Há três espécies de predadores urbanos, o libertino é indubitavelmente o protagonista na cadeia da evolução. O libertino é notívago, vaga como um leopardo protegido pela camuflagem das sombras noturnas, verte uma baba ácida capaz de corroer as carnes mais indigestas, é sorrateiro, discreto, agarra qualquer presa que provoque seu interesse, é eficiente nas intenções. São chacais solitários e adeptos do celibato, compreenderam que o hedonismo tem maior plenitude selvagem quando estão desacompanhados. Porém, não pense que o libertino vive a vida, ele a desperdiça num derrame genocida de espermas que terão como função somente o prazer imediato. O libertino esbanja sem culpa a ideia de existência contínua para sorver o momento imediato, o presente. Acredite, forista sem fé, viver é desdenhar do futuro.
A segunda categoria de caçadores engloba os adúlteros, esses vazam uma baba bovina, são preferencialmente diurnos ou vespertinos. Casados, excitam-se com a traição, com as manobras dissimuladas, são de natureza infiel e cínica. Apreciam mais a mentira ao sexo. Vivem duas vidas que jamais convergem, a oficial e a paralela. Sentem um culpa distante, mas aceitam a culpa como ferramenta acessória do prazer.
A terceira e última classe pertence aos onanistas, os mais desprezíveis na convivência e na escala dos predadores. Desleais por convicção, têm como religião o próprio ego. Também são infantis e guardam a necessidade constante de autoafirmar a suposta masculinidade por um rótulo que os reflete como recalcados agressivos e conspiradores. A prática sexual favorita que os estimula é o boquete numa garrafa verde de Heineken, com seu sabor frio e amargo simulando a ordenada chatice holandesa. Mulheres são disfarces para seus suspeitosíssimos desejos eróticos. São de sexualidade conflituosa. Gostam de andar em bandos, pois instigam-se com o alheio que os consola da própria sensação de insignificância.
Após esse novíssimo tratado da origem das espécies, incio a narrativa.
Modestamente, pertenço a espécie impetuosa dos libertinos. Os ponteiros do relógio apontavam para além das 22h enquanto eu pisava sobre a calçada silenciosa e erma da Av. Marechal Floriano, no Centro do Rio. Foi quando avistei uma nova casa, inaugurada há pouquíssimo tempo. Do lado de fora, assemelha-se a uma agência de apostas do Jockey Club, ostentando o logotipo de um cavalo ao lado do nome do estabelecimento: “Texas Show”.
A casa é pequena, mas simpática. Um gerente, que me pareceu novo na função, girava pelo ambiente como barata tonta. Latão custando 10 reais e programas a partir de 55 pilas.
Para variar, a Texas Show fica num sobrado dotado de mais escadas do que o acesso ao Reino dos Céus. Subi com força de vontade e quando alcancei a pista da boate fui recebido por três mulheres em biquínis minúsculos. A negra, que primeiro se aproximou de mim com ousadia, tinha porte de potranca alimentada com aveia Quaker. Isa é seu nome, mas devido a sua imagem de fêmea pedaçuda, o que ela merece é o superlativo “Isíssima”. Calculo que quinze dias não seriam suficientes para explorar aquela bunda dura e empinada, aquelas coxas roliças, aquela boca sedenta de sêmen. Uma escultura exuberante talhada no mais fino ébano. Sem conseguir prolongar a minha resistência, convidei-a para a alcova.
O quarto possui o clássico perfil trash, sem chuveiro, cama estreita e é separado dos outros cômodos por divisórias. Tudo isso se mostrava irrelevante diante daquele corpanzil de divindade africana que Isa ostentava sem pudor. Comecei chupando sua saborosa vagina e ao mesmo tempo dedilhava levemente o cuzinho da menina. Ela gemia, se contorcia, pedia mais. Deslizei a cabeça em direção aos seus lábios lambendo no percurso aquele corpo de geografia vasta, como se fosse uma infinita sequência de montanhas libidinosas. Beijei sua boca, beijo de línguas enroscadas, de troca de saliva. Com a pica nas galáxias, pedi que Isa me chupasse, mas ela não me chupou, ela abocanhou meu pau como se fosse linguiça de churrasco em dia de vitória do Flamengo. Um boquete canibalesco. Quase entregando os pontos, pedi que a negra ficasse de quatro e meti com desespero, a mulher é gostosa demais. Empinada e firme, recebia minhas estocadas emitindo sons de prazer, a música da luxúria. Gozei, gozei, gozei e pensei que não fosse mais parar de gozar. Êxtase absoluto. Nirvana sexual.
Conversamos um pouco e quando saí do quarto tive a mais absoluta certeza de que Isa foi a melhor trepada do ano de 2019. Duvido que até dezembro possa surgir outra que se iguale a esse mito sexual.
Desci as escadas, ganhei a rua deserta, resgatei o Sucatão, liguei o motor e submergi no negrume de um asfalto que indicava outros descaminhos. Depois da próxima curva haverá outra mulher... Aperte o cinto.