Dúvidas sobre BDSM-SSC (para tirar dúvidas e conhecer termos adequados)

Discussão sobre BDSM-SSC : atitudes, conhecimento e entendimento da chamada "forma de vida alternativa". Experiências, motivações, inquietudes e demais coisas relacionadas...

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#16 Mensagem por Maestro Alex » 20 Jun 2007, 23:34

do site Desejo Secreto

DROGAS E BDSM:
UNIÃO INCOMPATÍVEL


Edgeh



Tenho acompanhado, não sem alguma apreensão, a discussão sobre o uso de drogas por praticantes do BDSM. Embora possa parecer um pouco repetitivo para quem andou acompanhando minhas posições a este respeito, manifestadas nos debates que andaram rolando no site da Associação BDSM Brasil, ainda assim retomo o tema neste espaço, até porque ele é um pouco mais amplo para uma exposição de idéias.
Então vamos lá. O meu ponto principal é o seguinte: se nós, praticantes do BDSM, vivemos dizendo de boca cheia que defendemos relações baseadas em sanidade, consensualidade e segurança, então não temos nenhum milímetro de espaço para sequer considerarmos a possibilidade do uso de drogas dentro dessa relação - salvo se estamos o tempo todo fingindo uma convicção que não temos.
Não me importa se você, individualmente, bebe ou usa drogas injetáveis ou quaisquer outras. É um problema exclusivamente seu, e nenhuma diferença faz se eu acho que você está destruindo a sua vida ou não. Mas me importa - e muito - se você faz isso e envolve uma segunda pessoa dentro do seu próprio vício.
Toda e qualquer relação BDSM tem sua dose de risco. Há perigo num simples nó mal dado sobre um pulso - que dirá numa prática mais elaborada. A única coisa que garante a segurança - do dominador e do submisso - é a absoluta clareza de mente, o controle completo da situação e um estado de permanente alerta. Esses são os requisitos que nos permitirão ver se e quando o submisso está em seu limite de resistência. Se não pudermos ver isso, não tenha dúvida: ele vai ser ferido. Com sorte, levemente - mas possivelmente de uma maneira mais séria.
E o que fazem as drogas? Pode dar uma sensação ótima, pode parecer que nos torna ainda mais alertas e sensíveis, pode ampliar as sensações. Mas faz exatamente o contrário: embota, obscurece, adormece aqueles itens citados acima. Ou alguém quer me convencer de que uma pessoa sob efeito de qualquer droga, mesmo do álcool consumido moderadamente, tem a mesma clareza de mente, o mesmo controle da situação e o mesmo estado de alerta de uma pessoa que não tenha consumido qualquer droga?
Esta é, portanto, uma lógica implacável. Usar drogas antes ou durante uma sessão de BDSM não é apenas de uma irresponsabilidade enorme, mas também de uma incoerência absoluta. Se defendemos práticas seguras, como podemos admitir tamanho risco? Se acreditamos em sanidade, como podemos abrir mão dela em nome de um vício? E se falamos tanto em consensualidade, como podemos querer que outra pessoa seja obrigada a compartilhar desse vício - ainda que não a obriguemos a consumir drogas, ela terá que conviver com quem o faz, assumindo ela mesma um risco que não deveria existir, nem como submissa, nem como dominadora.
Algo está errado nessa discussão. E é o simples fato de que esta discussão existe. Não deveria existir. Nenhum argumento será capaz de justificar o uso de drogas dentro do universo BDSM. Já houve quem dissesse que "se os dois parceiros usam drogas e se ambos concordam com isso, não há nenhum problema". Pelo contrário, aí é que o problema se agrava ainda mais. Se os dois estão com suas mentes embotadas, quem é que vai interromper a cena quando ela se tornar efetivamente perigosa? Pior ainda, quem é que vai se tocar que as coisas estão indo longe demais e que é preciso parar?
E mais ainda, dois parceiros usando drogas não é nem ao menos consenso - é vício compartilhado. Talvez os vícios sejam consensuais no início (bebemos ou cheiramos ou injetamos porque queremos e gostamos), mas quando escapam do controle deixam de sê-lo (e passo a beber ou cheirar ou injetar porque precisamos)...
As médicas e médicos que acompanham essa discussão já expuseram suas opiniões, recheadas de bom senso, e que ainda levantam outra questão importante: numa relação BDSM, a dor é componente fundamental. Temos todos os nossos limites para ela, além dos quais ela deixa de gerar prazer para gerar simplesmente um desconforto que acaba com a cena se forem desrespeitados - e mais do que isso, são esses limites que nos alertam para o fato de que, se apertamos um pouco mais aquela corda ou forçarmos um pouquinho mais o braço para trás, vamos acabar causando lesões que certamente não desejamos sofrer.
Ora, se estivermos sob efeito de drogas, tais limites simplesmente tendem a não ser percebidos. E se não são percebidos, não têm como ser respeitados. E se não forem respeitados, inevitavelmente vão causar danos. É bem simples, na verdade: o corpo está gritando que está no seu limite, mas as drogas entopem nossos ouvidos. E quando voltarem a ouvir, infelizmente, será tarde demais...
Em resumo: drogas e BDSM são incompatíveis. Sob qualquer ponto de vista. Sem chance de apelação em qualquer tribunal que tenha como base o bom senso. Querer defender o contrário é o mesmo que querer colocar as coisas que gostamos à frente das coisas que dizemos defender. E isso, meus amigos, chama-se hipocrisia...

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Maestro Alex
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#17 Mensagem por Maestro Alex » 21 Jun 2007, 23:53

