Dei uns likes até eles terminarem, fechei o app, larguei o celular e fui cuidar da vida.
Minutos depois veio notificação. Um match e a mina mandando um 'oi, tudo bem?'
Respondi. Não era muito meu tipo, mas nas fotos parecia ser jovem, ter um rosto razoável e corpo em ordem. Enfim, bem comestível.
O papo rolou naquele padrão Tinder. As perguntinhas de sempre 'O que vc faz?' 'Mora onde e com quem?' 'Do que gosta?', e etc.
No meio desse papo ela solta um 'a gente podia se encontrar hoje'. Já estranhei aí, tão fácil e rápido assim... Mas continuei dando trela.
Logo ela me passou o whatsapp. Adicionei, chamei e daí o papo foi assim:
venga: Oi. Bem melhor falar por aqui
mina: Sim
mina: Podemos marcar pra se conhecer (De novo, porra? Não tá mais estranho, acho que já sei do que se trata. )
venga: Podemos
venga: Que tipo de lugar vc curte ir?
mina: Ah, um motel, com hidro, comer fora, entendeu?
(Ah, o velho e bom PPP... Ao mesmo tempo cômico e trágico, dependendo do ponto de vista... Continuei me fazendo de besta, só pra ouvir a conversinha.)
venga: Entendi
venga: Mas será que é uma boa?
venga: Acho meio precipitado combinar um motel assim, logo de cara
venga: Afinal a gente nem se conhece pessoalmente
venga: Vai que um não gosta do outro
mina: Eu não vejo essas coisas
venga: Ah, mas eu vejo. Ir pra cama com alguém envolve muita coisa. Jamais toparia ir com alguém que nunca vi pessoalmente.
mina: É porque eu sou casada, entendeu? Então não quero nada sério
mina: Sim, é uma boa. Vai ser bom. Mas quando saio eu peço uma ajuda, uma grana, entendeu? Se vc não se importar...
mina: Porque eu tô desempregada. Então não tô podendo sair de graça, entendeu?
venga: Entendi, tudo bem, normal
venga: Mas grato, não tenho interesse.
venga: Já saí com GP esses dias, e quando entro no Tinder é em busca de outra coisa.
venga: Boa sorte pra vc. Tchau
mina: Tá, tudo bem. Então foi um prazer, apaga meu número e tchau... MAS EU NÃO SOU GAROTA DE PROGRAMA, TÁ?! (Essa última mensagem veio em áudio, num tom de voz que misturava muita raiva e um pouco de choro)
Meu, que coisa... A mina chega, oferece uma fodinha em troca de uma grana, mas ela não é garota de programa!

Seria o quê então? Uma alma caridosa? Freira? Obreira evangélica?

Nada de novo até aí. Sei que existem montes de putinhas "amadoras" ou "ocasionais". Não é a primeira vez que uma dessas que me aborda nesses apps. Sei que mesmo as profissionais de carteirinha não gostam muito de pensar que são putas. Ou quando pensam preferem dizer que "é só até o final desse ano", ou que são “acompanhantes diferenciadas e de alto nível”, e por aí vai.
Também tem muito putanheiro que não quer se assumir como tal. Alguns não gostam de pensar que recorrem à putaria porque algo na vida civil não acontece como eles gostariam. Tem os que vão nas putas porque experimentam alguma dificuldade na abordagem e no trato com as mulheres, mas em público gostam de pagar de macho alfa que pega quem quiser, na hora que quiser. Tem os magoados que bradam que, já que todas as mulheres são FDPs interesseiras, preferem pagar à vista e fazer a coisa de forma "direta". Tem os que acham que a namorada/esposa é a "princesinha idolatrada salve-salve", feita pra mimar e bajular, e que trepar de verdade é algo que só se faz com as putas (além de ser um pensamento besta, considero também uma disfunção). A variedade de argumentos é tão grande quanto a criatividade humana.
