próximo a uma situação de jogo ou a um evento teatral: os adultos se permitem a realização de suas fantasias, tal qual as crianças brincam de “faz-de-conta” . Tanto isto é assim, que comumente o ato SM é chamado de “cena”. Antes que se parta para uma cena SM, é necessário um bom conhecimento entre os parceiros e a criação de uma noção de respeito e confiança que se processa por uma etapa de negociação e estabelecimento de limites e objetivos, sendo bastante comum também a instituição de uma palavra de segurança (senha) para ser usada em situações de emergência. Felizmente, a maioria das atividades SM, tais como "bondage", "spanking" e provocação (humilhação), não são tão severas e você pode começar de forma "light" e aumentar a intensidade de acordo com o ritmo dos dois. Preste atenção no que você está fazendo, use o bom senso e você não se arrependerá. Em geral, comece devagar e PRATIQUE! Você aprenderá rapidamente, se divertirá ao longo do caminho e então, passará apenas por situações com as quais tem sonhado!
Técnicas SM e seus vocabulários específicos
Fetichismo:
FETICHE
Estão inevitavelmente associados às praticas SM, fetiches, ou seja: "utilização de objetos inanimados como estímulo da excitação e da satisfação sexual. Numerosos fetiches são prolongamentos do corpo, como por exemplo, as vestimentas e os calçados. Outros exemplos comuns dizem respeito a uma textura particular como a borracha, o plástico ou o couro. Os objetos fetiches variam na sua importância de um indivíduo para o outro. Em certos casos servem simplesmente para reforçar a excitação sexual, atingida por condições normais (CIDX, 1994)". Exemplos: couro preto ("leather"), borracha ("latex"), "jeans" rasgados. O fetiche conhecido como cisvestismo é a preferência por roupas infantis ou de determinadas profissões, como médico, enfermeira, sacerdote, uniformes militares ou de trabalhadores braçais, etc (uniformes). Algumas pessoas têm fixação por pés e sapatos especiais (botas de montaria, botas militares, coturnos ou para alguns casos sapatos femininos) este fetiche se chama "podolatria" . Há também aqueles que tem preferência por roupas íntimas ("underwear" ) ou mesmo roupas típicas do sexo oposto.
"Dress Code”:
Termo em inglês usado para determinadas festas onde há um traje obrigatório. Esta é a parte que garante o fetichismo de cada grupo. O traje varia muito de festa para festa e é bom sempre ler as instruções com atenção, pois costuma-se proibir a entrada de pessoas que não respeitem o "dress code" de um bar SM ou de uma festa.
“Bondage”:
Abreviatura internacional para "Bondage Domination" que significa "servidão e dominação" é BD, sendo muito comum o uso do termo "BDSM" para o SM embasado mais na idéia da dominação do que na idéia de dor. Normalmente o termo “bondage” refere-se a técnicas de imobilização e confinamento que incluem algemas, nós, grades, correntes e cadeados, gaiolas, cordas e até mesmo a mumificação completa do indivíduo. O uso de fitas adesivas e invólucros plásticos é igualmente comum, mas nestes casos um cuidado especial deve ser tomado quanto à restrição da respiração ou à escarificação da pele por contato com adesivos potentes ou com material impermeável. Uma especial atenção deve ser dispensada ao “bondage”, pois, assim como na maioria das técnicas SM, acidentes podem ocorrer por imperícia ou negligência e é necessário que o tanto o dominador quanto o submisso estejam muito conscientes dos riscos de cada procedimento e que saibam bem o que estão fazendo. Ainda na técnica de “bondage” se incluem as milenares artes japonesas do Shibari, com suas amarrações artísticas projetadas especificamente para a anatomia feminina.
