Mal a garota respondeu minhas perguntas e deu o sorrisinho protocolar, eu disse que iria dar um tempo, tinha umas coisas a resolver voltava logo. Praticamente corri para a porta do privê e alcancei a esquina mais próxima, que topava com uma movimentada avenida. A noite de sábado ainda estava no começo, a chuvinha fina e uniforme não arredava. Mas eu estava animado e cheio de energia: a rádio-patroa estava longe, tinha uma grana na carteira, suficiente para fazer a noite ser boa, sem chegar a inesquecível. Então, por que tinha saído tão apressado do casarão amarelo? A auto-nomeada Cláudia era bonita, sem ser uma deusa, os peitos eram grandes e firmes, a bunda que a calça indecente insinuava pedia por umas belas lambidas ou coisa mais agressiva, o sorriso ficara gravado na minha mente perversa. Então, que porra de impulso obscuro me empurrara para fora, misturar-me ao bulício da noite? Eu tinha me despachado para aquele pedaço da Vila Mariana, tão repleto de puteiros, para escolher uma mulher bonita e gostosa, passar uns minutos agradáveis com ela e dar uma bela gozada. Se tinha apreciado aquela falsa loira apetitosa, por que estava ao relento, tomando chuva? Que caralho, estaria condenado a quase sempre fazer uma merda qualquer, antes de consumar o abate, fosse com puta, mulher “de bem” (ser folclórico no qual não acredito mais) conquistada na balada, ou a buceta que fosse?
Decidi que era meu ancestral costume de conferir todas as opções existentes de um cardápio de experiências e emoções, antes de escolher uma delas, sob pena de mais tarde, nas horas e dias seguintes, me culpar de não ter conhecido tudo que há para conhecer. Ah, maldita época entrulhada até o fundo do rabo de opções e informações, que fazem nos sentir um pateta que nunca aproveita tudo que existe de bom nessa vida putanheira! Sim, era isso: e se houvesse, ali nas redondezas, mulher melhor que a Cláudia, prontinha a cavalgar o primeiro pau que aparecesse?
Assim, mais ou menos conformado com a explicação que montara meio de improviso, enquanto esperava o sinal abrir, repassei mentalmente quatro outros privês para visitar.
Para alcançar os dois primeiros, a boa e velha camelagem era descabida até para um pseudo-aventureiro experiente como eu. Parei um táxi e mandei o motorista me largar ao lado do templo ao consumo da Santa Cruz. Visitei dois antros, velhos conhecidos da facção paulistana da ilustre corja que freqüenta esse ilustre espaço eletrônico – a saber, Fetiche e Magia e Otonis 541 - e, para citar um bela definição que li nesse inesgotável repositório da sabedoria humana que são as Crônicas do GP Guia, me vi em um “mar de dragões” no primeiro e em um vazio de mulheres no segundo. A peregrinação em busca da xota ideal teria de continuar. Não me abati ao ver que a chuva continuava, voltei à rua principal e entrei em outro carro branco, enquanto tentava lembrar onde os dois próximos erguiam-se imponentes e atraentes.
A memória já não era (é) mais a mesma, ou a porra, ansiosa por jorrar, já estava subindo à cabeça de cima e prejudicando o funcionamento desta; o fato é que dei instrução errada e me vi um tanto longe da esquina em que deveria ter aportado. Pior: mal lembrava onde a maldita era, como chegar lá. A chuva engrossou, como que para enaltecer minha bisonhice, o que me obrigou a buscar abrigo no toldo de uma loja, que era nada menos que um sebo, ainda aberto às quinze para as oito da noite. Fui até a aparente dona, sentada atrás do balcão e perguntei por rua tal. Muito gentil, ela se levantou, foi até a porta do seu estabelecimento e me indicou com precisão de cartógrafa onde era a bagaça. Agradeci e dei uma última olhada no sortimento de cultura que era o conteúdo da loja. Por um instante fui tomado pela tentação de percorrer as estantes e escolher um ou dois títulos. Um urro interno do desejo calou e despachou para longe meu lado intelectual e lembrou muito bem: eu caíra na noite para alimentar os desejos do corpo, não do espírito, embora este último seria igualmente alimentado pela putaria que, esperava, aconteceria em breve. Outro pensamento, esse de envergonhar, ocorreu: jamais, em todos os anos de visitas, espiadas, idas e vindas a puteiros, privês, inferninhos, swing etc, vira um sujeito entrar no lugar carregando um Dostoiésvski ou um Kafka. Não seria eu o primeiro a realizar tal bizarrice.