Do Desejo Secreto

Os alicerces de um relacionamento São, Seguro e Consensual
bee_a

Molly Devon é co-autora do famoso livro Screw the Roses, Send me the Thorns (Foda-se com as rosas, dê-me os espinhos), um dos três livros sobre SM mais famosos nos EUA, ganhador, por dois anos seguidos, do prêmio de melhor livro SM, dado pela Amazon.com.
Seu parceiro de vida e de autoria do livro, Philip Miller, morreu em 1998. Molly continua, desde então, levando à frente sozinha os projetos idealizados pelos dois, incluindo várias conferências sobre sexualidade, relacionamentos e, claro, BDSM.
Recentemente, um pequeno artigo sobre as bases de um relacionamento que envolve a transferência de poder foi disponibilizado em alguns sites de língua inglesa. Pequeno (5 pontos), sucinto, mas direto e fundamental. Feito por alguém que viveu - e bem - o DS como estilo de vida. Apesar de pequeno, toca em pontos de grande importância. Vale a pena conferir.
Molly começa colocando a importância da confiança e da comunicação dentro do relacionamento SM ou DS, sem os quais nenhum relacionamento BDSM pode ser proveitoso. A confiança depende de uma comunicação honesta. Ela chama atenção para a diferença entre um erro - falhas, todos fazemos/vivenciamos mais cedo ou tarde em nossas vidas - e a má fé. Uma negociação incompleta é um erro, mas desonestidade durante uma negociação é manipulação abusiva e isso é indefensável.
Ela segue, no segundo ponto, batendo (nunca é demais!) nas questões da igualdade, do valor e do peso das pessoas envolvidas num relacionamento SM, independente do papel escolhido dentro desta relação. É o obvio. Não existe o dominador/a sem a figura do/a submisso/a. Nem o submisso/a sem o/a dominador/a. É importante entender a diferença entre fantasia e realidade. Enquanto na fantasia o/a submisso/a escolhe viver o papel de escrava/o, cadela, um fucktoy (um "objeto" para o prazer), ou seja lá o que for que lhe excite, na vida real essas pessoas têm o mesmo valor, o mesmo peso, os mesmos direitos que qualquer pessoa. Apesar do clichê, vale a pena repetir. Se a pessoa do/a submisso/a não se amar, não se respeitar, não tiver auto estima, o que ele está transferindo ao dominador/a?? Entregando o quê? Troca erótica de que mesmo? De nada!!!
O controle assumido é igual a responsabilidade aceita: é o próximo ponto ressaltado por Molly. É preciso que o dominador/a conheça e entenda muito bem a dinâmica contida num relacionamento BDSM. E saiba que no estado de submissão, durante uma cena, o/a submissa/o está atuando em estado de diminuição de capacidade e habilidade de tomar decisões. É o chamado "subspace". Este é exatamente o ponto da transferência, da troca. O que, convenhamos, não é pouco. Daí a necessidade de uma negociação cuidadosa, cautelosa, pois a/o submissa/o entrega seu corpo, mente e espírito aos cuidados do/a parceiro/a dominador/a. Recado claro aos(às) dominadores/as: se você não quer aceitar as responsabilidades por seus atos, não aceite o poder.
A autora continua citando outro ponto de importância fundamental: O único poder que um/a dom/mme tem é aquele entregue pelo seu/sua parceiro/a submisso/a, colocando, de forma muito clara e explícita, na roda, a consensualidade. Dominadores não podem, de maneira unilateral, ter mais poder do que o que já foi negociado, da mesma maneira que subs não podem resolver de maneira unilateral que querem mais controle do que aquele já acordado. Entretanto, ambos os parceiros podem, a qualquer momento, acabar com a troca de poder. Quaisquer mudanças de nível, duração ou circunstâncias do controle devem ser negociadas fora de cena, em situação de calma, não importando se este acordo é para uma cena especifica ou para um relacionamento mais duradouro.
Molly Devon não acabaria a listagem do que considera importante sem mencionar o abuso, lembrando que uma relação que funciona para uma pessoa em detrimento de outra é sempre abusiva. Com isso reforça novamente a diferença da fantasia em relação à realidade, onde as vontades e necessidades da pessoa que se encontra no papel de sub têm igual importância. Não podemos esquecer que a transferência de controle e de tomada de decisão que o/a submisso(a) entrega a(o) seu(sua) Dominador(a) é para o benefício e prazer de ambos os parceiros envolvidos.
A capacidade que Molly teve, como submissa, de continuar sozinha o trabalho e a obra iniciados com seu companheiro, Philip, é mais uma demonstração de que o BDSM não castra pessoas, personalidades ou vontades. Ao contrário, permite que cada um cresça e assuma, de maneira responsável, o que de mais caro existe no substrato do ser humano: a sua sexualidade.

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Maestro Alex
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#18 Mensagem por Maestro Alex » 22 Jun 2007, 23:27

BD - (Bondage e Disciplina)
Votan

"As únicas liberdades às quais os seres humanos são
sensíveis são aquelas que jogam 'o outro' numa servidão
equivalente. E, aliás, como se sabe, uma paixão incondicional
pela liberdade certamente provocará no mundo, e bem
depressa, conflitos e guerras não menos incondicionais."
Jean Paulhan

Agora, transportemos o pensamento acima para um relacionamento a dois e a mistura é completamente explosiva.


Coação erótica

"A força não faz parte do contexto do sadismo ou do masoquismo, nem faz parte do fetichismo, da dominação ou da submissão. Mas é uma atividade normal e corriqueira. Faz parte do dia-a-dia das pessoas. A força é parte da relação de poder, mas no BDSM o poder não é tomado, é concedido. E não há sequer um adepto do BDSM que não se sinta, de alguma forma, fascinado por esta relação." (Delmonica).
A atitude de segurar ou restringir o(a) parceiro(a) durante o sexo é tão velha quanto o mundo. Um número incalculável de espécies segura ou imobiliza o(a) parceiro(a) durante o ato sexual. Escorpiões, aranhas, leões e alguns macacos têm um complexo jogo de imobilização e sujeição erótica durante o acasalamento. Mas não podemos assumir que estes animais têm atividades BDSM. Este é um jogo elaborado e executado exclusivamente pelos humanos.
Um aspecto aparentemente contraditório do BDSM é a coerção erótica.
O(a) submisso(a) que deseja viver uma relação BD, em seu sentido de escravidão e disciplina, aceita e, portanto, torna consensual, a condição de 'escravo'. Leve-se em consideração que para atingir esse ponto, a relação, o conhecimento mútuo, o entrosamento e a maturidade entre os parceiros deve estar em um patamar elevado. Ou seja, tornar-se BD requer tempo. Pois só o tempo trará o conhecimento (associado ao autoconhecimento), e só o conhecimento levará, neste caso, à consensualidade específica do BD.
Explico melhor: quando o desejo de possuir ou ser possuído vem à tona na relação é preciso que fique claro que a consensualidade aqui assume um caráter definitivo. O(a) 'escravo(a)' é uma propriedade, portanto faço com ele o que quero, pois ele aceitou a condição de ser possuído, de ser meu. Por outro lado, assumo um voto extremo de confiança que me foi dado (porque sabe que o conheço, porque tem confiança em minha experiência, em minha técnica, em minha habilidade para conduzi-lo em um mergulho de confronto consigo mesmo). Confia em minha habilidade de conduzi-lo de maneira sadia em momentos em que emergem possíveis carências ou problemas com a auto-estima; confia em minha sensibilidade para quebrar suas barreiras e no meu potencial para cuidar do que é meu.
Explico estes detalhes pois sempre pensamos no 'escravo' sendo forçado ou obrigado a uma atividade contrária ao seu desejo, e por fazer sob força, ou recusar-se a obedecer, é castigado.
Coação erótica é baseada em consentimento mútuo. Mas, como disse, uma consensualidade definitiva, explícita no momento em que se aceita a condição de 'escravo' e 'dono', e implícita a partir daí. Onde o que valerá será o conhecimento que um tem do outro, dos desejos, dos limites e do respeito entre parceiros.
Aí temos um paradoxo. Se é baseada em consentimento mútuo, como acreditar que alguém está obrigando alguém a fazer algo "forçado"?
A resposta é que a fantasia é um dos ingredientes mais importantes para o BD, e o(a) dominador(a) sensível tem a responsabilidade de tornar a cena o mais real possível. Já o 'escravo' deve corresponder de maneira comprometida com o jogo, pois mesmo numa posição de submissão ele é fator atuante, e deve ter consciência disto para manter o clima do jogo. Cabe ao dominador controlar e modificar a grande quantidade de variáveis que existem no complexo jogo da dominação e posse. O inusitado, o surpreendente, o erótico, o temor, são variáveis básicas que o(a) submisso(a), em contrapartida, deve ter a habilidade de deixar que tomem conta de sua mente, bem como a fantasia de acreditar na situação proposta pelo dominador.
A coação erótica é uma forma singular de atingir profundamente os mecanismos de prazer do ser humano. E, por ser profunda, precisamos estar atentos às reações do escravo, pois seus sentimentos e suas dificuldades devem ser respeitados.



