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Refrão de música dá o tom da crise boliviana: "Negros parecem baratas que se amontoam no lixo"
"Manifestante se protege durante choques ocorridos nas ruas de Sucre, na Bolívia, contra aprovação de nova Constituição". A legenda foi publicada pela "Folha Online". Um dos mortos na Bolívia foi um policial, espancado. Mas como isso pegaria mal para as forças que se opõem a Evo Morales, a mídia brasileira não deu destaque. Policial morto só se chora se for no Rio de Janeiro.
Tenho amigos que insistem: se você não lê a imprensa brasileira e não vê a TV brasileira, como pretende criticá-la? De fato, não assino jornais, pouco vejo TV. Acho, sinceramente, uma perda de tempo. E a manipulação, a distorção e a omissão de informações é tamanha que prefiro me informar pela imprensa internacional: New York Times, Washington Post, El Pais, La Nacion, Tal Cual, Agencia Bolivariana de Notícias, Telesur, The Economist, Financial Times, BBC, The Guardian, The Independent e assim por diante. É de graça. E meu dinheiro não financia golpismos.
A situação na Bolívia é altamente complexa. Envolve questões de autonomia regional, da coleta de impostos e da aplicação de recursos obtidos com a venda de gás. Porém, a oposição politizou tudo aquilo que poderia desgastar o governo de Evo Morales, embora a economia do país, em crescimento, tenha beneficiado tanto aos mais ricos quanto aos mais pobres.
O Ivo Pugnaloni me mandou este artigo, publicado no "La Nación" da Argentina, que resume os distúrbios dos últimas dias na Bolívia:
"SUCRE - Os distúrbios que sacodem esta cidade desde que a maioria governista na Assembléia Constituinte aprovou a nova Constituição sem a presença da oposição continuaram ontem em um clima de violência e saques que deixaram ao menos três mortos, entre eles um policial que foi linchado. Em suas primeiras declarações sobre a pior crise que enfrenta em 22 meses de governo, o presidente Evo Morales avalizou a Constituição - aprovada por 136 votos dos 255 constituintes - e pediu um pacto social para apaziguar Sucre.
"Quero pedir ao povo boliviano serenidade e tranquilidade. E às autoridades quero pedir-lhes que trabalhem pela paz com justiça social", disse Morales. O presidente, além disso, responsabilizou "pequenos grupos oligárquicos, que se opõem à mudança e que sempre foram contra a Constituinte" por promover os protestos em Sucre, anunciando uma investigação sobre os incidentes.
Os fortes choques entre a polícia e opositores do governo, em sua maioria estudantes, tiveram lugar perto do colégio militar onde a assembléia deliberava. Um civil e um policial morreram ontem, com o que se elevou a três o total de vítimas desde que começaram os distúrbios, anteontem. Além disso, há cerca de 200 feridos.
Os ataques contra a polícia e a morte de um de seus agentes forçou o deslocamento das forças de segurança até a cidade vizinha de Potosí, "por falta de garantias". À noite, quando se fechava esta edição, a situação parecia voltar à precária normalidade. Em meio ao caos e aproveitando o débil controle policial, cerca de 120 presos fugiram da prisão de San Roque, em Sucre, depois de um motim.
"Na prisão havia 133 presos, mas parece que agora só restam 13", informou Daqysy Aguilar, diretora do setor penitenciário do departamento de Chuquisaca.
Segundo informaram fontes do hospital Santa Bárbara, um jovem chegou ontem sem vida, com uma ferida de bala nas costas, enquanto outra pessoa estava entre a vida e a morte. O advogado Gonzalo Durán, de 29 anos, havia falecido anteontem "com uma ferida de bala no tórax", segundo fontes médicas. Apesar dessas informações, o ministro do Interior, Juan Ramón Quintana, insistiu que a polícia utilizou apenas gás lacrimogêneo e balas de borracha para reprimir as manifestações e que o calibre das balas que provocaram as mortes não corresponde ao da munição utilizada pelo Exército.
O terceiro morto é o policial Jimmy Quispe, que foi "seqüestrado e linchado" por moradores, segundo informou ontem o comandante da polícia da Bolívia, general Miguel Vásquez. Acrescentou que os manifestantes incendiaram o edifício onde funciona a Unidade de Trânsito da Polícia, o quartel de bombeiros de Sucre e 30 viaturas policiais. A morte de Quispe e os ataques dos manifestantes contra unidades policiais levaram Vásquez a ordenar a retirada das unidades até que o governo dê garantias.
"Não existindo as garantias, retiramos todos os policiais", disse Vásquez, que acrescentou: "Nós também fomos atacados e queremos evitar mais enfrentamentos. Se a população de Sucre não quer ver a polícia, sairemos da cidade".
Os distúrbios começaram na sexta-feira, quando o partido do governo Movimento ao Socialismo (MAS) decidiu retomar as sessões da Assembléia Constituinte, paralisada há três meses, em um prédio militar fora de Sucre, para evitar os protestos. Os manifestantes exigiam que a nova Constituição aprovasse o retorno das sedes do Executivo e do Legislativo a Sucre, retirando-as de La Paz. A decisão de retomar as deliberações não foi acatada pela oposição, que não se apresentou.
A maioria governista aprovou, sábado a noite, a nova Constituição, que agora deverá ser aprovada artigo por artigo. Depois dos distúrbios, a Assembléia foi suspensa novamente, já que os 136 membros foram retirados de madrugada, em caravana, para Potosí. Em sua mensagem de ontem para pedir tranquilidade à população, Morales afirmou que a questão da transferência plena da capital para Sucre tornou-se um tema político, mas afirmou que a nova Constituição "garante o equilíbrio de interesses entre os departamentos de La Paz e Chuquisaca". O projeto de Constituição aprovado confirma Sucre como capital oficial da Bolívia, como sede do Poder Judiciário e do poder eleitoral que se pretende criar."
Do La Nación com as agências AFP, EFE, AP e DPA.
Publicado em 26 de novembro de 2007
Subiu para quatro o número de mortos na Bolívia. A ascensão do índio Evo Morales ao poder levou ao renascimento de grupos fascistas bolivianos, como o Nación Camba, além de manifestações explícitas de racismo. Um pequeno exemplo está aqui, na TV Viomundo.
Acrescentado em 26 de novembro de 2007