A Crise Econômica Mundial

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Re: A Crise Econômica Mundial

#496 Mensagem por FacelessMan » 13 Jan 2013, 19:58

economia são ciclos, hora de bonança hora de recessão, o que varia é o tempo de duração dessas fases
política de austeridade, cortar gastos, pessoal consome menos, economia não aquece não gira=polêmica
política expansionista, não dar a mínima para o teto orçamentário o que pode quebrar a moeda, inflação=polêmica
(histórico da alemanha de inflação pós nazismo igual ao que vivemos há 30 anos atrás, por isso a Merkel não afrouxa, a Alemanha passou por um pacto social entre sindicatos e governos, população em geral aceitou pagar mais impostos pra tirar a Alemanha das pressões inflacionárias, enfim foi com austeridade que a Alemanha é hoje o principal país da Europa)
aumentar impostos dos mais pobres, ferrar com 99% que aquece a economia, diminuir o consumo que já está bem afetado=polêmica
aumentar dos mais ricos, eles que empregam os mais pobres e os que mais investem diretamente ou na bolsa=polêmica

eu acho que a economia atualmente está só levando em conta números, isso é ruim, também é uma ciência social, nada adianta enxergar só números, sei que hoje o dinheiro manda, porém infelizmente a maioria só preocupa com grana enquanto a maioria tá passando fome, se matando(suicídio ou revoltas populares)

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Re: A Crise Econômica Mundial

#497 Mensagem por ghostwriter » 16 Jan 2013, 06:17

Interessante como conseguem acalmar a crise européia por algum tempo, depois, devagarinho, ela vai voltando...porque nunca foi solucionada de fato. Acho que está começando de novo a dar sinal de vida agora.

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Re: A Crise Econômica Mundial

#498 Mensagem por Carnage » 27 Jan 2013, 18:15

http://www.cartamaior.com.br/templates/ ... a_id=21506
Contração da economia alemã é novo golpe para eurozona
A contração econômica da Alemanha no último trimestre de 2012 e a redução oficial das projeções de crescimento para este ano são um novo golpe para a zona do euro. Segundo o Escritório Federal de Estatísticas da Alemanha a contração foi de 0,5%. Segundo o Banco Central alemão, a economia crescerá 0,4% este ano, muito menos do que o 1,6% previstos. A crise dos países do sul da zona do euro está alcançando a Alemanha e apagando a ilusão de um desacoplamento graças à mítica eficiência produtiva germânica. O artigo é de Marcelo Justo, direto de Londres.

Marcelo Justo


Londres - A contração econômica da Alemanha no último trimestre de 2012 e a redução oficial das projeções de crescimento para este ano são um novo golpe para a zona do euro. Segundo o Escritório Federal de Estatísticas da Alemanha a contração foi de 0,5%. Segundo o Banco Central alemão, a economia crescerá 0,4% este ano, muito menos do que o 1,6% previsto em cálculos anteriores. Na primeira metade do ano passado o crescimento alemão evitou uma recessão do conjunto da eurozona. É óbvio que as coisas estão mudando.

A crise dos países do sul da zona do euro está alcançando a Alemanha e apagando a ilusão de um desacoplamento graças à mítica eficiência produtiva germânica. Em 2009, a Alemanha sofreu uma contração de 5% como consequência da crise mundial, mas em 2010 e 2011 teve uma rápida recuperação com um crescimento de 4,2% e 3% respectivamente. A queda foi abrupta na segunda metade do ano passado e deixou o Produto Interno Bruto (PIB) alemão com um anêmico aumento de 0,7%. Em declarações ao Financial Times nesta quarta-feira o presidente do governo da Espanha, mariano Rajoy, que aceitou o plano de ajuste em seu país, pediu às nações credoras da eurozona que ponham em marcha políticas de estímulo ao crescimento. “Este é o momento de colocar em marcha essas políticas. Está claro que não se pode pedir a Espanha que adote políticas de expansão, mas sim aos países da zona do euro que estão em condições de fazê-lo”, afirmou.

Um dado deveria favorecer esta mudança. Segundo o mesmo Escritório de Estatísticas, a Alemanha obteve um superávit fiscal de 0,1%, o primeiro desde 2007. Mas o ministro de Finanças alemão, Wolfgang Schauble reafirmou, terça-feira à noite, a posição de austeridade de seu governo.

As duas eurozonas
Desde o estouro da crise da dívida na Grécia em 2010, a zona do euro vem apresentando uma história de realidades paralelas. Enquanto os PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha) afundavam na recessão, a Alemanha, segundo exportador mundial depois da China, crescia graças suas vendas ao exterior. Segundo Marie Dirone, economista sênior da consultora internacional Ernest and Young, os novos dados provam que a Alemanha não pode se desvencilhar do destino de seus vizinhos. “Durante um certo tempo causou assombro a capacidade alemã para resistir à debilidade do sul da Europa com a diversificação de suas exportações para a China e outros mercados emergentes. Está claro que isso tem limites. A Alemanha está sentindo a queda da demanda nos outros países da zona do euro”, assinalou à Carta Maior.

Não chega a surpreender. A metade das exportações alemãs tem como destino os países da zona do euro. O dado se reflete nas estatísticas oficiais. O setor exportador, que representa mais da terça parte do PIB alemão, sofreu uma queda abrupta no último trimestre do ano passado. Esta queda arrastou a zona do euro que terminou 2012 em recessão (dois trimestres consecutivos de contração).

Os novos dados oficiais mostram também que o euro segue sofrendo do desequilíbrio estrutural entre economias muito distintas, o que vem colocando em perigo o projeto da moeda única europeia. Entre Alemanha ou França e Grécia ou Portugal sempre houve um abismo de produtividade e competitividade. Estas diferenças não eram incorrigíveis. No coração do projeto pan-europeu estava a ideia de homogeneizar economias diversas por meio do investimento público nas zonas mais atrasadas.

Mas o euro nasceu em meio à grande festa financeira. Graças à moeda única, os países da periferia, os PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha), tiveram uma taxa de juro muito baixa que financiou bônus de investimento e consumo pagos com um crescente endividamento. O resultado foi que os países do norte europeu exportaram e os do sul consumiram com base em um déficit de conta corrente. O ajuste decidido pelo governo alemão socialdemocrata de Gerhard Schroeder em 2003 aprofundou o desequilíbrio: os salários alemães tiveram uma estagnação relativa aos do Sul que encareceu os produtos que vinham dos PIGS.

O ajuste unidimensional
Segundo uma escola de pensamento, sendo a zona do euro uma unidade, o desequilíbrio não deveria importar tanto: a queda de uma região seria compensada pelo crescimento de outra. Mas o especialista alemão da London School of Economic, Henning Meyer, opina que a unidade da zona do euro é uma ficção sem mecanismos concretos que compensem os desequilíbrios. “A zona do euro não tem transferências fiscais que compensem a queda de uma região. E a política que está sendo impulsionada no conjunto da região é exatamente a contrária a um mecanismo desta natureza. Há um ajuste assimétrico pelo qual os países que têm déficit estão adotando políticas recessivas enquanto que os países que apresentam superávit não estão adotando políticas expansivas”, disse Meyer à Carta Maior.

A chanceler alemã Angela Merkel é a grande papisa da austeridade na zona do euro em meio a uma contração que começa a afetar os interesses do poderoso setor exportador alemão. Estes programas de ajuste, que o jornal espanhol El País batizou como “austericídio”, são uma corda no pescoço que o governo alemão segue apertando. É preciso reconhecer que o fundamentalismo alemão é coerente. Há duas semanas, o ministro de Finanças, Wolfgang Schauble assinalou que a própria Alemanha necessita de um ajuste fiscal.

Isso dependerá muito do que ocorrer com sua economia. O fantasma que começa a rondar entre os analistas é a possibilidade de uma recessão alemã. A este fantasma econômica se somam as eleições de setembro, nas quais a chanceler Merkel tem que renovar seu mandato. “A Alemanha tem vivido em um mundo paralelo no qual a crise da zona do euro era uma coisa que se via pela televisão. Se a economia alemã se deteriorar, isso pode ter um forte impacto no resultado das eleições, na política adotada e no conjunto da eurozona”, disse Meyer à Carta Maior.

Tradução: Katarina Peixoto


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Uma crise ideológica está por trás da atual política fiscal e financeira
A maneira mais clara de analisar algum sistema financeiro é fazer a pergunta do “de quem e para quem“. Isso porque sistemas financeiros são basicamente um conjunto de dívidas e credores. Na atual economia neorrentista, os 99% (trabalhadores, consumidores) devem ao 1% (possuidores de títulos, acionistas, grandes proprietários). O objetivo é monopolizar o privilégio de criação de dinheiro que permite extrair juros e outras taxas por suprir a economia com o crédito necessário.

Michael Hudson


Terra, recursos naturais, monopólios, portos e estradas foram mantidos em domínio público por milhares de anos, desde a Antiguidade. Em tempos mais recentes, rodovias, linhas de metrô, companhias aéreas, de gás e utilidades elétricas também eram patrimônio público. A ideia era prover serviços básicos a preços subsidiados, não os deixando serem privatizados e, assim, não oferecendo oportunidades para extração de renda. A Era Progressista coroou essa transição para uma economia mais equitativa por decretar impostos progressivos sobre o rendimento e a riqueza.

As economias liberavam-se dos privilégios que o feudalismo e o colonialismo garantia a seus favorecidos. O objetivo de acabar com esses privilégios era o de diminuir o custo de vida e dos negócios. Esperava-se que isso tornaria economias progressistas mais competitivas, obrigando outros países a seguirem o mesmo caminho ou tornarem-se obsoletos. O que era considerado socialismo de uma maneira ou outra parecia à mão – crescimento do setor público como parte fundamental da evolução tecnológica e da prosperidade.

Mas os latifundiários e os donos do setor financeiro foram contra, tentando expurgar da economia clássica sua conclusão política central. Eles defendiam a doutrina do ‘não existe esse negócio de almoço grátis’ como base fiscal para economias mais eficientes e justas. Legitimidade acadêmica eles tinham: os economistas novo-clássicos adotavam as doutrinas de Milton Friedman na Universidade de Chicago (que Upton Sinclair denominou Universidade de Standard Oil).

O problema político que se apresentava aos rentistas – os “ricos ociosos”, desviadores dos ganhos econômicos para si mesmos - era o seguinte: como convencer eleitores a concordarem que o setor produtivo e os consumidores devem ser taxados, não os ganhos financeiros do 1% mais rico? Por quanto tempo eles seriam capazes de manter as pessoas sem entender que juros isentos de impostos fazem afundar ainda mais em dívidas o orçamento do governo? Para tornar livre de impostos a riqueza financeira e os ganhos sobre os preços dos ativos, os acadêmicos patrocinados pelos lobistas do setor financeiro sequestraram a teoria monetária, a política fiscal e a teoria econômica em geral. Ainda, eles diziam que o governo não deveria regular Wall Street e seus clientes corporativos. Em vez de criticar a busca de renda como em séculos passados, eles retratavam o governo como um Leviatã opressor por proteger mercados de monopólios, companhias farmacêuticas indecorosas, companhias de seguro de saúde e finanças predatórias.

Essa ideia de que um “mercado livre” é aquele livre para que Wall Street aja sem regulação só pode ser popularizada por censurar a história do pensamento econômico. Não funcionaria que as pessoas lessem o que os livros de Adam Smith realmente ensinam sobre renda, impostos e a necessidade de regulação ou propriedade pública. A economia acadêmica tornou-se um exercício orwelliano de duplipensar, desenhado para convencer a população de que os 99% de baixo deveriam pagar impostos no lugar do 1% que obteve mais juros, dividendos e ganhos de capital. Por negar a existência do almoço livre, e por confundir a relação entre dinheiro e impostos, eles têm transformado departamentos de economia num grande lobby em favor do 1%.

Lobistas do 1% retratam a questão fiscal em termos de “como podemos fazer com que os 99% paguem por seus próprios programas sociais?” O aposto óbvio é, “de forma com que o 1% não precise pagar”. É assim que o sistema de Segurança Social pode ser “financiado” e “subfinanciado”. A taxa mais regressiva no orçamento da Segurança Social e do Medicare é o de 15,3% dos salários acima de $105,000. Além disso, os ricos não precisam contribuir. Essa taxa sobre a lista de pagamentos excede o imposto de renda pago por muitas famílias de trabalhadores manuais. Supõe-se que não taxar o pessoal dos almoços grátis tornará economias mais competitivas, afastando-as de qualquer depressão. A realidade é o oposto: ao invés de taxar as grandes riquezas, o peso dos impostos aumenta o custo de vida e dos negócios. Esse é um dos grandes motivos pelos quais a economia norte-americana hoje sofre um processo de desindustrialização.

A questão principal é que o 1% faz uma vez que sua receita esteja “libertada” dos impostos. A resposta é que eles, emprestando-a, endividam o 99%. Isso polariza a economia entre credores e endividados. Durante a última geração, o 1% mais rico reescreveu as leis fiscais de maneira tal que agora recebe dois terços de toda riqueza (juros, dividendos, rendas e ganhos de capital), e 93% de todo rendimento desde o resgate a Wall Street em 2008.

Eles usaram esse dinheiro para financiar campanhas eleitorais de políticos empenhados em transferir impostos para os 99%. Também, compraram os meios de comunicação que dão forma ao entendimento do povo sobre o que está acontecendo. E como descreveu Thornstein Veblen há quase um século, empresários tornam-se presidentes de muitas universidades e direcionam as grades curriculares para uma formação “business friendly”.

A maneira mais clara de analisar algum sistema financeiro é fazer a pergunta do “de quem e para quem“. Isso porque sistemas financeiros são basicamente um conjunto de dívidas e credores. Na atual economia neorrentista, os 99% (trabalhadores, consumidores) devem ao 1% (possuidores de títulos, acionistas, grandes proprietários). Corporações e governos também estão endividados com esse 1% da população. O grau de polarização financeira aumenta bruscamente conforme o 1% endivida o 99% – junto com a indústria e os governos – a tal ponto que todo o excedente econômico é um serviço de dívida. O objetivo é monopolizar a economia, sobretudo o privilégio de criação de dinheiro que permite extrair juros e outras taxas por suprir a economia com o crédito necessário.

O 1% de cima quase obteve sucesso em desviar o excedente todo para si mesmo, desde setembro de 2008 eles obtiveram 93% do crescimento da renda norte-americana. O controle sobre o processo político permitiu que eles usassem cada nova crise financeira para fortalecer a própria posição, forçando companhias e governos locais a entregarem propriedades a credores e investidores. Após monopolizar o excedente econômico, eles agora procuram transferir a si mesmos a infraestrutura econômica, terras, recursos naturais e qualquer outro ativo sobre o qual se possa cobrar qualquer tipo de pedágio.

A situação é análoga àquela da Europa medieval durante as invasões nórdicas. A força supranacional da Roma dos tempos feudais agora situa-se em Washington, com o cristianismo substituído pelo Consenso de Washington do FMI, do Banco Mundial, da Organização Mundial do Comércio e instituições satélite como o Banco Central Europeu. E no novo campo de batalha financeiro, subscritores de Wall Street usaram a crise como oportunidade para pressionar por privatização. Em Chicago, a forte máquina política dos Democratas vendeu espaços de estacionamento nas calçadas e tentou privatizar vias públicas. O prefeito, Rahm Emanuel, usou a privatização de aeroportos para dificultar a sindicalização de trabalhadores. É o estilo Margaret Thatcher. A guerra de classes está de volta, e táticas financeiras agora desempenham um papel fundamental.

