Ele com aquele olhar angelical de bom velhinho me perguntou se eu merecia tal presente.
Justifiquei ao nobre distribuidor de presentes, que no ano que estava por findar, tinha me comportado bem, tinha conseguido minha primeira namorada de verdade, estudei muito, passei direto no terceiro bimestre, obedeci minha mãe antes do falecimento do meu pai, e após o trágico dia, assumi como filho mais velho a condição de principal ajudante de minha mãe. Além disso, ajudei os velhinhos a atravessar a rua, não falei palavrões, não briguei, enfim, não fiz nada que possa vir a decepcionar minha mãe, meus irmãos e todas as pessoas que eu gostava naquela tão remota época.
Dessa forma imaginava que teria, por direito devido ao exemplar comportamento, receber aquele tão sonhado presente.
Do dia que falei que essa figura tão boa, o Papai Noel, até o dia do Natal, restavam mais 15 dias, e num gesto extremo de vontade de ganhar aquele presente tão sonhado, fui ainda mais esforçado, fiz tudo que me fora pedido, obedeci, não briguei, me vi obrigado a engolir muito sapo para ter o "direito" de ganhar aquele presente, que no momento era um sonho.
Os dias passaram rapidamente, e, eis que chega a véspera do Natal, coração apertado, ansiedade batendo forte, coração disparado, tudo em prol da espera do tão desejado presente.
Nesse dia os minutos viraram horas, as horas dias, e demorava para chegar a hora de receber o meu presente.
Chega meia-noite, o Papai Noel não chega, com os olhos cheios de lágrimas, pergunto a minha mãe, será que ele esqueceu de mim? Ela angustiada com a situação disse não saber ao certo.
Fui dormir, mais triste do que nunca. Quando acordo no dia seguinte, 25 de dezembro de 1989, me deparo com uma merda de caminhão de bombeiros de plástico vagabundo, um par de meia pretas horríveis e minha mãe na sala chorando.
Ela disse ao me ver, Papai Noel esqueceu de passar aqui na hora certa, e quando se lembrou, tinha sobrado apenas esses presentes.
Eu, quase que chorando, desejei que todo mal existente na face da terra, pudesse cair sobre esse ser que outrora era adorado, e que nesse dia passou a ser a figura mais odiada.
Mas o pior, ainda estava por vir.
Para o meu amigo, vizinho de muro, que chamou o pai dele de corno, a mãe de puta, que afogou o passarinho no aquário, que roubou chicletes na mercearia da esquina e que além disse reprovou em todas as matérias direto, para esse filho da puta, seu Papai Noel de merda, você seu saco de merda vermelho, trouxe uma bicicleta, a coleção de bonecos do Esquadrão Classe A, seu bom velhinho da puta que pariu!
Sem entender a situação, minha mãe me disse, a vida é assim meu filho, até no Natal, Papai Noel presenteia que tem mais dinheiro.
Desse dia em dia, não existe Natal, magia do Papai Noel, e espero do fundo do coração, que você cai do seu trenó seu velho filho da puta, e se espatife como um saco gordo de merda no chão, e com o impacto, abra-se um burraco na terra e você seja engoligo, e vá fazer compania ao demônio. E que essas suas renas de merda se transformem em um monte de cornos e fiquem vagando na face da terra vivendo em sofrimento.
Nunca mais gostei de Natal.
Também nunca mais usei meias pretas.
Que a vida sorria da maneira mais sincera para todos, de forma uniforme, sem distinções ou distorções.
Um ótimo 2007 a todos!
Pablito Martinez