Nas palavras francas, fora dos preparados discursos oficiais, Lula entrega sua pequena percepção de mundo, o limite de seu raciocínio político, o despreparo para o debate de idéias e mesmo a falta de conhecimento sobre assuntos elementares que se espera fossem de domínio de alguém que chega à Presidência. Ao afirmar tropegamente que não falta democracia na Venezuela, chega a citar “três eleições não sei para quê” como demonstração de discussão popular, esquecendo-se de que um processo político deve decorrer com serenidade, sem convulsões e sem pressões políticas e, principalmente, com oposição, liberdade de expressão e imprensa autônoma.
Alguém precisa avisar o Lula que os plebiscitos são realizados na Venezuela de forma capciosa e intempestiva, visando a referendar uma situação anômala que visa dar respaldo à instalação de uma ditadura nos moldes de Cuba, onde, aliás, também há eleições. Sobre o pretendido continuísmo de Chávez, Lula arriscou comparar com mandatos célebres que se prolongaram no berço do parlamentarismo, confundindo sistema com exercício de poder.
O que preocupa em todas as manifestações é a profundidade do abismo entre a realidade e o mundo em que Lula vive. Mesmo dedicando três décadas de sua vida para se preparar para o exercício político, sem trabalhar e sem estudar, mostra-se agora despreparado e inculto, sem o estofo que se poderia exigir. Preocupa ainda mais estar em berço de entusiastas da dita revolução bolivariana e ter uma noção limítrofe de democracia, um modelo que não deve ter a mínima chance de ser cogitado no Brasil. Por tudo isso, alguém precisa mostrar a Lula quando é a hora de se calar.