"Spanking":
Técnica SM que envolve espancamento que varia desde o uso da mão, uma toalha molhada ou os famosos chinelos de dedo, indo até o uso do chicote, chibata ou do "paddle" (espécie de palmatória). O "spanking" também deve ser feito com consciência para não causar problemas de saúde. A região dos rins, da cabeça em geral e em especial a região das orelhas, dos olhos e do nariz, bem como a região abdominal deve ser evitada no “spanking”, mesmo que somente com o uso das mãos. O “spanking” genital é uma técnica bastante apreciada, mas bastante perigosa, como se pode imaginar e somente deve ser feita por pessoas experientes e conscienciosas. O “spanking” das plantas dos pés é conhecido como “tortura turca”, mas é igualmente muito perigoso e pode causar lesões físicas importantes. Na dúvida, a melhor região para a prática do “spanking” é mesmo a tradicional região das nádegas (o “bumbum”) como já sabiam nossas avós.
“Wax”:
Uso de cera quente de diversas formas durante uma cena SM. A cera pode ser de pingos de vela, até cera de depilação. O prazer está tanto no contato da cera quente sobre a pele, quanto na sua remoção por raspagem ou por arrancamento, com ou sem depilação. A maior parte da superfície da pele resiste bem ao calor da cera quente, sem apresentar queimaduras, marcas ou lesões e sem causar uma dor intensa, apesar das aparências. O “wax” genital e do ânus é especialmente apreciado, mas deve ser feito com cautela em pessoas pouco acostumadas. Da mesma forma a estimulação de regiões erógenas do corpo com o calor da brasa de um cigarro ou charuto (“cigar”) pode ser feita por intervalos bem pequenos de tempo (alguns poucos segundos) sem maiores riscos de queimaduras e sem muita dor. Há quem prefira a depilação por lâminas, como navalhas, “giletes”, facas, espadas ou adagas, mas evidentemente estes materiais requerem muita precisão e destreza e podem causar acidentes bem facilmente.
Dermografia:
Ainda com o uso da cera, de lâminas, de agulhas, pregadores ou de cordões, pode-se usar a dermografia, que é possibilidade de inscrição de letras e desenhos na pele de várias regiões do corpo. Quando se associam todas estas técnicas de dermografia, esculturas vivas impressionantes e belas podem ser feitas por pessoas experientes, com resultados realmente inusuais. Muitas pessoas também fazem uso de sondas, cateteres e espéculos para estes fins, mas o manuseio destes instrumentos é bem mais complicado e arriscado. O "body piercing" (perfurações e jóias de corpo) também não é para novatos, exige muito "know-how", precisão e um erro pode resultar numa grande confusão.
"Golden Shower":
Em português: "chuva dourada". Também conhecido como "water sports" (esportes aquáticos) ou simplesmente "pissing" (mijo). Em termos científicos: urolagnia. Prática sexual que envolve uso de urina. Normalmente usa-se a urina direto "da fonte" sobre o corpo ou a face, mas é possível em festas especializadas que se façam banheiras ou piscinas com urina. Também é comum que se beba a urina do parceiro, mas é bom lembrar que a deglutição da urina, bem como o contato da urina com possíveis ferimentos na pele não é considerada sexo seguro e pode haver a contaminação por HIV ou outros agentes transmissores de doenças sexualmente transmissíveis. Sob outros pontos de vista médicos, não há maiores problemas na prática da urolagnia. A bandeira internacional do Orgulho Urolagnista é completamente amarela, por razões óbvias. A coprofilia, conhecida como escatologia, “scat” ou “black rain” é uma técnica correlata, porém com o uso de feses durante o relacionamento sexual. A bandeira internacional do Orgulho Escatológico é completamente marrom, igualmente por razões óbvias.
"Fist Fucking" (FF):
Em português: "foda de punho". Prática SM muito comum em todo o mundo que consiste na penetração do ânus ou da vagina com os dedos, a mão toda (punho), o braço ou até mesmo com os pés ("Feet Fucking"). Para que se consiga fazer FF com segurança, é necessário treino e conhecimento da técnica tanto por parte do "fister" (ativo), quanto do "fistee" (passivo). Quando o FF é feito de modo correto não apresenta risco à saúde, nem conseqüências futuras, mantendo-se a elestacidade natural da vagina e do esfíncter anal, sendo extremamente prazeroso.
