Pessoal achei interessante a matéria e criei um tópico novo, para despertar a atenção, se não for apropriado aqui peço aos moderadores que movam para o local mais adequado.
O link:
http://noticias.uol.com.br/uolnews/saud ... 48u92.jhtm
05/01/2006 - 16h31
David Uip: "não tem um dia que não atendo um caso novo de Aids"
Da Redação
A jornalista Lillian Witte Fibe recebeu hoje no estúdio do UOL News o infectologista David Uip, diretor executivo do Instituto do Coração (Incor) e um dos médicos mais renomados do Brasil. Eles falaram sobre Aids, doenças sexualmente transmissíveis, monogamia, a surpreendente relação entre drogas contra disfunção erétil (tipo Viagra) e o aumento da Aids e conversaram incansavelmente sobre a importância do uso da camisinha em qualquer idade.
Lillian lembrou que da última vez que conversaram, dia 23 de novembro de 2004, o "rosto" da Aids já havia mudado no país e que estava cada vez mais feminino. O médico afirmou que continua assim, mas que a realidade é ainda pior para as mulheres.
"Em 1985, 1986, a relação de Aids entre homens e mulheres era de 40 (homens) para 1 (mulher). Hoje falamos de 1 para 1, com as mulheres já ultrapassando os homens - como era previsto. A epidemia está cada vez mais se juvenilizando, atingindo mais jovens, empobrecendo, atingindo a classe mais pobre, e se feminilizando, atingindo cada vez mais as mulheres."
Segundo Uip, é fundamental que não só a Aids, mas também os perigos das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) sejam passados ao público. "Esperamos que os internautas que estão nos assistindo reproduzam o que estão lendo e ouvindo. A única forma é ficar batendo nisso o tempo inteiro. E a Aids não é o único problema, as outras sexualmente transmissíveis também estão incomodando, são graves e muitas são mortais."
Deu como exemplo de DSTs mortais o Papiloma Vírus. Popularmente conhecido como HPV, o vírus é o agente causal de câncer de útero. "A mulher que tem ou opera ou morre." Também falou do Herpes tipo 2, que pode causar câncer em genitais de homens e de mulheres, além da Sífilis, que se não for cuidada evolui para um estágio avançado que pode atingir até o coração.
Monogamia
David Uip foi categórico: não existe monogamia e não é possível acreditar nela. "Discuto este assunto abertamente. Onde está a monogamia? Tem que parar com purismos, com receita de bolo, porque não estou vendo a monogamia. Em nenhum nível de relação - hetero, homo ou bissexual. Isso não obedece a padrão."
Ele lembrou que atende a duas classes sociais bem diferentes e que os mesmos problemas são vistos entre pobres e ricos. "Não deixei de ver casos novos no consultório em nenhum dia da minha vida. Os indivíduos estão se contaminando, homens, mulheres, jovens."
A jornalista perguntou se as de baixa renda são as mais afetadas. Resposta: "o binômio pobreza e doenças infecciosas e parasitarias é perfeito para a desgraça. Quer ter uma desgraça é associar pobreza com doenças. Cada vez que a doença se interioriza, as pessoas têm mais dificuldade de acesso, mais dificuldade de recursos, menos informação. E o que estamos vendo nos bolsões de pobreza do país é que a miséria vem acompanhada cada vez mais de doenças infecciosas, inclusive a Aids."
O infectologista contou um caso surpreendente. "Recentemente atendi um médico importante, meu amigo, que veio contaminado. Ele teve relação com a esposa durante anos, se separou e assumiu um relacionamento homossexual monogâmico. De repente aparece soropositivo. Teve relação extraconjugal, sem preservativo, e se contaminou. O parceiro ainda não está contaminado e ele não sabe de quem pegou, porque foi de um outro com outro homem que nem conhece, com quem se relacionou numa boate. Estou falando de um médico, com ótimo porte, qualificadíssimo. Não é possível que não esteja orientado e avisado."
"Será que é na hora do porre?", perguntou a jornalista. "É na ha hora do porre, na hora do oba-oba. Não sei dizer. É muito do impulso. Ninguém vai ao meu consultório para ouvir quais devem ser suas preferências sexuais ou para ouvir discurso careta. Mas se vão ter relação, usem preservativo. Se proteja e proteja seu parceiro."
E concluiu: "sobre monogamia, não adianta ser babaca. Não adianta inventar discurso que não vejo no dia a dia. Não posso ser hipócrita; tenho que falar o que enxergo."
Drogas contra disfunção erétil e Aids
O dr. David Uip contou que drogas contra disfunção erétil, consumida por homens da terceira idade mas também por jovens que pretendem "melhorar a performance", contribuem bastante para o aumento da Aids.
"Os homens de 60, 70, 80 anos estão usando. Eles renasceram. Só que não combinaram com as suas mulheres. Imagine um relacionamento de 50 anos de casado, de repente o homem fala 'estou pronto'. Como é esta conversa? Não há. É algo que a sociedade precisa discutir. Este homem vai em busca de alternativas, porque a mulher não tem possibilidade de usar drogas desse tipo, e muitas vezes o relacionamento sexual com o marido, depois de 50 anos, não é o mesmo."
Ele explicou que o uso de remédios como Viagra está expondo o homem, o homem está se contaminando e está contaminando a mulher. "Ele está adquirindo Aids e outras doenças nas relações extraconjugais. Isso é algo que ninguém comenta, que não está escrito."
