O Putanheiro e o Mar - Autor: Fortimbrás

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O Putanheiro e o Mar - Autor: Fortimbrás

#1 Mensagem por Fortimbrás » 23 Mar 2009, 20:31

Há algum tempo atrás, um putanheiro conhecido de alguns dessa parte do guia resolveu que era tempo de fazer um cruzeiro marítimo, com sua mulher e sua sogra, Mimi e dona Aracy, respectivamente. E, com um olhar distante, como se estivesse olhando para o além, com os olhos marejados, fez essa sugestão às duas, que tomavam café na sala, enquanto ele procurava amenizar o clima, para poder dar uma escapadinha com seu brother Dimas rumo ao boteco da esquina, assistir ao jogo depois da novela. Como sempre, conseguiu o que queria.

O sogro, seu Juari, havia abotoado o paletó de madeira há alguns anos antes de tal empreitada e sempre falava que gostaria de fazer uma viagem dessas antes de partir desta para a melhor (no caso dele, não poderia ser para pior, certamente). O fato é que as passagens foram compradas antecipadamente pela velha, assim como a rota também fora escolhida por ela, sempre tendo como parâmetro o que o defunto gostaria de ter feito e não fez. Claro deve estar que a idéia de fazer um cruzeiro não era, exatamente, tudo o que Mendoncinha mais gostaria de fazer na sua vida naquele momento. E o fato de não participar ( ou não ser chamado para isso) da escolha do itinerário também não era algo comum em suas viagens de férias anuais. Naquele momento,porém, fazia vista grossa e olhar de paisagem para qualquer despautério que Mimi dissesse. Poucas mulheres aguentariam o que ela suportou e , com o facho mais sossegado depois de uma presepada recente, estava concordando com todas as vontades dela e , mais que isso, procurando aparentar um entusiasmo juvenil com a viagem que estava longe de sentir.

Era mais ou menos isso o que ia na mente de Mendoncinha naquele momento, em que contemplava o mar aberto ao entardecer, sozinho, esperando por alguém, como veremos a seguir. " Eu sou rei do mundo!!!!!", pensou, sorrindo, enquanto observava indolentemente o vagar das ondas e o som do imenso oceano a sua frente. Por incrível que pareça, no final das contas, a viagem estava sendo até bem divertida, com todas aquelas atrações que esses barcos enormes costumam possuir para entreter os seus clientes. Havia, no entando, um detalhezinho que estava lhe deixando um pouco perturbado : em alguns momentos da viagem, teve a desagradável experiência de ter visto o seu Juari por duas vezes . Em uma delas, pode vê-lo de longe, de sua mesa , onde jantava com a esposa e a sogra. Estava recostado ao bar, tomando uma cerveja, olhando fixamente para ele, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Seu Juari bebia, apontava para o copo e fazia sinal de positivo, com o polegar, como que aprovando a qualidade da cerveja. Como já estava bebaço, no entanto, não fez caso daquela "visão"; pelo contrário, em um determinado momento, ergueu seu copo , simulando um brinde, em direção ao velho espectro que tomava calmamente o seu fogo do outro lado do restaurante. Sua mulher , imediatamente o fulminou com o olhar, imaginando que se tratasse de alguma piranha qualquer. Mendoncinha, no entanto, brindou de novo, apontando para onde estava o seu Juari e murmurando, completamente travado: " Olha só, quem é morto também sempre aparece, meu bem..." Ela olhou , e, como não viu nada que a incomodasse, logo se acalmou, imaginando que fosse mais alguma babaquice de seu ébrio e espirituoso marido.

Naquele dia, porém, foi diferente. Acordara um pouco mais tarde, e percebeu que Mimi e a véia já haviam descido para tomar café. Estava fazendo uma horinha antes de levantar quando viu que a luz do banheiro estava acesa. Levantou-se então para lavar o rosto, quando deu de cara com seu Juari ; estava sentado no vaso, aparentemente cagando, lendo uma das revistas de Mimi. Vendo que Mendoncinha finalmente havia dado conta de sua presença, comentou, sem abaixar a revista:

- Patcha que las corneta, nego... Mas essa Angelita Feijó é uma dona muito da gostosa, hein negão...