Estar BD ou ser BD?

Não encontramos, freqüentemente, em comunidades BDSM, grupos que vivam situações de BD no sentido literal da palavra: bondage como escravidão e disciplina).
Encontramos, sim, práticas de BD em festas ou rituais.
Ou seja, ninguém é BD; pessoas podem estar em situações de BD por determinados períodos de tempo. O que já não acontece no DS (Dominação e Submissão). Pode-se ser DS 24 horas por dia e pode-se estar em situações de DS.
No mundo atual, optar por viver uma situação em que devemos nos portar e agir como escravos 24 horas por dia é irreal. Até porque para um dominador conhecer cada vez mais e melhor seu 'escravo' ele precisa dos momentos onde não se está BD, para concatenar as fantasias, saber do outro, ter o feedback do que o outro busca, o ajuste. Este ajuste é contínuo, para que a quebra de barreira, que é um dos ingredientes constantes no BD, assim como a coação, possam acontecer de uma maneira segura, para que ambos tenham sempre novos elementos para serem trabalhados, conversados, para o próximo momento em que se 'estará' BD.
Podemos estabelecer cenas ou períodos de tempo determinados em que situações de escravidão podem ser aplicadas: um fim de semana, um dia, uma cena em uma Play Party. Mas não uma situação de escravidão permanente. Até porque dentro da cultura SM, o Bondage está quase sempre associado à disciplina. Onde o prazer de castigar para corrigir é mútuo. De quem imputa e de quem recebe o castigo.
Popularmente, Bondage está associado com restrição de movimentos, com o uso de cordas, algemas e uma infinidade de aparatos que visam a imobilização do(a) submisso(a). E, através da imobilização, pode-se aplicar castigos e medidas de disciplina.
Tolher movimentos desde os mais remotos tempos de nossa civilização representa uma imposição da vontade do senhor para com o submisso. Era assim nas galés romanas, onde remadores eram escravos presos aos remos; depois, na Idade Média, com os escravos africanos e a desumanidade dos navios negreiros e o trabalho forçado tanto na Europa como no novo mundo.

Disciplina

Na comunidade BDSM a disciplina e os castigos advindos como corretivos pelas faltas são os objetivos de muitos dominadores e submissos.
Os dominadores disciplinam para treinarem seus escravos e vivenciarem o que lhes dá prazer (dominar), e estes para agradarem seus donos e, de uma maneira simplista, vivenciarem situações que lhes causem prazer. O ato de se colocar um submisso em seu colo e aplicar palmadas nas nádegas como forma de disciplina (aliás, a mais básica e antiga) , atravessa pelo menos 3 aspectos importantes dentro do BDSM, passa pelo BD, onde se está aplicando um castigo para corrigir uma falta, passa pelo DS no dipolo do dominador(a) - submisso(a) e passa pelo SM no ato físico de provocar a dor pelas palmadas. Dissociá-los? Não há como.
Podemos intuir, então, que não existe BD exclusivamente. Mas, sim, que BD está contido dentro da filosofia do DS e do SM, onde BD é meio, e não fim. Meio de se atingir propósitos ou fronteiras. Meio de humilhação.
"Poucos são os dominadores que não sonharam possuir um personagem Sadeano como Justine. Mas nenhum(a) submisso(a), que eu saiba, desejou ser Justine. Não em voz alta, com esta altivez do gemido e das lágrimas, com esta violência conquistadora, com esta avidez pelo sofrimento e com esta vontade feita de uma tensão que leva ao dilaceramento e à desintegração."
Porque aí estaríamos falando de ficção, o que, certamente, terminaria em patologias e, portanto, em uma realidade contrária à filosofia do BDSM, que é o erotismo saudável e a realização de fantasias com segurança.

Realidade x ficção

Dentro da literatura de Sade temos a vítima, não o escravo ou o submisso. E, a partir do momento que a vítima se identifica, tem prazer, aprecia (como em Filosofia na Alcova, a personagem Eugénie), passa para o grupo dos libertinos e começa a ser iniciada na filosofia. A virgem Eugénie, em sua ansiedade, fala à Senhora de Saint-Ange: "Oh, minha boa amiga, achei que jamais chegaria, tanta a pressa de estar em seus braços...".
Eugénie ficará apenas dois dias com a Senhora de Saint-Ange, e esta acha o tempo curto, ao que Eugénie replica: "Ah, se não souber de tudo ficarei... Vim aqui para instruir-me e só irei embora quando for sábia".
Um dos maiores perigos dentro do BD é um(a) dominador(a) ou submisso(a) novato ler a famosa "História de O", de Dominique Aury, e acreditar que aquela situação irreal e inverossímil deve ser o seu modelo de dominação ou que todos os dominadores serão Sir Stephens e todas as submissas serão "O's" ou Justines de Sade.
"Leio a história de O como se fosse um conto de fadas (todos sabem que os contos de fadas são os romances eróticos das crianças), como nesses castelos que parecem completamente abandonados, mas onde, entretanto, as poltronas com seus couros, os tamboretes e os leitos de colunas não têm um grão de poeira e onde já encontramos as chibatas e os chicotes; eles aí estão, como se estar aí fosse próprio de sua natureza. Não há suspeita de ferrugem nas correntes, nem de umidade nos azulejos de todas as cores." Jean Paulhan
Estas cenas são irreais. Não existem no dia-a-dia dos envolvidos com o BDSM.

