Havia um clima de tensão na sala. Na mesa de reuniões, os diretores discutiam intensamente, asperamente em algumas passagens, há algumas horas, um controvertido plano de incentivos para os funcionários da empresa. Até aquele momento, a proposta de um dos executivos, por acaso o dono da empresa, era a única que tinha sido apreciada até então. Pelo seu caráter extremamente inovador e revolucionário, polarizara, até aquele momento, todas as atenções, corações e mentes dos participantes.
- Sr. Mendonça, acredito que teríamos uma certa dificuldade em explicar esses benefícios para os dependentes de nossos funcionários, principalmente se analisarmos a questão das cônjuges, que poderiam ... digamos... questionar os nossos propósitos e alegar que tal ... programa poderia ser a causa de problemas conjugais... Poderíamos enfrentar dificuldades até mesmo na esfera judicial, se houver algum divórcio após a implementação do programa...
- Bobagem, Dimas. Garanto que, na maioria dos casos, esse programa será de grande importância no matrimônio de nossos funcionários, já que poderá servir como contraponto à rotina que todo casamento agrega, ano após ano... Quem não gosta de variar o prato que come , sempre que possível? Mesmo que seja um churrasco dos bons, se você comer isso todo dia, vai ficar de saco cheio. Ou, no caso, vazio. E os nossos rapazes não terão porque revelar o caráter do benefício, que virá descrito no olerite como uma sigla que poderá ter a explicação que ele quiser dar em sua casa. V.C, no caso, Vale Chupeta, pode ser qualquer coisa.Vale Carne, sei lá; no dia do pagamento, o sujeito dá uma passadinha no açougue antes de ir pra casa. V.T.D, ou Vale Test Drive, também.Usem a criatividade, guris!!!! Se alguém nos ligar pedindo informações a respeito dessas siglas, simplesmente diremos que o programa visa a melhor interação de nossos funcionários com a empresa e blá blá blá...
-Mas, senhor, sabemos que, numa empresa de médio porte, como a nossa, há um determinado perfil que , simplesmente não se encaixaria com o programa, e poderia até mesmo pedir o desligamento da empresa, por se sentirem constrangidos em sua espiritualidade. Bons quadros se encaixam nessa descrição. Alguns são religiosos, beatos eu dirá até, como o Eldir, da contabilidade, ou o Soares Miranda, do RH. Tenho grandes reservas em apresentar semelhante proposta a fucionários como eles.
- Bobagem ,novamente, Tarcisio. Religiosos ou não, terão direito a ir a um inferninho qualquer e socar a pica, com força,inclusive, em quem quiser, desde que o valor não ultrapasse a tabela. Lembrem-se do mote , sempre que forem usar o benefício: A maioria vale cinqüenta, algumas valem cem, mas nenhuma vale cento e cinqüenta reais! E , depois, não é porque o benefício existe que o mesmo deva ser usado. Se o cidadão preferir a um culto religioso, que vá. Problema dele.
- Mas , senhor, não podemos deixar de mencionar que há uma pequena , mas importante, parcela de nosso quadro que não partilha da mesma opção sexual dos demais. Não tenho muita certeza em relação ao Claudemil, do contas a pagar. Se bem que um dia desses , ele mesmo me confessou que não via mal nenhum em ser rotulado como metrossexual. E, apesar de ser uma pessoa discreta, ninguém aqui , acredito eu, suporia que o Dagoberto, nosso representante no Sul,não seja ... de um perfil ... oposto ao da proposta. Acredito que fosse algo que o constrangesse ou algo parecido.E tenho medo de que ele faça algum tipo de pedido para... digamos... alterar o beneficio em seu caso específico...
- Não, quanto há isso, não abriremos nenhum tipo de exceção. Se o Claudemil ou o Dagoberto quiserem arrumar alguém que lhes coma, que o façam por seus próprios meios, sem envolver a empresa em suas próprias sodomias.
- Mas, senhor, isso pode ser questionado por ele da seguinte forma: se os funcionários heterossexuais têm direito a uma prostituta, ele, em contrapartida, teria dir ...
- Isso aqui é uma empresa familiar, porra!!!! – bradou Mendoncinha, socando a mesa.
A secretária, que redigia a ata , levantou a mão.
- Pois não, Dona Valquíria.
- E as mulheres da empresa senhor? Onde elas ficam diante de semelhante programa?
Mendoncinha , coçando o queixo, fez menção de responder, abriu a boca , mas calou-se logo em seguida. Os outros diretores não ousaram dizer nada. A palavra estava com o mentor do projeto, o Mendoncinha.