Essa monopolização da propriedade é o que as conquistas militares europeias na Idade Média e no período de colonização pretendiam alcançar. Mas, enquanto isso foi alcançado originalmente pela conquista militar da terra, o 1% o faz por financializar a economia (apesar de que o braço militar não está ausente da batalha).

O atual dilema financeiro
A dívida tornou-se tão grande que nem todo mundo pode ser pago. O aumento da taxa de inadimplência recoloca a velha questão do “quem/para quem”. A resposta é que quase sempre o peixe grande come o pequeno. Bancos grandes (demais para quebrar) estão comendo bancos pequenos enquanto o 1% tenta tomar a maior fatia do bolo para si, anulando o que deve ao 99%. O plano deles é o de reduzir as poupanças de Segurança Social e do Medicare a “atribuições”, como se fosse uma matéria de opção fiscal não pagar contribuintes de baixo rendimento enquanto os rentistas do topo batizam a si mesmos de "criadores de emprego"

O lobby bancário prefere que a economia se mantenha fazendo empréstimos para fugir da crise e afundando-se num buraco financeiro que traz ainda mais risco de incumprimento à propriedades privadas e públicas. A ideia é que o governo “estabilize” o sistema financeiro por resgatar os bancos – isto é, fazer pelos bancos o que eles não querem que seja feito pelo Medicare e pela Segurança Social, por estados e localidades que não recebem mais sua partilha nas receitas, por proprietários sofrendo com taxas de juros. O sonho é que a bolha financeira de Greenspan pode ser recuperada, e todos seriam ricos de novo, se dívidas forem alavancadas para subir preços do setor imobiliário, das ações e dos títulos e criar novos ganhos de capital.

Só com a realização desse sonho que os aposentados poderão ser pagos pelos fundos de pensão. Os preços do setor imobiliário não subirão novamente até que especuladores façam como fizeram antes de 2008. Se empréstimos estudantis não forem anulados, os graduados enfrentarão uma vida inteira de escravidão por dívida. Afinal, assim foi estabelecida, em grande medida, a América colonial – removendo gradualmente o preço da sua liberdade, só para ser mergulhada no caldeirão de vastas especulações imobiliárias e de fortunas roubadas sobre as quais foi fundada, senão a República, as maiores fortunas americanas. Imaginava-se que tal servidão pertencia apenas a uma era remota, não ao futuro do Ocidente. Mas agora podemos olhar para trás, para aquela era, a fim de ter um instantâneo do nosso futuro.

O plano financeiro é que o governo forneça crédito praticamente livre aos bancos, para que eles consigam emprestar o bastante para pagar as dívidas em que incidiram antes de 2008.

Esse não é um programa que visa aumentar a demanda ao setor produtivo. Não é o tipo de fluxo circular que economistas descrevem como essência do capitalismo industrial. É exploração financeira de uma magnitude que não vista desde a Idade Média.

Imaginar que uma economia pode se assentar sobre esse tipo de política desestabilizará ainda mais a economia e não aliviará a atual deflação de dívida. Mas, uma vez que se salve a economia, os bancos não poderão ser. E a administração Obama escolheu salvar os bancos, não a economia. A primeira diretiva do Fed é a de manter baixos os juros. Empréstimos ressuscitam e inflam-se os preços dos ativos dos empréstimos bancários que constituem as próprias reservas bancárias. É o confuso sonho de uma nova Economia Bolha – ou, mais precisamente, de uma nova Grande Dádiva.

O dilema é o seguinte: se o Fed mantiver baixas as taxas de juros, como os planos de previdência locais, estatais e privados conseguirão os retornos necessários (8% a mais) para pagarem suas aposentadorias? Eles deverão participar do Capitalismo de Casino com seus fundos de cobertura (hedge funds)?

Em contrapartida, se subissem as taxas de juros, seria reduzida a capitalização múltipla à qual os bancos emprestam contra os atuais rendimentos e lucros rentistas. Maiores taxas de juros diminuirão preços de setor imobiliário, ações e títulos, afundando ainda mais os bancos (e planos de previdência) em patrimônio líquido negativo.

Alguém tem que ceder. De qualquer forma, o sistema financeiro não pode continuar no mesmo caminho. Só anulações de dívidas tornarão mercados “livres” para retomar gastos em bens e serviços. E só uma transferência de impostos para finanças, monopólios e propriedades produtoras de renda e pedágios pode reorientar empréstimos para a produção e os empregos. A menos que isso seja feito, não há como a economia norte-americana tornar-se competitiva em mercados internacionais, exceto por equipamentos militares e direitos de propriedade intelectual para artefatos culturais escapistas.

A solução para a Segurança Social, o Medicare e o Medicaid é a desfinancialização. Tratá-los como são tratados programas governamentais de gastos militares, reconstrução de orlas e subsídios bancários, e pagar por seus custos com receita tributária e criação de dinheiro, com os bancos centrais fazendo aquilo para que foram fundados.

Políticos são coibidos de fazê-lo principalmente porque o setor financeiro patrocina uma visão que ignora que as dívidas, o dinheiro, a inflação dos ativos e da alavancagem de dívidas são características definidoras da crise financeira atual. Políticas governamentais foram capturadas para tentar salvar – ou ao menos subsidiar – um sistema financeiro que não pode ser salvo senão temporariamente. O sistema de suporte à vida é mantido a custo de afundar a economia enquanto gastos médicos reais para o verdadeiro suporte à vida está sendo negado a grande parte da população.

A economia está morrendo de uma doença respiratória financeira, ou do que os fisiocratas chamariam de desordem circulatória. Ao invés de liberarem a economia de dívidas, receitas estão sendo desviadas para pagar dívidas hipotecárias e de cartões de crédito. Estudantes desempregados carregam uma divida de um trilhão de dólares, sendo que a há muito honrada válvula de resgate da bancarrota não serve a eles. Muitos graduados precisam viver com seus pais, as taxas de casamento e formação de famílias (e, pois, de venda de imóveis) declinam. A economia está morrendo. É isso que faz o neoliberalismo.

Agora que a acumulação da dívida desenvolveu-se, o setor bancário deposita suas esperanças em jogos de azar via capitalismo de fundo de cobertura. Esse Capitalismo de Cassino é o estágio do capitalismo subsequente ao Capitalismo de Fundo de Previdência – e precede o estágio insolvente do Capitalismo de Austeridade e Confisco de Propriedade.

A questão agora é se o estágio final será o do neofeudalismo. A austeridade aprofunda déficits orçamentários, não os cura. Diferentemente de séculos passados, não se incorre a esses déficits para bancar guerras, mas para pagar por um sistema financeiro predador da economia “real”, isto é, da produção e do consumo. O colapso desse sistema causou o déficit atual e, em vez de reconhecer isso, a administração Obama tenta fazer com que os trabalhadores paguem por ele. Empurrar os assalariados em direção ao “abismo fiscal” fazendo-os pagar pelo resgate financeiro de Wall Street só pode encolher ainda mais o mercado.

Aquilo que banqueiros tecnocraticamente nomeiam de “desalavancagem” significa desviar parte ainda maior da renda para pagar o setor financeiro. Isso e a retomada do crescimento econômico e do nível de emprego são antíteses. A lição que se tira da recente experiência europeia é que, apesar da austeridade, a dívida cresceu de 381% do PIB em 2007 para 417% em 2012.

Mas mesmo com o encolhimento da economia, o setor financeiro enriquece transformando títulos de dívidas - o que economistas do século XIX chamavam de “capital fictício” e que depois passou a ser chamado de capital financeiro – em captura de propriedades. Isso faz com que uma irreal sobrecarga de dívida - irreal porque não há como pagá-la sob as relações de propriedade e distribuição de renda existentes - num pesadelo vivo. É isso que acontece na Europa e é isso que quer a administração de Obama com Tim Geithner, Ben Bernanke, Erik Holder... Eles fariam os Estados Unidos parecerem-se com a Europa, ou seja, desemprego crescente e mercados em queda, além das consequências sociais e políticas da guerra contra o trabalho, a indústria e o governo. A rota alternativa à da servidão – governos fortes o bastante para protegerem a população de finanças predatórias – revela ser um desvio daquela que leva à escravidão por dívida e ao neofeudalismo.

Nós estamos, pois, assistindo ao fim de um mito, ou pelo menos ao fim de uma retórica orwelliana acerca do que é o livre-mercado. Ele não é livre se deve pagar extratores de renda ao invés de produtores para cobrir os custos reais de produção. O mercado financeiro não é livre se não forem punidos aqueles que compõem hipotecas lixo e pagam agências de classificação para venderem “opiniões” de que finanças predatórias são criação saudável de riqueza. O livre-mercado precisa ser regulamentado contra a fraude e a busca de renda.

O outro mito é que seria inflacionário para bancos centrais monetizar despesa pública. O que aumenta preços é a instalação de juros, serviço de dívida, renda económica e encargos financeiros no custo de vida e do fazer negócios. A alavancagem com dívida do preço da habitação, educação e cuidados de saúde para fazer com que assalariados paguem mais de dois terços do seu rendimento para o setor financeiro, de seguros e de bens imóveis (conhecido como setor FIRE) e outros impostos que caem sobre o trabalho são responsáveis pela desindustrialização da economia e por torná-la não competitiva.

A criação de moeda pelo banco central não é inflacionária se financiar nova produção e emprego. Mas não é isso o que acontece hoje. A política monetária foi sequestrada para inflacionar preços de ativos, ou pelo menos para deter o seu declínio, ou simplesmente para entregar aos bancos para que eles possam fazer suas apostas. "A economia" está cada vez menos na esfera da produção, consumo e emprego; ela está cada vez mais na esfera da criação de crédito para comprar ativos, transformando lucros e rendimento em pagamentos de juros até que todo o excedente econômico e conjunto de propriedades estejam comprometidos com o serviço de divida.

Celebrar isto como uma "sociedade pós-industrial", um novo universo no qual todos podem ficar ricos com alavancagem de dívida, é um engano. A estrada que levou a esta armadilha foi coberta com bilhões de dólares em iscas para que o lixo subsidiado e apregoado como teoria econômica, estimulando eleitores a votarem contra os seus interesses. A narrativa financeira pós clássica, favorável aos rentistas, é falsa – e de modo intencional. O objetivo de seu modelo econômico é fazer com que as pessoas vejam o mundo e atuem (ou invistam o seu dinheiro) de um modo que os seus apoiantes possam ganhar o dinheiro daqueles que vão atrás da ilusão subsidiada. A tarefa da nova economia permanece sendo a de reviver a distinção clássica entre riqueza e encargos, rendimento ganho e não ganho, lucro e rendimento rentista – e, em última análise, entre capitalismo e feudalismo.

* Michael Hudson é presidente do Instituto de Estudos de Tendências Econômicas, um analista financeiro de Wall Street e professor de economia da Universidade de Missouri. Mantém um site com escritos sobre finanças e o setor imobiliário. http://michael-hudson.com/

Tradução de André Cristi



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O neoliberalismo está acabado? Pense bem antes de responder
Observando, atônito, as lições desaprendidas na Grã-Bretanha, na Europa e nos Estados Unidos, me chama a atenção que toda a estrutura do pensamento neoliberal seja uma fraude. As demandas dos ultra-ricos se vestiram de teoria econômica sofisticada e foram aplicadas independentemente de seu resultado. O completo fracasso desta experiência em escala mundial não é impedimento para que se repita. Isto não tem nada a ver com a economia. Tem absolutamente a ver com o poder. A análise é de George Montbiot, do The Guardian

George Montbiot* – The Guardian


Londres - No ano 2012, as cem pessoas mais ricas do mundo enriqueceram 241.000 milhões de dólares a mais [veja nota 1]. Sua riqueza se estima agora em 1,9 trilhões de dólares, só um pouco menos que o PIB do Reino Unido.

Isto não é consequência do azar. O aumento das fortunas dos super-ricos é resultado direto de medidas políticas. Aqui vão algumas: a redução das taxas de impostos e da ação fiscal; a negativa dos Estados em recuperar uma porção dos ingressos procedentes dos minerais e da terra; a privatização de ativos públicos e a criação de uma economia de cabines de pedágio; a liberalização salarial e a destruição da negociação coletiva.

As medidas políticas que fizeram tão ricos os monarcas globais são aquelas medidas que estão espremendo todos os demais. Não é isto o que a teoria previa. Friedrich Hayek, Milton Friedman e seus discípulos – em mil escolas de negócios, o FMI, o Banco Mundial, a OCDE e mais ou menos todos os governos modernos – argumentaram que quanto menos os Estados acionem fiscalmente os ricos, menos defendam os trabalhadores e redistribuam a riqueza, mais próspero será todo o mundo. Toda tentativa de reduzir a desigualdade iria ferir a eficiência do mercado, impedindo que a maré ascendente elevasse todos os barcos [2]. Seus apóstolos levaram a cabo uma experiência global durante 30 anos e os resultados estão hoje à vista. Fracasso total.

Antes de continuar, deveria esclarecer que não acredito que o crescimento econômico perpétuo seja sustentável ou desejável [3]. Mas se o objetivo é o crescimento – um objetivo que todo governo diz perseguir –, não se pode organizar maior desatino no tocante a isso que liberando os super-ricos das restrições estabelecidas pela democracia.

O relatório anual do ano passado da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) deveria haver suposto um atestado de óbito do modelo neoliberal desenvolvido por Hayek, Friedman e seus discípulos [4]. Mostra, inequivocamente, que suas políticas conseguiram resultados opostos aos que previam. Na medida em que essas políticas (cortar impostos aos ricos, privatizar ativos do Estado, desregular o mercado de trabalho, reduzir a seguridade social) começavam a dar dentadas, dos anos 80 em diante, também passaram a cair as taxas de crescimento e a aumentar o desemprego.

O notável crescimento dos países ricos durante as décadas de 50, 60 e 70 se fez possível graças à destruição da riqueza e do poder da elite, como resultado da Depressão e da II Guerra Mundial. Sua escalada outorgou, aos 99% restante, uma oportunidade sem precedentes de exigir tudo o que tal crescimento estimulou em redistribuição, gasto público e seguridade social.

O neoliberalismo foi uma tentativa de inverter o sentido destas reformas. Generosamente financiado por milionários, seus defensores tiveram um êxito assustador: no político [5]. No econômico, fracassaram.

Em todos os países da OCDE, os impostos se fizeram mais regressivos: os ricos pagam menos, os pobres pagam mais [6]. O resultado, sustentavam os neoliberais, seria que aumentariam a eficiência econômica e o investimento, enriquecendo todos. Aconteceu o contrário. Enquanto diminuíam os impostos aos ricos e às empresas, caiu a capacidade de gasto, tanto do Estado como da população mais pobre, e se contraiu a demanda. O resultado foi que caíram as taxas de investimento, em sintonia com as expectativas de crescimento das empresas [7].