“Dildo Playing”:
Uso de objetos para penetração vaginal ou anal. Podem ser usadas desde legumes até objetos especialmente projetados feitos de silicone, borrachas ou acrílico. Muito comum é uso de pênis sintéticos de diversos tamanhos, “plugs”, cones ou bolinhas soltas ou presas em cadeias (“pompoir” ou pompuariasmo) . Quando objetos de uso comum são usados como “dildos”, há que tomar um especial cuidado com arestas cortantes, partes pontiagudas ou elementos quebráveis, para que sejam evitados acidentes desastrosos. Nunca se devem usar objetos ocos, como garrafas e frascos, pois eles podem criar vácuo, dificultando sua remoção ou lesando tecidos delicados.
“Gang Bang”:
Fantasia sexual bastante comum em que uma pessoa é raptada e submetida a diversas técnicas SM por um dominador ou por um grupo de dominadores. Todos os tipos possíveis de raptos e seqüestros podem ser utilizados, mas evidentemente tudo não passa de uma encenação teatral, mais ou menos realística, em que todos os detalhes foram previamente combinados. Existem nos Estados Unidos grupos e agências especializados em realizar tais raptos.
Sufocamento:
Como o nome indica, é a técnica da restrição respiratória pelo uso das mãos, da boca, de máscaras específicas, tubos, filmes plásticos ou fitas adesivas. Muitíssimo comum é o uso da mordaça de diversas formas como forma de impedir a fala e/ou a respiração. Estas técnicas são evidentemente potencialmente perigosas e somente devem ser feitas com muito cuidado e por pessoas experientes. O estrangulamento é a forma mais drástica e mais arriscada das técnicas de sufocamento e deve ser na maior parte das vezes evitado, pois a morte por acidente é comum. Há algumas coisas que são normalmente consideradas como potencialmente muito perigosas para serem feitas, a menos que você tenha sido ensinado por alguém que o saiba fazer. Suspensão é uma delas: há muitas coisas que podem dar errado e muitas delas podem resultar em um ferimento grave. A crucificação é uma forma de suspensão especialmente arriscada e pode levar à morte por asfixia.
Eletro-Estimulaçã o:
Esta técnica consiste na aplicação de correntes elétricas de variadas intensidades sobre regiões erógenas do corpo. Estes estímulos podem provocar desde ligeiras sensações táteis, até prazer e dor intensos. A perfeita compreensão dos princípios biofísicos envolvidos em todo o processo é absolutamente obrigatória, pois a eletro-estimulaçã o mal aplicada pode facilmente provocar lesões irreversíveis ou a morte imediata. No entanto, quando bem aplicada a eletro-estimulaçã o é capaz de proezas tais como o prolongamento indefinido do orgasmo e da ejaculação.
Tortura Psicológica:
Técnica de SM que não envolve necessariamente nenhum contato físico podendo ser aplicada inclusive por telefone ou mensagens escritas. Em sua forma mais grosseira restringe-se à humilhação por uso de palavras fortes ou xingamentos ou a humilhação por exposição a situações sociais vexatórias, evidentemente respeitando- se sempre os limites do BDSM consensual e seguro. Mas verdadeira tortura psicológica, extremamente sofisticada e requintada, é a arte de localizar os pontos fracos da mente de uma pessoa e, através deles, ir minando aos poucos as defesas psicológicas que ela dispõe. Para que se aplique esta técnica é necessário um perfeito conhecimento de teorias psicológicas, bem como autocontrole e frieza, sendo imperiosa a constante atenção para que não ocorra uma crise catártica descontrolada ou inesperada por parte do dominador.