Relacionamento?

A sinergia do relacionamento, qualquer que seja ele, faz com que limites, anseios, frustrações e desejos devam ser conversados, expressos e explicitados. Ninguém tem uma "bola de cristal" para adivinhar o que se passa na cabeça do parceiro.
E ninguém põe a entrega ao outro acima de si próprio. Para dominar, exercer ou elaborar uma cena de punição, assim como para ser punido ou participar de uma cena de escravidão e disciplina, deve existir segurança, consensualidade e sanidade.
Não deixa de haver grandeza e, inclusive, alegria em abandonar-se à vontade de um outro (como acontece com os apaixonados e os místicos) e em ver-se, enfim!, aliviado de seus prazeres, interesses e complexos pessoais.
Alguém pode então lembrar-se de masoquismo. Seja, não é mais que acrescentar ao verdadeiro mistério um mistério falso, de linguagem. Que quer dizer "masoquismo"? Que a dor é ao mesmo tempo prazer, e o sofrimento, alegria? Pode ser. Dizem os masoquistas, trata-se realmente de uma dor, mas que estes sabem "transformar" em prazer; trata-se de um sofrimento do qual se desprende, por alguma química cujo segredo eles possuem, uma pura alegria.
Termino este texto de Bondage & Disciplina me apropriando do trecho de um conhecido, se não for "o mais conhecido" livro sobre BD, "A história de O":
"Uma singular revolta ensangüentou, no correr do ano de mil oitocentos e trinta e oito, a tranqüila ilha de Barbados. Cerca de duzentos negros, tanto homens como mulheres e todos recentemente promovidos à liberdade pelos Decretos de março, vieram uma manhã pedir ao seu antigo senhor, um certo Glenelg, que os retomasse como escravos. Foi feita a leitura do caderno de queixas, redigido por um pastor batista que os acompanhava. Em seguida, engajou-se a discussão. Mas Glenelg, fosse por timidez, por escrúpulos ou simplesmente por medo das leis, recusou-se a se deixar convencer. Por isso, a princípio foi gentilmente empurrado, e depois massacrado com toda a sua família pelos negros que nesta mesma noite voltaram às suas cabanas, às suas tagarelices e aos seus trabalhos e rituais de costume. O caso pôde ser rapidamente abafado graças às diligências do Governador Mac Gregor, e a Libertação seguiu seu curso. Quanto ao caderno de queixas, nunca mais foi encontrado."

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#19 Mensagem por Maestro Alex » 23 Jun 2007, 23:11

EXPRESSÕES BDSM



Sessão - Período de tempo dentro do qual se pratica BDSM

Cena - Cada uma das práticas, (Ex.: spanking, bondage, velas, humilhação...) dentro do período de tempo de uma sessão.

Switcher - Indivíduo que atua tanto como Dominador/a quanto como submisso/a.

Top - Expressão usada para referir-se a Dominadores, Dommes, Sádicos... enfim, aqueles que atuam ativamente nas práticas BDSM

Bottom - Expressão usada para referir-se a submissos/as, masoquistas, escravos/as. Aqueles/as que atuam passivamente no BDSM

Baunilha - Expressão usada para referir-se ao sexo convencional, sem práticas BDSM e à pessoas que o praticam.

Safeword - Palavra ou sinal (código) de segurança a ser pronunciado ou usado pelo/a bottom quando sentir que chegou ao seu limite de resistência e não estiver mais suportando determinada prática em execução pelo Top. Indica que deve cessar imediatamente a prática.

SSC - Siglas para abreviar as palavras São, Seguro e Consensual. Conceito de que BDSM deve ser praticado em perfeitas condições de saúde física e mental, não oferecer riscos à integridade física de nenhuma das partes e ser praticado com a concordância espontânea das partes envolvidas, tanto dos Dominantes quanto dos submissos/as.

24/7 - Um relacionamento BDSM envolvendo Dominação e submissão em tempo integral, 24 horas por dia e 7 dias por semana.

Hard - Prática BDSM mais forte, mais intensa, além dos limites da maioria dos adeptos e por isso menos comum.



D/s - Relacionamento de Dominação e submissão dentro do BDSM



SM - Iniciais de Sadismo e Masoquismo ou Sadomasoquismo

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#20 Mensagem por Maestro Alex » 25 Jun 2007, 14:50

O Emblema BDSM
Órion


Para muitas pessoas, uma simples imagem; para outros, um desenho bonito.
Mas, pra nós, adeptos do BDSM, este símbolo tem muitos significados, além de todo um enigma por trás dele. Por isso, vejamos o que ele vem a ser.
O emblema do BDSM na verdade não tem nenhum significado óbvio. Ele foi criado para gerar todo esse clima de mistério em torno de si.
Uma pessoa comum, que não está a par da prática BDSM e do mundo que ele representa, não saberá, de imediato, o significado da imagem - a não ser a superficialidade comum de se apreciar uma bela jóia ou um objeto interessante, não indo além disso.
Nós, praticantes, podemos usar este símbolo livremente como um "sinal" para outras pessoas que o conhecem, identificando o adepto BDSM onde quer que ele vá.
As três divisões do emblema podem ser analisadas sob 3 aspectos.