Os neoliberais insistiram também em que a desigualdade irrestrita em ingressos e os salários flexíveis reduziriam o desemprego. Mas em todo o mundo rico, tanto a desigualdade como o desemprego dispararam [8]. O recente salto do desemprego na maioria dos países desenvolvidos – pior que o de qualquer recessão prévia das últimas três décadas – se viu precedido da cota em proporção dos salários no PIB mais baixa desde a II Guerra Mundial [9]. Explode em migalhas a teoria. Fracassou pela mesma razão evidente: os baixos salários deprimem a demanda, que deprime o emprego.

Conforme os salários se estancavam, as pessoas complementavam seus ingressos endividando-se. O aumento da dívida alimentou os bancos desregulados, com as consequências que todos somos conscientes. Quanto maior a desigualdade, descobre o relatório das Nações Unidas, menos estável é a economia e mais reduzidas suas taxas de crescimento. As medidas políticas com as quais os governos neoliberais tratam de reduzir seu déficit e estimular sua economia são contraproducentes.

A eminente redução no degrau superior do imposto sobre a renda no Reino Unido (de 50% a 45%) não suporá um impulso para os ingressos do Estado ou da empresa privada [10], mas enriquecerá os especuladores que fizeram vir abaixo a economia: o Goldman Sachs e outros bancos estão agora pensando em como aproveitar-se disso [11].

A lei de bem-estar social aprovada pelo Parlamento britânico na semana passada não ajudará a limpar o déficit ou estimular o emprego: reduzirá a demanda, suprimindo a recuperação econômica. O mesmo vale para o teto posto às remunerações do setor público. “Voltar a aprender algumas antigas lições sobre justiça e participação”, afirma a ONU, “é a única forma de acabar superando a crise e prosseguir por um caminho de desenvolvimento econômico sustentável” [12].

Como disse antes, não tenho favorito nesta corrida, salvo a crença de que ninguém, neste oceano de riquezas, deveria ser pobre. Mas observando, atônito, as lições desaprendidas na Grã-Bretanha, na Europa e nos Estados Unidos, me chama a atenção que toda a estrutura do pensamento neoliberal seja uma fraude. As demandas dos ultra-ricos se vestiram de teoria econômica sofisticada e foram aplicadas independentemente de seu resultado. O completo fracasso desta experiência em escala mundial não é impedimento para que se repita. Isto não tem nada a ver com a economia. Tem absolutamente a ver com o poder.

Notas:

[1] http://www.bloomberg.com/news/2013-01-0 ... -2013.html

[2] Milton Friedman e Rose Friedman, 1980, Free to Choose, Secker & Warburg, Londres [Libertad en elegir, Grijalbo, Barcelona, 1992].

[3] Para uma visão alternativa, veja-se Tim Jackson, 2009, Prosperity Without Growth [Prosperidad sin crecimiento, Icaria, Barcelona, 2011], Sustaintable Development Commission, http://www.sd-commission.org.uk/data/fi ... report.pdf

[4] UNCTAD, 2012, Trade and Development Report: Policies for Inclusive and Balanced Growth,http://unctad.org/en/PublicationsLibrary/tdr2012_en.pdf

[5] Veja-se David Harvey, 2005, A Brief History of Neoliberalism, Oxford University Press [Breve historia del neoliberalismo, Akal, Madrid, 2007].

[6] Informa a ONU: “O efeito conjunto destas mudanças na estrutura fiscal fez mais regressivos os impostos. Um exame das reformas fiscais dos países da OCDE não encontrou nenhum país no qual o sistema fiscal se tornou mais progressivo (Steinmo, 2003: 223)”, UNCTAD, 2012, como supra.

[7] “A redistribuição por meio de medidas fiscais pode, portanto, dar-se em interesse da sociedade em seu conjunto, especialmente ali onde a desigualdade é especialmente elevada, como em muitos países em desenvolvimento. Apoia isto a experiência dos países desenvolvidos, pois as taxas de investimento não eram mais baixas – mas geralmente mais altas – nas primeiras três décadas da época de pós-guerra, ainda que os impostos sobre benefícios e os níveis superiores eram mais elevados que depois das amplas reformas fiscais aplicadas posteriormente. Existem fortes razões para acreditar que a disponibilidade dos empresários em investir em uma nova capacidade produtiva não depende primordialmente dos benefícios líquidos em um determinado período de tempo, mas em suas expectativas com respeito à futura demanda de bens e serviços que podem produzir com capacidade adicional. Isto acaba sendo de especial importância quando se considera o efeito conjunto de um aumento dos impostos empresariais. Sempre e quando os ingressos fiscais mais elevados sejam utilizados para gasto adicional do Estado, melhorarão as expectativas das empresas de crescimento da demanda. Este efeito de demanda é independente de se os gastos adicionais do Estado adotam a forma de consumo do Estado, investimento público ou transferências sociais. Quando o nível do investimento fixo se mantém como resultado de expectativas de demanda favorável, subirão os benefícios brutos, e geralmente também os benefícios líquidos, não obstante o aumento inicial de impostos. Nesse processo, se criarão ingressos e emprego adicionais para a economia em seu conjunto”, UNCTAD, 2012, como supra.

[8] “A proposição de que uma maior flexibilidade do nível salarial agregado e dos salários médios mais baixos é necessária para impulsionar o emprego, pois conduz à substituição de trabalho por capital na economia em seu conjunto, pode ser refutada diretamente, dada a forte correlação positiva entre investimento na formação de capital fixo bruto (FCFB) e a criação de emprego que existe nos países desenvolvidos (gráfico 6.3). Esta correlação contradiz o modelo neoclássico: no mundo real, as empresas investem e desinvestem em capital e trabalho ao mesmo tempo, e o nível de seu investimento depende do estado conjunto de suas expectativas de demanda. Isto implica que, no contexto macroeconômico, capital e trabalho podem se considerar substitutos apenas em uma medida muito limitada”, UNCTAD, 2012, como supra.

[9] “Justamente antes do último e enorme salto do desemprego nos países desenvolvidos – de menos de 6% em 2007 a cerca de 9% em 2010-2011 - a proporção dos salários no conjunto do PIB havia caído a seu nível mais baixo registrado desde o final da II Guerra Mundial (ou seja, a 57%, de mais de 61% em 1980). Isto deveria supor um sinal de alerta. Se o desemprego cresce mais que durante qualquer outra recessão ocorrida nas últimas três décadas, ainda que a parte dos salários no PIB tenha baixado, deve haver algo fundamentalmente errado em uma teoria econômica que justifica o aumento da igualdade principalmente em termos da necessidade de atacar um desemprego persistente”, UNCTAD, 2012, como supra.

[10] Thomas Piketty, Emmanuel Saez e Stefanie Stantcheva calculam que o nível ótimo do degrau superior do imposto sobre a renda (para maximizar ingressos) se encontra entre 57 e 83%. Piketty, Saez e Stantcheva, 2011, Optimal taxatiom of top labor incomes: A tale of three elasticities, National Bureau of Economic Research, Cambridge, MA. http://www.nber.org/papers/w17616

[11] Patrick Jenkins, “Goldmam Eyes Tax Delay om UK Bonuses”, Financial Times, 14 de janeiro de 2013.

[12] UNCTAD, 2012, como supra.

*George Monbiot é um dos jornalistas ambientais britânicos mais respeitados, autor de livros como The Age of Consent: A Manifesto for a New World Order e Captive State: The Corporate Takeover of Britain, assim como de volumes de investigação e viagens como Poisoned Arrows, Amazon Watershed e No Man's Land. Viveu por dois anos no Brasil cobrindo a região amazônica.



http://www.advivo.com.br/blog/luisnassi ... o-europeia
Analistas veem mais crise na UE este ano

Desafios para a zona do euro deixam economistas pessimistas

DEBORAH BERLINCK, CORRESPONDENTE

GENEBRA – Um cenário sombrio — mais um — aguarda a Europa em 2013. Como o Brasil e a América Latina nos anos 80 e 90, os europeus começam a se dar conta de que não haverá saída rápida para a crise que se arrasta há três anos. O grande motor da Europa, a Alemanha, começa a entrar em pane justamente no seu ano eleitoral: projeções de crescimento de 1,6% para 2013 foram rebaixadas para 0,4%. A Itália vai mergulhar em nova eleição imprevisível, que poderá abrir o caminho para a volta do polêmico ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Sem falar de mais recessão nos países do Sul (Grécia, Portugal) e um Reino Unido caminhando perigosamente para fora da União Europeia (UE).

— Ruim, ruim… — diz Guntram Wolff, vice-diretor do Instituto Bruegel, em Bruxelas.

E não é o fim da história, segundo Francesco Saraceno, economista do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas (OFCE).

— Todas as previsões nos últimos três anos têm sido regularmente rebaixadas. Estamos numa espécie de estado de negação desde 2009. Implementamos políticas que matam o crescimento e fingimos que isso não vai acontecer, fazendo previsões excessivamente otimistas — afirma Saraceno.

Ele não vê luz no fim do túnel. O grande desafio de 2013, para ele, é o mesmo de 2012: crescimento. E a Europa, mais uma vez, vai perder o bonde.

— Os países da periferia estão em recessão, enquanto outros, como a França (a segunda maior economia da zona do euro), está próxima de crescimento zero. Mesmo países em melhor condições, como a Alemanha, estão desacelerando e sofrendo — diz Saraceno.

‘Não há alternativa à austeridade’

Já Wolff vê três desafios para o bloco em 2013. O primeiro: continuar as reformas estruturais, como os custos trabalhistas; contas externas e melhoria da competitividade; e combate ao desemprego.

— Seria um erro parar com as reformas — insiste.

Segundo: completar a união bancária, decidindo os recursos para que isso efetivamente aconteça. E terceiro: encontrar uma solução para as perspectivas ruins de crescimento do bloco, sobretudo dos países do Sul da Europa em recessão.

— Estou pessimista de que não se está lidando com isso (crescimento) — diz.

Mas ao contrário de Saraceno, que acha que austeridade é o grande problema da Europa — “o número de analistas que diz que isso é um erro está aumentando a cada hora”, garante —, Wolff acha que não há alternativa, sobretudo para os indisciplinados que queiram permanecer na zona do euro.

— Não há alternativa à austeridade. Se você não fizer isso, sua economia vai ser, de qualquer forma, afetada negativamente pelo efeito de confiança (dos mercados). Se as pessoas começarem a duvidar da viabilidade de seu país permanecer na zona do euro, as taxas de juros aumentam — explica.

A desaceleração na Alemanha é outro grande foco de preocupação. Saraceno está pessimista:

— Estamos enfim percebendo que a Alemanha vai mal.

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Re: A Crise Econômica Mundial

#499 Mensagem por Carnage » 27 Jan 2013, 20:54

Em algum ponto lá atrás neste tópico tinha gente defendendo o NAFTA. Não foi só aqui, foi em outros também, mas vou postar por aqui mesmo.
A discussão durou um tempo, tanto neste como no outro tópico, com gente afirmando que o acordo foi ótimo para o México e lamentantdo o fato do Brasil não ter aderido à Alca....

http://www.cartamaior.com.br/templates/ ... a_id=21536
O Nafta espalha a fome no México
Um anos antes de se completarem 20 anos de existência do Nafta, o tratado de livre-comércio da América do Norte, o México possui 51% de sua população de 110 milhões na pobreza, e vê ampliar sua dependência de alimentos produzidos do outro lado da fronteira, nos EUA. É uma situação diferente de outros países latino-americanos, como o Brasil, que felizmente ajudaram a barrar a Alca. O artigo é do jornalista cubano Hedelberto López Blanch

Hedelberto López Blanch*


tempo deu a razão aos presidentes latino-americanos que em 2005, na Cúpula das Américas de Mar del Plata, na Argentina, recusaram integrar a Área de Livre Comércio (Alca) promovida pelos Estados Unidos. Hoje, seus países estariam nas mesmas condições que o México.

O Conselho Nacional de Avaliação da Política de Desenvolvimento Social (Coneval), informou que de uma população próxima aos 110 milhões, 51,3% vive na pobreza, ou seja, 55 milhões de mexicanos carecem dos recursos básicos para cobrir as necessidades básicas.

Segundo Coneval, o número resulta aterrorizante ao aumentar o espiral de pobreza ano após ano sem que existam soluções. Em 2008, o número de pessoas nessas condições era de 50,6 milhões, primcipalmente em Chiapas, Veracruz, Tabasco, Baixa Califórnia, Puebla, Jalisco, Guanajuato, Oaxaca, Guerrero, Morelos, Chihuahua e no Distrito Federal.

Desde que o então presidente Carlos Salinas de Gortari aprovou em dezembro de 1992 o Tratado de Livre Comércio para a América do Norte (Nafta, na sigla em inglês), que entrou em vigor em janeiro de 1994, a fome e a pobreza se tornaram os maiores males dos aztecas, unido à enorme violência dos cartéis de drogas na luta por transportar essa mercadoria ao maior consumidor de entorpecentes no mundo: os Estados Unidos.

Uma das piores consequências do Nafta é a de ter obrigado mais de 2 milhões de camponeses, com seus familiares, a abandonar as terras que arrendavam pelos baixos preços dos produtos e o abandono governamental.

Ao negociar a livre exploração de mercadorias, as empresas transnacionais e os agricultores estadunidenses (com enormes subsídios governamentais e modernas tecnologias de produção) inundaram os mercados mexicanos em detrimento de comerciantes e agricultores nacionais.

Os camponeses emigram em massa para as grandes cidades onde é muito difícil conseguir trabalho e passam a aumentar as filas dos vagos, ou os mais jovens tentam cruzar as custodiadas fronteiras norte-americanas em uma via crucis de imigrantes clandestinos.

As transnacionais de alimentos que operam dentro do país se tornaram as principais produtoras, importadoras, exportadoras e praticamente se dominaram a economia azteca.

Várias fontes de trabalho desaparecem pela compra e concentração de terras por essas companhias, e pela utilização de novas técnicas industriais na agricultura.

Pequenas fazendas foram eliminadas por enormes empórios como Tyson, Smithfield, Pilgrims Pride que se apoderaram da produção de gado ao mesmo tempo que provocam a poluição da água e da terra pelo afã de aumentar as produções sem cuidar do meio ambiente. Como afirmam os empresários, afinal, o país não é deles.

O milho, alimento básico ancestral mexicano cuja produção nacional abastecia toda a população e ficavam excedentes para a exportação, foi praticamente eliminado dos campos desde a entrada em vigor do Nafta, ao quadruplicar as importações desse grão oriundo dos Estados Unidos.

Com o aumento dos preços internacionais dos alimentos, provocado muitas vezes pelas companhias intermediárias (entre as quais se destacam Maseca /Archers, Daniel Midland e Cargill) que brincam com a fome dos pobres para se enriquecer, os preços das tortilhas de milho são quase inalcançáveis para os mexicanos.

Os números não mentem. Se antes do Nafta o país gastava 1,8 bilhões de dólares com importação de alimentos, agora investe em 24 bilhões com a alta dependência de soja, 95%; arroz, 80%; milho, 70 %; trigo, 56 % e feijão, 33 %.

