Entenda a bolha imobiliária dos EUA
Norte-americanos estão deixando de pagar a hipoteca da casa própria.
Calote dá prejuízo a empresas envolvidas nesses empréstimos, que desencadeiam crise.
Duas semanas depois da turbulência asiática que derrubou as bolsas em todo o mundo, o mercado financeiro voltou a sofrer um abalo nesta terça-feira (13). Desta vez, o epicentro da crise são os Estados Unidos, onde a desaceleração da economia está provocando a desconfiança dos investidores.
O abalo tem origem no mercado imobiliário dos EUA: os americanos estão atrasando ou deixando de pagar a hipoteca da casa própria. Com isso, são afetadas todas as empresas envolvidas nos empréstimos imobiliários. E o calote não é pequeno. Segundo o professor de economia Ricardo Almeida, do Ibmec São Paulo, grande parte do total de empréstimos feitos nos EUA são hipotecas.
Hipoteca
Nas últimas décadas, a classe média norte-americana hipotecou em massa seus imóveis. Como funciona: empresas especializadas dão empréstimos e tomam as casas como garantia. Essas empresas, por sua vez, funcionam como 'intermediárias'. Elas buscam junto a investidores o dinheiro para oferecer nos empréstimos.
Com o aumento desse mercado, o investimento em imóveis tornou-se bastante atrativo. Aumentando a demanda, o preço dos imóveis subiu.
Os juros
Os problemas começaram no ano passado, quando o presidente do Fed (o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, deu a entender que estava surgindo um movimento inflacionário no país, por conta do excesso de dinheiro no mercado. Como forma de controle, as taxas de juros entraram em um movimento de leve alta.
"Com a alta dos juros, as pessoas, ao invés de comprar imóveis, começaram a se sentir mais atraídas a aplicar na bolsa", explica Almeida. O mercado imobiliário, então, começou um movimento reverso, de queda nos preços, provocada pela menor procura.
Inadimplência
Com os preços dos imóveis em baixa, as novas hipotecas alcançaram valores menores – e as empresas de concessão de crédito passaram a enfrentar a inadimplência. No total, 4,95% dos empréstimos imobiliários não foram pagos no quarto trimestre de 2006. ''Trata-se do nível mais elevado desde 2003'', destacou Gina Martin, do grupo financeiro Wachovia. A maior parte da inadimplência se refere aos empréstimos concedidos ao segmento baixa renda.
E a bolsa?
O calote atingiu as empresas de hipoteca, mas também os investidores que emprestaram dinheiro a elas. Sem receber as prestações, a empresa não repassa o dinheiro ao investidor. Esse, por sua vez, para reduzir suas perdas, vendem ações de outros negócios na bolsa. Com todo mundo vendendo, as bolsas despencam.
Para o professor Claudio Carvajal, coordenador dos cursos de administração da Faculdade Módulo, esse processo de queda foi agravado nesta terça-feira (13), com a ameaça de falência da New Century. A empresa, uma das maiores empresas de concessão de crédito imobiliário de risco, informou na véspera que seus credores pretendiam suspender os pagamentos.
No mesmo dia, a Bolsa de Valores de Nova York suspendeu as negociações com as ações da New Century, após a informação de que a comissão de valores mobiliários dos EUA (SEC) está investigando a companhia. "Isso resultou num abalo de credibilidade", diz Carvajal. "Quando isso acontece, o investidor percebe como aumento de risco, e deixa de investir", conclui.
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Resumo: Americano também é Caloteiro.