1º aspecto - a filosofia BDSM

BD (Bondage - Disciplina)
DS (Dominação - Submissão)
SM (Sadismo - Masoquismo)

2º aspecto - o modo de comportamento/trilogia do BDSM "SSC"

S - São
S - Seguro
C - Consensual

3º aspecto - a comunidade BDSM

Tops - (Doms, Dommes, Senhores, Senhoras, Mestres, Mestras)
Bottoms - (Submissos, Submissas, Escravos, Escravas)
Switchers - (vivenciadores de ambas as situações de Tops e de Bottoms)

Segundo o texto oficial sobre este emblema, este último aspecto citado é o que fundamenta a existência das aberturas colocadas em cada uma das divisões do símbolo. Tais aberturas também significam que um completa o outro numa relação BDSM, integrando o Dominador e o Dominado.
A forma desse símbolo não é, por mera coincidência, semelhante ao símbolo do Yin e Yang, os pólos de equilíbrio, segundo a filosofia oriental. Com as curvas mostrando onde começa um e onde termina o outro, dá toda a profundidade de significação do que o BDSM representa para seus adeptos.
Dessa maneira, tem-se a representação concreta dos desejos do que busca completar-se e do que completa, numa ciranda em permanente movimento e evolução.
E o curioso deste símbolo, foi a forma que ele foi idealizado. De acordo com o site oficial do detentor de seus direitos de uso, nos tempos em que a AOL (America Online - poderoso provedor de acesso internet da américa) era um "gigante odiado" pelos norte-americanos, o símbolo foi inspirado em uma jóia usada por O em "A História de O", um clássico BDSM francês, de Pauline Reage.
Mistérios a parte, o símbolo foi todo desenhado em função de todos estes significados demonstrados acima (SSC, Comunidade e Aspecto/Filosofia).
Por isso, qualquer semelhança com o símbolo da Revolução Chinesa ou coisa parecida, será mera coincidência.
Para maiores informações, fica aí uma dica do site oficial do emblema. Importante ver também que nesse site a autora do emblema mostra todos os procedimentos de como usar a imagem em outros sites especializados, onde encontrar jóias com este símbolo, FAQS (perguntas mais freqüentes) e outros temas ligados ao assunto.

Serviço:

The Emblem Project

http://members.aol.com/quagmyr/emblem.htm
(em inglês) - site oficial do emblema BDSM.

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#21 Mensagem por pby_Mars_Explorer » 25 Jun 2007, 21:29

O site do emblema moveu para:

http://emblemproject.sagcs.net/

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Maestro Alex
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#22 Mensagem por Maestro Alex » 25 Jun 2007, 22:19

pby_Mars_Explorer escreveu:O site do emblema moveu para:

http://emblemproject.sagcs.net/
grato amigo...

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#23 Mensagem por Mezayen Tamid » 26 Jun 2007, 18:10

Maestro Alex escreveu:O Emblema BDSM
Órion


Para muitas pessoas, uma simples imagem; para outros, um desenho bonito.
Mas, pra nós, adeptos do BDSM, .........................................
...................................
Mais um texto brilhante e esclarecedor do Maestro.
Uma grande coleção de ensinamentos.

Obrigado, Alex !

Me-Ta

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#24 Mensagem por Maestro Alex » 26 Jun 2007, 18:36

Mezayen Tamid escreveu:
Maestro Alex escreveu:O Emblema BDSM
Órion


Para muitas pessoas, uma simples imagem; para outros, um desenho bonito.
Mas, pra nós, adeptos do BDSM, .........................................
...................................
Mais um texto brilhante e esclarecedor do Maestro.
Uma grande coleção de ensinamentos.

Obrigado, Alex !

Me-Ta
grato

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#25 Mensagem por Maestro Alex » 28 Jun 2007, 20:02

O AUTÊNTICO BDSM



O que é o autêntico, legítimo e verdadeiro BDSM ?



O autêntico BDSM é aquele praticado entre pessoas maduras com o dom para tal, buscando o prazer e a realização das fantasias sinceras que descobriram e assumem habitar suas personalidades.



O autêntico BDSM é aquele que não é o complemento da relação, e sim a base dela. E por isso mesmo é buscado por si só, seja numa relação constante e sólida que possa chegar até ao matrimônio, seja numa esporádica e limitada a sessões. Seja numa relação puramente sexual, seja numa mais completa que abranja também a amizade, apoio e namoro. Seja numa relação do mais sutil e brando D/s, seja na rigidez e severidade de uma sessão de disciplinamento hard.



Para o BDSM ser autêntico, os objetivos devem ser SOMENTE (ou no mínimo primordialmente) a realização, vivência e prática do BDSM sem outras motivações escusas como agradar o parceiro (que somente ele gosta e tem dom), desencalhar (pois no baunilha as esperanças já se esvaíram) ou arrumar “sexo quente” imaginando tolamente ser a escrava uma mulher “fácil” ou o Mestre o mais viril dos homens... coitados. Ou, pior, praticá-lo somente por motivos financeiros ou mesmo para abrandar sérios problemas de auto-estima (aí carecendo-se de psiquiatra, não de escrava ou Dominador).



Enfim, a essência do Autêntico, Legítimo, Verdadeiro e Honesto BDSM não está na forma e na intensidade (que cada um tem as suas), e sim na essência ao ser praticado como objetivo, meio e fim.



É a minha opinião,

Jot@SM

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Maestro Alex
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#26 Mensagem por Maestro Alex » 04 Jul 2007, 22:17

