Marquês de Sade:
Sua obra no contexto do Séc. XVIII Francês
Renato Pignatari Pereira
1.Introdução:
Em 15 de novembro de 1956 iniciava-se um processo criminal em Paris, o réu, Donatien Alphonse François, ou melhor, o Marquês de Sade, também conhecido como Divino Marquês por uma pequena parcela de intelectuais e artistas. Tal processo fora iniciado devido à tentativa de um editor - Jean Pauvert - de lançar em edição as obras completas do Marquês. O tribunal mostrava-se contrário, porquanto desde o início do século XIX as obras mais picantes de Sade eram tidas como capazes de destruir o corpo e a alma de qualquer leitor.
Entretanto depois de as acusações serem apresentadas, aceitou-se o contato do público com a inteligência selvagem do Marquês. De acordo com sua filosofia alternativa, escrita durante o período que esteve recluso, nenhum Deus, moralidade, afeição e esperança deveriam existir, apenas a extinção humana num delírio erótico terminal. O homicídio, a sodomia, o incesto etc., seriam os meios capazes para a obtenção desse fim. A partir disso, considerou-se que o fulcro da obra sadeana fosse a perversão, porém, o constante aparecimento da Providência - Deus - em todas as suas obras, desmascara o verdadeiro ponto principal: o ateísmo intelectual, sendo o único Deus a natureza, para a qual segundo Sade, o bem e o mal não são aspectos antagônicos, mas sim essenciais para a manutenção do equilíbrio.
2. Período de Formação
OBS.: Não se objetiva aqui dar a biografia detalhada do marquês, mas sim desenvolver os aspectos principais de sua obra de acordo com o contexto de sua criação. Apenas a fim de esclarecer o seguinte observa-se que Sade foi preso por libertinagem excessiva.
A importância da prisão na prosa sadeana é grande, posto que treze anos de vivência na cadeia acham-se refletidos na brutalidade de seus heróis fictícios. O inverno de 1778 foi decisivo na formação do processo mental do marquês. Imaginando jamais ser solto, Sade começou a escrever cartas desesperadas a sua esposa. Após esse momento de desespero, começou a construir um mundo próprio dentro dos confins de sua cela; suas cartas já não refletiam a preocupação com uma possível soltura, mas traziam novas observações. Sade pede a sua esposa que lhe envie livros e materiais para escrever.
Ele não seria o triste e suplicante prisioneiro, mas o defensor de sua causa. Não ficaria louco, mas chocaria as mentalidades através de sua brilhante clareza intelectual, empregando a sanidade contra seus inimigos. "Eu sou um libertino, mas não sou nenhum criminoso ou assassino", declarava Sade em suas cartas a Renée- Pélagie, começando a destacar suas ânsias sexuais e crenças filosóficas, e dizendo que a primeira coisa a ser feita após sair da prisão seria beijar-lhe todo o corpo e ler Buffon, Voltaire e Rousseau. Sexo e literatura começavam a se equilibrar em sua mente. Em determinada carta, Sade critica as posições da mãe de Renée acerca da inviolabilidade do ânus feminino, relembrando os prazeres que dele podiam ser usufruídos.
Por volta de 1784, observa-se que o alter-ego do marquês realmente começa a entrar em cena. Diz em outra de suas cartas, que "a prisão é um lugar de maldade. A solidão que aqui impera dá poder a certas obsessões e o transtorno que uma semelhante força produz torna-se mais rápido e inevitável.
Não há nenhum marco cronológico que explicite a partir de quando, Sade, além de ser um prisioneiro, torna-se um escritor. Mas o que surgia cada vez mais de sua correspondência era a vigorosa manifestação do intelecto, particularmente em questões filosóficas. Sua esposa se recusava a enviar-lhe as Confessions de Diderot, mas ele lera Voltaire, o qual, apesar de aceito, era criticado em pontos concernentes ao Cristianismo. Também lera La Mettrie, autor de L'homme Machine (1748), cujas idéias exerceram grande influência sobre ele. O homem , de acordo com La Mettrie, deve ser definido em termos de evidência científica e experimentação. No que diz respeito ao ângulo científico, toda a atividade humana pode ser explicada sem recorrer a conceitos como alma e/ou espírito. Adotando a hipótese de La Mettrie, Sade ignorou o fato de que o mesmo considerara tanto a existência de Deus quanto a da imortalidade da alma prováveis, embora não corroboráveis cientificamente.
