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Trabalhadoras do sexo e apoiantes tomaram de assalto as ruas de Wuhan, no centro-sul da China, equipadas com chapéus de chuva vermelhos na passada quarta-feira para a recolha de assinaturas apelando à legalização da prostituição.
Entre a multidão encontrava-se Hooligan Sparrow, que há vários anos afirmou-se através da publicação online de fotografias nuas de si própria e hoje gere uma organização para os direitos da mulher. O seu perfil no Twitter descreve-a como “feminista, membro do movimento da prostituição e trabalhadora do sexo”. Antes da noite de Domingo, Hooligan Sparrow informou no Twitter que tinha sido levada pela polícia.
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Não sei se isto conta como a primeira vez que uma ONG Chinesa sai à rua apelando à legalização das trabalhadoras do sexo, mas, para o nosso grupo de trabalho, esta decisão foi bastante solene.
Eu antes não tinha qualquer intenção de exigir a legalização, esperava apenas que diante do atual estado das coisas, os direitos e os interesses das nossas irmãs recebessem mais atenção.
Mas as repressões deste ano têm sido alucinantes e deixam-me sem esperança. Quando se dá uma olhada às notícias do quotidiano, vê-se o sexo a ser criminalizado por todo o país; quando vêem as câmeras as irmãs cobrem os rostos à medida que as expõem e as humilham publicamente. Por isso decidi que não posso continuar hesitante ou acovardar-me em relação a isto e que é preciso haver uma voz poderosa que se oponha ao tratamento dado a estas mulheres.
Sim, sou pró-legalização e esta luta é contra a perseguição do sexo!
Durante décadas, este tipo de repressão tem sido apenas uma atuação; reprimir a imoralidade sexual nunca foi alvo de nenhuma mudança sexual, tem sido sempre um ciclo repressivo, repressões no oriente seguidas de repressões no ocidente. Uma espécie de obliteração dos direitos humanos, ou da humanidade, este tipo de supressão nunca durará. Havendo mais mulheres do que homens, as restrições sexuais aos homens solteiros criou uma enorme demanda social.
Hoje tomámos conta da rua.
Muitas pessoas não entendem o que defendemos, e alguns transeuntes olham para nós com estranheza - esta deve ter sido a primeira vez que se depararam com pessoas apelando à legalização do trabalho sexual - e acham tudo esquisito. Algumas mulheres de meia-idade foram menos compreensivas, dizendo “legalização? Isso não deixaria a sociedade virada do avesso?”
Vejam, ninguém confia na capacidade dos orgãos estaduais e das autoridades para manter a ordem; as coisas são encaradas da seguinte maneira, se o trabalho sexual alguma vez fosse legalizado todas as mulheres do país tornar-se-iam prostitutas.
A legalização em conjunto com a gestão permitiria controlar os números e as idades dos praticantes, e nunca tornaria prostitutas todas as mulheres. Além disso, o mercado auto-regular-se-ia; se todas as mulheres se tornassem prostitutas os preços do trabalho sexual caíriam equiparando-se desta forma ao salário dos trabalhadores de colarinho branco e ainda assim, as mulheres continuariam a gravitar em volta da opção mais convencional.
Legalizar não significa falta de restrições ou de supervisão. Legalizar significa que esta profissão atual estaria aberta aos olhos do público.
Estas mulheres, que nunca tiveram em conta os problemas sociais e cujas mentes há muito enferrujaram, seriam de alguma utilidade se envolvidas num debate do género? A única coisa que as preocupa, em caso de legalização, seria se os seus maridos começariam a visitar prostitutas abertamente e flagrantemente (sendo a lei, afinal de contas, incapaz de as ajudar a controlar os seus homens).
Porém, contámos com o apoio inflexível de uma mulher de meia-idade. Vendedora de jornais à beira da estrada, perguntou: “serve de alguma coisa fazer isto? É escusado, a sociedade já está um caos e tudo o que os oficiais sabem é encher os bolsos de dinheiro, porque é que eles se preocupariam connosco?”