- Seu Juari...! Como tem passado? - perguntou, desconcertado, já que era a primeira vez que cumprimentava um fantasma. Não sabia muito bem como se portar.

- Vou levando. Estou aqui a serviço, se é que você me entende, queridão...

- Não entendo, pra ser sincero com o senhor. Mortos não trabalham, seu Juari.

- Quem disse isso, meu filho? Claro que nóis trabalha, nego. Nesse caso , a minha missão é te avisar para ficar naquele lugar onde você esteve ontém, enquanto se escondia da Mimi, que alguém vai te encontrar por lá. Parece que é muito importante, está entendendo? Portanto, hoje de tardinha, dá um jeito de se livrar da jararaca e da cobrinha e espera lá quem quer esteja querendo te encontrar. Trata de não fazer merda dessa vez, entendeu?

- Pode deixar, seu Juari. Agora, se o senhor não se importa, eu vou descer para tomar o café, as duas devem estar me esperando lá embaixo...

- Não conta muito com isso, negão. Mas vai lá. E fecha essa porta que agora eu vou dar uma cagada que vai sair daqui de dentro pelo menos um Marcelinho Carioca, meu filho.

Isso havia ocorrido naquela manhã. A qualquer momento, alguém iria aparecer por ali, conforme as instruções de seu sogro. Logo, o contato do além dera o ar de sua graça: e era uma das garçonetes do restaurante, uma tiazonha já com seus cinquentão e com tudo em cima, aparentemente.

- Olá,senhor Mendonça. - disse com voz rouca. - O tempo urge, e preciso lhe explicar em poucas palavras o motivo de minha presença aqui. Por isso, escute com toda a atenção , porque, provavelmente não conseguirei repetir, entende? - falava com uma voz que poderia ser muito bem a da Nair Belo.

Medocinha anuiu com a cabeça, olhando fixamente para o decote da mulher. Tinha ainda uma peitaria de responsa, a tia.

- Essa porra aqui vai afundar. Iremos a pique daqui há poucos minutos. Nesse exato momento, um demente qualquer está sabotando as máquinas e plantando uma bomba que vai abrir um buranco enorme na proa dessa banheira . Saca o Titanic? Vai ser mais ou menos igual, mas não vai ter gelo e nem inglesa gostosona dando mole, nem o navio vai dar aquela embicada animal que tu viu no filme . Nem vai ter aqueles doidão tocando violino . O pessoal da banda, pelo que sei, vai ser um dos mais desesperados para dar área daqui. Os inseto vão dar uns mortal acrobático que nem os atleta de salto ornamental das olimpíada, você tá me entendendo?

Mendocinha ia perguntar o que a dona fazia ali lhe contando tudo aquilo , ao invés de tomar as medidas necessárias para impedir a tragédia. Mas como a tiazinha parecia ir se exaltando a medida que falava, achou melhor calar, por enquanto.

Ela , no entanto, logo replicou sua pergunta imaginária, como se pudesse ler nos seus olhos o que estava pensando.

- Não adiantaria nada. Além do mais, o cara ali iria certamente se vingar de mim de alguma forma bem desprezível. Se eu colaborar , acho que vou ter uma morte mais tranquila. Você sabe de quem estou falando, né? - perguntou, apontando pra cima com visível irritação.

- Não sou religioso, querida.

