03/04/2009 - 07:00
As incertezas do setor de máquinas
Coluna Econômica - 03/04/2009
Um dos setores mais afetados pela crise foi o de máquinas e equipamentos. Em geral, é o setor que entra por último na crise e é o último a sair. Mas a violência da crise atual inverteu essa lógica. A queda foi intensa e não foi maior porque parte do setor trabalha com sistema de encomendas. Então continuou produzindo, queimando o estoque de pedidos antigos.
Mesmo assim, há muitas dúvidas sobre o futuro, se já se atingiu o fundo do poço ou não.
Em sua reunião plenária de ontem, a ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) apresentou dados que não permitem chegar a conclusões taxativas.
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Por exemplo, os dados fechados de fevereiro demonstram uma queda de 28,6% sobre fevereiro do ano passado; mas uma elevação de 6,5% sobre janeiro. No ano, a queda acumulada foi de 30,8% embora em 12 meses ainda mantenha crescimento de 10,8%.
Historicamente, o setor exporta 30% de sua produção. No ano, as exportações caíram menos (-9,8%) do que as vendas internas (-39%). Mas as importações cresceram 16,9% - embora também apresentem sinais de arrefecimento.
Com esse aumento das importações, o consumo aparente (vendas internas mais importações) caiu 15,4%,
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Quando se desagrega por setores, dos 11 setores representados pela Abimaq, apenas dois registraram crescimento: válvulas (+10,6%) e bombas e motobombas (+0,7%) ambos puxados pelas compras da Petrobrás.
No extremo inferior as maiores quedas foram de máquinas para madeiras (-68,6%), quinas-ferramenta (-60,2%), máquinas têxteis (-54,6%) e máquinas agrícolas (-50,1%).
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As exportações caíram de 1,7 bilhão de dólares para 1,27 bilhão. Parte se deveu à recessão mundial. Mas parcela expressiva à falta de financiamento interno, informa a Abimaq. Agora, com a relativa normalização do crédito, é possível algumas melhora de desempenho nas exportações.
É curioso que a maior queda tenha sido em máquinas para petróleo e energia renovável, com queda de 61,9% em relação a fevereiro do ano passado.
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Embora acredite que se tenha batido no fundo do poço em fevereiro, a própria Abimaq prevê um aumento no número de demissões. Em relação a outubro de 2008, houve a redução de 12.178 pessoas, no quadro de 242.256 empregados do setor. Ocorre que as empresas estão trabalhando com contratos antigos, queimando sua carteira de pedidos e não tem havido a reposição de pedidos na mesma proporção. Há a possibilidade do número de desempregados aumentar bastante nos próximos meses, caso não haja uma reativação da economia.
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Mesmo se houver recuperação, não haverá maneira de reverter a queda da produção deste ano, em comparação com o ano passado.
Em 2008 a carteira correspondia a uma média de 19,2 semanas de trabalho. Agora, caiu para 18,2 semanas.
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Ao contrário de outras entidades de classe, a Abimaq se aproximou das centrais sindicais para unificar as reivindicações. Graças a isso, conseguiu aumentar seu poder de fogo junto ao governo. Nos próximos dias é provável que consiga derrubar o decreto do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) que acabou com a análise prévia para importação de máquinas usadas.