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Com raríssimas exceções, não consigo mais sentir qualquer emoção em entrar numa sala comercial como quem entra em uma consulta médica, tirar a roupa, transar e ir embora. Principalmente, sabendo que aquele ato é rotina para a profissional que me atendeu. Eu sairei e outro entrará. Não dá, a velhice me amputou das ilusões e a minha libido decaiu.
Há, porém, exceções. Mulheres que sabem seduzir. Pouquíssimas, mas há. Lavínia é uma delas.
Desde que fui diagnosticado tardiamente com grau de autismo, compreendi melhor a minha face antissocial. Celibatário desde sempre, sem filhos, morando sozinho, aprendi a gostar da solidão, do silêncio. Já não me é mais possível a experiência do amor romântico, mas sou aberto às paixões fugazes. O problema é encontrar mulheres capazes de provocar o turbilhão de emoções e prazeres que despertem a fugacidade de uma paixonite. Mulheres assim, sejam profissionais ou não, estão à beira do desaparecimento.
Lavínia está entre as flores raras.
BÁSICO INSTINTO
Sincronizado com os meus aparelhos auditivos, Fausto Fawcett e a Falange Moulin Rouge tocavam “Básico Instinto” nos meus ouvidos e eu atravessava a amplidão da noturna Cinelândia em busca de um boteco que me oferecesse uma “cracudinha” de cerveja.
Sou uma alma suicida, não posso beber e bebo, não posso comer certas iguarias e as devoro, não deveria andar em certos locais e ando. A vida é breve e seria insossa se aceitarmos contenções.
Aportei em um botequim na rua Alcindo Guanabara, ao lado do histórico Teatro Dulcina. Sentei-me, bebi, contemplei o cenário e pesquisei sobre opções de mulheres que pudessem me atrair e me atender naquele horário, perto das 22h.
Encontrei uma que me pareceu interessante pelas curvas que exibia em uma tal “mídia de comparação”. Digo honestamente, essa “mídia de comparação” deveria ser obrigatória em todos os sites de anunciantes, é um vídeo em que a mulher precisa se mostrar de forma natural em 360 graus, aí se vê a incrível disparidade de imagens entre as fotos e o vídeo que as mulheres são obrigadas a colocar para validação do anúncio.
Fiquei em dúvida entre uma loirinha do AA37 bem falada nos fóruns e a Lavínia. A loirinha quase colocou meu pênis numa cápsula criogênica, de tão gélida que foi a conversa pelo zap. Escolhi Lavínia, que é objetiva sem ser fria, não possuía relatos em fóruns, mas colecionava boas referências no site. Graças a Agronopólos — o Deus dos libertinos da terceira idade — dei sorte, muita sorte.
Chegando à sombria rua Evaristo da Veiga, devido a hora, precisei aguardar que ela descesse para liberar a minha entrada na portaria do prédio. Rosto simpático, sorriso luminoso, cabelos longos e um corpo... um corpão escultural... um corpaço. Emoldurada em um vestidinho justo e curto, ela me puxou pela mão até o elevador e subimos. De cara, reparei que a menina era uma graça, afetuosa e espontânea.
Quando abriu a porta da sala, meus olhos precisaram de alguns segundos para se adaptar à meia luz. O espaço é amplo, limpo e confortável. A bela Lavínia perguntou-me se eu queria uma ducha e me entregou uma toalha ensacada.
De volta, após o banho, encontrei a menina coberta apenas por uma sumária lingerie. O corpo, que antes me pareceu escultural, agora, seminu, se exibiu escandalosamente impecável. Um latifúndio de pecado. A mulher é um tesão.
Não se fez de rogada, beijou-me a boca com língua, saliva, lábios enroscados. Minhas mãos apalpavam o volume firme dos glúteos de Lavínia. Traduzindo: eu apertava aquela bunda majestosa com força e fome.
Peço que a garota se deite, mamo longamente os seios esfericamente perfeitos, saco o meu aparelhinho de eletrochoque e o coloco sobre o clitóris. A moça geme, diz que está gostoso, pergunta onde comprei o apetrecho, fica inteiramente molhada, úmida, e goza generosamente sob o meu domínio.
Lavínia percebe a minha pequena manifestação fálica, a sombra do meu pau semiereto, e cai de boca num boquete habilíssimo, me engole em uma série de gargantas profundas, sobe para lamber meu tórax, me alisa inteiro, me lambe, chupa me masturbando. Delírio tropical.
Saca magicamente uma camisinha e consegue encaixá-la no meu combalido pênis, monta sobre ele com a bunda virada para os meus olhos e quica, rebola, esfrega, geme. Por Zeus. Por Agronopólos. Quase pedi clemência.
Não satisfeita, ela vira de frente, monta outra vez e me impinge os mesmos movimentos. Eu estava prestes a gozar, mas me pareceu que ela queria a seiva em sua boca. Volta a me chupar, me masturbar, me lamber e chego à conclusão que resistir é inútil.
Meus espermatozoides saltaram em festa, felizes, como se bailassem ao som do ABA, vagando na abstração atmosférica, buscando o aconchego de algum útero, até fenecerem com o choque na concreta realidade. Luto e silêncio pelos guerreiros abnegados que mais uma vez deram a vida pelo meu prazer transitório.
ABA
Eu e Lavínia conversamos um pouco e me despedi com a promessa certa de retornar. Saí do prédio e segui para a esquerda, em direção à notívaga Lapa. Logo avisto os Arcos como quem visse o Sol. O Sol dos boêmios. O Sol da volúpia. O Sol dos degenerados. O Sol que não ofusca as estrelas. O Sol da liberdade que somente é possível enxergar sob o manto escuro da noite.