"A glândula pineal é onde os filósofos ateus colocam a sede da razão humana", escreveu a Renée. Ele se fixou no sistema de La Mettrie, e o elaborava em seus próprios modos. Voltara a escrever peças, as quais, exatamente como seus romances, registrariam os pesadelos sexuais particulares de seu encarceramento. O Cerco de Beuavais, mostrava a dramaturgia patriótica de Sade. Oxtieren, ou A Queda da Luxúria, apresentava- o como desconfiado moralista. Com raras exceções, suas peças foram rejeitadas, reescritas e novamente rejeitadas pelos teatros do período revolucionário.
Não obstante ocupado em escrever peças, em 1782 Sade já se preocupava em expor com maior clareza sua produção como filósofo ateu. Em Diálogo entre um Sacerdote e um Moribundo observam-se características já realmente marcantes do modo sadeano de pensar e ver o mundo: após morto, o moribundo descrente é tomado por seis belas mulheres que passam a corrompê-lo, "ensinando-lhe a corrupção da natureza". O moribundo, nesse caso, observa que o crime e a virtude são meros processos da natureza, um argumento a partir do qual Sade desenvolveu em termos como vício e virtude, ou crime e moralidade, eram sem sentido no universo mecanicista de La Mettrie, para o qual uma explicação racional do universo pode ser compatível com a idéia de Deus. Foi essa "fraqueza" particular do materialismo de La Mettrie que Sade procurou desenvolver. As conseqüências de rejeitar a crença numa ordem divina trazem um substituto para Sade, a natureza passa a ocupar o lugar de Deus. A única moralidade era a da natureza, a qual não ligava para o absurdo das convenções humanas segundo as quais certas coisas são tidas como criminosas, diferente do que ocorre no restante do universo animal. Logo, todos os extravagantes desejos sexuais de Sade tornam-se razoáveis e até racionais. Mesmo sem procriação, e com a conseguinte extinção da humanidade , não haveria diferença para a natureza, porquanto os cadáveres entrariam em decomposição, fornecendo à natureza energia para uma nova forma de vida.
Entretanto, boa parte das perversões desfiladas em sua obra ficcional não condiziam com seu comportamento. Observa-se que a obra de Sade não apresenta uma filosofia contínua e inalterada. Para ele, apesar das críticas feitas ao Antigo Regime em Justine, a revolução de 1789 também foi uma experiência por demais desenganadora, cuja nova ordem é zombada em As Prosperidades do Vício. Não obstante, apesar desta filosofia ateísta, Sade precisava manter o seu lado público, dizendo opor-se a crueldade e defender a república que lhe sucedeu, assim como apoiar as instituições estabelecidas.
3. Escritos da Bastilha
Em 1783, em outra carta à sua esposa, confessa que "o lado mais sombrio de sua natureza estava estabelecendo rápido e permanente controle sobre sua mente". Mas antes de tal fato se consumar literariamente o Marquês foi transferido da sua atual prisão (Vincenmes) para uma nova, a Bastilha. Nessa cela, em 1785 inicia a redação de seu primeiro romance, Os 120 Dias de Sodoma, começando do seguinte modo:
"As grandes guerras que impuseram tão pesado fardo a Luís XIV esgotaram tanto os recursos do tesouro quanto do povo. Mas mostraram também a um bando de parasitas o caminho da prosperidade. Tais homens estão sempre a espreita de calamidades públicas, que não se preocupam em aliviar, antes procurando criá-las e alimentá-las a fim de que possam tirar proveitos dos infortúnios alheios."