- Nem eu. Isso aqui é tudo uma fachada, um universo paralelo, onde aquele sociopata se diverte. Logo, o barco afundará e você não vai lembrar de nada, acordará semi nu em uma ilhota qualquer, com um monte de puta aborígene ao seu redor, uma mais gostosa que a outra, todas loucas pra chuparem o seu pau. E nós, que não faremos mais parte da história cretina dele, morreremos todos afogados... - nesse momento ela voltou a olhar o céu de forma ainda mais desafiadora - Gordinho filha da puuuuuuuuuutaaaaa!!!!!!!! - e emendou apontando o dedo médio em direção às nuvens, que apresentavam a estranha forma de uma pera calva...

- Que é que tu andou bebendo, minha tia? Eu também quero...

- Eu sei o que você nem imagina , fio... Nesse momento, o gordinho está lá, suando, digitando aquele latop furiosamente, pensando no que vai inventar no parágrafo seguinte. É um egoísta de merda!!!! Eu não pedi pra esse corno me inventar e , agora, serei obrigada a engolir água salgada até virar merenda de tubarão...

Mendoncinha, olhava para a tia, que agora estava realmente muito puta, vermelha, com as veias do pescoço saltando e tudo mais. Estava com um tesão desgraçado, um tanto quanto chapado e não pensou muito antes de mandar essa:

- Tia, com todo respeito, não me leve a mal não. Mas, já que o mundo vai acabar e tudo mais, será que a senhora não poderia fazer alguma coisa pra me ajudar? - disse enquanto apontou para o pau. - Sério mesmo, tia. A coisa tá feia, minha mulher mal fala comigo, estou viajando com a porra da minha sogra e os carai... Aquela velha não deixa a minha mulher um minuto, entende? Chata pra caralho...Tá foda,tá foda... Eu preciso meter, minha filhinha, sabe como é? Pelo menos um chupetol, qualquer coisa...

A tia , ao ouvir aquela conversa de bêbado insano, esboçou um sorriso e, logo depois, consultou o relógio. A seguir, emendou, aparentando sentir algo entre o enfado e a resignação:

- Não há mais tempo pra isso, Mendoncinha. Agora, só há tempo para morrer.

Disse isso, virou as costas e se afastou. No mesmo momento, as luzes do navio se apagaram. Imediatamente, um murmúrio iniciou-se e aumentava em diapasão a medida que a escuridão persistia. O barco estancou. Mendoncinha viu uma formação de patos voando muito próximo ao barco. O vento pareceu esfriar, mudar de direção e soprar com uma certa violência um ar gelado que parecia não existir até então, naquela noite agradável de verão.

E depois, uma forte explosão. Forte, muito forte, a ponto de arremessá-lo a uma altura enorme para o mar aberto, cada vez mais revolto. Enquanto voava , literalmente, Mendoncinha lembrou-se das palavras da garçonete, que mencionava um ser gorducho, que parecia ter controle total sobre tudo e todos , como se fosse uma espécie de Deus, ou o próprio Deus.

E foi a ele que direcionou seu último pensamento, antes de chocar seu corpo redondo de encontro as ondas revoltas que cercavam o transatlântico em chamas que ia a pique:

- E agora? Vai ser assim mesmo?

Talvez essa seja uma pergunta recorrente dos desenganados às portas da morte, quando os mesmos conseguem ter a sanidade necessária e o tempo para formulá-la.

Momentos depois, Mendoncinha recobrou os sentidos em uma praia próxima ao local do naufrágio.

Não havia o menor sinal de índias tesudas por perto.

Acordou , ou melhor, foi ressucitado por um salva vidas negrão, de uns dois metros de altura, que lhe fazia massagens cardíacas.

Pouco tempo depois, passado o susto, ao perceber que tanto sua mulher quanto sua sogra estavam milagrosamente bem, pensou no que a garçonete disse, segundos antes da explosão.
Em um prmeiro momento, lamentou que não ocorrera o encontro dele com as índias e toda aquela coisa. Chegou até a especular sobre uma possível situação de castigo por conta disso. Pensando melhor, no entanto, percebeu que recebera , de certa forma, um destino que não poderia ser considerado um completo desastre.