“Não é apenas escusado, vocês vão queimar-se se continuarem com isto!”
“O governo vai pagar-vos alguma coisa pelo que estão a fazer? Irão sequer agradecer-vos?”
Só me restava rir.
Mas ela estava realmente zangada.
“Quem são vocês, afinal? Para quem trabalham? São estudantes?”
Disse-lhe que sou organizadora comunitária, que faço isto há cinco anos. Também lhe disse que não espero uma mudança imediata e o que o facto das autoridades serem tão corruptas é precisamente a razão para que os cidadãos se revoltem e os monitorizem, para que as suas vozes sejam ouvidas, que só assim haverá mudanças. Se daqui a um ano nada mudar, então passaremos cinco anos a lutar; se em cinco anos tudo permanecer na mesma, então levaremos dez anos ou cem se necessário; as coisas terão de mudar eventualmente.
Posto isto, a senhora ficou calada e depois disse, é uma pena que não saiba ler, senão deixaria de vender jornais e juntava-me a vocês nesta luta.
Não esperava que uma senhora de meia-idade sem educação fosse tão corajosa em relação à resolução dos problemas sociais. Em comparação com as cabeças vazias que circulavam por ali sorrindo estupidamente à medida que liam os nossos cartazes, pessoas supostamente bem educadas, esta senhora é cem vezes mais forte.
Alguns jovens assinaram a nossa petição como forma de apoio; segundo os seus pontos de vista, a prostituição devia ser legalizada e alguns chegaram mesmo a fazer referência a uma campanha que está a ser levada a cabo em Taiwan.
Ainda assim é preciso chegar a mais gente. Os Chineses estão demasiado preocupados com as suas vidas, demasiado afastados da informação, muitos nem sequer sabem o significado de estar vivo, esqueçam lá os seus próprios direitos e interesses ou o respeito pelos direitos dos outros. A minha ida à rua para apelar à legalização do trabalho sexual foi a minha forma de expressar o direito que tenho à liberdade de expressão e o direito a ser ouvida!
Quer se apoie estas mulheres ou não, as trabalhadoras do sexo ainda têm o direito de se fazerem ouvir e de expressarem as suas exigências.
Não tentem travar-nos por favor. Ao invés disso, tentem dar às trabalhadoras do sexo um espaço onde possam falar abertamente.
Li Gong tem um blogue no site Sina e tocou no assunto da legalização do trabalho sexual no seu longo texto de 18 e julho intitulado ”Actualmente, a China precisa deter os agentes corruptos e não as prostitutas”, onde enumera várias razões pela qual a China está pronta apenas para tal movimento:
Historicamente, as razões por trás da maioria das alterações dinásticas têm estado relacionadas com a corrupção e não com a prostituição. Pequim lançou recentemente ataques repressivos à prostituição, seguido de repressões em todo o país. A julgar pela reação dos internautas, não tem havido muito apoio. Parece que a maioria dos internautas simpatizam com as prostitutas e com aqueles que procuram os seus serviços, exigindo ao mesmo tempo a erradicação da corrupção.
Pessoalmente,, acho que combater a corrupção é actualmente uma prioridade governamental. (…) Baseado no actual status quo, sinto que o governo não devia priorizar a luta contra a prostituição e a solicitação, deve-se alterar as leis existentes e permitir a legalização da prostituição e da solicitação. As razões para isto são: 1) A legalização da prostituição permite que a indústria de serviços sexuais da China passe de ilegal e obscura a legal e aberta, facilitando ao governo uma melhor gestão da saúde das prostitutas, prevenindo a disseminação do HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, 2) A legalização da prostituição alteraria o status quo no qual a indústria do sexo Chinesa tem permissão para existir ilegalmente sob a proteção das autoridades reduzindo assim a corrupção à autoridade do Estado; 3) A legalização da prostituição ajudaria a restaurar a autoridade das leis estaduais, prevenindo a recorrência a “senhoras” fazendo juramentos coletivos ou a outras situações bizarras que desafiam abertamente as leis estaduais.
http://pt.globalvoicesonline.org/2012/0 ... -e-detida/