Viagem de Campina Grande (PB) a Salgueiro (PE), pernoite em Tabira (PE), outubro de 2007. Percebi logo na chegada que toda noite de terça-feira Tabira poderia festejar a padroeira, de tanta gente que fica na rua. Na praça central, pelo menos três bares improvisados oferecem cadeiras na calçada, carne assada em churrasqueiras feitas com tonéis de lata, cerveja e música alta para toda a gente feia e bonita que passar por ali. Um pouco antes do Jornal Nacional parei numa ruazinha ali perto e saí à procura de algo para comer e de um canto para pousar.
Sentei à mesa, pedi alguma coisa. O rapaz que atendia percebeu minha atenção nas moças sentadas do outro lado da praça e adiantou-se em perguntar de onde eu era. Pergunta ambígua, pensei... pela entonação com a qual são formuladas, no Nordeste, questões assim podem sinalizar desde a mais sincera hospitalidade até a mais veemente advertência por algum delito cometido, pretendido, ou mesmo - kafkianamente - ignorado.
O garçom, que era também o dono da churrasqueira e das mesinhas, sorriu-me com seu dente de ouro e, para meu alívio, sugeriu que eu ficasse por ali para arriscar alguma coisa, porque sempre apareciam, depois das nove, as moças da faculdade. É tudo esquema, adiantou, solícito. Agradeci a sugestão, comi meu prato, mas não demorei para pedir informações sobre os roteiros mais “profissionais” da cidade. A dica: a casa de Rosa Palmeirão, na ladeira da Prefeitura.
Após o banho, e de haver-me instalado na pousada, achei o lugar sem dificuldade. Rosa e uma outra puta velha estavam sentadas à calçada, debaixo de uma luzinha amarela que, em vão, pendia da fachada tentando clarear o grande descampado dali em frente.
Passei ao largo e não vi nada atraente no lugar, decidindo voltar para pousada. Vi ainda, pelo retrovisor enquanto manobrava, que a cafetina, após uma tragada no cigarro, sinalizava interessadamente para mim. Logo que o vidro baixou, e eu fiz minha saudação, ela perguntou: - Botei fava novinha no fogo... quer um caldinho?
Puta veterana oferecendo caldinho no sertão, vento frio em noite seca e zoada difusa da cidade lá embaixo... se Euclides da Cunha passou por isso, não escreveu a respeito.
Apeei do carro, pedi licença, e disse que me viesse à mesa uma lapada de cana. Amarga! De lá de dentro se ouvia um chuá de banho de caneca, e já se sentia o cheiro bom da fava fervendo com charque, num fogãozinho de duas bocas.
Meu caldinho vem, numa caneca de plástico meio engordurada, pelas mãos de minha acompanhante, Vilma; era ela quem se banhava lá dentro, para meu contentamento. Uns dezenove para vinte anos, 1,65m, cabelo castanho e cacheado, perfume forte, batom vermelho. Corpo magro, coxas bem constituídas e seios um tanto flácidos, escondidos sob um top de malha rala e um casaco de jeans ordinário – tudo no mais perfeito Toritama Fashion Style. Era de uma cidade vizinha – Afogados, se não me engano - morou em São Paulo, tem dois filhos e um marido que lhe disse há seis meses para ir na frente com os meninos que ele logo seguiria com dinheiro para botarem um negócio na rua. Desde seu retorno, então, Vilma passou a avisar na casa da sogra, toda semana, que saia para trabalhar numa casa de família em Caruaru, e a sempre saltar do ônibus bem antes, em Tabira, para fazer algum dinheiro na casa de Rosa.
Amanhã – quarta – seria o melhor dia de serviço. Feira de gado, num sabe?
Paguei meu módico consumo, e gratifiquei Rosa pela saída de sua única atendente da noite. Desci a ladeira com Vilma pegando no meu pau, e lá embaixo estacionei o carro atrás da pousada, ao lado de um carro da Telemar, tentando garantir alguma vigilância para compensar a perda de minha vaga de hóspede.