Graças ao Nafta, funcionários do Departamento de Agricultura em Washington afirmam que nos próximos anos o México deverá adquirir 80% dos alimentos em outros países, principalmente nos Estados Unidos.

Sob as rédeas do Tratado de Livre Comércio, muitos analistas consideram a nação azteca uma dependência de Washington, devido às leis neoliberais que permitem às companhias estrangeiras utilizar mão de obra barata para suas produções, explorar os recursos naturais, extrair petróleo a preços preferenciais e exportar os excessos de mercadorias norte-americanas para esse país.

Enquanto esta situação ocorre no México, um recente relatório da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) afirmou que esse flagelo diminuiu na região e atualmente atinge 168 milhões de pessoas, equivalente a 30% da população, embora seja a mais baixa nas últimas três décadas.

Para a Cepal, os níveis de pobreza continuarão diminuindo, a um ritmo menor, até terminar o ano em uma taxa de 28,8%, equivalente a 167 milhões de pessoas, graças ao crescimento econômico e à moderada inflação.

Nos últimos anos, várias nações, entre as que se destacam Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina, Nicarágua e Brasil possibilitaram que os índices de pobreza se reduzissem ao realizar políticas sociais a favor dos seus habitantes e tomar medidas para que as transnacionais não roubem suas economias.

O aumento da desigualdade é outro aspecto que afeta a nação azteca já que, enquanto a metade da população não pode ter acesso às necessidades alimentares, educacionais ou de saúde, só oito magnatas nacionais possuem uma fortuna de mais de 90 bilhões de dólares que equivale a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

O tratado permitiu o enriquecimento de uma minoria nativa, e ao mesmo tempo possibilitou Washington manter um maior controle sobre a economia azteca em detrimento do seu povo.

*Tradução divulgada pela rede Telesur

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Re: A Crise Econômica Mundial

#500 Mensagem por Carnage » 04 Fev 2013, 22:23

http://www.cartamaior.com.br/templates/ ... a_id=21544
Notas sobre o “pibinho” da China
Desaceleração da economia chinesa preocupa governos e grandes corporações de todo o mundo. O grande debate, porém, deveria ser o de como compatibilizar o desenvolvimento econômico e a inclusão de parcelas da população ainda à margem dos benefícios do “progresso”. E aí, de fato, o modelo adotado pela China foge completamente de exemplo a ser seguido. A análise é do economista Paulo Kliass

Paulo Kliass*


Agora os resultados são oficiais. Acabam de serem divulgadas as informações a respeito do desempenho da economia chinesa para o ano passado, de acordo com o calendário civil do mundo ocidental. Apesar de boa parte de 2012 ter sido do ano do dragão para o calendário chinês, o mundo todo se volta para a performance econômica do gigante do Oriente, com um olhar meio contraditório. Afinal, se levarmos em consideração o ritmo de crescimento dos anos anteriores, alguns analistas chegam a afirmar que a China apresentou um “pibinho”. E bota aspas de ironia na expressão! Mas como havia quem aguardasse ingenuamente por um crescimento maior, digno do vigor daquele mítico animal, a revelação feita pelas autoridades chinesas pode mesmo beirar a frustração.

De acordo com os relatórios produzidos pelo Escritório Nacional de Estatísticas da China, os números definitivos consolidados apresentam um crescimento do PIB chinês de 7,8%. Esse patamar de atividade econômica significa um importante recuo face ao que havia sido realizado em 2011, uma vez que naquele período o PIB do país havia subido 9,2%. O dado fica ainda mais contrastante caso comparado com o desempenho médio anual da última década, quando o produto cresceu a um ritmo de 10,7% a cada 12 meses.

Desaceleração na China e frustração no Ocidente
Os temores e as decepções expostas por representantes de governos, organismos multilaterais, corporações empresariais e do mundo das finanças em geral são compreensíveis. E, reconheçamos, sentimentos desse tipo são também partilhados por entidades ligadas ao movimento sindical e ao movimento dos países não-alinhados. Aliás, essas expectativas todas devem ser analisadas à luz das conseqüências que qualquer tropeço sentido pela economia chinesa pode provocar sobre os mais variados cantos de nosso planeta.

Afinal, essa que passou recentemente à condição da segundo economia mais robusta do mundo carrega consigo, simultaneamente, o enigma de ser uma via alternativa para o terceiro milênio e uma das chaves para a solução da crise internacional no curto prazo. Em mais uma dessas ironias da História, o destino dos países mais importantes do sistema capitalista contemporâneo está nas mãos daquilo que for decidido nas reuniões, encontros e demais instâncias ligadas ao Partido Comunista Chinês. Quem poderia imaginar um quadro desses há anos atrás? Nos tempos recentes, o desempenho dos Estados Unidos de Obama, da União Européia de Ângela Merkel, do Japão de Shinzo Abe dependem em larga escala daquilo que ocorre com a economia chinesa. No momento atual da crise internacional, então, a sino-dependência é ainda mais expressiva.

As alternativas para a recuperação da atividade econômica no chamado mundo desenvolvido dependem, em grande medida, da capacidade desses países encontrarem potencial de crescimento “para fora”. Apesar de constituírem mercados consumidores importantes, a saída “para dentro” tem esbarrado em limites como alto grau de endividamento das famílias, nível elevado de desemprego e outros elementos que contribuem para esse fenômeno a que estamos todos assistindo: a enorme resistência em sair da recessão. Por outro lado, como seus governos ainda operam com forte viés conservador em suas respectivas políticas econômicas, a prioridade tem sido a de evitar as perdas apenas do financismo. Com isso, a busca do crescimento via mercado interno tem se revelado quase como uma impossibilidade.

Importância da China para a economia mundial
A posição estratégica da China vem justamente de sua expressiva capacidade em influenciar o ritmo da atividade econômica no mundo inteiro hoje em dia. De um lado, ela assegura a demanda por produtos primários de grande parte dos países chamados “não-desenvolvidos”, comprando minérios de todos os tipos e produtos agrícolas de forma ampla e generalizada. De outro lado, ela atua exportando um volume impressionante de produtos industrializados para todos os continentes. Nos países de baixo nível de renda, a chegada de tais bens propicia o acesso - até então impossível - em razão dos preços agora mais baixos. Já nos países de renda mais elevada, como os Estados Unidos e a Europa, a inundação de produtos chineses baratos contribui para manter a inflação sob controle e para garantir o acesso da população, cuja renda disponível está sendo reduzida com a crise, a uma cesta de consumo mínima.

Além disso, há que se mencionar outro aspecto relevante. Ao longo dos últimos anos, o espaço nacional chinês vem se fortalecendo como uma alternativa nada desprezível para a continuidade do processo de acumulação e reprodução ampliada do capital, em escala internacional. Isso significa que as grandes corporações multinacionais optaram por aprofundar a política de “deslocalização”, ou seja, de transferir suas plantas industriais para além das fronteiras de suas nações de origem. Quando multinacionais mastodônticas passam a produzir aviões, veículos, celulares, computadores, produtos eletrônicos e demais bens simbólicos da nossa sociedade contemporânea na China, é sinal de que algo mais sério está em transformação subterrânea no modelo.

Corporações do mundo capitalista dependem da China
A lógica de funcionamento e crescimento dessas empresas não mais responde, exclusivamente, aos interesses dos dirigentes, acionistas e eleitores dos países originários. Para continuar operando de forma competitiva, elas devem crescer e reduzir custos. Assim, passam a depender cada vez mais das benesses do modelo assegurado pelo Estado chinês. Isso significa produção de bens e serviços a baixos custos, por meio de incentivos fiscais e reduzida remuneração da força de trabalho. E veja que não se trata dos modelos espoliadores do tipo “maquiladoras” do México. Os dirigentes chineses têm um projeto de nação em sua estratégia e impõem severas condições de transferência de tecnologia e de regulamentação estatal. Pouco a pouco, acumulam capacidade de fazer igual e/ou melhor, com empresas próprias.

Por outro lado, a remuneração do estoque de capital internacional depende também do desempenho econômico da China. As grandes corporações internacionais transferem para seus acionistas espalhados pelo globo boa parte daquilo que conseguem realizar como lucro nas atividades de suas empresas operando no território chinês ou em articulação econômica com aquele país. E na outra ponta, os sucessivos superávits comerciais da China ao longo das últimas décadas converteram-se numa enormidade de reservas internacionais. Atualmente eles têm acumulado o equivalente a US$ 3,3 trilhões, aplicados especialmente em títulos da dívida pública norte-americano, os famosos títulos do Tesouro dos EUA.

Face a tamanha “folga” de recursos para investimento, os responsáveis pela política econômica chinesa começam a flexibilizar o destino das aplicações. É amplamente conhecido o processo intensivo de créditos e empréstimos concedidos aos países em desenvolvimento, na América Latina, África e Ásia. Valores expressivos, em condições financeiras favoráveis, mas com contrapartidas sérias em termos de abertura dos mercados locais para produtos chineses e também para flexibilização de regras para facilitar imigração de mão-de-obra originária do populoso país asiático.

A China cresce, mas o modelo não é sustentável
Com isso, estamos talvez assistindo a um inédito processo histórico de transição imperial “por dentro” e com regras “pacíficas”, pois a deflagração de algum conflito bélico em escala internacional significaria o fim do mundo – literalmente. A dependência mútua entre os Estados Unidos (e com ele o conjunto do sistema capitalista ocidental) e a China expressa essa curiosa contradição. Um modelo em decadência, o outro em ascensão. E os dois dependem da relativa boa saúde de ambos para sobreviver. Um querendo sair do abismo e evitar que seja ultrapassado pelo outro. O outro querendo adiar a longa agonia do primeiro, mas procurando evitar a morte súbita.

A economia mundial deve ter crescido por volta de 3% em 2012. Poucos países terão crescido mais do que os 7,8% da China, e ainda assim são economias menores e sujeitas a outras variáveis para seu desempenho localizado. É o caso de Afeganistão, Timor Leste, Etiópia, Iraque, Moçambique, Omã, Turcomenistão, Uzbequistão, entre outros. A economia chinesa acusou o impacto provocado pela crise nos países desenvolvidos. Mas nem por isso, seu crescimento alcançado no ano passado pode ser menosprezado. Inclusive porque as perspectivas para 2013 são de uma taxa um pouco maior.

O grande debate, na verdade, deveria ser o de como compatibilizar o desenvolvimento econômico e a inclusão de parcelas da população ainda à margem dos benefícios do “progresso” com redução das desigualdades socioeconômicas e um modelo marcado pela sustentabilidade em sentido amplo do termo. E aí, de fato, o modelo adotado pela China foge completamente de exemplo a ser seguido.


* Paulo Kliass é doutor em economia pela Universidade de Paris 10 (Nanterre) e integrante da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental, do governo federal.






http://www.redebrasilatual.com.br/blog/ ... a-vez-mais
Espanha: o buraco é mais embaixo. Cada vez mais

Por: Flávio Aguiar, para a Rede Brasil Atual

Publicado em 25/01/2013, 14:50

Última atualização às 19:48


Pessoas esperam por uma vaga de trabalho; desemprego atinge 26% da população (Foto: Susana Vera/Reuters)

Lembram-se de quando o Brasil era “o país do futuro”? Pois é. Agora a Europa tornou-se “o Continente do futuro”. Cada vez mais a hegemonia ortodoxa impõe sacrifícios cada vez mais duros em nome de um futuro melhor – que vai se distanciando também cada vez mais, e torna-se mais e mais problemático.

Uma frase do vice-ministro das Finanças de Madri, Fernando Jiménez, seria tudo, trágica e cômica, se não fosse um total teatro do absurdo. “Os cortes [no orçamento e nos empregos] podem ter um impacto negativo no curto prazo”. Mas pontuou que a política do governo, tornando mais fácil para as empresas despedirem seus empregados, “ajudaria eventualmente a criar mais empregos”. “As coisas ficarão menos ruins.”

É difícil prever o que exatamente o vice-ministro quis dizer com “menos ruins”. Afinal, as coisas estão péssimas.

Um relatório oficial divulgado na quinta-feira mostrou que a taxa de desemprego nom país superou os 26% (seis milhões de trabalhadores, meia população de São Paulo). Só em 2012, 700 mil espanhóis (uma João Pessoa) perderam o emprego. Dez por cento dos lares espanhóis não têm sequer uma pessoa empregada. 55% dos jovens abaixo de 25 anos que também não estudam estão desempregados.

Dentro da situação emperrada, as desigualdades regionais são enormes, e crescem. No sul da Espanha 66% dos jovens não têm emprego. Na província de Cádiz, no sudoeste, 40% da força de trabalho está desempregada. Na Andaluzia, 65% dos jovens não têm emprego.

O FMI prevê um ecolhimento de 1,5% na economia espanhola em 2013. Mais de um milhão de residências novas permanecem sem vendas, herança do boom e bolha no setor imbiliário.

Mas a União Européia exige que a Espanha baixe seu déficit orçamentário para 4,5% do PIB, o que significa mais 30 bilhões de euros em cortes nas despesas públicas. Ao mesmo tempo, o país deve conseguir mais 10 bilhões de euros para honrar o acréscimo de suas dívidas no ano passado, sob a forma de juros. E já tomou 40 bilhões de euros emprestados para socorrer seus bancos empestados.

Mas o governo de Mariano Rajoy exsuda confiança (ou será suor frio?): ao final de 2014, as coisas vão melhorar, afirma.

É o país do futuro, no Continente do futuro. Até porque a hegemonia da U. E. não crê que haja qualquer outro futuro possível, senão este, da destruição do estado de bem-estar social e do reerguimento – não se sabe do quê, nem mesmo se e algo, sobre seus escombros.

A ver. Quem sobreviver verá. Porque os dirigentes desta hecatombe permanecem cegos para a destruição que estão provocando, acreditando-se os salvadores da pátria.


http://www.cartamaior.com.br/templates/ ... a_id=21557
Agora, a Espanha quer saber de nós
O principal destaque da 1ª cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac) e a União Europeia, encerrada domingo (27), em Santiago, foram os espanhóis. Diante da greve situação do país, a delegação do primeiro-ministro Mariano Rajoy (na foto com o chileno Sebastián Piñera) reivindicou o papel de principal canal de diálogo entre América Latina e Europa, e ainda cobrou garantias jurídicas para suas empresas em nossos países. Como diplomacia de aproximação, sobrou prepotência. A análise é de Eric Nepomuceno

Eric Nepomuceno

Desde que em 2011 o presidente venezuelano Hugo Chávez propôs a criação – e criou – a Celac, Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe, a reunião realizada agora em Santiago do Chile foi, se não a mais frutífera, a mais esclarecedora. Compareceram 61 presidentes e altos representantes, 33 latino-americanos e o resto de países europeus ou de organismos internacionais.

Se em suas origens Chávez, em outro de seus impulsos voluntariosos, propôs criar uma nova OEA sem a presença dos Estados Unidos e do Canadá, a Celac acabou por se transformar em uma organização paralela, e com peculiaridades. Não tem sede, nem funcionários, nem nasceu a partir de tratados e acordos. E, talvez por isso mesmo, por reunir apenas chefes de governo e de Estado, acabou por fluir sozinha e em bom ritmo. É um foro de vida própria, um espaço para debater problemas comuns e tentar encontrar soluções comuns.