Que fique claro aqui que a minha intenção não é julgar ou condenar o pensamento de ninguém. Cada um faz a cabeça do jeito que pode na tarefa de se sentir bem e tocar a vida. O que quero expor é que certas formas de pensar não só funcionam mal, como podem ser bem nocivas pra quem as faz.
Eu mesmo já caí em algumas dessas armadilhas. Por exemplo, na do “macho alfa pegador”: por um tempo gostei de pensar que comia putas “por opção”, que na hora que quisesse estalaria os dedos, arranjaria a “namorada perfeita” e comeria ela loucamente por toda a eternidade, amém. Já pensei também que a vida civil é um mundo 100% hipócrita e careta, e que estava na putaria porque ali era o último oásis de sinceridade numa sociedade podre. E estava sempre fazendo um esforço imenso pra defender e sustentar esses argumentos.
Mas que nada. A real é que as civis gostosas, bem resolvidas e trepadeiras chovem na minha horta com bem menos frequência do que eu gostaria. Que a timidez nem sempre me permite abordar a mulher que desejo. Que, depois de passar por poucas e boas na vida afetiva, me tornei um cara ressabiado e com muito pouca paciência pra lidar com as idiossincrasias e caprichos das mulheres.
É fácil aceitar? Não mesmo. Não é nem um pouco agradável se olhar no espelho e ver que ali naquele reflexo existem disfunções e limitações. Não é nada gostoso parar, olhar e perceber que a vida não está correndo da forma que você idealizou. Mas uma coisa é certa: depois que aceitei as coisas que citei acima, a vida ficou muito mais leve, feliz e tranquila.
Vejam aí o caso da putinha amadora do Tinder: ela resolveu abordar desconhecidos e oferecer sexo na intenção de levantar uma grana. Mesmo assim ela quer acreditar (e quer que os outros acreditem) que não tá fazendo programa, sexo pago, prostituição. Primeiro, faz um tremendo malabarismo mental e verbal para tal fim . Fazer esse malabarismo é cansativo e estressante, e se feito por muito tempo termina num esgotamento físico e mental. Transforma a pessoa num trapo mesmo. Depois, ela se enrola tanto nesse malabarismo que acaba indo caçar clientes num local pra lá de inadequado e faz uma abordagem completamente equivocada e ineficiente. E, no final, de nada adianta todo esse trabalho: o simples fato de um desconhecido mencionar as palavras “garota de programa” põe toda a ilusão a perder e acaba com a compostura dela.
A realidade é um Oficial de Justiça que nunca desiste. Você pode fugir e correr o quanto quiser, no final ela sempre vai conseguir fazer com que você receba e assine a notificação. O irônico é que, depois que você assina, ela deixa de atormentar. Ou talvez seja você mesmo que deixa de se atormentar quando aceita a coisa como ela é.
Mesmo sendo difícil, muito mais inteligente seria se a tal mina simplesmente se dissesse “preciso de grana, vou fazer uns programas”, e fosse buscar clientes da forma eficiente e com as ferramentas adequadas. Também vale pro putanheiro, que ganha muito mais quando assume que não tem a vida sexual que gostaria e por isso vai nas putas. É um quebra-galho? Não é o ideal? Que seja. Ainda bem que existe esse quebra-galho, bora usá-lo. E os seus motivos que te levam a não trepar tanto quanto gostaria, ou com as mulheres que gostaria? Não crie fantasias. Não coloque a culpa nos outros... Aceita também, que desse jeito você se poupa de muito desgaste e vive muito mais tranquilo. E, encarando-os de frente é que você tem chance de quem sabe mudá-los um dia.
O velho e bom “aceita que dói menos” parece um lugar-comum besta, mas não é. É uma pérola de sabedoria. Não o percam de vista, que a vida melhora.
Um viva às civis. E um viva às putas. Um viva a todos os jeitos existentes de comer mulher, se divertir e deixar a vida menos chata.