Afinal de contas, o salva vidas poderia tê-lo salvado com uma respuiração boca a boca.

Toda vez que pensava nisso, olhava para o céu e agradecia àquele ser a sua imensa benevolência
Editado pela última vez por Fortimbrás em 29 Mar 2009, 15:05, em um total de 2 vezes.

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#2 Mensagem por General » 24 Mar 2009, 09:46

Já não era sem tempo do Mendoncinha - o marujo, dar as caras novamente.
Agora, este texto é de uma incoerência tremenda, pois foi atribuído a Deus o estereótipo robusto, gorducho. E como todos sabem, gordo não serve para ser chefe, imagina Deus..

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#3 Mensagem por Peter_North » 24 Mar 2009, 21:50

Genial Fortim! Gostei muito, muito. Roubei uma assinatura nova daqui.

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#4 Mensagem por Dr._Gori » 25 Mar 2009, 09:26

Ow general sou gordo e sou chefe!

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#5 Mensagem por Tricampeão » 28 Mar 2009, 23:55

O Mendoncinha é um exemplo de caráter. Basta comparar sua atitude perante a aparição de um fantasma com a daquele bundão do Hamlet.
Muito boa crônica. Será que todos que criamos mundos imaginários somos sociopatas?

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#6 Mensagem por Fortimbrás » 10 Abr 2009, 23:17

Obrigado, amigos, pelos cometários.

General, a sua teoria , apesar de interessante e bem formulada, tem alguns furos. Como o Paivinha, por exemplo, que pode te dar um ou dois conselhos sobre investimentos que só mesmo um gordo chefe poderia fazer. E, é claro, Deus. Creio que não paire maiores dúvidas a respeito de sua aparência: é homem, com a pinta de uns cinquenta anos, com barbas e cabelos cor de prata, usando aquela tunica branca, um cajado na mão direita, sentado em seu trono, em meio às nuvens. E é gordo. E pândego.

Obrigado Peter, pela observação.

Trica, sobre a pergunta que deixaste em aberto, só posso falar por mim. Apesar de serem o que são, mambembes a beça, os textos do Mendncinha não deixam de ser universos paralelos. Aliás, roubei essa idéia daquele filme em que o cara descobre que a sua vida é um romance que está sendo escrito por uma mulher em crise criativa, já que não conseguia conceber um final que gostasse . Em determinado momento, ele começa a ouvir a voz do narrador oniciente em off, dentro de sua cabeça, e começa a achar que está ficando doido. Não sei se você viu, esqueci o nome do filme. Mas o roteirista mandou muito bem. Esses dias, revendo o filme, tive a idéia de colocar o Mendoncinha numa roubada dessas aí, mas sem saber que é um personagem apenas, como acontece no filme.
Bem , respondendo a sua indagação... Tem que ser meio doente pra fazer esse tipo de coisa. Do Gênio literário ao cronista de ocasião gordinho do Gpguia, essa negada não pode regular muito bem da cabeça.

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#7 Mensagem por Tricampeão » 11 Abr 2009, 16:57

Fortimbrás escreveu:E, é claro, Deus. Creio que não paire maiores dúvidas a respeito de sua aparência: é homem, com a pinta de uns cinquenta anos, com barbas e cabelos cor de prata, usando aquela tunica branca, um cajado na mão direita, sentado em seu trono, em meio às nuvens. E é gordo. E pândego.
Nada disso. Esse aí é o leteseu. Deus era o careca que estava do lado dele naquela festa.
Fortimbrás escreveu:Apesar de serem o que são, mambembes a beça, os textos do Mendncinha não deixam de ser universos paralelos. Aliás, roubei essa idéia daquele filme em que o cara descobre que a sua vida é um romance que está sendo escrito por uma mulher em crise criativa, já que não conseguia conceber um final que gostasse . Em determinado momento, ele começa a ouvir a voz do narrador oniciente em off, dentro de sua cabeça, e começa a achar que está ficando doido. Não sei se você viu, esqueci o nome do filme. Mas o roteirista mandou muito bem. Esses dias, revendo o filme, tive a idéia de colocar o Mendoncinha numa roubada dessas aí, mas sem saber que é um personagem apenas, como acontece no filme.
Jorge Luis Borges escreveu:Ajedrez

I

En su grave rincón, los jugadores
rigen las lentas piezas. El tablero
los demora hasta el alba en su severo
ámbito en que se odian dos colores.