- Senhor? – perguntou de novo a secretária, um pouco impaciente. Por algum motivo que escapava aos demais, a pauta da reunião parecia ter causado algum tipo de agravo na mulher. - Confesso que estou curiosa para ouvir o que poderia ser proposto, dentro do cerne desse programa, para as mulheres, como eu, casadas, mães de família e corretas em seus respectivos relacionamentos. Gost...
- Veja, Dona Valquíria...- tratou de interromper o Mendocinha, quando percebeu que a mulher estava se exaltando - essa difícil questão, trazida a baila agora pela senhora, realmente suscita um debate extremamente pertinente não só no que diz respeito a nossa empresa , mas em relação a toda a sociedade. Quando elaborei o projeto, em algum momento essa questão veio à tona, mas, confesso, não consegui encontrar uma alternativa para contemplar as nossas funcionárias, assim, de pronto, sabe?
- Mas a senhora sabe, todos nós sempre assistimos a esses filmes, digo, produções ... eróticas... Alguns mais, outros menos, mas todos nós vemos... Quem por exemplo, nunca ouviu falar na Savannah.... Ashlyn Gere... Vivi... Rita Cadilac... até mesmo o Kid Bengala, não é mesmo, Dona Valquíria... – perguntou Mendoncinha, piscando para a secretária.
Depois dessa observação, os outros membros logo perceberam o que queria propor o Mendoncinha. Alguns riam, outros pareciam perplexos.
- Sim, sim... talvez algumas de nós tenham, algum dia, tido algum tipo de contato com esse tipo de coisa. E daí? – perguntou, ainda sem levantar a voz , a secretária . O que isso tem a ver com o que está sendo proposto aqui?
- Veja, Dona Valquíra, nessas produções a que me refiro, as mulheres se envolvem tanto quantos os homens e parecem gostar da mesma forma, não é mesmo? Veja só o que elas fazem, se lambuzam todas, ou melhor, deixam-se lambuzar! Elas , inclusive, em algumas cenas, aparentam gostar até mesmo da mesma coisa que a gente, não é mesmo? Digo, em algumas cenas. Entendeu? – nova piscadinha. - Por isso criamos o “V. S”. , especialmente para as nossas funcionárias.
- Senhor, confesso que não entendi ... Espero não ter entendido! – murmurou Dona Valquíria – Mas... V. S.? O que seria isso?
Nesse momento, já prevendo a pergunta, Mendoncinha , sorrindo, respondeu, reclinando-se na poltrona, com toda a calma e didática do mundo.
- Vale Suingue!
- Sr. Mendonça, acredito que teríamos uma certa dificuldade em explicar esses benefícios para os dependentes de nossos funcionários, principalmente se analisarmos a questão das cônjuges, que poderiam ... digamos... questionar os nossos propósitos e alegar que tal ... programa poderia ser a causa de problemas conjugais... Poderíamos enfrentar dificuldades até mesmo na esfera judicial, se houver algum divórcio após a implementação do programa...
- Bobagem, Dimas. Garanto que, na maioria dos casos, esse programa será de grande importância no matrimônio de nossos funcionários, já que poderá servir como contraponto à rotina que todo casamento agrega, ano após ano... Quem não gosta de variar o prato que come , sempre que possível? Mesmo que seja um churrasco dos bons, se você comer isso todo dia, vai ficar de saco cheio. Ou, no caso, vazio. E os nossos rapazes não terão porque revelar o caráter do benefício, que virá descrito no olerite como uma sigla que poderá ter a explicação que ele quiser dar em sua casa. V.C, no caso, Vale Chupeta, pode ser qualquer coisa.Vale Carne, sei lá; no dia do pagamento, o sujeito dá uma passadinha no açougue antes de ir pra casa. V.T.D, ou Vale Test Drive, também.Usem a criatividade, guris!!!! Se alguém nos ligar pedindo informações a respeito dessas siglas, simplesmente diremos que o programa visa a melhor interação de nossos funcionários com a empresa e blá blá blá...
-Mas, senhor, sabemos que, numa empresa de médio porte, como a nossa, há um determinado perfil que , simplesmente não se encaixaria com o programa, e poderia até mesmo pedir o desligamento da empresa, por se sentirem constrangidos em sua espiritualidade. Bons quadros se encaixam nessa descrição. Alguns são religiosos, beatos eu dirá até, como o Eldir, da contabilidade, ou o Soares Miranda, do RH. Tenho grandes reservas em apresentar semelhante proposta a fucionários como eles.
