Num dos versos da Divina Comédia, Dante leu a inscrição sobre a Porta do Inferno:
“Vós que entrais, deixai toda a esperança”.
Eu estava frustrado com o universo mundano do Rio, foi quando decidi redescobrir um território paralelo encravado entre São Cristóvão e a Praça da Bandeira...
Vila Mimosa, o lugar onde a Mulher é real.
Este bem que podia ser um mote de boas-vindas, colocado numa faixa na entrada da Rua Ceará, mas é apenas uma sensação que tenho quando penetro na Vila.
Mais de oitenta anos de existência, dizem que recebe, em média, mil visitantes por dia. Já ocupou vários pontos da área do Centro. Contam que Clientes célebres estão na lista de freqüentadores: Manuel Bandeira, Cartola, Di Cavalcanti, Dicró, etc.
Na Mimosa, debaixo daquelas lâmpadas de cem velas, a mulher não tem outra opção, ela é real em suas perfeições e imperfeições. Nuas ou seminuas, tudo é revelado pelo brilho florescente das galerias. Lá, não faz diferença usar lentes de contatos, cabelos oxigenados, bronzeamento artificial e apliques. Na Vila Mimosa tudo é real e desmascarado.
A mulher linda é linda, a feia é feia. A boa de cama é um sucesso inquestionável e a morna é uma tentativa de engodo. Não existem “fakes” na Rua Ceará.
Os colegas mais preconceituosos irão dizer:
“Putz! Vila Mimosa, R$ 26,00 um programa, lugar podre, eu não vou!”
Pois eu lhe respondo, meu estimado colega: Despoje-se dos seus receios e idéias preconcebidas, vá à Vila Mimosa. É uma imperdível experiência de vida e um item imprescindível no currículo de qualquer boêmio.
Na VM o sexo é socialista e viramos parte de um imenso proletariado porno-erótico. Ali, um engenheiro fica lado a lado com um pedreiro e os dois dividem a mesma mulher.
Fazer sexo na Mimosa é como comprar roupa em Vilar dos Teles, você paga apenas pela peça, não existe a taxa da griffe. Encontramos a mesma garota que poderia estar na 44, 65, Centaurus, mas pagamos R$ 26,00.
Vila Mimosa, onde o preço também é real...
Na VM não existe o engano da Luz Negra que disfarça as imperfeições do corpo feminino. Os corredores da VM são iluminados com a velha lâmpada Philips de 100 velas que esfrega em nossa cara todas as verdades que precisamos ver.
Na Vila você não bebe o whisky falsificado, aquele que enfeita o copo cheio de gelo que algum pseudo-empresário balança fazendo tilintar mais que sino de Paróquia do Interior. Na Mimosa você toma uma “caninha” pura e honesta.
Vila Mimosa, onde até o porre é real...
Esqueça quem você é antes de pisar sobre aqueles paralelepípedos, pois na VM você não é ninguém, você se torna um peão entre peões.
Na Mimosa, as mulheres são Putas, não são “acompanhantes” e nem “massagistas”.. Lá, elas não anunciam em sites e nem estão mascaradas pelo photoshop.
A Vila Mimosa é pra homem que aprendeu a ser Malandro, é pra quem sabe entrar e sair dos Becos da Vida.
Mulher na Vila Mimosa não quer ser Princesa, assumiu que é Vagabunda; não quer “fazer amorzinho”, prefere trepar; não quer beber Red Bull com Red Label, gosta mais de uma Cerveja gelada; ela não se interessa por você, mas se apressa em matar o seu desejo.
Na VM não existem Suítes ou Cabines, na Mimosa há as Masmorras. Você ingressa em cubículos decorados por uma cama de solteiro e uma latinha de lixo. A carteira não sofre, mas o corpo transpira, fazendo o sexo retomar o seu significado primitivo e selvagem.
A VM é chinelo de dedo e bermudão, nada de gravatinhas e criaturas engomadas.
A Vila é o Lula antes de ser Presidente.
Na Mimosa você não é diferente, você é igual e se sente estranhamente único por conta disso.
Você, que está desiludido com a Putaria, dê um pulo na Vila Mimosa. Lá, ou você se desilude de vez, ou descobre a verdadeira razão de ser putanheiro.
Vila Mimosa, onde até o Mundo é real...