Adentro irradian mágicos rigores
las formas: torre homérica, ligero
caballo, armada reina, rey postrero,
oblicuo alfil y peones agresores.

Cuando los jugadores se hayan ido,
cuando el tiempo los haya consumido,
ciertamente no habrá cesado el rito.

En el Oriente se encendió esta guerra
cuyo anfiteatro es hoy toda la tierra.
Como el otro, este juego es infinito.

II

Tenue rey, sesgo alfil, encarnizada
reina, torre directa y peón ladino
sobre lo negro y blanco del camino
buscan y libran su batalla armada.

No saben que la mano señalada
del jugador gobierna su destino,
no saben que un rigor adamantino
sujeta su albedrío y su jornada.

También el jugador es prisionero
(la sentencia es de Omar) de otro tablero
de negras noches y blancos días.

Dios mueve al jugador, y éste, la pieza.
¿Qué Dios detrás de Dios la trama empieza
de polvo y tiempo y sueño y agonías?
O verso de Omar Khayam a que ele se refere é este, o de número 89 das Rubáyat:
Omar Khayam escreveu:Somos os peões deste jogo do xadrez
que Deus trama. Ele nos move, lança-nos
uns contra os outros, nos desloca, e depois
nos recolhe, um a um, à Caixa do Nada.
(Trad. A. Braga)

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#8 Mensagem por Fortimbrás » 15 Abr 2009, 11:26

Boas, Trica.

Vou te falar um negócio , e a postagem pode ficar meio extensa. Espero que você não se incomode.

Apesar de não saber espanhol, deu pra sacar o conteúdo dos versos com a ajuda do "gúgo". Bom pra cacete.

De qualquer forma, considero , apesar de gostar de ler e assistir filmes, peças e tudo mais, o ato criativo uma espécie de esquizofrenia . Porque nem sempre você vai escrever sobre o que sabe ou experienciou e sim sobre que sua mente ou sua percepção supõe como verdadeiros. Exatamente como aquele autor que dizia que "o poeta é um fingidor, pois chega a fingir que é dor a dor que deveras sente."

Já tentei ir mais a fundo, e formular ou engendrar alguma coisa mais extensa. Foi um processo dolorido, mas revelador. Como não tenho a veia criativa, começo a questionar o processo como um todo. Mesmo não sabendo fazer isso como gostaria, acho que, se soubesse, o meu lado racional seria um freio a esse processo criativo. Ficaria ali, pensando, na frente do computador: " Porra, o mundo acontecendo lá fora e eu aqui, num mundo paralelo, criando ou regurgitando coisas que não têm vida própria."

Ainda bem que os grandes gênios da literatura não pensavam dessa forma tão tosca e medíocre. Porque, pra piorar, eu assumo ainda a hipocrisia de admitir que, sem esses "sociopatas", o mundo seria um lugar ainda pior de se viver.

No que diz respeito a poesia, a coisa é mais reflexiva e breve. Nesse caso, o processo criativo é diferente e o resultado , quando é feito por quem sabe o que está fazendo, como o Borges, ou o Neruda, ou o Cabral de Mello Neto, ou o Pessoa, ou muitos outros, é maravilhoso. Eu gosto das duas formas de expressão, mas não há dúvida que a poesia é mais satisfatória nesse sentido ( o da esquizofrenia).