É evidente que entre seus 33 integrantes convivem governos de ideologia e propostas políticas e econômicas diversificadas, muitas vezes contrastantes, e que dentro do bloco se consistiram outros blocos com intenções prioritárias comuns. Manter a harmonia e buscar pontos de convergência é o exercício prioritário dos participantes.

Nessa reunião de Santiago do Chile houve um pouco de tudo. Para começar, a presidente Dilma Rousseff cancelou sua agenda e deixou vários temas em suspenso para viajar de urgência a Santa Maria para prestar solidariedade às vítimas da tragédia da discoteca Kiss. Seu gesto não apenas foi perfeitamente compreendido pelos demais participantes, como gerou elogios. Mas, seja como for, assuntos que dependiam de seus encontros pessoais com outros mandatários para serem finalizados ou, em alguns casos, iniciados, ficaram pendentes. Continuam a ser tratados por equipes técnicas à espera de novas oportunidades para conversas entre Dilma e seus colegas.

Houve outros detalhes bem representativos do estado das relações entre alguns países europeus e da América Latina e do Caribe. O esforço gritante da primeira-ministra alemã Angela Merkel para evitar todo e qualquer contato com o presidente cubano Raúl Castro chamou a atenção. Mais do que uma questão diplomática ou de política de governo, primou pela falta de educação.

Já com Mariano Rajoy, o encontro com o cubano, o primeiro entre os dois, mostrou o contrário. Apesar da distância que separa o governo direitista de Madri com o processo de Havana, foi um diálogo curto, formal, cordial.

O próprio presidente chileno, Sebastián Piñera, ao passar a presidência temporária para Raúl Castro (segue-se o turno por ordem alfabética na Celac) evitou qualquer menção às distâncias ideológicas que separam os dois governos. E Raúl Castro, numa mostra de seu humor tão peculiar, a certa altura de seu discurso, olhando para alguns mandatários, disse, pícaro: “Não se preocupem, só vou ficar um ano”.

O principal destaque, em todo caso, ficou com os espanhóis. Na situação gravíssima em que se encontra o país, a agitação da delegação espanhola chamou a atenção. O ministro de Relações Exteriores, José Manuel García-Magullo, foi dos mais diligentes. Sua conversa com seu colega venezuelano Elías Jaua foi longa, na tentativa de retomar negociações interrompidas há vários anos sobre temas pendentes.

Os espanhóis insistiram, com veemência, em dois temas específicos. O primeiro, reivindicar o papel de principal canal de diálogo entre a América Latina e a Europa. Se dizem peça-chave para qualquer aproximação. Não explicam exatamente como atuariam. Pedem investimentos latino-americanos (mirando principalmente o Brasil, a Venezuela e o México) na Espanha, e pedem oportunidade para fazer negócios em nossas comarcas. Ao mesmo tempo, numa brisa permanente de prepotência, recordam a imperiosa necessidade de oferecer garantias jurídicas para suas empresas instaladas em nossos países.

Se referem especificamente a experiências amargas recentes, como a nacionalização da argentina YPF, com o Estado comprando as ações da espanhola Repsol, e ao que enfrentam na Bolívia e no Equador. Em nenhum momento há menções explícitas, que, aliás, seriam desnecessárias. E em nenhum momento há observações sobre os métodos predatórios aplicados pelas empresas nacionalizadas, observações essas que aliás seriam contraproducentes.

O diálogo entre a União Europeia e os países latino-americanos é difícil, complexo, intrincado. Basta ver as negociações entre dois blocos específicos, a própria UE e o Mercosul, que se arrasta há quase uma década avançando parcos metros. O que se viu agora uma vez mais – um grupo de europeus dizendo buscar avidamente canais de diálogo enquanto avançam com barreiras de exigências descabidas – pode ser considerado um indicio claro de que essas dificuldades continuarão existindo.

Curiosa mesma é a atuação da Espanha. Com uma mão, passa o chapéu pedindo ajuda. Com a outra, brande a chibata querendo impor respeito. Se for esse o seu conceito de diplomacia de aproximação, seria conveniente alguém advertir que as coisas não acontecem exatamente assim...







http://www.viomundo.com.br/voce-escreve ... amide.html
Um silêncio ensurdecedor

Porque precisamos de um imposto sobre as propriedades

por George Monbiot, publicado em seu blog e no diário britânico Guardian


Você pode aprender tanto sobre um país a partir de seus silêncios quanto de suas obsessões. As questões que os políticos não discutem são tão significativas e decisivas quanto as que eles discutem. Enquanto os cortes de orçamento do governo britânico empobrecem os vulneráveis e destroem os serviços públicos, é hora de falar sobre os caminhos não escolhidos, as oportunidades abandonadas: os impostos que poderiam ter evitado todos os apertos do parafuso.

A extensão do esquecimento é extraordinária. Considere, por exemplo, o imposto sobre os ganhos de capital. Antes da eleição, os Liberal Democratas prometeram aumentar o imposto de 18% para “a mesma taxa do imposto de renda” (em outras palavras, um imposto de até 50%), para garantir que os chefões do mercado financeiro não pagariam menos imposto que os faxineiros.

Fazia sentido, removendo o incentivo para que os chefões recebessem o salário em ações. Apesar da justificativa poderosa, o governo se negou a subir o imposto acima dos 28%. Os Liberal Democratas protestaram por um dia ou dois e desde então ficaram silenciosos. No debate sobre cortes na Previdência Social, esta oportunidade perdida não foi mencionada sequer uma vez.

Mas pelo menos o imposto subiu. Em dois anos e meio, o governo cortou o imposto das corporações três vezes. Vai cair de 28% em 2010 para 21% em 2014. George Osborne, o ministro das Finanças, vangloriou-se no mês passado que “é o menor imposto corporativo de todas as grandes economias ocidentais”: ele está conscientemente deflagrando uma competição destrutiva com outras nações, criando novas desculpas para diminuir ainda mais o imposto.

O quase silêncio do Partido Trabalhista nesta questão é fácil de explicar. Sob Tony Blair e Gordon Brown, que foram muitas vezes tão entusiastas do apaziguamento do poder corporativo quanto os Conservadores, o imposto foi reduzido de 33% para 28%. Antecendendo a vanglória de Osborne, em 1999 Brown alardeou que ele tinha adotado “o menor imposto corporativo de qualquer país industrializado no mundo, inclusive o Japão e os Estados Unidos”. Que legado para um governo trabalhista!

Quanto a um imposto Robin Hood sobre transações financeiras, depois de um alvoroço inicial agora é mais provável que você ouça no Parlamento o canto do pássaro do país das maravilhas que um debate sobre o imposto. De acordo com o Instituto de Pesquisa de Políticas Públicas, um imposto de apenas 0,01% sobre transações financeiras arrecadaria o equivalente a 80 bilhões de reais por ano, tornando muitos dos debates sobre os cortes devastadores no orçamento desnecessários.

O silêncio também cerca a noção de um imposto sobre a extrema riqueza. E dizer que a interessante ideia do professor Greg Philo — de transferir a dívida nacional para os que possuem o equivalente a 3 milhões de reais ou mais em bens — não despertou a chama da paixão no Parlamento não é exagero.

Mas o silêncio mais ensurdecedor é que o cerca a questão do imposto sobre propriedades. O apartamento mais caro naquele esconderijo preferido dos super-ricos, em One Hyde Park, custa o equivalente a 433 milhões de reais. O dono paga R$ 4.391 em impostos, ou 0,001% do valor.

No ano passado o diário britânico Independent revelou que o sultão de Brunei paga em impostos apenas R$ 102 por mês a mais que as pessoas mais pobres de seu bairro, para desfrutar de sua propriedade no Kensington Palace Gardens.

O imposto sobre as mansões — adotado por David Cameron em outubro — deveria ser apenas o começo do que os proprietários devem pagar. Isso porque o imposto mais simples, mais justo e mais difícil de sonegar é aquele que os principais partidos simplesmente não contemplam. É o imposto sobre o valor da terra.

O termo não é correto. Não é, na verdade, um imposto. É a devolução, para o público, dos benefícios que concedemos aos donos da terra. Quando ela valoriza, o governo e o povo dão um grande presente aos proprietários de imóveis.

Em 1909 um perigoso subversivo explicou a questão assim. “Estradas são construídas, ruas são construídas, os serviços melhoram, a luz elétrica torna a noite em dia, a água é trazida de reservatórios que ficam centenas de quilômetros nas montanhas — e tudo isso com o dono da terra sentado. Todas estas melhorias são cobertas pelo trabalho das pessoas e custam aos contribuintes. O monopolista da terra não contribui com estas melhorias e ainda assim o valor de sua terra aumenta. Ele não presta serviços à comunidade, ele não contribui em nada com o bem estar geral, ele não contribui em nada com o processo do qual sua riqueza é derivada… o incremento imerecido no valor da terra obtido pelo monopolista vem na exata proporção não do serviço, mas do desserviço prestado”.

Quem era o radical? Winston Churchill. Como Churchill, Adam Smith e muitos outros indicaram, aqueles que são proprietários de imóveis tiram riqueza de todos os outros, sem esforço ou empreendimento. Eles “cobram um imposto de todas as outras formas de riqueza e indústria”. Um imposto sobre a propriedade da terra seria para recuperar isso.

E traz outros benefícios. Acaba com a especulação imobiliária, que evita a construção de casas. Garante que os imóveis de maior valor — no centro das cidades — sejam ocupados primeiro, desencorajando a expansão das metrópoles. Previne bolhas imobiliárias especulativas, do tipo das que recentemente destruiram as economias da Irlanda, Espanha e outras nações, que tornam os aluguéis e as casas tão difíceis de bancar. Como não afeta e oferta de terra (já pararam de fabricá-la faz algum tempo), não provoca o aumento dos aluguéis. É fácil de calcular e difícil de sonegar: você não pode esconder seu terreno em Londres numa conta das ilhas Cayman. E provavelmente a cobrança deste imposto poderia cobrir todo o déficit de orçamento do governo britânico.

É notável, nesses tempos de desigualdade e dificuldade, que um imposto sobre a propriedade não esteja no coração do debate político. Talvez seja um sinal de quão poderosa a classe rentista tenha se tornado no Reino Unido. Se o silêncio em torno desta solução óbvia expõe os limites do Partido Trabalhista, também expõe a contradição no coração do Partido Conservador. Os conservadores alegam, nas palavras de David Cameron, que são “o partido da iniciativa privada”. Mas aqueles que se beneficiam de suas políticas são aqueles que já são ricos. É, na verdade, o partido dos rentistas.

O debate sobre trabalhadores, preguiçosos, batalhadores e aproveitadores deveria nos levar a esta questão. Os preguiçosos e aproveitadores que chupam o dinheiro de nosso bolso não são os que recebem dinheiro da Previdência Social, os quais em sua grande maioria são honestos, apesar de demonizados pelo Daily Mail e pelo Partido Conservador. Os parasitas estão no topo da pirâmide, não na base, e a cobrança de impostos deveria refletir isso.

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Re: A Crise Econômica Mundial

#501 Mensagem por Carnage » 04 Fev 2013, 22:26

http://www.cartamaior.com.br/templates/ ... a_id=21560
'Modelo que causou queda do Lehman Brothers não mudou'
Sem uma proposta alternativa, mudança só pode ocorrer com repetição e aprofundamento da crise, algo que muitos consideram inevitável no atual modelo. “A crise vai se repetir porque o modelo que produziu a queda do Lehman Brothers não mudou. Precisamos é de algo novo que contemple uma mudança de regras do jogo no tema da propriedade dos bancos e no seu funcionamento”, diz Ismail Ertgurk, da Universidade de Manchester, à Carta Maior.

Marcelo Justo

Londres – Nos anos 30, o capitalismo encontrou rapidamente uma saída para a crise abandonando o laissez-faire reinante e abraçando o keynesianismo. No epicentro da crise, os Estados Unidos, o New Deal de Franklin D. Roosevelt marcou uma virada radical no manejo da economia que contrasta com a falta de propostas que se observa na atual crise. Segundo o catedrático de economia comparada da Universidade de Cambridge, Gabriel Palma, o problema é político: “Ocorreu um esvaziamento intelectual da esquerda após a queda do muro de Berlim. O que ocorreu na Europa é que a esquerda terminou comprando o discurso neoliberal. O melhor exemplo deste esvaziamento é o “Blairismo” no Reino Unido e a terceira via”, disse Palma à Carta Maior.

A este beco sem saída político-intelectual soma-se uma inércia e automatismo do sistema financeiro que segue conservando seu lugar hegemônico por uma mistura de predomínio da lógica de curto-prazo, perigo de uma nova debacle e a duradoura influência do credo neoliberal. “A realidade é que, no momento, o centro do discurso neoliberal mudou pouco ou quase nada. A hegemonia do setor financeiro segue sendo a mesma. Enquanto essa hegemonia não for modificada não se pode falar de um novo modelo”, assinala Palma.

O fogo de FIRE
O programa de privatizações, liberalização comercial e desregulação consagrado no início dos anos 90 no famoso Consenso de Washington teve como resultado a crescente financeirização da economia e uma explosão do que, em inglês, é denominado pela sigla FIRE (Financiamento, Seguro e Setor Imobiliário). “Esta crescente importância do setor financeiro produz um deslocamento do investimento. O caso da General Motors é emblemático. Entre outras atividades financeiras, a empresa chegou a investir no mercado hipotecário. Isso não é uma simples atividade adicional de uma empresa para aumentar o rendimento de seu capital. É um deslocamento. Em vez de investir na produção começa-se a concentrar o investimento em produtos financeiros que oferecem lucros a curto prazo”, destaca Palma.

Segundo o economista Ismail Ertgurk, catedrático de sistemas bancários da Universidade de Negócios de Manchester, esse predomínio do setor financeiro é visível também na política que estão seguindo os bancos centrais dos EUA, do Reino Unido e da Zona do Euro. “Os bancos centrais estão se endividando perigosamente para resgatar o setor financeiro. Com isso estão expondo perigosamente a economia em seu conjunto, mas, além disso, os bancos não estão cumprindo sua função essencial: disponibilizar crédito. Enquanto o setor financeiro perseguir seu objetivo de lucro no curto prazo e não financiar o setor produtivo não poderemos sair desta crise”, disse à Carta Maior.

O piloto automático
Na União Europeia, que vive além disso sob o jugo das receitas de austeridade, a crise não dá folga, mas o modelo neoliberal e a financeirização seguem funcionando no piloto automático. Apesar disso, há algumas tímidas tentativas no marco do capitalismo desenvolvido para sair do laissez-faire e intervir com políticas que estimulem o setor produtivo e beneficiem setores mais amplos da população.

As três economias mais importantes do planeta são exemplos deste tímido reconhecimento da necessidade de uma mudança. Com Barack Obama, os Estados Unidos colocaram o acento em uma recuperação industrial e na limitação de sua dependência importadora, o que o levou o presidente a enfrentar todo o lobby político-midiático que se opunha ao resgate da General Motors.

