Elektra lembrou bem:
A igreja católica esquece mais uma vez do seu passado,
A despeito dos anátemas dos seus Doutores e das curiosa interpretações dos seus
teólogos, a Igreja católica não só fomentou o meretrício como o organizou e explorou
em seu proveito.
A prostituição regulamentada é uma instituição católica.
Os papas, soberanos temporais, soberanos espirituais fomentaram praticamente o desenvolvimento legal da prostituição.
“O primeiro lupanar pontifical foi estabelecido por Bento IX. As “senhoras” deviam
todos os dias assistir, muito cedo, a uma missa especial. Os clérigos, prelados e nobres
não deviam ser recebidos a não que estivessem munidos de um “Indulto”. A casa devia
estar fechada na Semana Santa. A tarifa era modificada segundo as festas da Igreja
sendo mais elevadas nos “dias santos”.
A “senhora”, depois de suas despesas todas pagas, devia dar um terço de seus lucros ao
Esmoler Pontifício e outro terço ao Mordomo de Sua Santidade. O último terço era
reservado à diretora, para as “despesas de seu zelo”.
“O cardeal Barónio, o grande analista da Igreja romana falando dos papas do século X,
exprime-se assim, relativamente ao ano de 912:
“Mais horrível que nunca era então o aspecto da Igreja romana! As cortesãs mais
degradadas e as mais poderosas dominavam Roma e a seu talante, distribuíam bispados
ou demitiam os bispos: e, o que é mais horrível de dizer e de explicar, colocavam na
cadeia de São Pedro, os seus amantes, falsos pontífices que só devem figurar no registro
dos papas para efeitos cronológicos.
“No século XIII Guilherme Durantis, bispo de Mendes, escrevia que em Roma as
mulheres públicas iam viver para junto das igrejas na vizinhança do palácio do papa e
da morada dos bispos e que os cortesãos do papa as visitavam assiduamente.
“O jesuíta Xavier Bettinelli diz da corte papal em Avinhão: ”Era um concurso de
belezas celebres que se ofereciam em espetáculo muitas vezes por dinheiro”. Petrarca
deixou-nos um quadro completo da Babilônia de Avinhão. As seguintes anedotas dão
uma pequena idéia.
“Um septuagenário, Clemente VI, - lascivo como um bode – manda de noite procurar
uma bela rapariga. Ela vem pensando que quem a chama é um jovem prelado, e é
introduzida no quarto do Papa. Quando percebe que em vez de um mancebo é um velho
idiota e nojento, olha-o indignada e grita que foi enganada e que não quer nada com
semelhante imbecil. O velho Pontífice luta mas em vão! No fim, retira-se para um
gabinete contíguo: reveste-se com os paramentos pontificais, coloca a tiara e nesse
aparato apresenta-se à rapariga, dizendo- lhe: Recusarás resistir ao Soberano Pontífice?
“Ela então cede”.
“Podem contar-se por milhares as aventuras deste gênero”
“O que foi a corte Pontifical e o que foram as Côrtes dos altos dignitários eclesiásticos,
mostram-nos as crônicas dos Concílios. O de Constância fez ir para esta cidade 450
cortesãs, para os prelados, como conta um contemporâneo.
O Papa Inocêncio IV foi para Lião, com a sua corte, e reuniu aí, um concilio geral
(1251). O historiador Mateus Parigi, monge beneditino conta que o Papa antes de deixar
a cidade, encarregou um cardeal de agradecer a população o acolhimento que lhe tinha
feito e a sua côrte. O cardeal depois de ter reunido as personagens da cidade fez-lhes um
discurso, no qual disse entre outras coisas: “Meus queridos amigos, entre outras
vantagens que a vossa cidade recebeu com a permanência da corte pontifical, é preciso
que não deixe de mencionar o progresso dos bons costumes e da moralidade pública.
Quando viemos aqui, havia três ou quatro casas habitadas por mulheres de má vida;
agora deixamos apenas uma: estende-se da porta oriental à porta ocidental”.
“A Roma pontifical era um vasto prostíbulo. Um viajante, que a visitou no século XVII,
escreveu: “Roma, vergonhosamente privada de navegação e de tráfico, seria a cidade
mais miserável da Itália sem a bicharia do clero, dos judeus e das cortesãs que formam o
conjunto da população.
“No fim do século XVIII, conforme uma estatística verídica havia, em Roma, 6.800
prostitutas e nessa época, a cidade devia ter uns 100.000 habitantes."
“Depois de conhecermos os costumes da corte pontifical não é nada entranhável ver
papas fundar casas de tolerância.”
