Pois é, caros El Barto e Binho1979, não sou nenhum fanático religioso ou político, muito pelo contrário.
Veja a situação sob o aspecto histórico e sociológico.
Se árabes e judeus podem se dar bem na 25 de Março e na José Paulino, porque não lá?
Claro, claro existem sérios obstáculos históricos para que isso aconteça.
Quais são eles?
Em linhas gerais, até a I Guerra Mundial, no começo do século XX, os árabes eram 95% da população da região administrada pelos ingleses e chamada Palestina. A ocupação da região pelos árabes se deu bem depois da Diápora, iniciada com a expulsão dos judeus do Reino de Israel pelos romanos. Daí, então, a controvérsia "quem tem direito àquelas terras?" A terra era ocupada antes pelos judeus, que foram desalojados pelos romanos, mas os árabes a ocuparam por séculos. Partindo-se, pois, do princípio de que ambos os povos teriam direito àquela terra, inúmeras foram as soluções testadas para resolver a questão, sem êxito. Aos ingleses, durante a I Guerra Mundial, interessava apoiar os árabes, aliados no combate ao Império Turco (para ilustrar essa passagem, procure assistir o filme "Lawrence da Arábia", de David Lean, com Peter O'Toole, Antony Quinn e Omar Sharif). Mas aos ingleses interessava também manter o apoio dos judeus que habitavam a região, notórios estrategistas nas táticas de guerrilha. O Movimento Sionista, surgido na Europa no final do século XIX, já se associava com o interesse desses judeus "orientais" em prol da criação de um estado judeu. As idéias foram fermentando, e os ingleses de início apoiaram a imigração de judeus da Europa, sobretudo vindos da Rússia e Europa Central, que muito contribuiriam no combate dos turcos. Só que, acabada a guerra, os judeus se tornaram "um estorvo" para a administração britânica, que passou a impedir a imigração para evitar maiores atritos com a população árabe. Assim, a população judia na Palestina passou a sofrer humilhações e segregação, em reprodução do que lhe era imposto na Europa. O movimento sionista voltou seu braço armado (a Haganá) contra a administração inglesa, que não soube como combater os atentados dos guerrilheiros judeus, alguns liderados por Menahem Begin, que 40 anos mais tarde viria a se tornar 1º Ministro de Israel. O Nazismo e o Holocausto foram a gota d'água para que não mais houvesse barreira que impedisse o crescimento do movimento em prol da criação do Estado de Israel. A imigração dos judeus europeus foi maciça após o fim da II Guerra Mundial. A opinião pública mundial em boa parte apoiava a ida dos judeus para lá. Governos europeus e norte-americanos viam essa imigração como uma forma "pacífica" para o "problema judeu" (a despeito de combaterem o nazismo, americanos, ingleses, franceses e russos queriam "distância" dos judeus sobreviventes do Holocausto). Os conflitos cresceram e em 1948 explodiu uma guerra que resultou em massacres de ambos os lados. Os israelenses venceram e conseguiram se manter na seguinte guerra de 1956, na qual se destacou o Gal. Moshe Dayan. Seguiu-se a humilhação do líder egípcio Nasser na Guerra dos Seis Dias (1967), sentimento do qual surgiu a OLP (Organização pela Libertação da Palestina), liderada por Yasser Arafat, cuja célula Setembro Negro perpetrou o famoso atentado aos atletas israelenses na Olimpíada de Munique em 1972. Em seguida, veio a Guerra do Yom Kippur (1973), na qual por pouco Israel não foi varrido, havendo até ameaça de uso da bomba atômica pela 1ª Ministra Golda Meir. Os anos 70 foram marcados por ações das milícias palestinas e do Mossad, serviço secreto israelense, retratado ao melhor estilo "spielberguiano" (entendam como quiserem) no filme Munique. Surpreendentemente, após a eleição do líder da extrema direita Menahem Begin para o cargo de 1º Ministro, Israel começou a travar conversas com o Egito, visando um acordo de paz, obtido, se não me engano, em 1980, com o presidente Anuar Sadat, que acabou assassinato por um radical egípicio. Frustada mais essa tentativa de paz, seguiram-se esporádicos atentados em Tel Aviv, seqüestos de aviões, apoio da Líbia de Muhamar El Kadafi, a Intifada ("guerra das pedras", em árabe) nos anos 80, até que Ytzak Rabin foi assassinado por um extremista judeu quando pretendiam por em prática um acordo de paz. Novas tentativas frustadas vieram com a intervenção do presidente Bill Clinton, a despeito da aparente cordialidade entre Yasser Arafat e o 1º Ministro Ehud Barak, no final dos anos 90. Desse fracasso, veio a eleição de Ariel Sharon, tido por uns como herói das guerras dos Seis Dias e do Yom Kippur e como assassino por outros, líder do Likud, partido de direito. Seu governo foi marcado por atos extremos, como a desocupação das Colinas de Golã e do sul do Líbano, ao mesmo tempo que se intensificaram o estacionamento de colonos na Cisjordânia e se construía um muro separando Israel do Estado Palestino. Como já disse, desses avanços e recúos no processo de paz, surgiram grupos radicais como o Hamas, na Palestina, e o Hizbolá, movimento voltado a combater a ocupação do sul do Líbano e que recebe apoio da Síria e do Irã. A força desses dois movimentos advém do apoio que recebem da população miserável de libaneses muçulmanos, frustados por não participarem como gostariam do governo tripartide libanês (cristãos e 2 facções muçulmanas), no caso do Hizbolá, e da frustação da população palestina com a Autoridade Palestina, liderada antes por Arafat, que fora acusado inclusive de corrupção, e agora por Abbas. O Hamas, que mantinha sua linha de atacar Israel mediante atentados perpetrados pelos famosos homens-bomba, passou a atacar também o Fatah, partido de Arafat e do atual Chefe da Autoridade Palestina, Abbas. Em meio a isso tudo, ocorreram inúmeros conflitos entre árabes, envolvendo o Líbano, a Síria, o Iraque, o Irã, a Jordânia, a Líbia, a Tunísia, o Egito, o Sudão, a Etiópia, o Afeganistão, mas os líderes árabes costumam riscar essas "ocorrências" dos livros de história. De outro lado, a população isralense cresce muito atualmente com a imigração de judeus vindos dos países do Oriente Médio. Se depois da II Guerra, a maioria do imigrantes vinha da Europa Central (Alemanha, Áustria, Polônia, Romênia) e nos anos 80 e 90, da Rússia, agora os judeus enchotados dos países árabes são obrigados a se alojar onde é possível (ou quase), formando novos assentamentos nos territórios ocupados por incentivo dos grupos religiosos radicais. Imegine tudo isso acontecendo numa faixa de terra menor do que o Estado de Sergipe.
Como se vê, esse "caldeirão" que é Oriente Médio possui inúmeros ingredientes, medidos cuidadosamente e de difícil cozimento.
Infelizmente o Lula não é amador... é apenas um canalha inexperiente.
Essa sua frase, Binho, foi simplesmente brilhante!