- Bobagem ,novamente, Tarcisio. Religiosos ou não, terão direito a ir a um inferninho qualquer e socar a pica, com força,inclusive, em quem quiser, desde que o valor não ultrapasse a tabela. Lembrem-se do mote , sempre que forem usar o benefício: A maioria vale cinqüenta, algumas valem cem, mas nenhuma vale cento e cinqüenta reais! E , depois, não é porque o benefício existe que o mesmo deva ser usado. Se o cidadão preferir a um culto religioso, que vá. Problema dele.
- Mas , senhor, não podemos deixar de mencionar que há uma pequena , mas importante, parcela de nosso quadro que não partilha da mesma opção sexual dos demais. Não tenho muita certeza em relação ao Claudemil, do contas a pagar. Se bem que um dia desses , ele mesmo me confessou que não via mal nenhum em ser rotulado como metrossexual. E, apesar de ser uma pessoa discreta, ninguém aqui , acredito eu, suporia que o Dagoberto, nosso representante no Sul,não seja ... de um perfil ... oposto ao da proposta. Acredito que fosse algo que o constrangesse ou algo parecido.E tenho medo de que ele faça algum tipo de pedido para... digamos... alterar o beneficio em seu caso específico...
- Não, quanto há isso, não abriremos nenhum tipo de exceção. Se o Claudemil ou o Dagoberto quiserem arrumar alguém que lhes coma, que o façam por seus próprios meios, sem envolver a empresa em suas próprias sodomias.
- Mas, senhor, isso pode ser questionado por ele da seguinte forma: se os funcionários heterossexuais têm direito a uma prostituta, ele, em contrapartida, teria dir ...
- Isso aqui é uma empresa familiar, porra!!!! – bradou Mendoncinha, socando a mesa.
A secretária, que redigia a ata , levantou a mão.
- Pois não, Dona Valquíria.
- E as mulheres da empresa senhor? Onde elas ficam diante de semelhante programa?
Mendoncinha , coçando o queixo, fez menção de responder, abriu a boca , mas calou-se logo em seguida. Os outros diretores não ousaram dizer nada. A palavra estava com o mentor do projeto, o Mendoncinha.
- Senhor? – perguntou de novo a secretária, um pouco impaciente. Por algum motivo que escapava aos demais, a pauta da reunião parecia ter causado algum tipo de agravo na mulher. - Confesso que estou curiosa para ouvir o que poderia ser proposto, dentro do cerne desse programa, para as mulheres, como eu, casadas, mães de família e corretas em seus respectivos relacionamentos. Gost...
- Veja, Dona Valquíria...- tratou de interromper o Mendocinha, quando percebeu que a mulher estava se exaltando - essa difícil questão, trazida a baila agora pela senhora, realmente suscita um debate extremamente pertinente não só no que diz respeito a nossa empresa , mas em relação a toda a sociedade. Quando elaborei o projeto, em algum momento essa questão veio à tona, mas, confesso, não consegui encontrar uma alternativa para contemplar as nossas funcionárias, assim, de pronto, sabe?
- Mas a senhora sabe, todos nós sempre assistimos a esses filmes, digo, produções ... eróticas... Alguns mais, outros menos, mas todos nós vemos... Quem por exemplo, nunca ouviu falar na Savannah.... Ashlyn Gere... Vivi... Rita Cadilac... até mesmo o Kid Bengala, não é mesmo, Dona Valquíria... – perguntou Mendoncinha, piscando para a secretária.
Depois dessa observação, os outros membros logo perceberam o que queria propor o Mendoncinha. Alguns riam, outros pareciam perplexos.
- Sim, sim... talvez algumas de nós tenham, algum dia, tido algum tipo de contato com esse tipo de coisa. E daí? – perguntou, ainda sem levantar a voz , a secretária . O que isso tem a ver com o que está sendo proposto aqui?
- Veja, Dona Valquíra, nessas produções a que me refiro, as mulheres se envolvem tanto quantos os homens e parecem gostar da mesma forma, não é mesmo? Veja só o que elas fazem, se lambuzam todas, ou melhor, deixam-se lambuzar! Elas , inclusive, em algumas cenas, aparentam gostar até mesmo da mesma coisa que a gente, não é mesmo? Digo, em algumas cenas. Entendeu? – nova piscadinha. - Por isso criamos o “V. S”. , especialmente para as nossas funcionárias.
- Senhor, confesso que não entendi ... Espero não ter entendido! – murmurou Dona Valquíria – Mas... V. S.? O que seria isso?
Nesse momento, já prevendo a pergunta, Mendoncinha , sorrindo, respondeu, reclinando-se na poltrona, com toda a calma e didática do mundo.
- Vale Suingue!