No caso da segunda potência planetária, a China, foi posta em marcha uma mudança na direção de um modelo mais centrado no consumo e menos na exportação e na mão de obra barata. Este novo modelo, que a China pretende completar na presente década, requer melhores salários e maiores direitos sociais (acesso à saúde, educação, etc.). Na terceira economia mundial, o Japão, o novo governo do primeiro ministro Shinzo Abe apostou em um estímulo fiscal e em uma maior intervenção do Banco Central que flexibilizou seu rígido objetivo de inflação anual de 1% em favor de um com margem de 2%.

“São políticas dispersas, sem nada que defina um programa, mas apontam na direção da tendência histórica que é o pêndulo. Ou seja, o keynesianismo dos anos 30 apareceu depois do laissez-faire ultraliberal que dominou o pensamento econômico desde o século XIX. Este ultraliberalismo reapareceu nos anos 70 com a crise de keynesianismo”, disse à Carta Maior Eduardo Plastino, analista sênior da empresa de consultoria britânica Oxford Analytika.

Esta tendência ao movimento pendular parece encontrar uma forte resistência na própria financeirização do sistema. Um claro exemplo dessa resistência é o acordo firmado no dia 6 de janeiro pelo Comitê da Basileia sobre supervisão bancária (que reúne os bancos centrais do mundo) para flexibilizar no tempo as condições da tímida reforma bancária que havia acordado previamente para evitar crises como a de 2008. Segundo o Comitê, os encaixes (capital mínimo que o banco deve ter disponível para enfrentar corridas) exigidos pela reforma poderiam colocar em perigo a economia mundial ao secar a capacidade creditícia dos bancos que teriam menos dinheiro disponível para emprestar.

Com a corda no pescoço
Na falta de uma visão alternativa, a própria dívida se converteu em uma corda no pescoço, que asfixia, mas não enforca. Se antes da queda do Lehman Brothers, a dívida se concentrava no sistema financeiro privado, agora ela se estendeu ao Estado, seja pela via da dívida soberana ou pela dívida que estão contraindo os bancos centrais com seus resgates e sua emissão de dinheiro eletrônico, conhecida tecnicamente como aceleração quantitativa (quantitative easing).

Em um estudo global sobre a dívida, o Mc Kinsey Global Institute mostrou quem em 2011 a dívida total do Japão – a maior do mundo desenvolvido – equivalia a cerca de 512% de seu PIB (mais de cinco vezes o total produzido por sua economia no ano). O Reino Unido vinha em segundo lugar com 507%. A primeira potência planetária, os EUA, “só” tinham 279%.

Sem uma convincente proposta alternativa, por enquanto a mudança só pode ocorrer com uma repetição e aprofundamento da crise, algo que muitos consideram inevitável no atual modelo. “A crise vai se repetir porque o modelo que produziu a queda do Lehman Brothers não mudou. Do que precisamos é de um novo modelo que contemple uma mudança de regras do jogo tanto no tema da propriedade dos bancos como no de seu funcionamento. Não vai ser fácil”, disse Ismail Ertgurk à Carta Maior.

Tradução: Katarina Peixoto


http://www.advivo.com.br/blog/luisnassi ... ul-krugman
Da Folha
Onde estão os sucessos da austeridade?

Paul Krugman


Uma coisa terrível aconteceu com a política econômica nos Estados Unidos e na Europa, três anos atrás. Apesar de o pior da crise financeira já ter passada, as economias de ambos os lados do Atlântico continuavam em depressão profunda, com desemprego muito alto. Mas, por alguma razão, a elite política do mundo ocidental decidiu em massa que o desemprego já não era mais uma preocupação crucial e que a prioridade absoluta deveria ser a redução dos déficits orçamentários.

Em minhas colunas recentes, venho argumentando que os temores em relação ao déficit são muitíssimo exagerados --e venho documentando os esforços cada vez mais desesperados dos críticos do déficit para manter vivo o medo.

Hoje, porém, quero falar de um tipo diferente, mas relacionado, de corrida desesperada: o grande esforço para identificar algum exemplo, em algum lugar, de políticas de austeridade que deram certo. Pois os defensores da austeridades fiscal --os "austerianos"-- fizeram não apenas ameaças, mas também promessas: afirmaram que a austeridade evitaria a crise e resultaria em prosperidade. Na realidade, eles estão procurando a dor benéfica há anos.

A busca começou com um namoro apaixonado dos austerianos com a República da Irlanda, que recorreu a cortes severos nos gastos públicos pouco depois de sua bolha imobiliária estourar e que, durante algum tempo, foi tida como exemplo máximo de virtude econômica.

Jean-Claude Trichet, do Banco Central Europeu, disse que a Irlanda era um exemplo a ser seguido por todos os países europeus endividados. Conservadores americanos foram além. Por exemplo, Alan Reynolds, membro sênior do Instituto Cato, declarou que as políticas adotadas na Irlanda apontavam o caminho que deveria ser seguido também pelos Estados Unidos.

O discurso de louvor de Trichet foi feito em março de 2010; o índice de desemprego da Irlanda estava em 13,3% na época. Desde então, cada avanço pequeno na economia irlandesa vem sendo saudado como prova de que o país está se recuperando --mas no mês passado o desemprego estava em 14,6%, apenas um pouco abaixo do pico que alcançou no início do ano passado.

Depois da Irlanda veio o Reino Unido, onde em meados de 2010, ao som de hosanas de muitos especialistas, o governo conservador apostou na austeridade, influenciado em parte pelo fato de acreditar que as políticas adotadas na Irlanda tinham tido sucesso retumbante.

Diferentemente da Irlanda, o Reino Unido não tinha nenhuma necessidade especial de adotar a austeridade: como todos os outros países avançados que emitem dívida em sua própria moeda, o país podia e ainda pode contrair empréstimos a juros historicamente baixos. Mesmo assim, o governo do primeiro-ministro David Cameron insistiu que um arrocho fiscal forte era necessário para apaziguar os credores e que esse arrocho acabaria fortalecendo a economia, ao inspirar confiança.

O que aconteceu na realidade foi que a economia parou, como um motor afogado. Antes da opção pela austeridade, o Reino Unido estava se recuperando mais ou menos par a par com os Estados Unidos. Desde então a economia dos EUA continuou a crescer, embora mais lentamente do que gostaríamos, mas a economia britânica tem estado paralisada.

Neste ponto, poderíamos imaginar que os proponentes da austeridade considerassem a possibilidade de haver algo de errado em sua análises e suas prescrições. Mas não o fizeram. Eles continuaram a procurar novos heróis e os encontraram nos pequenos países bálticos, em especial a Letônia, um país que assumiu proporções surpreendentes na imaginação austeriana.

Em um nível, isso é engraçado: políticas de austeridade já foram aplicadas em toda a Europa, mas o melhor exemplo de sucesso que os austerianos puderam encontrar é o de um país com menos habitantes que o bairro do Brooklyn, em Nova York. Mesmo assim, o FMI recentemente divulgou dois novos relatórios sobre a economia lituana, e esses documentos realmente ajudam a colocar a história em perspectiva.

Para sermos justos com os lituanos, eles têm algo de que se orgulhar, sim. Depois de passarem por uma recessão comparável à Grande Depressão, sua economia vem tendo dois anos de crescimento sólido e desemprego em queda. Apesar do crescimento, porém, a Lituânia até agora reconquistou apenas uma parte do terreno perdido em termos de produção e de emprego, e o desemprego ainda está em 14%. Se essa é a ideia que os austerianos têm de um milagre econômico, eles realmente são filhos de um deus menor.

Ah, e se vamos evocar a experiência de países pequenos como evidência de quais políticas econômicas funcionam, não esqueçamos o verdadeiro milagre econômico que é a Islândia --um país que esteve no ponto zero da crise financeira, mas que, por ter aderido a políticas heterodoxas, já se recuperou quase por completo.

Então o que aprendemos com a busca um pouco patética por histórias de sucesso com a austeridade?

Ficamos sabendo que a doutrina que domina o discurso econômico da elite há três anos está errada em todas as frentes. Não apenas temos sido regidos pelo medo de ameaças inexistentes como temos ouvido promessas de recompensas que não chegaram e nunca chegarão. É hora de colocar a obsessão com o déficit de lado e voltar a lidar com o problema real: o desemprego inaceitavelmente alto.

Tradução de CLARA ALLAIN

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Re: A Crise Econômica Mundial

#502 Mensagem por Carnage » 26 Fev 2013, 22:25

Pra quem aplaudiu tanto o rei em certo momento passado....

http://www.viomundo.com.br/politica/eri ... lados.html
Espanha, um purê de sonhos esfacelados

publicado em 13 de fevereiro de 2013 às 19:56

Vaiar um rei, como ocorreu na final do torneio nacional de basquete espanhol, neste final de semana, não é comum nos países que têm reis e rainhas. Na Espanha, nunca tinha acontecido. Agora aconteceu, numa demonstração cabal de que a desesperança alcançou seu limite máximo no país de Pablo Picasso e de Joan Miró.

por Eric Nepomuceno, em Carta Maior


Até um ou dois anos atrás, seria impensável. Mas aconteceu, no domingo 10 de fevereiro. Na final do torneio nacional de basquete espanhol, a Copa del Rey, o rei em pessoa foi vaiado. E muito vaiado. O Barcelona derrotou o Valencia por 85 a 69. Mas o jogo não será lembrado por esse resultado: será lembrado pela primeira vaia pública ao monarca que foi considerado, por décadas, uma espécie de guardião da democracia reconquistada após a morte do sinistro Francisco Franco, ‘caudillo de España por la gracia de Dios’, em 1975.

Vaiar um rei não é comum nos países que têm reis e rainhas. Questão de educação, de boa conduta. Na Espanha, nunca tinha acontecido. Agora aconteceu, e não por um súbito surto de má educação dos súditos de sua majestade real (que, aliás, gastam milhões de euros por ano para manter a família do monarca). Aconteceu numa demonstração cabal de que o desencanto e a desesperança alcançaram seu limite máximo no país de Pablo Picasso e de Joan Miró.

Há dois anos, quando explodiu em seu esplendor na Espanha o movimento dos ‘indignados’, o país tinha quatro milhões de desempregados e todos diziam que estavam vivendo uma crise tremenda. Pois bem: hoje, os desempregados superam a marca dos seis milhões. Isso quer dizer que 26% da força de trabalho do país estão desempregados. Entre os jovens com menos de 30 anos, o panorama é ainda mais desolador: 55% deles não têm esperança alguma de conseguir um emprego. Jovens recém-formados em universidades falsificam a própria condição para disputar um posto de lixeiro ou entregador de correios. Dizem ter educação secundária. É que o que restou da legislação trabalhista, dizimada pelo governo direitista do Partido Popular, ainda prevê certas regalias para quem tem curso superior – progredir na carreira, por exemplo.

A saúde pública, que já foi considerada uma das melhores da Europa, foi para o brejo. Médicos da rede pública pedem demissão e buscam emprego em outros países. Eles se negam a restringir a atenção à população, conforme determina o governo.

A educação pública está virando mingau. As famílias passaram a vender o que têm ou tinham: a quantidade de ouro, joias familiares passadas de geração a geração, que a Espanha exporta para mercadores internacionais ganhou vulto em 2012, a ponto de chamar a atenção dos especuladores do mundo. E como se tudo isso fosse pouco, pipocam, com intensidade cada vez maior, as denúncias de corrupção.

O rei Juan Carlos I foi vaiado pelo que fez e pelo que fizeram membros da família real. Seu genro Iñaki Urdangarín, por exemplo, está sendo acusado de ter desviado pelo menos oito milhões de euros de recursos públicos. O próprio rei foi pilhado numa viagem clandestina (dizem as leis que quando quiser sair do país o monarca tem que pedir autorização aos parlamentares) para caçar elefantes na África, em companhia de sua jovem amiga alemã. Pois o desastrado rei caiu, quebrou a bacia, e foi um deus-nos-acuda, já que, formalmente, ele estava em casa e não num safári ilegal. A rainha Sofia fechou a cara, os súditos espanhóis abriram sorrisos: afinal, não é todo dia que se pega um rei safado numa escapadela conjugal – e matando elefantes, justo ele, que presidia várias organizações de defesa da natureza e do reino animal.

O esfacelamento maior da Espanha, porém, se dá na descoberta de um sistema de compra de parlamentares, por grandes empreiteiras, grandes empresas e pela banca, que atinge, entre outros, o puritano galego Mariano Rajoy, primeiro-ministro e estrela até agora fulgurante do Partido Popular, de direita.

Na verdade, e pensando bem, Rajoy até que era baratinho: 25 mil euros anuais. Uns 6 mil reais por mês. Para tentar se defender e negar a lambança, ele divulgou suas declarações de renda dos últimos dez anos. Pior a emenda que o péssimo soneto: ficou claro que ele não pagava a devida contribuição da previdência social. E mais: que ganhou 30% de aumento enquanto os salários do funcionalismo público eram recortados em 25%.

Conforme crescem as denúncias contra o Partido Popular, fica mais claro que os instrumentos de fiscalização e controle da Espanha são de uma ineficácia formidável. E assim, o que agora caiu em descrédito foi a própria Justiça espanhola.

Enquanto isso, os espanhóis desassossegados se perguntam quando e como tudo aquilo que havia sido conquistado e consolidado desde o fim da ditadura franquista começou a virar purê. Considerada, por anos, como exemplo de uma transição entre ditadura cruel e democracia promissora, a Espanha de hoje é o pálido reflexo de uma imagem que se esfumou.



http://www.advivo.com.br/blog/luisnassi ... re-de-2012
Da Folha

Nem a Alemanha salva zona do euro no quarto trimestre


BERNARDO MELLO FRANCO


A recessão na zona do euro se agravou no último trimestre do ano passado. O PIB (Produto Interno Bruto) dos 17 países que usam a moeda única caiu 0,6% em relação aos três meses anteriores.

A estimativa foi divulgada ontem pela Eurostat, a agência oficial de estatísticas da União Europeia, e representa o pior desempenho do bloco desde o início de 2009, auge da crise financeira global.

Na comparação com o mesmo período de 2011, o tombo no quarto trimestre foi ainda maior: 0,9%. E, em todo o ano passado, a economia da região encolheu 0,5%.

O mau resultado nos últimos três meses de 2012 foi puxado pela queda dos PIBs das quatro maiores economias da zona do euro: Alemanha (0,6%), França (0,3%), Itália (0,9%) e Espanha (0,7%).

No caso de Alemanha e França, os números foram atribuídos à queda nas exportações, uma consequência da crise no continente e em outros mercados consumidores como Japão e Estados Unidos.

Os dados da Grécia não foram divulgados por trimestre, mas a Eurostat estima que a economia do país tenha encolhido 6% em relação aos últimos meses de 2011.

EXCEÇÕES

Só Estônia e Eslováquia cresceram nos últimos três meses do ano passado entre todos os países que usam a moeda única e tiveram seus números divulgados ontem.

Em toda a União Europeia, que inclui mais dez países fora da zona do euro, a queda do PIB no quarto trimestre foi de 0,5% em relação aos três meses anteriores, ou de 0,6% na comparação com 2011.

Os dados foram piores que a expectativa da maioria dos governos e consultorias econômicas do continente.

"A contração foi mais profunda do que se esperava e trouxe um final triste para um ano muito difícil na zona do euro", resumiu Howard Archer, economista-chefe da consultoria IHS.