Cornélio Agripa de Netteshein, no seu livro De Incertudine et vanitate scientiarum,
afirmou que o Papa Sixto IV (1471-1484) fundou em Roma tres lupanares, onde as
cortesãs obrigadas a pagar- lhe cada semana um júlio de ouro lhe rendiam, por ano, vinte
mil ducados. O mesmo autor assegurou que o Papa dava esses lupanares aos padres,
com benefício e que ouviu falar de um prelado romano detentor de dois benefícios, de
uma paróquia de 20 ducados, de um priorado de 40 ducados e de três prostitutas num
bordel que cada semana lhe entregavam 20 júlios.
Além deste Sixto IV, Papa alcoviteiro, houve outros que regulamentaram a prostituição,
colhendo dela benefícios para a Igreja ou reservando-os para si. Assim, Bento IX já
citado por Bonnefon, concedeu o monopólio da prostituição a uma penitente, de quem
tinha sido confessor.
Pelo breve Honestale, diz Bernessi – deu a essa dama o direito de reunir, sob o mesmo
teto, raparigas sãs, mas já afeitas ao vício. A diretora era obrigada a mandar ouvir missa
todas as manhãs, às suas pensionistas. A missa era celebrada por um padre idoso, na
igreja de Santa Maria, um pouco antes da alvorada.
As pensionistas da favorita de Bento IX eram obrigadas, quando saíam, a vestir-se de
negro e a por um véu que dissimulavam a sua aparência. Na casa de tolerância podiam
vestir-se com esmero, mas os seus vestidos deviam ser ajustados e bem abotoados. Num
compartimento do rés-do-chão, a diretora podia oferecer aos clientes diversas
pensionistas, ao mesmo tempo, mas sua presença era indispensável a fim de que não
faltasse às leis da honestidade.
Cada visitante só podia escolher uma mulher de cada vez. Os quartos deviam ser
hermeticamente fechados, de maneira que nenhum ruído se ouvisse exteriormente e que
as vozes não pudessem chegar até os habitantes das casas vizinhas. O mesmo visitante
podia apresentar-se duas vezes por dia, mas para se isolar com a mesma mulher. Os
clérigos, os prelados e os monsenhores só podiam ser recebidos quando trouxessem um
Indulto.
“A casa tinha três categorias e a tarifa era proporcional às comodidades do quarto, à
idade da mulher e ao grau de dignidade do santo do dia. Nas grandes solenidades, as
tarifas deviam ser aumentadas, em proporções extraordinárias. Durante a Semana Santa
a casa conservava-se encerrada e a fachada “de luto”. A lista dos visitantes era
rigorosamente conservada. Um dos médicos do Papa devia assegurar-se da saúde das
mulheres “com decência, mas com exatidão”. Não podia haver lá mulher que fosse
“irmã de um cardeal”. A igreja tirava rendimento desta casa.
O regulamento era acompanhado de um a tarifa que, infelizmente, está omitida dos altos
pontificais. O último parágrafo diz-nos que a mulher, depois de pagar suas despesas,
devia dar um terço do seu ganho ao mordomo de Sua Santidade, enquanto que o último
terço revertia para a diretora "em recompensa de seu zelo“.
O Papa Júlio II concedeu às prostitutas um bairro especial em Roma, por Bula de 10 de
janeiro de 1510. Leão X publicou três regulamentos, para salvaguardar a decência
exterior e a boa ordem da confraria das prostitutas romanas. Enfim Clemente VII
ocupou-se da questão do testamento das prostitutas.
“Obrigou-as a levar metade seus bens ao convento de Santa Maria da Penitência. Para
se subtraírem a esta doação obrigatória, as cortesãs punham as suas economias em
usufruto. Mas Clemente descobriu este subterfúgio e lançou excomunhão contra os que
consentissem em tais usufrutos. O marechal de Roma, encarregado da polícia urbana,
recebia o aluguel das casas de prazer. E isto durou até 1870!
“A meio do século XVI, o Papado correu o risco de perder o monopólio da prostituição
Marcebos da nobreza romana levavam para suas próprias residências as raparigas das
casas públicas. Então, o Papa interveio, estabelecendo que quem fizesse sair um
rapariga de uma casa pública seria punido “com a amputação da mão direita ou com o
exílio” conforme a qualidade do culpado.
Como vemos naquela época o clero fazia uso e usufruía da prostituição,
COM CERTEZA NÃO HAVIA TANTA PEDOFILIA DENTRO DA IGREJA, COMO HOJE, UM DESVIO SEXUAL PROVOCADO PELA ABSTENÇÃO.
Trechos extraídos de HISTÓRIA DA PROSTITUIÇÃO
JAIME BRASIL, em a “A Questão Sexual”