Houve, em meados do ano 2.011, grande desordem em um boteco dos mais movimentados do centro velho da capital paulistana. Dois homens foram detidos, após uma enorme confusão, troca de sopapos e correria de tilangas e cuecas, já que um dos meliantes sacou algo que lembrava uma espada e avançou em direção ao seu desafeto.
Um dos detidos, um homem de meia idade, alto e magro, foi solto imediatamente, já que testemunhas atestaram que ele fora atacado sem que tivesse feito absolutamente nada que justificasse semelhante agressão. Após ser abordado por um sujeito descabelado e de olhar atormentado, iniciaram ríspida discussão, que girava em torno de uma piranha e algo como “o fim do universo tal qual conhecemos”. O sujeito magro, após uma troca de insultos, decidiu por fim a contenda:
- “ Quer saber de uma coisa, Vlad? Você é um xarope... Vai te catar e me deixe em paz!”
Nesse instante, o outro tirou de dentro de sua capa a réplica de uma espada samurai da idade média ( é preciso que se diga que a espada era de plástico e , portanto, inofensiva) e bradou, a plenos pulmões:
- “Só pode haver um! “ e tentou golpear o seu rival, que, prontamente, bateu em retirada pela esquerda.
Desnecessário dizer que, pouco depois, na delegacia mais próxima, os detidos prestaram esclarecimentos e um deles, o sujeito que foi atacado, foi liberado após ser ouvido graças a duas testemunhas que confirmaram o seu depoimento. O outro foi encaminhado, por mera traquinagem do delegado, para um novo papo cabeça, desta vez com um dublê de psiquiatra especialista em maníacos compulsivos, amigo do alcaide e o resultado desta interessante conversa tentarei reproduzir a seguir. O que veremos a seguir, meus bons amigos, é o interrogatório em si, na íntegra.
Sentado em uma mesa, numa sala de interrogatório improvisada na delegacia, o meliante aguardava, impaciente, a sua soltura. A porta da sala se abriu e um homem de meia idade, calvo, risonho e gordo o cumprimentou, se apresentando:
“Muito bem, senhor... hã... Vladimir Palhares da Conceição... Posso te chamar de Vlad?”.
“Não”.
“OK, será Vladimir então... o meu nome é Abelardo e sou o comandante em chefe do... hã... Departamento de Traumatologia Craniana do Hospital Psiquiátrico da Vila Sônia. Deixe –me ver, porq...”.
“Meu nome também não é Vladimir”.
“Não? Bem, esse é o nome que consta no seu documento de identidade...”.
“Se quiser saber o meu nome verdadeiro, posso lhe revelar. Já é tempo”.
“Bem... e qual seria o seu nome verdadeiro?”.
“Depende”.
“Não entendi, Vlad”.
“Depende do plano e da dimensão que tomarmos como referência. Aqui no seu planeta já tive várias alcunhas, sendo essa, Vladimir, a última. A primeira foi a de um artesão germânico... Gilbert ...Eintrcheart Gottsburgh”.
O dublê de psiquiatra dá uma risadinha, consulta o relógio e pergunta:
“Devo te chamar de Giba, Vlad?”.
“Acontece que esse também não é o meu nome. Meu verdadeiro nome não existe. De onde venho, os seres viventes não precisam de nomes. A nossa própria essência exala um hormônio singular, que serve como nossa identidade”.
“Boa, boa ... Na terra isso acontece com os cachorros! E... bem... como e porquê você veio para o nosso planeta? O que está fazendo entre nós? E porquê, de acordo com a sua declaração, você seria capaz de sobreviver por mais tempo que os habitantes deste planeta? Você me parece bem humano. Não te dou mais do que cinquentinha, Vlad”.
“Uma pergunta de cada vez, viciado em oxigênio... O que faço no seu mundo é assunto meu. – volveu, amuado, o interrogado. - Porém, revelarei o que lhe cabe saber. Eu sou uma energia.Uma força. Entendeu? Quando o corpo que me hospeda começa a definhar, eu tomo outro corpo e assim vou indo, pelos séculos sem fim”.
“Entendo... Interessante, Vlad. Já tomou o corpo de uma mulher?”.
“Claro que não!”. – nesse momento, Vlad socou a mesa.- O senhor é louco?