Entre os homens supracitados, Sade tirou seus quatro heróis ficcionais (em sua maior parte religiosos) que iriam recolher-se durante o inverno no castelo de Silling, junto a uma série de pessoas visando dar-lhes toda a assistência em matéria de libertinagem. Esses 120 dias dividem-se de acordo com os tipos de vícios a serem executados: paixões simples, paixões complexas, paixões criminosas e paixões assassinas. Mais do que o relato incessante de desvios sexuais, é a criação, no romance, onde Sade parece desenvolver seu próprio mundo, onde o prisioneiro é o senhor. Um lugar onde "já não há repressões, já não há obstruções. Não há nada a não ser a consciência.". Só a primeira parte do livro foi escrita, o restante foi desenvolvido em anotações.
O romance seguinte, Aline e Valcour, o qual ocupou os três próximos anos de sua prisão, tem a forma de uma troca de cartas entre o herói e a heroína do título, cuja felicidade é frustrada pela determinação de seu pai em casá-la com um velho devasso. Se há alguma coisa no romance que seja peculiarmente sadeano, é a história de Sainville e Léonore, que é contada como uma longa interpolação no meio da tragédia de Aline e Valcour. Há muito que Sade se deixara fascinar pelas excentricidades tanto do comportamento social quanto sexual nas remotas partes do mundo. Ele se interessara particularmente pelos descobrimentos do capitão Cook. Tal esquema, possibilita a Sade se utilizar de aspectos culturais para tratar de novas perversões, entre elas, a antropofagia. Nesse romance, Sade repisa o tema do absurdo que para ele se constituía em tentar estabelecer códigos de moral, posto que para ele, o que é virtuoso em uma outra parte do mundo, é considerado abominável em outra.
Um ato virtuosos não era apenas sem sentido em si, mas, num universo regido pelo que os incultos chamam de vício, essa pretensa virtude era tratada com violência tanto pelo homem quanto pela natureza. Há dois aspectos dedutíveis a partir disso:1) a moralidade e a religião são negadas pelos próprios princípios da natureza; 2) os sofrimentos da virtude são permitidos por Deus para serem recompensados na outra vida. Apesar disso, a vitória da virtude é retratada no próximo livro de Sade, Justine, Os Infortúnios da Virtude. Entretanto, ironicamente, também pode se observar o prazer encontrado em grande parte das personagens em maltratar uma garota virtuosa e religiosa. Independente da intenção verdadeira do autor, ele chegou através do argumento antireligioso a um ponto que os pensadores do Iluminismo pouco trataram. Insistia que a moralidade, separada da religião, feneceria; sendo então impossível haver leis superiores às da natureza e do instinto às quais o moralista pudesse apelar. Sugerir que um instinto é mais criminoso ou virtuoso que o outro é um absurdo lógico. A humanidade deve escolher entre dois destinos alternativos. Deus e a moralidade devem ser dispensados ou mantidos. Um mundo sem Deus e, conseguintemente, sem qualquer justificativa para a moralidade, era precisamente o que a ficção de Sade buscava relatar. A moralidade não é indipensável, mas, se deve ser mantida, só o pode na base da autoridade divina.
Semelhante à Justine, também são as pequenas histórias intituladas Contos de Amor, nos quais Sade aproveita-se consideravelmente de seus conhecimentos acerca da tradição e do quotidiano franceses. Tanto Justine como os contos supracitados não trazem os excessos explícitos de Os 120 Dias, entretanto, além dessa escrita pública, Sade continuava a produzir textos que denunciavam claramente todas as formas de religião e virtude, admirando apenas a natureza, entre eles, A Verdade.
4. O Divino Marquês e a Revolução:
No ano de 1788 começaria o ataque direto à autoridade real. A aristocracia francesa, que perdeu para a coroa boa parte do seu poder político, juntava esforços para restaurar sua condição. Se a nobreza queria reforma, os comuns também a queriam. Quando o rei concedeu que empreendesse a reforma, os comuns imediatamente exigiram paridade de representação com a nobreza. Em janeiro de 1789 houve uma eleição, já sob o sistema reformado, na qual aproximadamente um quarto da população votou. Os Estados Gerais foram determinados diante da autoridade real.
Em junho de 1789,estava claro que Luís XVI já não controlava a avalanche democrática. Suas tropas moveram-se em direção a Paris, tendo recebido ordens para dispersar a multidão envolvida no tumulto da Praça Luís XV.
