Sobre as cordas reais e imaginárias.
Tenho pensado longamente acerca do uso de cordas e todas implicações que envolvem o uso de tal recurso.
As contenções possuem muitos aspectos mas em todos eles estão a serviço do exercício de um determinado tipo de poder.
Amarra-se com o objetivo de docilizar, amansar, algo como uma domesticação dos corpos essencialmente selvagens.
Fala-se de corpos que são essencialmente desejo. A pele não pode nada além de desejar, em movimentos de atração, em movimentos de repulsão, mas sempre em movimentos que envolvem porosidades, suores, desejos liquefeitos.
Deseja-se domar um corpo desejante, como se fosse possível colocar rédeas no desejo. Tenta-se, quiçá em vão, pela docilização do corpo de outrem domar o seu próprio.
Aquele que apriosiona pelas cordas, em última analisa deseja para si mesmo a contenção. Promove-a em outro para controlar, antes de tudo controlar a si mesmo e o ambiente desejante. O que transborda naquele que amarra é contido naquele que é amarrado.
Nesta cena há dois atores, pelo menos, o que amarra e o que é amarrado. Falei que aquele que amarra deseja, numa análise teleológica, ser amarrado e, analogicamente, devo dizer o contrário, que o amarrado deseja ainda amarrar.
Ora, temos aí um vai-e-vem de papéis, uma troca de desejos, enfim a expressão máxima do erotismo. O sujeito amarrado percebe que no seu ato de submissão às cordas acaba aprisionando o desejo do outro, que imerso num hipotético universo de dominação, igualmente faz-se prisioneiro da cena na qual ambos estão inseridos, cena que só subsiste pela presença dos instrumentos de poder, neste caso as cordas, e pela sucessão acelerada dos papéis amarrdo-amarrante-amarrado-amarrante-amarrado....
As cordas estão a conter atitudes. Pode-se conter gestos, movimentos, falas, olhares, pode-se, com este aparelhamento de poder, conter a expressão do desejo, mas jamais o desejo posto que ser amarrado é expressão impar do desejo de se submeter.
Pode-se, ao amarrar, controlar tudo, limitar gestualidades, controlar movimentos, mas o desejo persiste e insiste, mesmo que o outro esteja amarrado pois o desejo não habite este ou aquele, o desejo subsiste no encontro destes corpos.
Parece-me que todos, em certo grau, exercem a contenção, seja por meio de aparelhos mais fetichistas ou pelos simples controle de quando e como submetem o outro aos seus caprichos sexuais. Fala-se tanto nas cordas, mas perdem-se de vista todas as cordas simbólicas, aquelas que levamos para a vida além da cena libidinosa.
As cordas reais ficam ali, desamarradas após o ato, mas estas outras são nossos grilhões duradouros. Estas invisíveis, elas sim podem nos aprisionar indefinidamente, consumindo nosso desejo. Atentemos às invisíveis pois às visíveis nos basta uma lâmina cortante.
Tenho pensado longamente acerca do uso de cordas e todas implicações que envolvem o uso de tal recurso.
As contenções possuem muitos aspectos mas em todos eles estão a serviço do exercício de um determinado tipo de poder.
Amarra-se com o objetivo de docilizar, amansar, algo como uma domesticação dos corpos essencialmente selvagens.
Fala-se de corpos que são essencialmente desejo. A pele não pode nada além de desejar, em movimentos de atração, em movimentos de repulsão, mas sempre em movimentos que envolvem porosidades, suores, desejos liquefeitos.
Deseja-se domar um corpo desejante, como se fosse possível colocar rédeas no desejo. Tenta-se, quiçá em vão, pela docilização do corpo de outrem domar o seu próprio.
Aquele que apriosiona pelas cordas, em última analisa deseja para si mesmo a contenção. Promove-a em outro para controlar, antes de tudo controlar a si mesmo e o ambiente desejante. O que transborda naquele que amarra é contido naquele que é amarrado.
Nesta cena há dois atores, pelo menos, o que amarra e o que é amarrado. Falei que aquele que amarra deseja, numa análise teleológica, ser amarrado e, analogicamente, devo dizer o contrário, que o amarrado deseja ainda amarrar.
Ora, temos aí um vai-e-vem de papéis, uma troca de desejos, enfim a expressão máxima do erotismo. O sujeito amarrado percebe que no seu ato de submissão às cordas acaba aprisionando o desejo do outro, que imerso num hipotético universo de dominação, igualmente faz-se prisioneiro da cena na qual ambos estão inseridos, cena que só subsiste pela presença dos instrumentos de poder, neste caso as cordas, e pela sucessão acelerada dos papéis amarrdo-amarrante-amarrado-amarrante-amarrado....
As cordas estão a conter atitudes. Pode-se conter gestos, movimentos, falas, olhares, pode-se, com este aparelhamento de poder, conter a expressão do desejo, mas jamais o desejo posto que ser amarrado é expressão impar do desejo de se submeter.
Pode-se, ao amarrar, controlar tudo, limitar gestualidades, controlar movimentos, mas o desejo persiste e insiste, mesmo que o outro esteja amarrado pois o desejo não habite este ou aquele, o desejo subsiste no encontro destes corpos.
Parece-me que todos, em certo grau, exercem a contenção, seja por meio de aparelhos mais fetichistas ou pelos simples controle de quando e como submetem o outro aos seus caprichos sexuais. Fala-se tanto nas cordas, mas perdem-se de vista todas as cordas simbólicas, aquelas que levamos para a vida além da cena libidinosa.
As cordas reais ficam ali, desamarradas após o ato, mas estas outras são nossos grilhões duradouros. Estas invisíveis, elas sim podem nos aprisionar indefinidamente, consumindo nosso desejo. Atentemos às invisíveis pois às visíveis nos basta uma lâmina cortante.