Abuso e consenso numa relação D/s
Edgeh



Em jogos de BDSM, a linha que separa o que é consensual do que é abuso é muito, muito fina. A própria natureza do jogo inclui esse risco e, em essência, ela se baseia num "abuso consensual", por mais paradoxal que isso possa parecer.
Em outras palavras, um submisso sente prazer em ser humilhado. E ser humilhado, por qualquer conceito, inclui inevitavelmente o fato de sofrer algum tipo de abuso, seja ele físico, mental ou emocional. Dentro dos limites estabelecidos - ou seja, dentro das regras pré-estipuladas entre dominador e submisso -, esse abuso é o que chamamos de consensual. O submisso sabe que será humilhado - ou abusado - dentro de determinados parâmetros, com os quais ele próprio concorda e sabe que serão respeitados pelo dominador.
Até aqui, tudo muito tranqüilo. Mas, suponhamos que, no decorrer de uma cena excepcionalmente excitante, um ou outro (submisso ou dominador) presuma, por si mesmo, que pode ir um pouquinho além daquilo que foi previamente combinado. Suponhamos, por exemplo, que um casal (homem e mulher) tenha seguido toda a cartilha de segurança, combinando tudo o que fariam, e que em nenhum momento se tenha falado numa penetração anal da mulher. E suponhamos que, no ápice do jogo, o homem tenha, de repente, por qualquer motivo, a impressão nítida de que a parceira concordaria com essa penetração, mesmo estando ela amarrada, amordaçada e vendada, incapaz de reagir.
Aí é que o problema começa. Se o casal combinou uma palavra ou sinal que indica que o submisso já está no limite de sua resistência - e que, portanto, é hora do dominador encerrar a sessão imediatamente -, ainda há uma chance. Mas, se eles deixaram de lado essa "válvula de segurança" absolutamente indispensável numa cena de BDSM, torna-se virtualmente impossível ao submisso indicar ao dominador que este está indo longe demais.
Debater-se, gemer mais alto, tentar gritar ou se livrar das cordas: tudo isso faz parte da cena e nada disso indica coisa alguma, servindo, para a maioria dos dominadores, apenas para excitá-lo ainda mais e tornar mais evidente (para ele) que o submisso está gostando cada vez mais do jogo, quando na realidade ocorre exatamente o contrário.
Nessa situação, com as endorfinas afogando o cérebro, é muito pouco provável que o dominador vá se dar conta de que rompeu os limites do submisso. Ele só se aperceberá disso mais tarde, quando a cena estiver encerrada - e provavelmente a relação com o submisso também, porque se terá perdido a relação de confiança mútua, sem a qual ninguém, em sã consciência, pode manter um jogo de BDSM.
Pode também ocorrer o contrário. Um submisso que goste de ser espancado, por exemplo, pode, da mesma forma, perder o controle sobre si mesmo, permitindo ao dominador que vá longe demais, causando até ferimentos sérios. Neste caso, embora não se possa falar propriamente em abuso, o resultado pode ser deprimente para ambos. Para o submisso, que, ao notar que foi longe demais consigo mesmo, tenderá a culpar o próprio dominador por não ter notado isso, podendo acusá-lo, inclusive, de ter se aproveitado da situação de excitação em que ele, submisso, se encontrava (e daí a acusá-lo de abuso vai apenas um pequeno passo). E para o dominador, que tendo ou não notado que as coisas estavam saindo de controle, irá se recriminar depois, porque ele próprio saiu de controle. Ou seja, ao dar um, dois, três passos além do que se havia preiamente combinado, o dominador estará se mostrando fraco demais para exercer seu papel. Dominadores, acima de tudo, têm de ter controle total sobre a cena. Não apenas sobre o parceiro, mas especialmente sobre si mesmo. Sem isso, ele se torna muito mais uma ameaça do que qualquer outra coisa.
Vê-se, portanto, que a questão é sutil. E, portanto, complexa. Determinar onde termina o consensual e onde começa o abuso é tarefa delicada, que implica em alguma experiência de ambas as partes envolvidas no jogo. Cabe ao submisso saber exatamente até onde ele quer e pode ir; e cabe ao dominador interpretar isso corretamente, além de, claro, saber também ele os próprios limites.
É por conta disso que muitas relações de BDSM tornam-se verdadeiramente traumáticas. Temos visto alguns casos de iniciantes no jogo que, sem ter noções de seus próprios limites, acabam indo longe demais - e depois culpam os dominadores, quando a culpa, na verdade, é de ambos. Um iniciante não tem parâmetros para mensurar coisa nenhuma. E tolo é o dominador que acredita o contrário. Não se trata aqui de duvidar da resistência ou de subestimar os desejos de ninguém. Trata-se simplesmente de um fato: um submisso iniciante simplesmente não sabe se, de fato, poderá chegar até onde sua imaginação e suas fantasias lhe sugerem, porque ele nunca experimentou aquilo antes.
Não são raros os casos de pessoas que acham que adorariam transar amarradas (para ficar num exemplo bem simples) e que, na hora em que tentam fazê-lo, descobrem que a realidade é bem diferente do sonho... E que elas, afinal, não curtem aquilo. O que dizer então de quem acha que vai amar ser humilhado ou chicoteado? Achar, disse certa vez um vilão num filme, é a mãe de todos os erros...
Portanto, agir com cuidado - algo que, como praticantes mais experientes, recomendamos o tempo todo - torna-se ainda absolutamente imprescindível na questão abuso x consenso. E se isso vale para nós mesmos, deve valer muito mais ainda para quem está começando, agora, a explorar suas fantasias dentro do BDSM.
Iniciantes precisam entender três coisas: primeiro, que devem ir devagar, por mais que os instintos lhes gritem que podem ir mais e mais longe.
Segundo, que jamais devem participar de uma cena se não for com um dominador no qual tenham a mais absoluta confiança. E é bom lembrar que essa confiança não se adquire em conversas em chats nem em um único encontro real. A comunidade BDSM é pequena, e as pessoas que a integram geralmente se conhecem. A recomendação é que se procure informações sobre o parceiro ou parceira junto a essa comunidade. Ninguém se sentirá ofendido com isso - e se se sentir, lamentamos dizer, está no lugar errado, porque trata-se de uma relação que envolve riscos (sim e sempre, por mais que se tente negar) e, portanto, torna não apenas natural, mas essencial, que quem queira vivenciá-la cerque-se de todas as precauções que julgar necessárias. Portanto, é preciso colher informações sobre o parceiro, conhecê-lo bem (alguns encontros pessoais, preferencialmente em locais públicos e em programas normais, como ir a um cinema, por exemplo, ajudam a ter uma visão do parceiro ou da parceira não enquanto dominador, mas como pessoa) e só aceitar entrar no jogo quando se estiver totalmente convencido de que o dominador é confiável. Não 50% confiável, nem 70% confiável, mas integralmente confiável. Se houver qualquer dúvida sobre isso, acredite: é melhor desistir e tentar encontrar outra pessoa.
Em terceiro lugar, mas não menos importante: jamais entre numa cena sem antes ter estabelecido a palavra ou sinal de segurança. Se for uma palavra, trate de encontrar uma bem estranha, que não deixe a menor dúvida sobre o seu significado. Jamais use "não" ou "pare", por exemplo, porque dizer isso faz parte do jogo - e uma das melhores parte, aliás. Use palavras que jamais seriam ditas numa ocasião como uma cena BDSM. Quanto mais absurda melhor. Se for um sinal, deixe muito claro qual será ele. Lembre-se que você pode estar imobilizado(a) completamente, e que será preciso encontrar um meio de indicar que o jogo está encerrado. E lembre-se (e lembre também o dominador): dita a palavra ou dado o sinal, o jogo acaba imediatamente.
Finalmente, uma última observação. Quem estabelece onde termina o consensual são os parceiros, e apenas eles. Mas o abuso geralmente é cometido por apenas um deles. Não existe a desculpa de que o jogo estava tão bom que foi impossível segurar e ir além. Isso pode se aplicar numa transa normal entre casais, mas jamais no universo BDSM. Não é um jogo para crianças jogarem. É coisa para adultos. Mais do que isso, é coisa para adultos que sabem se controlar. Nenhum dominador tem o direito de ir além do que estabeleceu com o submisso. E nenhum submisso tem o direito de deixar que o dominador vá além do que estabeleceu com ele.
Por isso, essa conversa de que "o submisso é meu e eu faço dele o que bem entender, mesmo que ele não queira", só funciona se o submisso afirmar que "sou do meu dominador e ele faz de mim o que bem entender, mesmo que contra a minha vontade". Para nós, particularmente, esse tipo de comportamento é questionável, porque entendemos o BDSM como uma relação de prazer para dois, nunca para apenas um. E sabemos que submissos que aceitam absolutamente tudo que o dominador lhes ordena - e que efetivamente sentem prazer com isso - são raríssimos. Alguns talvez aceitem apenas para agradar a seu mestre, ou porque têm medo de que ele vá embora se assim não o fizerem. É um erro, mas um erro particular e que só diz respeito a quem o comete.
BDSM deve, desculpem a insistência, dar prazer aos dois lados, e não a um só. Senão, o jogo perde seu caráter de jogo - e cai no abuso puro e simples. Defender isso seria a mesma coisa que defender o estupro, por exemplo (e mesmo entre nós, cenas de estupro são cenas de estupro...).