“E porque não? Já que você é um ser aparentemente assexuado e muito mais evoluído do que nós, pobres terráqueos, que mal lhe faria revezar um pouco, hein? Uma existência como homem, outra como mulher. Pra ter uma noção da coisa toda , entende? “
“Preciso assumir o corpo de grandes guerreiros, mortal tolo! Só assim poderei derrotar o meu inimigo. Essa é a razão de eu estar nesse planeta insignificante” - responde Vlad, sem conter a impaciência.
“Ora, e quem disse que mulheres não podem derrotar grandes guerreiros? Dalila não venceu Sansão? Você poderia, se fosse uma mulher, aproximar-se do seu inimigo sem maiores dificuldades. Você, usando os encantos de uma bela mulher, seduziria o maluco, fazendo sexo oral nele, por exemplo. E, no instante em que ele adormecesse ou algo assim, você poderia golpeá-lo a vontade.”
O interrogado reflete por poucos instantes e responde:
“Isso não adiantaria de nada. Fontes seguras me informaram que ele é bicha”.
“Melhor ainda, Vlad. Você poderia passar por viado e assassiná-lo enquanto ele te sodomizasse. Ou vice versa. Não seria bem mais fácil do que uma luta de espadas em plena rua Aurora?”.
“A sua idéia é uma completa bobagem. Prefiro ignorá-la. Bem, continuando, cheguei aqui nesse planeta inferior em meados do século doze da era cristã através do portal KY-9987 de energia, perseguindo esse perigoso meliante intergaláctico. Quando finalmente consegui localizá-lo novamente, vossos asseclas fardados e truculentos interviram e não permitiram que eu o destruísse”.
“Você iria destruí-lo com essa espada de brinquedo, Vlad?” – perguntou o “psiquiatra”, mostrando o apetrecho de plástico.
“Cuidado, seu tolo! Isso não é que parece. É uma arma que permite desintegrar o exoesqueleto de um dwarftrash com apenas um golpe. Infelizmente, fui impedido de golpeá-lo, como deve estar escrito aí” – disse, amuado, apontando para a pasta do psiquiatra.
“De fato”.
“Não ria, futil criatura. Seu mundo está para acabar. Dentro de pouco tempo terrestre, os dwaftrashianos iniciarão o procedimento de invasão de seu planeta e vocês serão escravizados e aniquilados. E , mesmo que isso não aconteça, seu mundo conhecerá um novo holocausto de proporções gigantescas em 2012”.
“Certo, Vlad... me fale mais do seu planeta de origem. Onde ele se localiza?”.
“A pergunta não é onde fica, mas quando fica. Fisicamente falando, ficava a cinqüenta trilhões de anos luz da Terra. – disse, nostálgico. - Mas, pelo que sei, ele não deve existir mais, nesse momento. Os kellognianos estavam cercando nosso planeta no momento em que iniciei minha missão. Eu era a nossa última chance. Mas, fracassei... Eu poderia ter matado o desgraçado em Esparta, mas ele estava usando uma densa armadura que protegia o seu exoesqueleto. E, como se trata de um grande guerreiro, conseguiu me ferir e fugir em seguida, conseguindo refúgio entre os sujos vassalos de Xerxes. – nesse momento, com expressão de asco, o guerreiro cospe no chão. - Se eu o tivesse matado ali, a estas alturas estaria em meu lar e não nesse lugar rústico e atrasado, habitado por seres cruéis e mesquinhos”.
“Claro, claro... Mas se a sua missão não tem mais sentido, já que o seu planeta não existe mais, porque ainda prossegue nela ? O que ainda há por salvar, Vlad?”.
“De onde eu vim, missão dada é missão cumprida, parceiro.” – respondeu, incontinenti - Além do mais, assim que conseguir cumprí-la, poderei voltar ao meu planeta através de um portal do tempo que descobri aqui no seu planeta. Dessa forma, poderei salvar o meu mundo. Mas não o seu...”.
“Não adiantaria nada matar o seu inimigo no futuro e depois voltar pro passado, Vlad“.
“ Claro que adiantaria.”
“ Claro que não... Só funcionaria se você pudesse matar esse alguém no passado. E depois voltar pro futuro.Não te parece lógico? Uma ação presente não pode impedir acontecimentos passados.”
O detido, aparentemente, não tinha atinado para isso. Remexeu-se um pouco na cadeira, visivelmente incomodado, meditando em alguma resposta para a questão que se abria diante dele.
