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Enfia e engole
Previsto para ir ao ar em 10 de outubro, “Spuiten & Slikken” deve ser veiculado até às vésperas do Natal. Será exibido às segundas-feiras, durante 11 semanas, às 23 horas. O nome do programa é um jogo de palavras difícil de traduzir, já que “spuiten” e “slikken” têm duplo sentido, usado tanto para sexo quanto para drogas. Mas é algo na linha “Enfia e engole”.
O título dá uma idéia da abordagem crua e direta que esses temas terão. A apresentadora Sophie Hilbrand vai conduzir o programa, entrevistando jovens sobre suas experiências nos dois assuntos. Mas “Spuiten & Slikken” também acompanhará as peripécias de dois jornalistas participativos em suas experiências com sexo e drogas. Filemon Wesselink, 26, experimentará as drogas. E Ties Van Westing, 25, foi encarregado das aventuras sexuais. Eles descreverão as sensações vividas durante os experimentos.
É justamente aí que mora a controvérsia de “Spuiten & Slikken”. As experiências dos dois rapazes serão gravadas e transmitidas pela emissora pública. Curiosamente, o sexo terá uma abordagem mais pudica em um país que costuma exibir filmes de sexo explícito na TV. Justamente por isso. “Nós não queríamos que parecesse um filme pornô”, disse Marion Van Dam, porta-voz da BNN, a NoMínimo.
O uso de drogas, no entanto, será absolutamente explícito. Está previsto que Filemon usará heroína –uma droga proibida no mundo inteiro, inclusive na Holanda. E todo o processo – do preparo, passando pela aplicação, aos efeitos da droga - será transmitido para todo o país.
Um médico acompanhará todas as experiências com drogas. Não só para agir em caso de problema, mas também para explicar, do ponto de vista médico e fisiológico, os efeitos de cada droga no organismo, seus riscos e efeitos colaterais. “Ele vai monitorar constantemente todas as experiências com drogas”, explica Marion. “E os espectadores vão ver tudo.”
A condição básica dos dois jornalistas foi não tomar parte de nada que não quisessem. Práticas mais heterodoxas, principalmente no campo sexual, ficaram de fora. Filemon não vai usar ketamina, a droga da moda na Holanda, por exemplo. A ketamina é um anestésico, hoje usado em animais, que causa forte dependência, provoca uma sensação de relaxamento e tem sérios efeitos colaterais, como alucinações psicóticas. “Achamos que era muito perigoso e nossos consultores aconselharam que ela não fosse usada”, justifica Marion. Mas não houve restrição à heroína (que será injetada e inalada). Filemon apenas pediu que, nesse caso específico, o “laboratório” fosse a casa da sua mãe, onde ele se sentiria mais confortável. Uma das regras do programa é que Filemon pode fazer as experiências quando e onde quiser, desde que acompanhado pelo médico. Ele já começou a gravar os programas e, segundo a BNN, está achando “muito interessante”.
Lambendo o dorso do sapo
Entre as drogas previstas, estão cocaína, álcool, LSD, ecstasy e maconha. A estranheza maior provavelmente será o uso que Filemon fará de um exemplar do reino animal. “Ele também vai lamber o dorso de um sapo do rio Colorado”, anuncia Marion. Conhecido pelo nome científico de “bufo alvarius”, o espécime verde oliva é encontrado nos Estados Unidos (no deserto do Colorado, no Novo México, Arizona e Califórnia) e expele duas substâncias que, juntas, são altamente alucinógenas: a Bufotenin e a Dimethyltryptamin. E, aparentemente, o “consumo” se dá assim mesmo, lambendo o dorso do sapo.
As experiências sexuais serão vividas por Ties que, entre outras coisas, vai participar de um ménage à trois, vai transar sob efeito de remédios como viagra, vai fazer sexo “em posições acrobáticas”. Além de receber sexo oral de um homem e de uma mulher, para efeito de comparação. Nada disso será mostrado. Nem haverá um médico acompanhando as aventuras do rapaz. E o uso de camisinhas será recomendado.
“Ties vai receber um blow job de um cara e de uma mulher, mas isso não será mostrado na TV. Ele vai entrar em um quarto especial sem câmera e à prova de som. O espectador vai vê-lo entrando no local, vão explicar que tipo de experiência ele vai ter e, depois, Ties vai dividir sua experiência com a audiência. Nesse caso, poderá dizer se há alguma diferença entre ser chupado por um homem ou por uma mulher, de qual ele gostou mais e como ele se sentiu”, adianta Marion.
A idéia de “Spuiten & Slikken” surgiu durante uma reunião de criação. A emissora queria criar um programa que falasse de assuntos de interesse dos jovens e também tivesse algum apelo televisivo. “Muitas pessoas usam drogas ou são curiosas sobre o assunto. Nós vamos informá-las sobre isso no programa, que será mais na linha do ‘não tente isso em casa’ do que na do ‘faça você mesmo’. Seria ingênuo tentar esconder dos jovens assuntos como sexo e drogas”, explica Marion, que frisa o caráter informativo e educativo do programa. “Jovens fazem sexo. O melhor é explicar para eles por que é aconselhável usar uma camisinha do que não tocar no assunto”, avalia.
Apesar dessa “preocupação” informativa, o canal recebeu pressões e reclamações de políticos, mesmo antes de “Spuiten & Slikken” ir ao ar. O porta-voz do governo holandês de centro-direita, Pieter Heerma, tachou o programa de "perigoso e um mau exemplo", afirmando que solicitaria ao ministro da Justiça um posicionamento sobre a legalidade da transmissão e uma avaliação dos perigos e riscos envolvidos. Mas esse tipo de programa não chega a ser novidade para a emissora pública. Em 2003, a BNN levou ao ar “Neuken doe je zo!” – algo traduzível para “É assim que se come!”.
Em um dos episódios finais, um dos capítulos tinha o utilitário título de “Como fazer sexo em uma boate sem ser notado”. A “aula” foi dada por uma “profissional do sexo” com ajuda de um boneco em tamanho natural, dotado de órgãos sexuais. Atingiu um milhão de espectadores, o recorde do canal. Em um país com pouco mais de 16 milhões de habitantes, é um número nada desprezível. Dois anos depois, a BNN volta à carga, agora sem o boneco. Deve ter sido demitido.
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