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Maestro Alex
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#27 Mensagem por Maestro Alex » 18 Jul 2007, 23:14

O que é Gor?
tavi{CS}

-LITERATURA

Essa pergunta admite várias respostas porque GOR não se limita a uma única compreensão. A forma mais simples de responder talvez seja dizendo que GOR é um mundo de ficção, criado pelo filósofo e escritor John F Lange, sob o pseudônimo de John Norman. Nesse planeta ele ambienta sua série de 26 livros conhecidos também como “As Crônicas da Contra-Terra”. Em GOR, a escravidão é instituída e bem aceita como um dos três pilares da sociedade. As escravas Goreanas são conhecidas como kajiras e pertencem, sem qualquer reserva ou condição, a seus Mestres.

Os livros de John Norman não estão mais sendo publicados. Nos Estados Unidos, a editora de John Norman sofreu grande pressão e vários boicotes até falir por completo. Com medo de terem o mesmo fim, os editores passaram a rejeitar essas obras. A ilusão da liberdade de expressão na América foi desmentida por esses eventos. Há uma frase de John Norman bastante conhecida: “Não é preciso queimar os livros se os impedimos de serem publicados”.

-GRUPOS GOREANOS

Os leitores, fascinados pela idéia e pela filosofia contida nos livros, criaram grupos em diversos países. As sociedades Goreanas tem crescido e se espalhado pelo mundo em três formatos: Algumas delas são puramente virtuais e realizam sua existência apenas em salas de chat onde a liturgia Goreana é a regra obrigatória. Isso é chamado de “Online Gor” e é um ótimo meio para se aprender um pouco mais sobre o tema (ainda que de maneira superficial). Alguns grupos reais também vivem como em um jogo, aplicando regras tal como se apresentam nos livros em seus encontros. Esses (tanto os virtuais quanto os reais) constituem o primeiro tipo de Goreanos, chamado de ROLE PLAYER (JOGADOR) Mas é comum que alguém que realmente se interesse pelo assunto busque, mais cedo ou mais tarde, por um aprofundamento filosófico. Isso só se dará com a leitura e análise dos livros. Existem então, para esse fim, grupos destinados ao estudo da FILOSOFIA. Por último teremos os LIFESTYLERS, que aplicam a Filosofia Goreana a sua vida quotidiana e muitas vezes em seus grupos fechados.

Esses três formatos admitem combinações e, embora dificilmente um Filósofo seja um Role Player, é bastante comum que haja algum tipo de Role Playing entre os Lifestylers, em maior ou menor quantidade, dependendo do grupo. Muitos Filósofos aplicam o que aprendem na sua vida, passando de estudiosos a Lifestylers também. As classificações servem apenas para facilitar o entendimento sobre três tendências. Porém sabemos que essas tendências, na vida real não são puras. Existe uma certa mobilidade entre os estilos

- A QUESTÃO DO MÉRITO ENTRE GOREANOS E OS TIPOS DE LEITORES

O tempo de experiência com Gor não necessariamente fará de alguém um grande conhecedor. Muitas pessoas podem permanecer em grupos não muito exigentes sem nunca compreender ao certo as implicações da Filosofia Goreana.

Uma pessoa pode ter lido vários livros da série Goreana sem nunca entender o que eles refletem. Existem dois tipos básicos de leitores: Os que lêem por entretenimento apenas e os que buscam compreender o que há por trás da história (observando o contexto histórico, a biografia do autor, o simbolismo intrínseco do livro e o uso de ironia, por exemplo). O leitor filósofo deve ver sempre além das palavras e situações descritas. O importante não é a história que se apresenta, mas o que ela quer dizer de forma mais global, como obra, crítica social e representação de certa forma de se ver o mundo.

Um exemplo clássico onde as pessoas se confundem muito frequentemente diz respeito a uma das bases inegáveis da Filosofia Goreana.Uma das grandes preocupações de John Norman é a de expressar que Homens e Mulheres são diferentes, não apenas na biologia. No BDSM, temos apeptos da FEM DOM, que acreditam na dominção como sendo papel do sexo feminino. Já para John Norman, existe uma natureza masculina e uma feminina. A masculina é a de liderança. A feminina é de submissão (resumindo-se muito, apenas para concluir). Para argumentar em favor dessa teoria, John Norman permite em seus livros a existência de Mulheres Livres e de Escravos. O objetivo é demonstrar que o ser, fora de seu lugar natural é incompleto. As mulheres livres nos livros frequentemente resenten-se por não terem a seu lado uma figura masculina forte para conduzi-las. Um ótimo exemplo disso é a Tatrix de Tharna, Lara, que governa a cidade, mas sonha com um homem que a domine. Quando Tarl (personagem condutor da saga) parte, Lara o pede para que se algum dia ele tiver interesse em ter uma escrava, que ele se lembre dela, a Tatrix de Tharna.

- O RESPEITO ACIMA DE TUDO

Um conceito muito presente nos livros é o de sinceridade sobre o que se é e sobre nossas próprias limitações. É comum a mensagem de que devemos nos conhecer e respeitar a nossa essência. O bom e velho clichê do “Seja quem você é” parece estar presente no Goreanismo. Penso que isso implica em se aceitar não somente nossa essência, mas também a forma de ser de quem nos cerca.