Agradeci e apressado voltei à chuva. Alcancei os dois puteiros sem dificuldade e erro, mas logo lamentei que a solícita comerciante conhecesse tão bem a vizinhança: aquelas coisinhas magrelas, sem graça ou alegria, preocupadas exclusivamente em me empurrar cerveja vagabunda e morna e em parecerem o que nunca seriam, lindas e gostosas, me causaram tamanho desânimo que provocaram o que nem mesmo as “ladys” de vinte minutos atrás tinham conseguido: me sentir um total pateta por ter deixado Cláudia para trás. De que buceta de idealismo juvenil barato eu tirara a convicção de que acharia mulher melhor que ela nos puteiros da Vila Mariana, Jaba City e vizinhanças?
Sai do puteiro, o quinto que tinha visitado em mera uma hora e me piquei de volta para o começinho da Avenida Jabaquara. A rua estava bem estranha, no trajeto de retorno. Continuava tão vazia e quieta como há minutos – tirante o som da chuva ¬–,mas parecia bem mais escura e sinistra. Deixemos os significados ocultos de lado, pois isso é crônica, não tratado esotérico barato.
De volta àvenida, o movimento de pessoas e veículos parecia me dizer que já tinha gasto muito dinheiro naquela peregrinação. Nada de bancar o fodinha e adentrar outro carro branco, afinal eu estava bem longe de ser um cavaleiro intrépido que ia salvar uma donzela inocente, e que chegaria triunfal em um cavalo ou catzo que fosse, da cor símbolo da pureza; eu não era um cavaleiro honrado e donzela, nessa história, cai tão bem quanto um peido no ápice de uma foda.
Assim, peguei um ônibus e me mandei de volta para o ponto de partida de minha aventurazinha noturna, ansiado que a loirinha peituda ainda estivesse disponível, que nenhum outro putanheiro tivesse arrebatado-a por uma hora ou mais, que ainda estivesse prestando serviços sexuais e não indo para um merecido descanso da putaria.
Pois bem. Passei mais uma vez portal do mundo secreto e lá estava minha musa daquela noite, largada no sofá, pernas cruzadas e peitos pulando para fora da blusa. Ela me olhou com um olhar de sabichona, de mulher da vida, na mais completa e sem-vergonha acepção do termo, abriu um sorriso de quem já tinha visto tal situação muitas vezes. Levantou-se sem pressa, veio até mim e fez a pergunta-convite:
– Vamos lá?
Tanta tensão e expectativa poderiam ter estragado a trepada – leia-se: produzir uma bela duma brochada e ferrar com toda a noite – Mas a perva sabia das coisas e me fez relaxar rapidinho e do jeito certo. Logo eu esfregava o bimbo nos peitos dela, enquanto ela o engolia, montava nela enquanto ela elogiava minhas dimensões penianas – claro, não com essa elegância de linguagem– e fez a meia-hora valer toda a grana gasta. Antes de sairmos do quarto, ainda permitiu um beijo, embora meio ligeiro.
E então, de volta à avenida, tomando o rumo de casa, para tomar um banho, descansar e certamente partir para um outro tipo de putaria ou busca por tal, veio a iluminação cósmica, a revelação putanho-mística sobre eu mesmo e minha baixa e venerável raça que esclareceu tudo. Os deuses do sexo selvagem e descompromissado, da lascívia incontida, da melecagem sem moralismos ou traumas, as deusas com suas xanas infindáveis e insaciáveis, todos me brindaram com a revelação de sabedoria putanhística que fechou a noite e a explicou: este cronista que vos escreve não dera a bela embaçada, antes de comer a perva loira porque era idealista barato, besta ou as duas coisas juntas. N-~-a-o. Fora o prazer de uma hipotética caçada, de fingir se aventurar na noite, de percorrer alguns quilômetros, de correr riscos como perder a gostosa que primeiro lhe interessara, de ser visto por alguma amiga delatora e frustrada da rádio-patroa e cair num belo B.O., fora o prazer de arriscar-se um pouco, já que na primeira tentativa dera de cara com um belo exemplar do mulherio, que o levara a andar que nem uma besta para lá e para cá. Pois putanheiros, nós somos guerreiros noturnos, os verdadeiros, e nossa espada flamejante, apesar de em riste apenas nas alcovas, sempre está ativa e guia nossas gestas e sagas, mesmo quando dormentes e flácidas. Pois putaria com alguma demora e risco sempre tem mais sabor, isso as divindades putanhísticas pareciam me dizer, enquanto eu me molhava na rua, feliz e satisfeito.