“Foi por isso que ele foi pro futuro... Bastardo!”.
Houve entre eles um silêncio constrangedor.
“Você está certo, devorador de clorofila. Minha missão resulta em nada, depois de séculos e séculos de perseguição frenética. Não me resta mais nada a fazer aqui. Voltarei ao passado e repensarei uma estratégia de ataque ao kellogniano, desta vez retrocendendo no tempo”.
“Exato. Assim que o liberarmos, dirija-se ao portal do tempo e faça a sua correria, Vlad”.
O psiquiatra levanta-se e dirige-se até a porta. Antes de sair, no entanto, volta-se para fazer uma observação final.
“Vlad”.
“O que é?”.
“Posso ir com você? Eu tenho essa enorme curiosidade em conhecer novas civilizações e tals... Fiquei agora entusiasmado ao saber que existem outros seres, que a nossa espécie não está sozinha no universo e pá e tal...”
“Não posso leva-lo comigo”.
“Porque não?”
“Sou um guardião do Portal. Todos aqueles que passam por esse plano através dele são guardiões, e devem... guardar o seu segredo”.
“Beleza, Vlad... Boa viagem.”
A conversa foi gravada , filmada e devidamente editada para que nomes e o local da conversa não fossem identificados e virou um hit no youtube.
Abelardo nunca mais ouviu falar do guerreiro intergaláctico. Morreu muitos anos depois, em seu apartamento, de ataque cardíaco.
O magrelo atacado pelo guerreiro voltou para Alfenas e viveu tranqüilo até os oitenta e quatro anos. Também nunca mais teve notícias do guerreiro intergaláctico. Fontes seguras atestam que ele não era um alienígena, apenas um pouco alto e desengonçado demais.
O delegado morreu meses depois, vítima de um AVC enquanto trabalhava.
A tilanga em disputa continuou tilanga por mais alguns anos, até conseguir abrir um salão de beleza especializado em atender as putas e os travecos da região.
Vlad tentou, sem sucesso, encontrar o portal do tempo e retornar ao seu mundo natal para a elaboração de uma estratégia mais acertada. Infelizmente, ele esqueceu a localização do mesmo e ficou preso a este mundo até o final de seus dias, cerca de sete anos após a conversa na delegacia.
Um dos detidos, um homem de meia idade, alto e magro, foi solto imediatamente, já que testemunhas atestaram que ele fora atacado sem que tivesse feito absolutamente nada que justificasse semelhante agressão. Após ser abordado por um sujeito descabelado e de olhar atormentado, iniciaram ríspida discussão, que girava em torno de uma piranha e algo como “o fim do universo tal qual conhecemos”. O sujeito magro, após uma troca de insultos, decidiu por fim a contenda:
- “ Quer saber de uma coisa, Vlad? Você é um xarope... Vai te catar e me deixe em paz!”
Nesse instante, o outro tirou de dentro de sua capa a réplica de uma espada samurai da idade média ( é preciso que se diga que a espada era de plástico e , portanto, inofensiva) e bradou, a plenos pulmões:
- “Só pode haver um! “ e tentou golpear o seu rival, que, prontamente, bateu em retirada pela esquerda.
Desnecessário dizer que, pouco depois, na delegacia mais próxima, os detidos prestaram esclarecimentos e um deles, o sujeito que foi atacado, foi liberado após ser ouvido graças a duas testemunhas que confirmaram o seu depoimento. O outro foi encaminhado, por mera traquinagem do delegado, para um novo papo cabeça, desta vez com um dublê de psiquiatra especialista em maníacos compulsivos, amigo do alcaide e o resultado desta interessante conversa tentarei reproduzir a seguir. O que veremos a seguir, meus bons amigos, é o interrogatório em si, na íntegra.
Sentado em uma mesa, numa sala de interrogatório improvisada na delegacia, o meliante aguardava, impaciente, a sua soltura. A porta da sala se abriu e um homem de meia idade, calvo, risonho e gordo o cumprimentou, se apresentando:
“Muito bem, senhor... hã... Vladimir Palhares da Conceição... Posso te chamar de Vlad?”.
“Não”.
“OK, será Vladimir então... o meu nome é Abelardo e sou o comandante em chefe do... hã... Departamento de Traumatologia Craniana do Hospital Psiquiátrico da Vila Sônia. Deixe –me ver, porq...”.