Normas e Dicas de Segurança
Segurança Emocional
Antes de tudo, comunicação. Deixe seu parceiro saber o que você quer e o que não quer. Mantenha o diálogo constante, observe seu parceiro, esteja atento ao que ele ou ela possa estar sentindo e pensando, e respeite seus limites. Estabeleça uma senha, e deixe bem claro que ela vai ser EXTREMAMENTE respeitada se usada. NÃO assuma que o seu parceiro compartilha de uma mesma fantasia que você, a menos que vocês tenham conversado EXPLICITAMENTE; o fato de algumas pessoas gostarem de ser vendadas não significa que todas elas gostariam de ser amarradas.
E o mais importante, as duas pessoas devem ter total liberdade para parar a qualquer hora, por qualquer motivo; respeitem-se o suficiente para encerrar, para terem um descanso e analisar as coisas, se algo sair errado.
Seja sensível. O jogo SM, o qual pode (não tem que! Mas pode) envolver a falta de socorro, sensações intensas e dominação psicológica, é algo forte; pode atingir profundamente a alma de alguém e trazer à tona traumas de infância ou medos escondidos, sem avisar. Esteja ciente de que você está nadando em águas profundas e use de respeito, seja amável e cuidadoso. Não deixe essa realidade afastar você do SM, mas, se quiser experimentar, torne-se mais atento e aberto ao que ambos estão sentindo. Acima de tudo, decida-se por você mesmo, se o SM (ou elementos do SM) tem lugar na sua vida sexual. Não dê ouvidos quando qualquer outra pessoa disser a você "o SM vai ser legal para você" ou "O SM não vai ser legal para você". Só você pode tomar essa decisão.
Seja honesto. Se você não quiser fazer algo, não deixe seu parceiro pressioná-lo. Quando você começar a explorar o SM, você pode se encontrar em uma situação em que seu parceiro quer algo além do que você tenha experiência para fazer, ou alguém que está com disposição para fazer algo que você não está disposto a fazer, naquela hora. No meu caso, geralmente acho melhor dizer, "Hei, acho que estamos querendo coisas diferentes. Vamos conversar". Fazer uma cena quando você realmente não quer, pode resultar desde uma cena tépida até algo que você deseja que acabe logo. Com uma boa dose de tempo, honestidade e principalmente não forçar situações ou atitudes, vocês construirão uma base de confiança que deixará você mais disposto em outra ocasião.
Outro tipo de jogo SM especialmente "cobrado" é a dominação e a submissão, na qual o "bottom" (dominado) se desprende de uma parte de sua liberdade de escolha dando-a ao "top" (dominador), que pode comandar essas escolhas. Embora muitas pessoas com fortes limitações possam brincar disso de maneira perfeitamente segura (e sentem muita felicidade e satisfação em fazê-lo), esse tipo de jogo pode trazer alguns riscos emocionais reais para pessoas com baixa auto-estima. O risco é que o dominador possa acabar abusando do seu poder, usando a dinâmica do SM para fazer com que o submisso se sinta mais inválido, sem forças e conseqüentemente disposto a deixar o dominador tomar conta de algo a mais que a sua independência.
