Autor: Cassiel
(Série Intermediários da Putaria – No. 1)
Obs.: Texto ficcional, inspirado em parte nos posts do GPGuia.
Se os homens tivessem um sindicato unificado, certamente eu seria punido. O que fazer? Depois do fim da grande onda das empresas “.com”, restou apenas esse emprego de “maquiagem digital” em um site de acompanhantes.
Eu entendo o problema, o cara vai pensando que vai transar com uma playmate, abre a porta e vê que a GP não é melhor do que aquela estagiária “mais ou menos” que já lhe estava dando bola no trabalho.
Tento-me confortar moralmente: as garotas da Playboy também só fornecem a moldura básica, o resto é o trabalho “artístico” - não é assim que elas falam ? - na tela de cristal líquido. Lembro-me muito bem da Hortência nua na revista: virtual como o Gollum no filme do Senhor dos Anéis. Penso no marido batendo uma bronha no banheiro com aquela Playboy e deixando a própria Hortência, feiosa, dormindo na cama.
Bem, isso não é uma desculpa boa: para comprar a revista você gasta uns 10 reais e não centenas deles. Vamos pensar em outra. Bem, um bom pedaço do trabalho já é feito pelo fotógrafo. A mulher não tem bunda, o sujeito tira um foto de cima para baixo, com ela inclinada. A mulher não tem seios, lá está ela deitada de braços para cima. Se os seios estão muito grandes e caídos, tiram a foto de maneira a você achar que ela é uma adolescente espanhola. Sempre usam ângulos espertos que só mostram o melhor da “modelo”, como se a gente pudesse comê-las naquelas posições fixas. Há também a questão da escala: o fotógrafo tira de cena qualquer objeto que possa dar uma dimensão real da perva e, desse modo, um “pingo de gente” pode parecer uma gostosona sem fim, o efeito microscópio.
(Na verdade, começo a pensar que a parte maior do trabalho é feito por quem vê as fotos, tomando alguns pontos de beleza e completando-os com uma carga enorme de fantasias, idealizações e desejos)
Há fotógrafos que fazem a imagem e o photoshop, eu não, dedico-me com apreço apenas ao computador e posso dizer (para vosso azar) que sou muito bom no que faço. Desde o começo eu tive a ambição de ser o melhor. Começaram-me a chegar fotos de todo o tipo de mulher e eu estava lá corrigindo as imperfeições do Criador. Na minha tela, não havia celulites, barriginhas, estrias, espinhas, perebas, etc. É como uma cirurgia plástica virtual, e eu adoraria sumir com a minha pança de cerveja com um clique no mouse. Orgulhoso, eu colecionava seqüências de “antes e depois” e cheguei a tratar uma foto da minha namorada e colocá-la na carteira.
Hoje, apesar de ser ainda ser muito confiante no que eu faço, a minha auto-estima artística não é tão forte como outrora. Um belo dia chega uma foto de uma tal de Vanessa Vanelli. Bem, meus caros, eu fiquei chocado, o que eu podia fazer com um dragão desses (http://www.contatos.com.br/nome.php?nome=vanessavanelli) ?
Ficava horas em frente à tela, sem ação, deprimido, até que, em um momento de sabedoria, eu resignei. Eu não sou tão capaz assim. E essa é uma linha de defesa: há limites para a arte e para a tecnologia.
(De qualquer modo, quem pegaria um monstro daqueles, que só serve para povoar pesadelos, tal como ainda faz comigo?)
Devo admitir que hoje sou odiado com alguma razão. Entretanto, com alguns anos de evolução técnica, você todos vão me procurar. Mostrarei alguns dos meus trabalhos básicos e vocês vão pedir algumas mudanças, olhos de tal cor, bunda de tal jeito, etc. Vão me dizer como você querem que a moça se comporte e as suas fantasias mais profundas. Alguns eletrodos no vosso cérebro e pronto, vocês terão o programa dos sonhos, literalmente. Ao fim, vocês me considerarão um dos profissionais mais essenciais do mundo, o ilusionista completo.