“Meu nome também não é Vladimir”.
“Não? Bem, esse é o nome que consta no seu documento de identidade...”.
“Se quiser saber o meu nome verdadeiro, posso lhe revelar. Já é tempo”.
“Bem... e qual seria o seu nome verdadeiro?”.
“Depende”.
“Não entendi, Vlad”.
“Depende do plano e da dimensão que tomarmos como referência. Aqui no seu planeta já tive várias alcunhas, sendo essa, Vladimir, a última. A primeira foi a de um artesão germânico... Gilbert ...Eintrcheart Gottsburgh”.
O dublê de psiquiatra dá uma risadinha, consulta o relógio e pergunta:
“Devo te chamar de Giba, Vlad?”.
“Acontece que esse também não é o meu nome. Meu verdadeiro nome não existe. De onde venho, os seres viventes não precisam de nomes. A nossa própria essência exala um hormônio singular, que serve como nossa identidade”.
“Boa, boa ... Na terra isso acontece com os cachorros! E... bem... como e porquê você veio para o nosso planeta? O que está fazendo entre nós? E porquê, de acordo com a sua declaração, você seria capaz de sobreviver por mais tempo que os habitantes deste planeta? Você me parece bem humano. Não te dou mais do que cinquentinha, Vlad”.
“Uma pergunta de cada vez, viciado em oxigênio... O que faço no seu mundo é assunto meu. – volveu, amuado, o interrogado. - Porém, revelarei o que lhe cabe saber. Eu sou uma energia.Uma força. Entendeu? Quando o corpo que me hospeda começa a definhar, eu tomo outro corpo e assim vou indo, pelos séculos sem fim”.
“Entendo... Interessante, Vlad. Já tomou o corpo de uma mulher?”.
“Claro que não!”. – nesse momento, Vlad socou a mesa.- O senhor é louco?
“E porque não? Já que você é um ser aparentemente assexuado e muito mais evoluído do que nós, pobres terráqueos, que mal lhe faria revezar um pouco, hein? Uma existência como homem, outra como mulher. Pra ter uma noção da coisa toda , entende? “
“Preciso assumir o corpo de grandes guerreiros, mortal tolo! Só assim poderei derrotar o meu inimigo. Essa é a razão de eu estar nesse planeta insignificante” - responde Vlad, sem conter a impaciência.
“Ora, e quem disse que mulheres não podem derrotar grandes guerreiros? Dalila não venceu Sansão? Você poderia, se fosse uma mulher, aproximar-se do seu inimigo sem maiores dificuldades. Você, usando os encantos de uma bela mulher, seduziria o maluco, fazendo sexo oral nele, por exemplo. E, no instante em que ele adormecesse ou algo assim, você poderia golpeá-lo a vontade.”
O interrogado reflete por poucos instantes e responde:
“Isso não adiantaria de nada. Fontes seguras me informaram que ele é bicha”.
“Melhor ainda, Vlad. Você poderia passar por viado e assassiná-lo enquanto ele te sodomizasse. Ou vice versa. Não seria bem mais fácil do que uma luta de espadas em plena rua Aurora?”.
“A sua idéia é uma completa bobagem. Prefiro ignorá-la. Bem, continuando, cheguei aqui nesse planeta inferior em meados do século doze da era cristã através do portal KY-9987 de energia, perseguindo esse perigoso meliante intergaláctico. Quando finalmente consegui localizá-lo novamente, vossos asseclas fardados e truculentos interviram e não permitiram que eu o destruísse”.
“Você iria destruí-lo com essa espada de brinquedo, Vlad?” – perguntou o “psiquiatra”, mostrando o apetrecho de plástico.
“Cuidado, seu tolo! Isso não é que parece. É uma arma que permite desintegrar o exoesqueleto de um dwarftrash com apenas um golpe. Infelizmente, fui impedido de golpeá-lo, como deve estar escrito aí” – disse, amuado, apontando para a pasta do psiquiatra.
“De fato”.
“Não ria, futil criatura. Seu mundo está para acabar. Dentro de pouco tempo terrestre, os dwaftrashianos iniciarão o procedimento de invasão de seu planeta e vocês serão escravizados e aniquilados. E , mesmo que isso não aconteça, seu mundo conhecerá um novo holocausto de proporções gigantescas em 2012”.