Estou relendo o Ana Karenina ,por exemplo, do Tolstoi. É magnífico. Fico tentando imaginar o que é do autor, o que é percepção e o que é observação. Fico tentando sacar como o cara fez pra compor esse mix com tanta maestria e a única conclusão a que chego é que não há técnica pra isso. Não é algo que alguém possa repetir, com uma determinada sucessão de ações premeditadas e ordenadas racionalmente. É algo que nasce com a pessoa. É dela. E o mesmo se dá quando releio o Machadão ou o Dostoiévski, por exemplo. Tentei desfragmentar e colocar uma lógica nos trabalhos deles, elaborar uma sequencia funcional do trabalho e repetir isso como algo meu. Eu consegui fazer a sequencia do texto (usei o Crime e Castigo) , mas esbarrei na minha própria limitação quando tentei usar a lógica deles para a minha própria perspectiva. Isso apenas reforçou algo que já sabia, mas que precisava comprovar: escrever bem é relativamente fácil. Criar, é outro departamento. Não é pra qualquer mané.

Eu, pelo menos, consigo ter noção da minha mediocridade. Há os que tem essa noção, mas mesmo assim seguem em frente, publicam seus trabalhos e até conseguem viver disso. De certa forma, é até bonito.

E há os que não tem noção alguma, e o resultado é pura frustração.

Os caras bons, hoje em dia, tem, a bem da verdade, mais concorrência do que os gênios do passado. Naquele tempo, a leitura era uma forma de entretenimento. As pessoas aguardavam a publicação dos trabalhos, e muitos vinham a público na forma de folhetins. Dostievski publicou vários livros assim. Hoje em dia, com o cinema e a TV, as pessoas lêem muito menos, quando o fazem. O escritor não tem mais espaço. Muitos se transformaram em roteiristas. É preciso alimentar a grande indústria. A toque de caixa. Os que tem espaço, são aqueles que conseguem aliar o marketing , o lado comercial , ao trabalho em si. Um livro pode ser genial, mas, se não tiver apelo, ninguém vai ler.

Por isso, não temos mais Machados, Tolstois, Dostoievskis, Dickens e que tais. Quer dizer, creio que existem, mas ficam anônimos.

É meio deprimente, mas é desse jeito mesmo.

Ou tu procura o clássico, ou assiste um bom filme.

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#9 Mensagem por Tricampeão » 16 Abr 2009, 08:06

Reclamar da vida é coisa de boiola, Fortim. Você é putanheiro, está no topo da cadeia alimentar. Vai se queixar pra que?
A literatura mudou. Ainda existem grandes escritores, o que não dá pra aparecer mais são grandes romances. Agora a onda são histórias curtas, como essas crônicas maravilhosas que aparecem aqui. Noto também um maior interesse pela poesia. Aliás, a área de poesias do GPGuia também tem tudo pra bombar.
Também temos que reconhecer o talento de alguns, como o Paivinha, que escrevem tudo errado e ainda conseguem ser entendidos, quesito em que James Joyce falhou.

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#10 Mensagem por Fortimbrás » 16 Abr 2009, 09:08

Tricampeão escreveu:Reclamar da vida é coisa de boiola, Fortim. Você é putanheiro, está no topo da cadeia alimentar. Vai se queixar pra que?
A literatura mudou. Ainda existem grandes escritores, o que não dá pra aparecer mais são grandes romances. Agora a onda são histórias curtas, como essas crônicas maravilhosas que aparecem aqui. Noto também um maior interesse pela poesia. Aliás, a área de poesias do GPGuia também tem tudo pra bombar.
Também temos que reconhecer o talento de alguns, como o Paivinha, que escrevem tudo errado e ainda conseguem ser entendidos, quesito em que James Joyce falhou.
Sim , estou no topo da cadeia alimentar e quero ver a coisa andando direito nessa porra!