A situação política complicava-se ainda mais devido ao fracasso da economia, ao exorbitante aumento do pão, à invasão de Paris por trabalhadores famintos que ali esperavam achar meios de sobrevivência. Inicialmente, os burgueses e o povo tinham objetivos bem diferentes. Mas, no final de junho de 1789, apenas dias seriam necessários para a realização das ambições políticas ca classe média.
Sade, acompanhava todo o movimento de sua cela na Bastilha, A Torre da Liberdade, chegando a crer que fosse libertado, para tal, improvisa um alto-falante e se dirige à multidão ao redor da Torre, insistindo para que assaltassem a Bastilha antes que atrocidades iminentes se efetuassem. Porém, dez dias antes da queda da Bastilha, o marquês é removido para o manicômio de Charenton, sendo os outros prisioneiros postos em liberdade.
Em 1790 a primeira Assembléia Nacional reuniu-se em Paris. O marquês não era o tipo de figura que suscitasse simpatia entre os revolucionários. Mesmo sem nenhuma esperança de ser libertado, em 2 de abril viu-se livre, posto que fora emitido um ato de anistia aos presos pelo regime anterior por força das lettres de cachet. Nesse caso, sua primeira urgência era a sobrevivência financeira, os primeiros atos revolucionários haviam secado suas fontes.
A riqueza e o título da família Sade eram perigosas, tornando-o suspeito aristocrata; logo Sade viu-se obrigado a trabalhar, voltando-se ao teatro, com a vantagem de possuir um grande número de peças já escritas. Submetia-se peças ao novo regime através da leitura da mesma diante dos membros de um teatro, o qual posteriormente procederia uma votação. Alguma peças foram aceitas, mas houve adiantamentos e nenhuma peça foi produzida. A penas a peça O Subornador fora realmente encenada, mas altamente vaiada por um grupo de revolucionários. O único modo de Sade ganhar dinheiro seria através de suas antigas rendas.
Para tanto, Sade começou a manter correspondência com seu antigo advogado Gaufridy, tentando reaver alguns lucros sobre suas terras em La Coste. Em suas cartas dizia adorar o rei, mas execrar os abusos cometidos durante o antigo regime. A única revolução a que daria o seu consentimento voluntário seria a que propusesse uma constituição do tipo inglês. Sendo aristocrata, a idéia de se aliar a população revolucionária - cujos integrantes eram descritos em suas cartas como idiotas ou criminosos vulgares - parecia-lhe extremamente desagradável. Entretanto, em uma correspondência de julho de 1791, observa que também há os revolucionários burgueses, para os quais a revolução seria apenas um meio de promover suas próprias carreiras. Acerca desses, Sade escreve posteriormente em Juliette, dizendo que não tem o menor interesse em qualquer tipo de bem-estar além do próprio, sendo a revolução apenas o meio de transferir os poderes do governante atual para eles. É óbvio que Sade não poderia emitir tais opiniões publicamente, logo, passa a simular respeito por organismos públicos como a Assembléia Nacional, tomando suas primeiras precauções contra a possibilidade de ser denunciado como contra-revolucioná rio.
Sade vivia na Section de Piques, tornando-se ativo e posteriormente secretário da mesma . Também tornou-se membro da Guarda Nacional. Era altamente solicitado como autor e como secretário, tendo sido nomeado pela seção comissário para a administração de hospitais. Através desse estratagema, Sade passou a gozar de certa influência e prestígio.
Como panfletista, Sade produziu seu primeiro trabalho em decorrência da fuga de Luís XVI em junho de 1791, aproveita-se de tal fato para redigir Uma Alocução de um Cidadão Francês ao Rei de Paris, no qual, apesar de reconhecer a traição real, continua dizendo que a única solução para a França é a monarquia. "A França jamais pode ser governada a não ser por um rei. Mas o governo de um rei deve ser aceito por um povo livre, e ele deve permanecer fiel à lei desse povo".