Se você tem dúvidas sobre seu próprio valor e se você pensa que ser um submisso (ou se isso é uma idéia decorrente) pode servir para confirmar e consolidar sua auto-estima negativa, é muito importante que você pare e pense seriamente se você deve praticar o SM nessa fase da sua vida. A resposta pode muito bem ser "não" (e por outro lado, se você está pensando em dominar alguém que quer se submeter porque pensa que não merece o bem, você deve considerar se você quer um parceiro que pensa tão mal de si mesmo). No geral, é primordial que qualquer um que pratique o SM pesquise bem suas motivações e limitações e ser claro se o SM (em qualquer nível) é auto realizador ou auto destrutivo. Não pode ser tudo preto e branco, da mesma forma que, podem existir algumas atividades ou papéis, ou mesmo palavras em particular que farão com que você se sinta inseguro, com medo, ou sem valor e você pode muito bem querer evitar essas atividades/papé is/palavras. É exatamente para isso que existe a negociação, você tem o direito de fazer aquilo que o faz se sentir bem e de evitar aquilo que não te faz bem e você também tem o direito de insistir para que o seu parceiro respeite suas limitações (isto serve para qualquer relacionamento, é claro, BDSM ou não). O questionamento de "quando as relações SM se tornam excessivas ou abusivas" é freqüente e por uma boa razão: é um fato importante que o BDSM às vezes pode ser terapêutico, mas não é de maneira alguma um substituto para a terapia. Já foi dito que "você não pode obter uma força de alguém que não a tem". Um relacionamento SM é baseado no respeito mútuo, e no conhecimento de que ambos os parceiros estão escolhendo esta vida estando totalmente informados e não sendo coagidos, que o submisso tem orgulho em se submeter e o dominador tem orgulho em receber o dom desta submissão. É muito diferente de uma relação abusiva na qual um dos parceiros controla toda a vida do outro, com o objetivo de torná-lo irrevogavelmente e totalmente dependente.
Segurança Física
De volta ao plano físico: se você é um "top" e você está amarrando seu "bottom", mantenha a sua atenção naquilo que você está fazendo. Seu "bottom" vai extasiá-lo; cabe a você ver se ele está confortável e mantê-lo entretido. O "entretenimento" pode ser tão indecente quanto você quiser, mas observe se o "bottom" não está ficando aborrecido; isso raramente é diversão (se você como top está insatisfeito com seu submisso por ele quebrar algum acordo que vocês dois fizeram, ignorá-lo ou mandá-lo embora pode ser a punição mais cruel que você pode usar. Mas isso já é algo bem avançado).
Lembre-se da AIDS e das demais doenças sexualmente transmissíveis. Quase tudo relacionado ao contato bucal ou à pele exposta é potencialmente inseguro, a menos que algum tipo de barreira de látex seja usada. No contato de qualquer combinação de dedos, genitais, boca e ânus: use uma barreira de látex para lamber ou para quando estiver á margem disso (i.e contato anal-oral), luvas para penetração manual, camisinhas em dildos e pênis.
Use lubrificantes à base de água; se o lubrificante tiver o nonoxyl-9 é muito melhor (mas algumas pessoas são alérgicas ao nono-9 e o gosto é HORRÍVEL!). ÓLEOS e LUBRIFICANTES À BASE DE ÓLEO DISSOLVEM O LÁTEX; mantenha o óleo mineral e de massagem longe das suas luvas e preservativos (e pelo mesmo motivo, das roupas de látex!).
Sangue, sêmen, secreções femininas e urina, podem conter o HIV. Brinque muito, mas brinque com segurança (uma coisa interessante sobre o SM é que ele aumenta a extensão das maneiras seguras que as pessoas usam para satisfazerem umas às outras! Mas também aumenta as maneiras inseguras de jogar).
Desinfete seu equipamento SM depois de usá-lo, lavando-o com uma solução desinfetante. A Betadina é provavelmente o agente desinfetante mais usado. Obrigatoriamente desinfete dildos, coisas cortantes, qualquer coisa que perfure ou que poderia ter entrado em contato com sangue. Desinfete chicotes e instrumento afins, se na cena tiver sido pesada o suficiente para causar ferimentos. Passar álcool não é tão bom quanto limpar os objetos usados com um agente com propriedades antibacterianas. Muitos "tops" usam um “kit” de segurança SM, contendo (entre outras coisas) alguns itens como uma lanterna, chaves duplicadas para todas as fechaduras, tesouras para bandagem (com uma lâmina achatada) que servem para remoção rápida em um bondage, um “kit” de primeiros socorros com todos os itens padrão para esse procedimento, desinfetante para os brinquedos que entraram em contato com fluidos corporais, suprimentos de segurança para sexo (algumas vezes incluindo uma grande variedade de lubrificantes - pessoas diferentes precisam de lubrificantes diferentes) e assim por diante.