Insônia... Outra surpresa que surgiu com o avançar da idade e que eu nunca imaginei que conheceria. Mas a Insônia não vem sozinha, é mulher casada e lésbica, nos visita com a Ansiedade ao seu lado, costumam chegar de mãos dadas durante a alta madrugada. Na tentativa de escapar, fujo para as ruas.
Talvez já passasse das duas da manhã de uma terça-feira, encontro o Sucatão adormecido e sereno na garagem. Meu velho companheiro nunca se nega a dividir minhas excentricidades. Não há nada mais fiel ao homem do que um automóvel, nem mesmo um cão é tão dedicado aos nossos caprichos.
Entro no carro, insiro a chave na ignição, aperto o interruptor que ilumina o bigorrilho no alto do teto, a palavra táxi brilha como estrela solitária. Giro a chave, o motor ronca como um leão que desperta no meio de uma savana descampada, pressiono o acelerador, encaixo um CD no toca-discos e uma balada dá a cor da noite. Engato a marcha e o asfalto nos engole...
As ruas da Tijuca são desertas na madrugada, as lâmpadas amarelas dão um tom de melancolia a tudo, mas não demorou muito para que alcançássemos a efervescência de neon da Lapa.
O neon é uma luz que parece querer sugar nossa alma. É como o Demônio, eternamente prometendo algo que não cumpre. O neon é um engodo.
Não havia surpresas na Lapa, contorno os Arcos e volto pela Men de Sá.
Nunca duvide, Forista sem Fé: o inesperado está sempre à espreita...
Quando começo a alcançar o Estácio, seguindo pela Salvador de Sá, vejo um movimento diferente naqueles Cortiços que margeiam o lado esquerdo da rua, quase em frente à Quadra da Escola de Samba, na altura do número 400. Eram pequenas concentrações de mulheres num burburinho festivo. Toco de leve o freio e diminuo a velocidade.
Sim, eram mulheres! Na verdade, era algo muito melhor do que simples mulheres, eram Putas. Joguei o Sucatão para a beira da calçada e lancei meu olhar de interesse.
- Tem jogo? – Pergunto à queima roupa.
- Depende de você – responde a morena.
Apresentou-se como Elba. Falsa magra, bem ao estilo Camila Pitanga; lábios carnudos; sainha curta, que deixava exposta as coxas grossas; seios pequenos; cabelos curtos no estilo Chanel.
Trinta reais o programa, mas ela não ia pra Motel, o encontro era num quarto dentro do próprio Cortiço. Não permitiu contraproposta.
Amigo Forista, imagine um prédio bombardeado na Segunda Guerra Mundial, essa foi a impressão que tive dar os primeiros passos sobre os escombros que assombravam a construção que formava o Cortiço. Lixo, privadas quebradas, televisões sucateadas, vitrolas arcaicas, celulares “tijolão”. Um mar de antiguidades imprestáveis forrava o caminho até o quarto onde realizavam o sexo. Fios desencapados rompiam os ares, por todos os lados, num festival de “gatos”. O ambiente era escuro, penumbroso. Madeiras suspeitíssimas sustentavam as escadas e indicavam a passarela que levava ao aposento libidinoso. Fui assolado por um súbito receio, mas não tive medo. Sou homem da Zona e ali eu estava descobrindo um Vale perdido, um antro desconhecido da libertinagem. Prossegui.
Apesar dos tantos “gatos”, o quarto era iluminado por duas velas. Ela deixou cair a saia e tirou a blusa. A cinturinha fina e os peitos de biquinhos pontiagudos despertaram o meu tesão. Eu me despi apressado e ela se ajoelhou para me chupar. Um boquete gostoso, úmido. Não havia cama, mas um colchonete estendido no chão.
De repente, percebi movimentos nas paredes, no piso. Eram baratas! Baratas de todos os tamanhos, de todas as nacionalidades, havia uma convenção internacional de baratas naquele quarto. Fiquei tenso, mas um legítimo libertino não desiste. Insisti!
Ela se posicionou de quatro no colchonete, foi a minha vez de ajoelhar. Vi baratas fugindo apavoradas por todos os cantos. Meti. A tensão favorece o tesão, gozei rápido.
Sacudi minhas roupas e conferi meus bolsos para confirmar se nenhuma das baratas tentaria escapar do Cortiço pegando carona nos meus trajes. Verifiquei se nenhuma delas havia solicitado asilo político nas minhas botas e saí.
O Sucatão me aguardava, com as quatro rodas em cima da calçada. Algumas meninas me deram tchauzinho e pediram para que eu voltasse outras vezes.
Num súbito clarão de lucidez, compreendi que o Demônio não se esconde por trás das luzes de neon, ele mora no asfalto e está sempre à espreita.
Ligo o motor, encaixo um CD no toca-discos, encaro a pista negra à minha frente, sinto um lampejo de receio, mas acelero para descobrir o meu destino.
http://www.youtube.com/watch?v=zuTiTfbfy7Q
O Demônio é o inesperado!
Dante