Após os massacres de setembro de 1792, Sade continuava a pregar a democracia revolucionária em seu trabalho Idéias sobre a Maneira de Sancionar Leis, cujo texto é feito de acordo com as instruções da Séction de Piques. Louva os que tomaram o poder das mãos dos revolucionários que apoiavam a monarquia. É curioso ver Sade como um autor da Revolução, publicando panfletos por cujo conteúdo não era totalmente responsável. Escrevera a seu advogado dizendo que o maior bem consistia em poder viver sem os outros, não obstante a Revolução exaltou uma obrigação do coletivismo.
Pensando no controverso caráter do marquês, é curiosa sua observação acerca dos massacres de setembro de 1792, porquanto ele poderia ter participado a fim de dar liberdade a seus desejos recônditos. Em vez disso, observou que o comportamento daqueles que propunham ser os líderes do povo, dizendo que o que realmente ocorria era uma fome desmesurada de poder, assim como um desejo de violência. Vista a experiência de Sade na revolução, não é de todo improvável que os horrores descritos em Juliette sejam baseados nas violências de setembro de 1792.
No início de 1793, algum tempo após o degolamento do rei, Sade começou a ser visto como anti-patriótico e contra-revolucioná rio, e o Comitê de Segurança Pública começou a ouvir rumores de que Sade era culpado de opinar que a utopia a que o novo regime se propunha era de qualquer modo inevitável. A fim de melhorar a sua situação, escreve, em setembro de 1793, Alocuções aos Espíritos de Marat e La Pelletier, no qual Sade louva o altruísmo de Marat, o qual desaprova o egoísmo como lei universal; também louva La Pelletier, pela sua coragem em votar a favor da morte do rei. Como facilmente se observa, Sade encobre suas verdadeiras opiniões com o objetivo de salvar a própria pele: critica o egoísmo - tido por ele como verdadeira lei universal - e mostra-se contrário à monarquia.
Em julho de 1793 Maximilien Robespierre ingressa no Comitê de Segurança Pública, suas palavras adquirem grande autoridade sobre o espírito de muitos franceses. "A essência do republicanismo é a virtude", "a Revolução é a transição de um governo de crime para um governo de justiça" e "a natureza é o verdadeiro templo do sacerdote supremo; o universo é o seu templo, e a conduta virtuosa é o meio pelo qual ele é adorado." são frases suas. Apesar disso, a guilhotina é utilizada em grande escala, visando exterminar todos os inimigos da nova sociedade. Nesse contexto, Sade recebeu um mandato do Comitê Revolucionário, o qual ia julgá-lo por atividades contra-revolucioná rias. Motivo de acusação: procurar emprego na guarda real em 1791.
Foi inicialmente aprisionado no convento das Madelonettes, tendo sido freqüentemente transferido à espera de julgamento. Recebeu acusação formal, sendo finalmente transferido para a casa de detenção em Picpus; sua cela possuindo visibilidade para o espaço em que a guilhotina funcionava. Escreveu a Gaufridy, "vi mais de 1000 homens e mulheres encontrarem a morte para satisfazer o fanatismo de Robespierre pela virtude".
Novamente na prisão, o marquês retoma sua atividade como ficcionista, escrevendo Filosofia na Alcova, o qual mostra um deliciar-se com toda espécie de crueldade sexual, justificando o vício e a brutalidade sob a alegação de que tal proceder é republicano, o texto trata-se de uma irônica denúncia à República de Robespierre. O livro desmascara toda e qualquer religião, exceto a de Satã, a bondade e a filantropia são desencorajadas como motivadoras da revolta dos oprimidos. A república da moralidade natural é descrita por Sade em relação à sua atitude para com pretensos crimes; não haverá pena capital aplicada pelo governo, nem em caso de assassinato. É claro que na fase final de sua obra Sade procurava desmantelar a Revolução Francesa, mesmo em Juliette, também se pode observar um semelhança entre a jacobina "Sociedade dos Amigos da Constituição" e a fictícia "Sociedade dos Amigos do Crime".
No dia 15 de outubro Sade é novamente libertado vivendo em estado de penúria, tendo sido novamente aprisionado no dia 8 de março de 1801, novamente no manicômio de Charenton, onde se dedicou a escrever romances históricos e a encenar suas peças.