A Sulamita - Autor: Pedler

Crônicas semanais sobre putaria

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A Sulamita - Autor: Pedler

#1 Mensagem por General » 03 Fev 2010, 22:47

Cinco da tarde um homem na faixa dos 40 anos pontualmente deixava seus afazeres do serviço pendentes para o outro dia e ia para casa.
"Casa" era o nome que dava ao minúsculo apartamento que alugou.

Era um homem sozinho agora, e tinha descobrido que com a liberdade, acabou adquirindo algumas obrigações maçantes porem indispensáveis. Lavar roupas era fácil, a máquina fazia todo o trabalho, porem passar a roupa era complicado. Não só por se achar ridículo nesta função, mas tambem o serviço jamais saía bem feito. Tinha queimado camisas caras e ido trabalhar ou sair amarrotado várias vezes até aprender a passar roupas de uma maneira semi-decente. Pensava na sua casa...

Hora de fazer algo para comer e se aprontar para sair. Deveria lavar a louça do dia anterior primeiro, mas estava sem paciência. Queria sair, afinal, estava "sozinho", livre, e ia fazer o que a mais de uma década não fazia: ligar o carro e sair sem dar satisfação a quem quer que seja.

Comida de homem solteiro, feita por homem solteiro não era um prazer, era uma necessidade fisiológica. Lazanha descongelando no microondas e entrou no banheiro. Enquanto se lava não escuta ninguem batendo a porta para apressa-lo ou para choramingar infatis lamentos. Pequenas lembranças de fatos que achava desagradáveis no antigo lar lhe relembrava que agora estava realmente "sozinho". Pensava na sua casa...

Diz a bíblia que Salomão foi o homem mais sábio que já nasceu na terra. Concordou com isso quando soube que Salomão alem de rei, riquíssimo, teve muitas, mas muitas mulheres de todas a raças e credos. Até escreveu o livro "Cantares" no antigo testamento, onde em uma forma teatral e cheia de simbolismos ensina-se a foder uma mulher da maneira correta. Será que Salomão era um putaneiro?

Lhe chamou atenção uma das mulheres que Salomão possuiu, a "Sulamita". Apesar de Salomão ter sido avisado que não poderia ter envolvimento com mulheres de determinado país ou raça, passou o ferro na Sulamita, e esta era uma das que não poderia ser possuida. Depois disso sua vida e seu reinado foi uma sucessão de desgraças até o pobre Salomão, grande sábio, morrer pobre , velho e doente.

Se identificou com a história de Salomão e a Sulamita. De certo não tinha a sabedoria nem as riquesas dele, mas uma "sulamita" acabou com sua vida da mesma forma. Amante fora do casamento, esposa se descobre traída, casamento destrido. Agora sem a esposa, digna, mãe de seus filhos, que o acompanhou como uma guerreira durante toda a vida sacrificada até conseguirem um patamar financeiro que lhes daria algum conforto, e sem a amante, linda e infeliz criatura movida a dinheiro que ele não tinha mais. Lembrava-se do seu lar...

Banho tomado, o microondas apitava anunciando que o lixo industrializado estava quente. Comeu a lazanha na caixinha mesmo. Sujava menos um prato.
Dois dedos de Blue label pra relaxar e pensar aonde iria. Certamente comer uma xana, de preferência pagando, como deveria ter feito antes do divórcio.

Adentrou a uma "casa de tolerância" refinada e confortável. A casa estava vazia, dado o horário, então pode se acomodar ao fundo, na parte que mais gostava. Começaram os shows, a casa começou a encher, começaram a chegar as meninas perguntando se poderiam se assentar com ele... pensava ele o porque da garota não perguntar logo se não queria foder, afinal, se pouparia o tempo de ambos... tudo automático, tudo repetitivo. Começou a se dar conta que lugares como aquele era ótimos para se visitar,mas jamais frequentar como ele estava fazendo. Escolheu uma loirinha bêbada e levou para o quarto. 300 reais para 1 hora de sacanagens com uma ninfeta que ele jamais comeria sem pagar e de quebra a superficialidade do "amor de mentirinha" que as mais experientes tentam nos fazer engolir. Pensou na sua ex-esposa, agora não mais solteira...

"bebe da água limpa do seu poço particular... não deixe essa água transbordar e invadir as ruas, assim contaminando-se" - isso escreveu Salomão, no leito de morte, talvez ainda lembrando da beleza morena da Sulamita...

Sábio Salomão.

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Peter_North
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#2 Mensagem por Peter_North » 06 Fev 2010, 10:30

Um belo texto, que dá o que pensar. Me lembrou da importância da putaria para a manutenção de uma relação.

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#3 Mensagem por Vovô Abraham » 07 Fev 2010, 20:48

Percebo que boas parte dos problemas de nosso protagonista seriam resolvidos com bons restaurantes, uma diarista e umas eventuais investidas civis.

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Lesbos man
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#4 Mensagem por Lesbos man » 13 Fev 2010, 22:18

Grande texto, faz pensar muito. Mas eu diria que os homens que escolhem essa situação ou são levados a ela não devem se lamentar. O casamento é o maior dos calvários que um homem, principalmente um putanheiro, pode suportar (ou não) O que acham?

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Fortimbrás
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#5 Mensagem por Fortimbrás » 15 Fev 2010, 21:16

Boas.

Gostei do texto. Um pouco melancólico, mas interessante.

O gpguia nos mostra como a comunidade putanheira é igual a qualquer outra.

Como bem frizou o Peter, o texto remete à importância sociológica da putaria: uma amante é sempre algo que pode fazer bem ao ego; se você for casado ( e gosta de sua mulher ) é uma péssima idéia.

É a pior idéia que você pode ter.

Uma putinha não: se você souber fantasiar a coisa, pode render quase tão bem quanto uma amante. Porque você pode repetir a puta, sempre que quiser. Por uma quantia a ser combinada, você dá ao seu caralho uma metida de responsabilidade, com uma loirinha, uma morena, uma japinha ou uma negona.

A sua esposa não é mais uma princesa?

Foda-se. Jack Nicholson falou uma grande verdade há uns cinco anos atrás em uma entrevista: com o advento do Viagra, qualquer casamento pode ser salvo ( se o problema for o sexo, é lógico). "Não importa o que digam", disse ele, "tome uma vez por mês uma pilula azul e dê um belo trato na velha. Uma vez por mês, é o mais do que suficiente. "

O velho Jack sabe das coisas.

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