Decidi que era meu ancestral costume de conferir todas as opções existentes de um cardápio de experiências e emoções, antes de escolher uma delas, sob pena de mais tarde, nas horas e dias seguintes, me culpar de não ter conhecido tudo que há para conhecer. Ah, maldita época entrulhada até o fundo do rabo de opções e informações, que fazem nos sentir um pateta que nunca aproveita tudo que existe de bom nessa vida putanheira! Sim, era isso: e se houvesse, ali nas redondezas, mulher melhor que a Cláudia, prontinha a cavalgar o primeiro pau que aparecesse?
Assim, mais ou menos conformado com a explicação que montara meio de improviso, enquanto esperava o sinal abrir, repassei mentalmente quatro outros privês para visitar.
Para alcançar os dois primeiros, a boa e velha camelagem era descabida até para um pseudo-aventureiro experiente como eu. Parei um táxi e mandei o motorista me largar ao lado do templo ao consumo da Santa Cruz. Visitei dois antros, velhos conhecidos da facção paulistana da ilustre corja que freqüenta esse ilustre espaço eletrônico – a saber, Fetiche e Magia e Otonis 541 - e, para citar um bela definição que li nesse inesgotável repositório da sabedoria humana que são as Crônicas do GP Guia, me vi em um “mar de dragões” no primeiro e em um vazio de mulheres no segundo. A peregrinação em busca da xota ideal teria de continuar. Não me abati ao ver que a chuva continuava, voltei à rua principal e entrei em outro carro branco, enquanto tentava lembrar onde os dois próximos erguiam-se imponentes e atraentes.
A memória já não era (é) mais a mesma, ou a porra, ansiosa por jorrar, já estava subindo à cabeça de cima e prejudicando o funcionamento desta; o fato é que dei instrução errada e me vi um tanto longe da esquina em que deveria ter aportado. Pior: mal lembrava onde a maldita era, como chegar lá. A chuva engrossou, como que para enaltecer minha bisonhice, o que me obrigou a buscar abrigo no toldo de uma loja, que era nada menos que um sebo, ainda aberto às quinze para as oito da noite. Fui até a aparente dona, sentada atrás do balcão e perguntei por rua tal. Muito gentil, ela se levantou, foi até a porta do seu estabelecimento e me indicou com precisão de cartógrafa onde era a bagaça. Agradeci e dei uma última olhada no sortimento de cultura que era o conteúdo da loja. Por um instante fui tomado pela tentação de percorrer as estantes e escolher um ou dois títulos. Um urro interno do desejo calou e despachou para longe meu lado intelectual e lembrou muito bem: eu caíra na noite para alimentar os desejos do corpo, não do espírito, embora este último seria igualmente alimentado pela putaria que, esperava, aconteceria em breve. Outro pensamento, esse de envergonhar, ocorreu: jamais, em todos os anos de visitas, espiadas, idas e vindas a puteiros, privês, inferninhos, swing etc, vira um sujeito entrar no lugar carregando um Dostoiésvski ou um Kafka. Não seria eu o primeiro a realizar tal bizarrice.
Agradeci e apressado voltei à chuva. Alcancei os dois puteiros sem dificuldade e erro, mas logo lamentei que a solícita comerciante conhecesse tão bem a vizinhança: aquelas coisinhas magrelas, sem graça ou alegria, preocupadas exclusivamente em me empurrar cerveja vagabunda e morna e em parecerem o que nunca seriam, lindas e gostosas, me causaram tamanho desânimo que provocaram o que nem mesmo as “ladys” de vinte minutos atrás tinham conseguido: me sentir um total pateta por ter deixado Cláudia para trás. De que buceta de idealismo juvenil barato eu tirara a convicção de que acharia mulher melhor que ela nos puteiros da Vila Mariana, Jaba City e vizinhanças?