Num cenário de desânimo, economistas ouvidos pelo Banco Central Europeu voltaram a reduzir as expectativas de crescimento da zona do euro neste ano e em 2014.

PROJEÇÕES

Novas previsões divulgadas ontem apontam estagnação em 2013, num recuo diante da expectativa anterior de crescimento de 0,3%. Já a projeção de crescimento no ano que vem foi reduzida de 1,3% para 1,1%.

Os resultados foram divulgados dias depois de os líderes da União Europeia fecharem acordo inédito para reduzir o Orçamento do bloco.



Por Assis Ribeiro

Do Brasil Econômico

PIB da Zona do Euro recua 0,6% no 4º trimestre


Em todo o ano passado, o PIB caiu 0,5% na Zona do Euro, e 0,3% na UE.

O Produto Interno Bruto (PIB) da Zona do Euro registrou contração de 0,6% no quarto trimestre de 2012 em comparação com os três meses anteriores.

De acordo com as estimativas, divulgada nesta quinta-feira (14/2) pela Eurostat, agência oficial de estatísticas da região, o resultado veio abaixo das expectativas do mercado.

Na comparação com o quarto trimestre de 2011, a retração econômica foi de 0,9%.

Para os 27 países da União Europeia (UE),a economia registrou desaceleração de 0,5% se comparado ao terceiro trimestre do ano passado. Já na comparação anual, o recuo foi de 0,6% entre outubro e dezembro de 2012.

Em todo o ano passado, o PIB caiu 0,5% na Zona do Euro, e 0,3% na UE.

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Re: A Crise Econômica Mundial

#503 Mensagem por Compson » 17 Mar 2013, 17:55

Amanhã vai ser divertido...

Falou-se pouco no Brasil, mas o governo do Chipre aproveitou o feriado bancário de amanhã para confiscar parte dos depósitos bancários, de modo a arrecadar recursos para resgatar bancos com problemas.

Pra nós, não espantaria tanto, dadas as bizarrices com que convivemos no final dos anos 1980 e início dos 1990.

Na Europa, deve ser algo muito estranho.

Na melhor das hipóteses, todo mundo considera que o Chipre é muito pequeno e a coisa vai ficar restrita por lá. Na pior, os depositantes acham que é um precedente perigoso e promovem uma corrida bancária em toda a zona do Euro.

Entre um e outro caso, acho que os países da periferia do Euro correm risco de ter problemas sim.

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Re: A Crise Econômica Mundial

#504 Mensagem por Carnage » 17 Mar 2013, 18:27

Os caras passaram o século passado quase todo dizendo pro terceiro mundo o que deviam fazer mas quando a água bate na bunda deles fazem até mais cagadas...

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Re: A Crise Econômica Mundial

#505 Mensagem por estressado » 09 Abr 2013, 03:55

Não tá fácil pra ninguém... A Playboy ressucitando a Anamara (deve ter sido por uma mixaria) e a Sexy estipulando teto de R$50 mil: http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/f ... pa-de-maio

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Re: A Crise Econômica Mundial

#506 Mensagem por Carnage » 17 Abr 2013, 22:38

http://www.diariodocentrodomundo.com.br ... -europeus/
O que explica tanta indignação entre os europeus
Diario do Centro do Mundo 11 de abril de 2013 1

Essencialmente, é a falta de mobilidade social, um fato que ao longo da história levou a revoluções.



Os dirigentes europeus não percebem que estão sentados em cima de um barril de pólvora, adverte o filósofo polonês Marcin Król. Porque a classe média, à qual tem sido negada qualquer perspetiva de promoção social, parece definitivamente estar disposta a se fazer ouvir. O artigo abaixo foi publicado no site Presseurop.

Ao contrário do que dizem as ideias preconcebidas no Ocidente, não são os pobres que fazem as revoluções e, sim, as classes médias. Foi assim em todas as revoluções, a começar pela Revolução Francesa, e à exceção da Revolução de outubro, que foi um golpe de Estado levado a cabo numa situação de desordem política extrema.

Quando é que a classe média se decide a desencadear a revolução? Em primeiro lugar, não se trata do conjunto da classe média, nem sequer de um grupo organizado e, menos ainda, de uma comunidade, mas antes dos líderes da classe média, aqueles que hoje ganham as eleições na Europa e que são acolhidos como irresponsáveis (porque não pertencem à geriátrica classe política tradicional), mas que, de súbito, se revelam não apenas muito populares mas também espantosamente eficazes.

No caso clássico da Revolução Francesa, o papel de vanguarda revolucionária foi desempenhado por advogados, empresários, funcionários da administração pública da época e por uma parte dos oficiais do exército. O fator econômico foi importante, mas não fundamental.

Os elementos que desencadearam o movimento revolucionário foram, sobretudo, a falta de abertura na vida pública e a impossibilidade de promoção social. Quando tentou, a todo o custo, limitar a influência dos advogados e dos homens de negócios, a aristocracia incitou, involuntariamente, à revolução. Em toda a Europa, à exceção da sensata Inglaterra, a nova classe média, composta por cidadãos de segunda categoria, não tinha condições para decidir o seu próprio destino.

O que se passa hoje em termos de discriminação na Europa? É, simultaneamente, diferente e semelhante. É verdade que a aristocracia já não detém o monopólio da tomada de decisões, mas os banqueiros, os especuladores das bolsas e os executivos, que ganham centenas de milhões de euros, afastam habilmente a classe média do processo de decisão – e ela sofre as graves consequências desse mesmo processo. Chipre é o exemplo mais recente dessa estratégia e muito significativo.

Mas há muitos outros exemplos. Veja-se o caso dos professores universitários, que em toda a Europa temem pelos seus empregos, em especial quando têm a infelicidade de ensinar matérias declaradas como pouco úteis pela União Europeia, pelos Estados-membros e pelas multinacionais, que ditam as regras do mercado de trabalho.

Na Eslováquia, por exemplo, as ciências humanas foram praticamente esmagadas, de modo que os especialistas de História, Gramática, Etnografia ou Lógica têm motivo para sérias preocupações. Dentro de pouco tempo, seguir-se-ão outras categorias profissionais. É o caso dos funcionários públicos, cujo número explodiu literalmente no passado. Será culpa deles? Claro que não. E o que pode fazer um funcionário despedido, com 15 anos de serviço e que sempre viveu em situação de segurança de emprego?

Provavelmente, nada. O mesmo se passa com os jovens diplomados, deixados na beira da estrada do mercado de trabalho, bem como os artistas, os jornalistas e outras profissões fragilizadas pelo setor digital.

As revoluções emergem em situações de exclusão. Erguem-se também contra a barreira das gerações ou, muito simplesmente, contra o domínio dos velhos.

Não terá por certo sido por acaso que os dirigentes da Revolução Francesa tinham cerca de 30 anos, enquanto a média de idades dos decisores presentes no Congresso de Viena (1815), que restabeleceu a ordem conservadora na Europa, era de mais de 60 anos. Os atuais dirigentes europeus têm, na sua maioria, entre 50 e 60 anos, mas, tendo em conta os progressos da medicina, é bem provável que, dentro de 20 anos, a Sra. Merkel e os Srs. Cameron e Hollande ainda estejam na ativa. A menos que sejam varridos pela revolução.
O advogado Robespierre, de classe média, foi um dos chefes da Revolução Francesa

O advogado Robespierre, de classe média, foi um dos chefes da Revolução Francesa

Todas as vias de progresso da atual classe média, majoritariamente jovem, estão bloqueadas por milionários, por velhos ou por aqueles que parecem velhos aos olhos de uma pessoa de 25 anos. É uma situação explosiva. É um erro pensar que os jovens encolerizados contra o sistema, mas que não dominam a linguagem habitual dos partidos políticos e dos movimentos políticos estruturados, não irão chegar à revolta organizada.

No entanto, nunca se fez uma revolução em nome de uma medida específica, por exemplo, uma supervisão bancária mais rigorosa, mas fez-se em nome de não continuar a ser possível viver assim. Uma revolução, em oposição total com os métodos dos partidos políticos, não utiliza linguagem política. A revolução grita e berra. O som revolucionário é por natureza desordenado mas quase sempre bem audível.

Então, queremos ou não queremos uma revolução? Em meu entender, provavelmente não, porque revolução significa a destruição total, antes da construção de uma nova ordem. Dito isto, os nossos responsáveis políticos continuam sem perceber que estão sentados em cima de um barril de pólvora. Não percebem, pois estão demasiado absorvidos pela ideia que os obceca: regressar ao estado de estabilidade de dez ou trinta anos atrás.

Não sabem que, na História, não se volta atrás e que as suas intenções fazem lembrar a apropriada frase atribuída a Karl Marx: a História repete-se, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.

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Re: A Crise Econômica Mundial

#507 Mensagem por Carnage » 17 Abr 2013, 23:46

http://www.diariodocentrodomundo.com.br ... -desigual/
Thatcher e Reagan são os pais da crise econômica mundial

No livro “Doutrina do Choque”, a escritora Naomi Klein mostra que os dois armaram uma bomba relógio.

Uma aula brilhante de mundo moderno. É uma maneira sintética de definir o livro A Doutrina do Choque, da escritora, jornalista e ativista canadense Naomi Klein, 44 anos.

Vou colocar, no pé deste artigo, um documentário baseado na obra, com legenda em português. Recomendo que seja visto, e compartilhado.

Naomi, como é aceito já consensualmente, identifica em Reagan e Thatcher, cada um num lado do Atlântico, um movimento que levaria a uma extraordinária concentração de renda no mundo.

Ambos representaram administrações de ricos, por ricos e para ricos. Os impostos para as grandes corporações e para os milionários foram sendo reduzidos de forma lenta, segura e gradual.

Desregulamentações irresponsáveis feitas por Reagan e Thatcher, e copiadas amplamente, permitiram a altos executivos manobras predatórias e absurdamente arriscadas com as quais eles, no curto prazo, levantaram bônus multimilionários.

O drama se viu no médio prazo. A crise financeira internacional de 2007, até hoje ardendo mundo afora, derivou exatamente da ganância irresponsável e afinal destruidora que as desregulamentações estimularam nas grandes empresas e nos altos executivos.

No epicentro da crise estavam financiamentos imobiliários sem qualquer critério decente nos Estados Unidos, expediente com o qual banqueiros levantaram bônus multimilionários antes de levar seus bancos à bancarrota com as previsíveis inadimplências. (Ruiria, com os bancos, também a ilusão de que o reaganismo e o thatcherismo fossem eficientes.)

Tudo isso, essencialmente, é aceito.
a8

O engenho de Naomi Klein está em recuar alguns anos mais para estudar a origem da calamidade econômica que tomaria o mundo a partir de 2007.

O marco zero, diz ela, não foi nem Thatcher e nem Reagan. Foi o general Augusto Pinochet, que em 1973 deu, com o apoio decisivo dos Estados Unidos, um golpe militar e derrubou o governo democraticamente eleito de Salvador Allende no Chile.

Foi lá, no Chile de Pinochet, que pela primeira vez apareceria a expressão “doutrina de choque”. O autor não era um chileno, mas o economista americano Milton Friedman, professor da Universidade de Chicago.

Frieman dominou a economia chilena sob Pinochet

Um programa criado pelo governo americano dera, na década de 1960, muitas bolsas de estudo para estudantes chilenos estudarem em Chicago, sob Friedman, um arquiconservador cujas ideias beneficiam o que hoje se conhece como 1% e desfavorecem os demais 99%.

Dado o golpe, os estudantes chilenos de Friedman, os “Chicago Boys”, tomaram o comando da economia sob Pinochet e promoveram a “Doutrina do Choque” – reformas altamente nocivas aos trabalhadores, impostas pela violência extrema da ditadura militar.

Da “Doutrina do Choque” emergiria, no Chile, uma sociedade abjetamente iníqua que anteciparia, como nota Naomi Klein, o que se vê hoje no mundo contemporâneo.

O Brasil, de forma mais amena, antecipara o Chile: o golpe militar, também apoiado pelos Estados Unidos (e pelas grandes empresas de jornalismo, aliás), veio nove anos antes, em 1964. Tivemos nossos Chicago Boys, mas em menor quantidade, como Carlos Langoni, que foi presidente do Banco Central.

Com sua sinistra “Doutrina do Choque”, Friedman, morto em 2006, é o arquiteto do mundo iníquo tão questionado e tão merecidamente combatido em nossos dias.

Um dos méritos de Naomi Klein é deixar isso claro – além de lembrar a todos que situações de grande desigualdade são insustentáveis a longo prazo, como a guilhotina provou na França dos anos 1790.

http://www.youtube.com/watch?v=Y4p6Mvwp ... r_embedded

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Re: A Crise Econômica Mundial

#508 Mensagem por Carnage » 01 Mai 2013, 20:32

http://www.viomundo.com.br/politica/car ... ogoff.html
Arrocho e fraude: o poder da ideologia

por Saul Leblon, na Carta Maior, sugerido por Julio Cesar Macedo Amorim


Reportagem do El País, deste domingo (28), faz o que nenhum veículo do dispositivo conservador brasileiro cogitou: entrevista o estudante de economia Thomas Herndon, de 28 anos; ele ganhou fama mundial ao fulminar a credibilidade de dois centuriões da ortodoxia fiscal, os economistas Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff.

Herndon prepara seu doutorado na Universidade de Massachusetts, nos EUA. 

Reinhart e Rogoff são titãs de Harvard, ademais de egressos da alta cúpula do FMI.

Entre 2001 e 2003, Rogoff ocupou nada menos que o cargo de economista-chefe da instituição; Reinhart era sua assistente.

O grande mérito de Herndon foi agir diante dessa catedral ortodoxa com impiedosa independência intelectual.

Ele não aceitou como intocáveis as premissas que sustentavam o edifício teórico da dupla consagrada dentro e fora da academia.

A saber, que o endividamento público é intrinsecamente nefasto ao transitar na faixa dos 90% do PIB.

Há exatamente três anos, os dois publicariam no American Economic Review um ensaio ancorado na ‘comprovação’ estatística de que a ultrapassagem dessa marca fatídica inviabilizaria o crescimento econômico. 

Apenas um parêntesis ilustrativo do peso material que tem as ideias: nesse momento, os socialistas franceses se imolam em praça pública agarrados a uma política de austeridade que visa exatamente reverter o endividamento público, na marca dos 92% do PIB.

A maldição fiscal não é novidade na carreira do mago Rogoff. 

Como economista-chefe do FMI, ele já prescrevia a caldeirada de arrocho & rabo de escorpião mesmo sem tê-la demonstrado ‘cientificamente’ ainda.

A genuflexão a essa receita foi inoculada em cérebros intelectuais, operacionais e midiáticos nos quatro cantos do planeta. 

O FMI, seus ‘rogoffs’ e aprendizes cuidaram de injetar cepas daquilo que, no fundo, revestia de legitimidade os interesses rentistas acantonados na dívida pública.

A agenda do desenvolvimento, propriamente dita, foi devastada por essa infecção contagiosa. 

Seu efeito revelou-se tão ou mais devastador que a doença supostamente maligna que pretendia curar: o gasto público.

