https://nonono.ph/2021.05.10-132206/ht ... om.br/cida
Caía a tarde na bolorenta rua Senador Dantas. Eu havia cometido a insanidade de assistir ao filme ¨Deadpool e Wolverine¨, que de tão banal quase me deprimiu. Para reagir, acessei os anúncios eróticos, arremessei o dedo a esmo e deixei que o destino fizesse a escolha: deu Cida.
Chamei no zap e perguntei se ainda teria algum horário disponível.
— Tenho agora! Não sei se dá tempo para você chegar.
— Só dá. Passa o endereço — respondi.
O prédio é um antigo conhecido de todos nós, ali mesmo na Senador Dantas. Procurei pelo elevador que me conduziria ao andar indicado por Cida, esperei uns minutos para que chegasse e subi.
Vi a Cida somente uma única vez, num dos encontros do Arena. Quando ela abriu a porta, confirmei boa impressão que tive no primeiro contato. É agradável e tem o charme da maturidade. Rosto simpático, sorriso acolhedor, pernas bem torneadas e seios que fazem a festa de quem gosta de esferas perfeitas. Um corpo suculento.
Entro na pequena sala limpíssima, atravesso a penumbra, e a menina me recebe com um beijo envolvente.
— Finalmente estou conhecendo a famosa Cida, celebridade do fórum — iniciei o script.
— Famosa, eu?! E quem é você?
— Dante. Meu nome é Dante.
— Ahh! Famoso é você.
— Que nada. Sou decadente, velho, alguns afirmam que sou brocha e, além disso, estou com problemas mecânicos que impedem o meu bom funcionamento.
Cida ri e emenda outro diálogo...
— Quer um café? — me pergunta.
— Não, obrigado.
— Água?
— Não, não...
— Um suco? — ela prossegue.
— Não precisa. Obrigado.
— Tem bolo. Aceita?
— Tô de boa.
— Um chá?
— Não, não. Tá tranquilo.
Neste ponto, cheguei a pensar que o novo negócio da Cida fosse confeitaria. Cida é uma simpatia e se eu soubesse que haveria tantas guloseimas para experimentar, não teria almoçado.
Ofereceu-me uma massagem preliminar, aceitei. Na cama, ela me aplicou pressões suaves com as mãos, um carinho relaxante. Peço que tire a roupa, ela me atende e exibe a sua exuberância física. Enredamo-nos em beijos, amassos, sarradas e sucção nos seios. A mulher avança subitamente sobre o meu combalido pênis e inicia um boquete dedicado, daqueles com sede de seiva.
Inverti a ação e fui babar a vagina da garota, porque velhos não chupam, eles babam. Então, este velho escriba se perdeu na umidade extravagante do clitóris de Cida, talvez ela tenha gozado. Gemidos são sempre enigmas.
Cida volta a castigar minha a pequena manifestação fálica com os lábios, com a língua, com a boca inteira. As ondas vulcânicas vêm e vão, mas não gozo. Como um novo adepto da mais consagrada religião dos homens de terceira idade, aderi à masturbologia. Pedi que a menina me tocasse uma punheta.
Habilíssima, Cida conseguiu extrair até parte da minha alma quando gozei. Espermas voaram por todos os lados em respingos atônitos, no desespero inútil de se abrigarem em algum óvulo desavisado, mas só encontraram a aridez hostil da atmosfera. Feneceram todos, sem conhecerem o belíssimo ato da reprodução.
Atualmente, quando gozo, faço um minuto de silêncio, entro em luto para homenagear esses guerreiros maratonistas que oferecem a vida em vão somente para satisfazer os caprichos da minha crepuscular libido.
Sem mais, eu e a doce Cida nos despedimos com beijos e abraços.
— Não quer mesmo um bolo? — insiste a querida Cida.
— Estou gordo, melhor não.
Cida abre a porta e me embrenho pelos corredores labirínticos antes de ganhar as ruas.
Após deixar a Cida, talvez arrependido por não ter provado o café, lembrei-me da Xuxa e um grande sucesso do passado reverberou na minha mente:
¨Doce, doce, doce
A vida é um doce, vida é mel
Que escorre da boca feito um doce
Pedaço do céu...¨
E a vida seguiu, refletida nos rostos amargos daqueles que caminhavam em direção ao metrô.