Sai do puteiro, o quinto que tinha visitado em mera uma hora e me piquei de volta para o começinho da Avenida Jabaquara. A rua estava bem estranha, no trajeto de retorno. Continuava tão vazia e quieta como há minutos – tirante o som da chuva ¬–,mas parecia bem mais escura e sinistra. Deixemos os significados ocultos de lado, pois isso é crônica, não tratado esotérico barato.
De volta àvenida, o movimento de pessoas e veículos parecia me dizer que já tinha gasto muito dinheiro naquela peregrinação. Nada de bancar o fodinha e adentrar outro carro branco, afinal eu estava bem longe de ser um cavaleiro intrépido que ia salvar uma donzela inocente, e que chegaria triunfal em um cavalo ou catzo que fosse, da cor símbolo da pureza; eu não era um cavaleiro honrado e donzela, nessa história, cai tão bem quanto um peido no ápice de uma foda.
Assim, peguei um ônibus e me mandei de volta para o ponto de partida de minha aventurazinha noturna, ansiado que a loirinha peituda ainda estivesse disponível, que nenhum outro putanheiro tivesse arrebatado-a por uma hora ou mais, que ainda estivesse prestando serviços sexuais e não indo para um merecido descanso da putaria.
Pois bem. Passei mais uma vez portal do mundo secreto e lá estava minha musa daquela noite, largada no sofá, pernas cruzadas e peitos pulando para fora da blusa. Ela me olhou com um olhar de sabichona, de mulher da vida, na mais completa e sem-vergonha acepção do termo, abriu um sorriso de quem já tinha visto tal situação muitas vezes. Levantou-se sem pressa, veio até mim e fez a pergunta-convite:
– Vamos lá?
Tanta tensão e expectativa poderiam ter estragado a trepada – leia-se: produzir uma bela duma brochada e ferrar com toda a noite – Mas a perva sabia das coisas e me fez relaxar rapidinho e do jeito certo. Logo eu esfregava o bimbo nos peitos dela, enquanto ela o engolia, montava nela enquanto ela elogiava minhas dimensões penianas – claro, não com essa elegância de linguagem– e fez a meia-hora valer toda a grana gasta. Antes de sairmos do quarto, ainda permitiu um beijo, embora meio ligeiro.
E então, de volta à avenida, tomando o rumo de casa, para tomar um banho, descansar e certamente partir para um outro tipo de putaria ou busca por tal, veio a iluminação cósmica, a revelação putanho-mística sobre eu mesmo e minha baixa e venerável raça que esclareceu tudo. Os deuses do sexo selvagem e descompromissado, da lascívia incontida, da melecagem sem moralismos ou traumas, as deusas com suas xanas infindáveis e insaciáveis, todos me brindaram com a revelação de sabedoria putanhística que fechou a noite e a explicou: este cronista que vos escreve não dera a bela embaçada, antes de comer a perva loira porque era idealista barato, besta ou as duas coisas juntas. N-~-a-o. Fora o prazer de uma hipotética caçada, de fingir se aventurar na noite, de percorrer alguns quilômetros, de correr riscos como perder a gostosa que primeiro lhe interessara, de ser visto por alguma amiga delatora e frustrada da rádio-patroa e cair num belo B.O., fora o prazer de arriscar-se um pouco, já que na primeira tentativa dera de cara com um belo exemplar do mulherio, que o levara a andar que nem uma besta para lá e para cá. Pois putanheiros, nós somos guerreiros noturnos, os verdadeiros, e nossa espada flamejante, apesar de em riste apenas nas alcovas, sempre está ativa e guia nossas gestas e sagas, mesmo quando dormentes e flácidas. Pois putaria com alguma demora e risco sempre tem mais sabor, isso as divindades putanhísticas pareciam me dizer, enquanto eu me molhava na rua, feliz e satisfeito.