Eu não aceito a mudança!
Eu não a-cei-to a mudança!
Qual foi o grande romance da nossa década? E o da passada?
Porque permtir liberdade de criação ao Paulo Rabbit? Ele deveria estar preso!

Agora, não tem como não se queixar ante o desaparcimento dos grandes romances. É uma lástima, você há de convir, Trica. Gostaria de poder ler um Crime e Castigo contemporâneo. Ou um Memórias Póstumas. Seria genial. Mas os editores têm lá seus parâmetros e neles, a questão da qualidade fica em segundo plano. E, já que estou me queixando , o mesmo se estende ao universo musical.

Cadê os novos Tom Jobins? Chicos Buarques? Miltons? Clubes da esquina?

Repare que a cultura, como um todo, parece definhar, nos dias que correm. O dinheiro, o mercado, mandam.

Nesse caso, estamos todos fodidos. Se deixarem com o mercado, só vai ter espaço para axé, pagode , essas merdas. E as novas gerações vão começando a achar que isso é MPB. Esses dias, mostrei umas coisas véias para o meu sobrinho de 17 anos e ele ficou doido. Nunca tinha ouvido Mutantes, Chico, Caetano, João Bosco, Demônios da Garoa, Tom Jobim, Elis Regina, essas paradas aí. Nem o Lenine , que é da geração dele, o cara conhecia.

Não tenho nada contra aqueles que conseguem ganhar dinheiro com isso, aliás.

Apenas acredito que todos que tem talento deveriam ter espaço. Se a coisa fosse mais democrática, o espaço seria cada vez maior. Hoje, é pequeno, em detrimento do tamanho e da potencialidade artística brasileira. Pequeno e medíocre.

Daqui a pouco vão começar a falar que a Ivete Sangalo é melhor que a Elis Regina, que o Latino compôe melhor do que o Francis (que aproveita pra também mandar lembranças), que o Paulo Coelho é um nome tão importante quanto o Graciliano Ramos .

Hoje, vemos uns manés sendo chamados de artistas, quando na verdade, deveriam ser manicures ou pintores de parede.

Sou ranzinza mesmo.

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#11 Mensagem por Peter_North » 16 Abr 2009, 13:44

Boa Fortim!

PN - também é ranzinza.

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#12 Mensagem por General » 16 Abr 2009, 18:03

Fortimbrás escreveu:
Tricampeão escreveu:Reclamar da vida é coisa de boiola, Fortim. Você é putanheiro, está no topo da cadeia alimentar. Vai se queixar pra que?
Sim , estou no topo da cadeia alimentar e quero ver a coisa andando direito nessa porra!
Topo da cadeia os carái!
Se estivesse no topo teria furado o couro da Kelly Louise ao invés de ficar se lamentando do balançar da carruagem no interior da Nova Inglaterra.

Ou seja, o Fortim continua sendo o mesmo animal de sempre.

Bm mesmo é o Mendoncinha, que não tem essas crises viadonas de meia-idade.

Grunf.

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#13 Mensagem por Fortimbrás » 16 Abr 2009, 18:32

General escreveu:
Fortimbrás escreveu:
Tricampeão escreveu:Reclamar da vida é coisa de boiola, Fortim. Você é putanheiro, está no topo da cadeia alimentar. Vai se queixar pra que?
Sim , estou no topo da cadeia alimentar e quero ver a coisa andando direito nessa porra!
Topo da cadeia os carái!
Se estivesse no topo teria furado o couro da Kelly Louise ao invés de ficar se lamentando do balançar da carruagem no interior da Nova Inglaterra.

Ou seja, o Fortim continua sendo o mesmo animal de sempre.

Bm mesmo é o Mendoncinha, que não tem essas crises viadonas de meia-idade.

Grunf.
Estou no topo da cadeia alimentar, mas estou sem nenhum.

Sou um cabra opinioso, tenho a minha intelectualidade linguistico-performática, ora bolas.

O Mendoncinha só pensa em putas, futebol e cachaça.

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