Ela quis me boquetear ali mesmo, mas declinei da oferta: estávamos a 10 metros do meu quarto, onde ela pôde terminar o serviço. Elogiada pelo excelente desempenho, ela disse que era o que o marido preferia. Rimos os dois, e dividimos uma cerveja. Ela foi ao banho, lembrando-me que já tinha tomado, e justificando o luxo ao me revelar que adorava água quente. Na luz, vi que tinha uma cicatriz funda na bunda direita... perguntei o que era, e ela não respondeu, mexendo no controle da TV. Achando que não tinha ouvido, perguntei de novo, e ela disse que não queria falar. Respeitei o silêncio mas puni a malcriação penetrando-lhe, in continenti, pelo cu. Ouvi uma queixa de que doía, mas como não dei importância ela desistiu da reclamação, e voltou à mudez inicial; foda torta, não gozei, e quando tirei o pau estava a camisinha ensangüentada. Reconheço que me senti um pouco arrependido por não ter atendido, mas não lhe pedi desculpas, e ficamos lado a lado por um tempo, até que adormecemos.
No meio da noite acordo com sua boca deslizando no cacete! Finjo dormir para que ela trabalhe, e logo sinto friozinho do gozo que me havia sonegado a contrair a perna, dizendo que a porra não demora. Porra lançada, porra engolida: não se desperdiça proteína no sertão do Pajeú. Rio novamente, ainda meio adormecido: que gozo bom! Pergunto-lhe por que fez isso, e ouço que sentiu meu pau cutucando as suas costas, cumprindo apenas com sua obrigação de mulher. Santa intuição, Vilma... tem certeza que seu nome não é Amélia?
De madrugada, muito cedo ainda, o alarido já tomava conta da rua ao lado. Já então o povo chegava para feira, o que me fez levantar para manobrar o carro. Olhei para ela, toda encolhidinha, e fiquei com pena de sacudi-la, pois parecia curtir um velho aparelho de ar-condicionado como se fosse o maior conforto imaginável por alguém.
Desobstruo acesso à rua da feira, e de passagem pela recepção peço ao rapaz que feche a conta. Aviso que estou saindo, mas que a moça que está comigo vai dormir até mais tarde, e que ela deve ser informada do café da manhã ao se levantar. Daí para o quarto, pegar minha bolsa e zarpar...
No quarto, Vilma está no banho. Banho quente, de novo. Será que lembra de sua vidinha de periferia lá em Osasco, onde morava? Pensa nos meninos sendo criados pela sogra, no sítio a alguns quilômetros dali? Ou será no corno-filho-da-puta do seu marido, que disse que iria voltar não se sabe quando, e que não manda nem notícia nem dinheiro?
Sei que entrei com ela no chuveiro, que começamos a brincar ali, em pé, e que terminamos na cama, enxovalhando a camisa branca que havia sido entrado na mala especialmente para o primeiro compromisso de hoje. Beijo na boca, pagamento da pequena fortuna de R$ 50,00, café da manhã juntos – para surpresa do recepcionista, que nos recebeu com um riso malicioso diante de nossos cabelos molhados - e carona até a entrada do pátio da feira.
Na despedida um carro de som impediu-me de ouvir o que dizia. Lembro que ela me olhou com uma expressão emocionada, e que isso, admito, tocou-me. Vai, disse-lhe, quase gritando; ela, como era de seu feitio, obedeceu.
No fim desse mesmo dia, muitos quilômetros e pensamentos além, reparei que no bolso da camisa que usei em substituição à que fora amassada estava o recibo de uma diária de pousada, data de ontem, em Tabira; em seu verso, escrito com letra sofrível, um nome de mulher e um número de telefone com prefixo 087.
Papel amassado, lixo e memória. Soube de fontes recentes que Rosa Palmeirão ainda funciona, que toca seu bar lá no alto da ladeira e que monta uma barraca na feira de gado, toda quarta-feira. Negocia fava, tripa, arroz de festa e xerém com galinha, mas também – claro - oferece outros quitutes, conforme o gosto do freguês.
CONTATO: Bar de Rosa Palmeirão, alto da ladeira da Prefeitura.