“Certo, Vlad... me fale mais do seu planeta de origem. Onde ele se localiza?”.
“A pergunta não é onde fica, mas quando fica. Fisicamente falando, ficava a cinqüenta trilhões de anos luz da Terra. – disse, nostálgico. - Mas, pelo que sei, ele não deve existir mais, nesse momento. Os kellognianos estavam cercando nosso planeta no momento em que iniciei minha missão. Eu era a nossa última chance. Mas, fracassei... Eu poderia ter matado o desgraçado em Esparta, mas ele estava usando uma densa armadura que protegia o seu exoesqueleto. E, como se trata de um grande guerreiro, conseguiu me ferir e fugir em seguida, conseguindo refúgio entre os sujos vassalos de Xerxes. – nesse momento, com expressão de asco, o guerreiro cospe no chão. - Se eu o tivesse matado ali, a estas alturas estaria em meu lar e não nesse lugar rústico e atrasado, habitado por seres cruéis e mesquinhos”.
“Claro, claro... Mas se a sua missão não tem mais sentido, já que o seu planeta não existe mais, porque ainda prossegue nela ? O que ainda há por salvar, Vlad?”.
“De onde eu vim, missão dada é missão cumprida, parceiro.” – respondeu, incontinenti - Além do mais, assim que conseguir cumprí-la, poderei voltar ao meu planeta através de um portal do tempo que descobri aqui no seu planeta. Dessa forma, poderei salvar o meu mundo. Mas não o seu...”.
“Não adiantaria nada matar o seu inimigo no futuro e depois voltar pro passado, Vlad“.
“ Claro que adiantaria.”
“ Claro que não... Só funcionaria se você pudesse matar esse alguém no passado. E depois voltar pro futuro.Não te parece lógico? Uma ação presente não pode impedir acontecimentos passados.”
O detido, aparentemente, não tinha atinado para isso. Remexeu-se um pouco na cadeira, visivelmente incomodado, meditando em alguma resposta para a questão que se abria diante dele.
“Foi por isso que ele foi pro futuro... Bastardo!”.
Houve entre eles um silêncio constrangedor.
“Você está certo, devorador de clorofila. Minha missão resulta em nada, depois de séculos e séculos de perseguição frenética. Não me resta mais nada a fazer aqui. Voltarei ao passado e repensarei uma estratégia de ataque ao kellogniano, desta vez retrocendendo no tempo”.
“Exato. Assim que o liberarmos, dirija-se ao portal do tempo e faça a sua correria, Vlad”.
O psiquiatra levanta-se e dirige-se até a porta. Antes de sair, no entanto, volta-se para fazer uma observação final.
“Vlad”.
“O que é?”.
“Posso ir com você? Eu tenho essa enorme curiosidade em conhecer novas civilizações e tals... Fiquei agora entusiasmado ao saber que existem outros seres, que a nossa espécie não está sozinha no universo e pá e tal...”
“Não posso leva-lo comigo”.
“Porque não?”
“Sou um guardião do Portal. Todos aqueles que passam por esse plano através dele são guardiões, e devem... guardar o seu segredo”.
“Beleza, Vlad... Boa viagem.”
A conversa foi gravada , filmada e devidamente editada para que nomes e o local da conversa não fossem identificados e virou um hit no youtube.
Abelardo nunca mais ouviu falar do guerreiro intergaláctico. Morreu muitos anos depois, em seu apartamento, de ataque cardíaco.
O magrelo atacado pelo guerreiro voltou para Alfenas e viveu tranqüilo até os oitenta e quatro anos. Também nunca mais teve notícias do guerreiro intergaláctico. Fontes seguras atestam que ele não era um alienígena, apenas um pouco alto e desengonçado demais.
O delegado morreu meses depois, vítima de um AVC enquanto trabalhava.
A tilanga em disputa continuou tilanga por mais alguns anos, até conseguir abrir um salão de beleza especializado em atender as putas e os travecos da região.
Vlad tentou, sem sucesso, encontrar o portal do tempo e retornar ao seu mundo natal para a elaboração de uma estratégia mais acertada. Infelizmente, ele esqueceu a localização do mesmo e ficou preso a este mundo até o final de seus dias, cerca de sete anos após a conversa na delegacia.