Herndon passou os olhos nas estatísticas que comprovavam o anátema e não ficou satisfeito. Solicitou as planilhas completas aos autores. 

Quando as teve em mãos hesitou mais uma vez. 

Havia extrapolações de inconsistência óbvia; pior, dados que afrontavam a premissa da austeridade haviam sido eliminados das séries finais.

As evidências eram fortes, mas peso da ideologia é maior ainda. 

O doutorando esfregou os olhos mais de uma vez na esperança de clarear a visão embaralhada pelo cansaço. Pediu ajuda à noiva, uma socióloga especialista em estatística. 

Ela revisou as séries cuidadosamente. E confirmou: “Não creio que você esteja errado”.

O resto é sabido. 

A fraude macroeconômica mais estonteante da ultimas décadas, brinca a reportagem, funcionou para o Estado do Bem Estar Social como as ‘armas de destruição em massa” funcionariam para a invasão do Iraque por Bush. 

Herndon acha um pouco exagerada a comparação. Mas concorda com a essência da analogia: ‘Porque estão adotando políticas a partir de premissas falsas’, diz.

O coquetel de arrocho e premissas falsas, bem como seu personagem símbolo, a partir de agora, não são estranhos ao Brasil.

Kenneth Rogoff dirigia o FMI durante a disputa presidencial brasileira de 2002.

Em setembro daquele ano, o Ibope divulgou uma pesquisa em que o então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, retomava a trajetória ascendente.

Depois de um período com resultados negativos, Lula ganhou mais dois pontos consolidando-se na liderança, com 41% das intenções de voto.

O tucano José Serra, seu principal adversário, cairia para 18%, um ponto a menos.Mas já se revelava um corisco no quesito rejeição: 29%.

A pesquisa encomendada pela Globo foi divulgada numa terça-feira, véspera da reunião anual do FMI, em Washington.

Na quarta e na quinta-feira seguintes choveriam raios, cobras, lagartos e escorpiões sobre o Brasil.

Autoridades do Fundo emitiriam previsões catastróficas e receitas sombrias para o futuro do país e de seus eleitores. 

Tudo naturalmente escandido com a conhecida isenção dos veículos do dispositivo midiático conservador. 

Na Folha, o então correspondente Marcio Aith, que viria a ser chefe de imprensa de Serra na outra derrota tucana, em 2010, exercitava o seu futuro com o dedo preso no gatilho: “Alternativa, agora, é mais arrocho, diz FMI”. Em seguida ajustava o alvo: “Fundo elogia equipe econômica do Brasil (a do PSDB) e rebaixa perspectiva de crescimento do país…” (Folha de S. Paulo, 26-09-2002)

No Estadão, o quadro de avisos viria igualmente encharcado de ostensiva agressividade. 

Com o título “Ajuste no Brasil será feito com dor, diz FMI”, o texto era temperado de vaticínios agourentos aspergidos por ninguém menos que o rigoroso economista-chefe do organismo, Kenneth Rogoff.

As sentenças de Rogoff seriam impressas e disseminadas, então, com a mesma inquebrantável genuflexão do espírito que hoje acomete nossos jornalistas especializados em lubrificar a terapia do choque de juros. 

Tudo chancelado pelo ‘rogoffismo’ local, vocalizado por sábios tucanos e professores banqueiros, de conhecidos serviços prestados à Nação. 

C

omo diria Millôr Fernandes, se não é uma garantia, já é uma tradição. 

Ela explica por que o estudante Thomas Herndon não tem o destaque merecido nos grandes diários nacionais.

Seria o mesmo que Bush admitir que as armas de destruição em massa serviram apenas de álibi para devastar o Iraque. E tomar de assalto os seus poços de petróleo.

Leia, a seguir, trechos do Estadão, com as sugestivas advertências de Rogoff, na reta final das eleições de 2002.



“Ajuste no Brasil será feito com ‘dor’, diz FMI”



Estadão 25-09-2002

O principal objetivo da política macroeconômica do Brasil, no médio prazo, deve ser reduzir o endividamento público, disse nesta quarta-feira o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kenneth Rogoff, na coletiva que abriu a reunião anual do FMI e do Banco Mundial. 

Para quem conhece a linguagem sutil e diplomática do Fundo, fica claro que um aviso está sendo dado ao próximo governo: se não houver uma reversão significativa do sentimento negativo do mercado em relação à solvência pública, o FMI deve brigar por um superávit maior.

Rogoff foi até mais explícito na entrevista ao dizer que um “programa fiscal forte” requer “um forte grau de consenso social e político”. Mais adiante, ele reformulou a expressão para “um alto grau de consenso social e apoio político”.

Rogoff afirmou que o ajuste é particularmente difícil porque o grande endividamento faz com que as taxas de juros sejam muito altas. E isto, por sua vez, cria a necessidade de que o superávit primário (que exclui os gastos com juros) seja ainda maior. 

Em um importante documento divulgado nesta quarta, o FMI deixa claro que encara o superávit primário de 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB), com o qual o Brasil está comprometido, como um nível mínimo (que poderia ter de ser aumentado) nos próximos anos.

O FMI também explicita que considera que o elemento político — a incerteza sobre a continuidade da atual política de forte ajuste fiscal — é uma das principais causas da turbulência no Brasil. 

O FMI deixou claro que considera que há um importante fator político na atual turbulência no Brasil.

Referindo ao aumento de 750 para 1.500 pontos do risco-Brasil entre março e junho deste ano, a sessão sobre o Brasil da Perspectiva diz que há várias razões, mas que “talvez, mais fundamentalmente, os participantes do mercado começaram a focalizar a sua atenção nas incertezas políticas associadas com a eleição presidencial de outubro e as suas implicações para a atual política econômica”.

Mais adiante, referindo-se à piora da situação brasileira a partir de junho, o texto diz que “os mercados ficaram cada vez mais nervosos sobre o resultado das eleições e o que ele poderia significar para a sustentabilidade das finanças públicas no Brasil, especialmente em seguida às pesquisas de intenção de voto no início de julho”.

Esta foi a fase em que Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes lideravam a disputa. “Para aliviar estas preocupações”, conclui o relatório, “é crítico que se crie a confiança de que uma política econômica apropriada vai permanecer depois das eleições”.
http://www.contrafcut.org.br/noticias.a ... icia=34175
Para Paul Krugman, a posição dos partidários da austeridade implodiu

Paul Krugman
Folha de S. Paulo


Os debates econômicos raramente terminam em nocaute técnico. Mas a grande discussão política dos últimos anos entre keysenianos, para os quais os gastos do governo devem ser mantidos ou mesmo aumentados em tempos de depressão, e partidários da austeridade, que exigem cortes imediatos nos gastos, chega perto disso --pelo menos no mundo das ideias.

Hoje a posição dos partidários da austeridade implodiu: não apenas suas previsões sobre o mundo real deixaram por completo de se concretizar, como as pesquisas acadêmicas evocadas para fundamentar essa posição revelaram-se repletas de erros, omissões e estatísticas duvidosas.

Mesmo assim, duas perguntas importantes permanecem. Primeiramente, como a doutrina da austeridade pôde se tornar tão influente? E, em segundo lugar, as políticas seguidas vão mudar, agora que as premissas cruciais dos defensores da austeridade viraram material para programas de humorismo?

Em relação à primeira pergunta: a hegemonia dos defensores da austeridade em círculos influentes deve preocupar todos os que gostariam de pensar que as políticas seguidas se baseiam em provas, ou, pelo menos, são fortemente influenciadas por elas.

Afinal, os dois estudos principais que garantem a suposta justificativa intelectual da austeridade --o texto de Alberto Alesina e Silvia Ardagna sobre "austeridade expansiva" e o de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff sobre um perigoso "limiar" da dívida quando esta chega a 90% do PIB-- foram fortemente criticados quase assim que vieram a público.

E os estudos não resistiram a um exame mais atento. No final de 2010, o Fundo Monetário Internacional já tinha refeito o estudo de Alesina e Ardagna com dados melhores e invertido suas conclusões, e muitos economistas levantaram perguntas fundamentais sobre o texto de Reinhart e Rogoff muito antes de tomarmos conhecimento do famoso erro de Excel cometido pelos dois autores.

Enquanto isso, acontecimentos no mundo real --a estagnação na Irlanda, o exemplo original citado para defender as vantagens da austeridade, a queda dos juros nos Estados Unidos, que supostamente enfrentava uma crise fiscal iminente-- em pouco tempo jogaram por terra as previsões dos defensores da austeridade.

Mas a austeridade foi mantida, chegando a reforçar seu domínio sobre a opinião da elite. Por que?

Parte da resposta sem dúvida está no desejo generalizado de enxergar a disciplina econômica como uma história cautelar com moral --uma história sobre o excesso e suas consequências.

Gastávamos mais do que ganhávamos, reza a história, e agora estamos pagando o preço inevitável por isso. Os economistas podem se cansar de explicar que é um equívoco; que a razão pela qual temos desemprego em massa não é que gastamos demais no passado, mas que estamos gastando insuficientemente hoje, e que este problema pode e deve ser resolvido.

Não importa --muitas pessoas têm a impressão visceral de que pecamos e precisamos nos redimir pelo sofrimento; e nem argumentos econômicos, nem a observação de que as pessoas que estão sofrendo hoje não são as mesmas que pecaram durante os anos da bolha, mudam muita coisa.

Entretanto, não é uma questão apenas de emoção versus lógica. Não é possível entender a influência da doutrina da austeridade sem falar em classe social e desigualdade.

O que as pessoas querem da política econômica, afinal? Depende das pessoas a quem você faz a pergunta, ponto documentado num estudo recente dos cientistas políticos Benjamin Page, Larry Bartels e Jason Seawright.

O estudo compara as preferências políticas dos americanos comuns e as dos americanos muito ricos, e as diferenças são surpreendentes.

O americano médio está um pouco preocupado com deficits orçamentários, fato que não surpreende, em vista da enxurrada constante de matérias na mídia semeando o medo em relação ao deficit.

Já os ricos, em sua grande maioria, enxergam o deficit como o maior problema que enfrentamos. E como o deficit orçamentário deve ser reduzido? Os ricos defendem que sejam reduzidos os gastos federais com saúde e Seguridade Social --em outras palavras, os "benefícios"--, enquanto o grande público na realidade quer ver aumentar os gastos com esses programas.

Você já entendeu, com certeza: a agenda da austeridade se parece muito com uma simples expressão de preferências da classe alta, embrulhadas numa fachada de rigor acadêmico. O que o 1% mais rico da população quer torna-se o que a ciência econômica diz que devemos fazer.

A continuação da depressão favorece os interesses dos ricos? É duvidoso, pois uma economia em crescimento geralmente beneficia a quase todos.

O que é verdade, porém, é que os anos passados desde que optamos pela austeridade vêm sendo péssimos para os trabalhadores, mas não de todo ruins para os ricos, que se beneficiaram da recuperação dos lucros e dos preços das ações, ao mesmo tempo em que o desemprego de longo prazo continua. O 1% mais rico pode não querer realmente uma economia fraca, mas está se dando suficientemente bem para não ter problema em dar rédea solta a seus preconceitos.

E isso me faz indagar até que ponto fará diferença real o desabamento intelectual da posição dos defensores da austeridade. Na medida em que temos a política do 1% mais rico, será que não vamos simplesmente ver surgir novas explicações para justificar as mesmas políticas de sempre?

Espero que não; quero acreditar que ideias e evidências têm importância, pelo menos um pouco. Se não for assim, o que estou fazendo com minha vida? Mas acho que vamos ver na prática quanto cinismo se justifica.

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Re: A Crise Econômica Mundial

#509 Mensagem por Carnage » 01 Mai 2013, 20:45

http://www.diariodocentrodomundo.com.br ... e-e-justa/

O melhor teste para descobrir se uma sociedade é justa
Paulo Nogueira 25 de abril de 2013 45


O filósofo americano John Rawls investigou a justiça social. E criou uma teoria simplesmente brilhante
Copenhague: a sociedade escandinava é mais igualitária e mais feliz que a americana

Copenhague: a sociedade escandinava é mais igualitária e mais feliz que a americana

O que é uma sociedade justa?

O filósofo americano John Rawls (1921-2002) se debruçou sobre esta pergunta. Em 1971, Rawls publicou um livro aclamado: “A Teoria da Justiça”.

A idéia central de Rawls era a seguinte: uma sociedade justa é aquela na qual, por conhecê-la e confiar nela, você aceitaria ser colocado de maneira randômica, aleatória. Você estaria coberto pelo que Rawls chamou de “véu de ignorância” em relação à posição que lhe dariam, mas isso não seria um problema, uma vez que a sociedade é justa.

Mais de quarenta anos depois do lançamento da obra-prima de Rawls, dois acadêmicos americanos usaram sua fórmula para fazer um estudo. Um deles é Dan Ariely, da Universidade Duke, especializado em comportamento econômico. O outro é Mike Norton, professor da Harvard Business School.

Eles ouviram pessoas de diferentes classes sociais. Pediram a elas que imaginassem uma sociedade dividida em cinco fatias de 20%. E perguntaram qual a fatia de riqueza que elas supunham que estava concentrada em cada pedaço.

“As pessoas erraram completamente”, escreveu num artigo Ariely. “A realidade é que os 40% de baixo têm 0,3% da riqueza. Quase nada. Os 20% de cima têm 84%.”

Em seguida, eles aplicaram o “véu de ignorância de Rawls”. Como deveria ser a divisão da riqueza para que eles se sentissem seguros caso fossem colocados ao acaso na sociedade?

Veio então a maior surpresa dos dois acadêmicos: 94% dos entrevistados descreveram uma divisão que corresponde à escandinava, tão criticada pelos conservadores dos Estados Unidos por seu elevado nível de bem-estar social, e não à americana. Na Escandinávia, os 20% de cima têm 32% da riqueza. (Disse algumas vezes já e vou repetir: o modelo escandinavo é o mais interessante que existe no mundo, um tipo de capitalismo extremamente avançado do ponto de vista social.)

Cena comum nos Estados Unidos de hoje: “tent cities”, concentração em barracas de gente que perdeu a casa

“Isso me levou a pensar”, escreveu Ariely. “O que fazer quando num estudo você descobre que as pessoas querem um determinado tipo de sociedade, mas ao olhar para a classe política parece que ninguém quer isso?”

Bem, uma das respostas à questão está na eclosão de protestos nos Estados Unidos. Os “99%” do movimento Ocupe Wall Street estão esperneando por uma sociedade mais justa, que se encaixe na tese do “véu de ignorância” de Rawls.

Os 99% não são representados nem pelos democratas e nem, muito menos, pelos republicanos. Barack Obama e Mitt Romney jamais aceitariam ser colocados aleatoriamente na sociedade americana tal como é. As chances de que eles terminassem num lugar bem diferente daquele que ocupam seriam enormes. Talvez eles tivessem que dormir em carros ou em barracas, depois de perder a casa na crise econômica, como acontece hoje com milhões de americanos.

Para usar o método de Rawls, eis aí a demonstração do que é uma sociedade injusta.

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ferroeiro
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Re: A Crise Econômica Mundial

#510 Mensagem por ferroeiro » 07 Mai 2013, 07:24


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