Como não existe imparcialidade total, por mais que tentemos obtê-la, é importante dizer que este, e qualquer outro texto meu sobre GOR não é e nem pretende ser palavra final. Para mim, Gor é muito mais do que um fetiche, e quanto mais me aprofundo na leitura e crítica, mais entendo a complexidade e abrangência dessa filosofia. Sou submissa e masoquista, mas também estudante de letras (Inglês) com ênfase em Literatura e Linguística e minha paixão por Gor vai bem além dos campos do fetiche. Penso que John Norman e os grupos que abraçaram GOR, sejam Role Players, Filósofos ou Lifestylers, fazem parte de um movimento de contra-cultura que nasceu em resposta aos excessos do feminismo e a uma criação que em muito poda a essência masculina. Havendo opção e respeito, seja qual for a forma de pensar, cada um faz suas próprias escolhas. Ser bem sucedido é ser quem você é, e não um escravo do sistema.

Well wishes!

+tavi{CS}

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#28 Mensagem por Maestro Alex » 18 Jul 2007, 23:16

SadoMasoquismo e romantismo, a capacidade mágica de erotizar o planeta.
Sádico

Sabemos que a sexualidade humana é humana na medida em que nos afasta da função da reprodução. Iidentificamos o prazer sexual com este afastamento - quanto menos animal, mais prazer.

Um desses afastamentos nos interessa particularmente: a capacidade de erotizar o planeta.

Só nós humanos podemos fazer isto, e apenas dois estilos de erotismo o fazem de maneira sistemática e consciente: o Romantismo e o Sadomasoquismo.
Senão, vejamos.

Quando o romântico recolhe no alto do morro uma flor para sua amada, empresta àquela flor o poder de falar por seu amor. Quando a amada leva a flor consigo, a deposita dentro de um livro de cabeceira, olha lânguida para ela antes de dormir, imantou a flor com o seu amor, com o seu amado; ou ainda, recebeu e aceitou a simbologia que o amado inventou. O casal foi capaz de extravasar seu amor, seus desejos, seu erotismo para o resto do planeta, para os objetos - qualquer objeto: roupas, presentes de todos os tipos, o guardanapo do restaurante onde ele/a me disse "sim". Tudo está à disposição e é utilizado para representar, expandir, re-significar o amor e o desejo do casal.

Ao contrario do romantismo, no sadomasoquismo o uso de objetos variados é portador de um certo preconceito, principalmente pela falta de conhecimento de sua função (e diga-se de passagem que por vezes o preconceito assalta inclusive os praticantes do bdsm).

Mas o que ocorre aqui é exatamente a mesma coisa que ocorre com o romantismo. Ao penetrar sua parceira com um objeto comprado em um sex-shop (eu particularmente prefiro adquirir estes brinquedinhos no supermercado da esquina), ao comprar e utilizar um chicotinho, ao utilizar lenços ou cordas ou fios para amarrar o parceiro.
Vis a vis à pratica de ser amarrada/o, de apanhar com chicote ou palmatória, de ser penetrada por um socador de caipirinha. Ambos, senhor/a e escrava/o estão erotizando o planeta à sua volta, seus afetos, seus desejos. Seu tesão agora se espalha pelos objetos da cena, da casa, do planeta. Uma/um boa/m escrava/o se excita ao entrar no supermercado onde buscou brinquedinhos com seu/sua dono/a. Um/a bom/a senhor/a idem. Os amantes trocam olhares lascivos ao enxergar um destes objetos quando estão andando pela rua.

Se isto não é visto assim, é graças à duas confusões teóricas encontradiças nas ciências humanas - na psicologia e na economia.

Na psicologia, desenvolveu-se a noção de fetiche, advinda da psicanálise. Ocorre que este conceito significa a substituição do objeto erótico pelo objeto, digamos, inanimado. Se eu gosto de calcinhas de mulher ao invés da mulher mesma, então estou fetichizando (a palavra vem de feitiço, ou seja imantar as coisas das propriedades que elas não tem). Vai daí que se confundiu a propriedade humana de humanizar o mundo, com a patologia de substituir o mundo humano pelo mundo das coisas.

E na economia, especificamente na economia política, Marx importou a mesma noção para denunciar a alienação da mercadoria, onde os homens passam a idolatrar os bens, outra vez, no lugar das pessoas.

Com isto, infelizmente, perdemos a possibilidade de admirar este feito maravilhoso da consciência humana - a capacidade de abranger o mundo com nossos sentimentos, de emprestar às coisas o nosso modo de ver e de sentir. Por isto o romântico é ridicularizado e o sado-masoquista execrado quando usa objetos para demonstrar, simbolizar, mimetizar o seu amor, o seu desejo, o seu tesão. Mas se a consciência execra a pratica, o corpo a sacramenta, as glândulas reagem, e os mamilos apontam da mesma forma quando uma mulher romântica enxerga uma flor ressecada ou quando uma escrava acaricia um chicote.

Eis uma das boas razões pelas quais romantismo e sadomasoquismo são modos tão intensos de amar, tão apaixonantes, tão radicais: Ambos tem a propriedade de vestir o planeta com o seu amor, de colocar o mundo a serviço de seus sentimentos, de exercer com plenitude o que os humanos temos de mais humano.

Sádico

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#29 Mensagem por Maestro Alex » 22 Jul 2007, 12:25

A escravidão não é sofrer. . .
. . . A escravidão é o servir.
A escravidão não é o humilhação. . .
. . . A escravidão é a humildade.
A escravidão não é ser usado. . .
. . . A escravidão é ser do uso.
A escravidão não é o controle. . .
. . . A escravidão é deixar ser guiado.
A escravidão não é o que lhe é feito. . .
. . . A escravidão é o que você faz para outro.
A escravidão não é o abuso. . .
. . . A escravidão é a aceitação.
A escravidão não é provar qualquer coisa. . .
. . . A escravidão é ser real.
A escravidão não é o contenplação. . .
. . . A escravidão é o respeito.
A escravidão não é como você olha. . .
. . . A escravidão é quanto você se importa.
A escravidão não é negar-se. . .
. . . A escravidão é estar aberto.
A escravidão não é estar preso. . .
. . . A escravidão é livrar seu espírito.
A escravidão não é a punição. . .
. . . A escravidão é a disciplina.
A escravidão não é ser incapaz de escapar-se. . .
. . . A escravidão é ser cometido.
A escravidão não é medo. . .
. . . A escravidão é a confiança.
A escravidão não é o sexo. . .
. . . A escravidão é o amor.

A escravidão não é o prazer. . .
. . . A escravidão é a felicidade.

Copyright © 1998 by David Stei

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#30 Mensagem por polyana » 30 Ago 2007, 23:27

Existem chats onde mulheres e homens adeptos dessa pratica trocam informações e até marcam encontros.
Não é só dar ou tomar porrada tem todo um jogo de sedução que leva a pessoa entrar num clima psicologico, não precisa necessariamente rolar agressão fisica.

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