Segundo David Uip, o homem que usa remédio contra disfunção erétil não usa camisinha por medo de brochar. "Mas com o medicamento não vai brochar. Já que garantiu que não vai brochar, por que não usa camisinha? Porque não foi treinado a usá-la. Muitas vezes aquele fetiche do momento não está claro e ele não quer pôr a camisinha por medo de brochar."
Além disso, lembrou, a parceira também não exige. "Se estão casados há muito tempo, como a mulher vai exigir que use camisinha? Ou é porque ela está desconfiando dele ou é porque aprontou. Como se discute isso?"
Infidelidade feminina
O infectologista foi claro ao dizer que as mulheres estão tão infiéis quanto os homens. "Não quero eximir as mulheres, pois muitas mulheres casadas estão tendo relações extraconjugais. Não tenho nada contra, mas ponha camisinha no parceiro."
Ele contou ao UOL News que o número de homens contaminados pela Aids não é maior porque é mais difícil o vírus passar de mulheres para homens.
"A proporção era de 40 para 1 e hoje é de 1 para 1. Se mulheres passassem tanto, teríamos um número de homens mais expostos. Mas, como o homem passa mais, aumenta o número de mulheres e de homens." Lillian Witte Fibe perguntou se é mais ou menos assim: "o homem com uma mulher infiel corre menos risco do que uma mulher com um homem infiel". Resposta: "por problemas químicos e biológicos, não por atitude."
Ao mesmo tempo, disse o médico, corre outros riscos, de pegar outras doenças - HPV, Gonorréia, Sífilis, Hepatite B, Herpes... "Doenças que levam as mulheres à esterilidade. Todas as infecções genitais que culminem com infecções pélvicas podem levar à esterilidade feminina."
Atuação do governo federal
Ele disse que o Brasil tem um bom programa de Aids, mas vê uma certa burocracia no que diz respeito aos recursos. "O programa brasileiro é competente, é inclusive referência, mas tem um problema: acho o orçamento para a Aids um pouco engessado demais."
Segundo o especialista, não dá para acompanhar o ritmo da medicina sem dinheiro para gastar. "A saúde fica cada vez mais cara. Para se estar hoje no primeiro time você precisa, em termos de diagnóstico, investir em novos aparelhos, que caem em "desuso" depois de um ano. O investimento na área de saúde, do ponto de vista de diagnóstico, é muito grande. O investimento de novas drogas e muito grande. A saúde fica cada vez mais cara e é preciso buscar novas formas de financiamento."
Antes de mais nada, disse David Uip, é preciso garantir que o dinheiro para a saúde chegue no seu destino, o que segundo ele é uma aventura. Ele acha que uma alternativa seria permitir que hospitais públicos atendam pacientes com planos de saúde, e ganhem dos seguros por isso.
"O hospital público tem que ter o direito de cobrar, mas ainda tem um pouco de aversão a isso. O Incor é uma exceção. Hoje, 20% dos atendimentos do Incor são atendimentos de convênios e particulares. É uma fonte de receita. Ajuda ao atendimento 80% do SUS."
E completou: "é muito simples: tenho um plano de saúde e quero ser atendido no Incor porque acho que é um dos melhores do mundo em cardiologia. Por que o Incor não vai cobrar do plano que eu paguei a vida toda? Não tem sentido."
Uip explicou alguns números do Incor: "20% dos atendidos têm plano de saúde ou têm convênios. Isso representa 50% das receitas dos atendidos. Com 80% dos atendidos SUS, eu consigo 50% da receita. E com 20% dos atendidos de particulares consigo outros 50%, mais o orçamento do Estado. Tudo o que eu atendo para o SUS me custa três vezes o que o SUS me remunera, porque o SUS não consegue remunerar o país inteiro. E eu trabalho com tetos. Em alta complexidade, tenho teto para atender. Se atender mais, eu pago, eu instituição. Isso precisa ser revisto."
Segundo o infectologista, a sociedade é preconceituosa e não quer atendimento de particulares em hospitais públicos. "O truque é o seguinte: dar ao atendido pelo SUS e pelo que tem convênio o mesmo direito, a mesma fila. Costumo dizer que os hospitais do Incor não têm classe turística. Tem executiva e primeira classe. O que importa é que o passageiro vai chegar no mesmo destino e quem pilota o avião é o mesmo comandante."
Hepatite C
O infectologista afirmou que é preciso sim se assustar com a hepatite C. Ele contou que há hoje no mundo 170 milhões de pessoas com a doença. No Brasil, são cerca de 3 milhões, 4 milhões de pessoas. "Números subestimados", explicou.
Segundo Uip, dos 170 milhões de infectados, 70%, 80% terão a forma crônica da doença, que é a silenciosa. Dos 70%, 80%, 20% evolui para cirrose e 8% para o câncer de fígado. O resto, que é pouco, cura espontaneamente.
"Tem cura. Hoje você trata com duas drogas: o interferon associado à ribavirina; dependendo do biótipo, tem mais ou menos chance de cura. Mas são tratamentos muito caros. Um tratamento anual (necessário para tentar a cura) custa R$ 48 mil." David Uip disse que 90% dos problemas com a hepatite C o paciente consegue resolver com hábitos de higiene.