Era assim que o Alemão desafiava alguém para fazer alguma coisa. Ele fazia a mesma técnica do valentão Biff no filme "De Volta para o Futuro" quando chamava o McFly de "frangote".
- Báááááhhhh, duvido muito!
O Alemão estava insistindo. Para o azar dele, esse tipo de peer pressure só funciona com crianças de doze anos.
- Báááááhhhh, duvido muuuuito meeeeesmo!
Para a sorte dele, na frente estava eu no auge dos meus doze anos. Quase treze, mas ainda doze.
- Eu vou! Tu vai ver só! Vou te mostrar que não tenho medo!
- Então tá, já que tu topou vamos. É na quinta hein?
- Tá bom!
O Alemão era o mais velho da turma, tinha quatorze anos e acabava exercendo algum tipo de autoridade natural sobre nós. Eu conhecia ele a menos de dois anos, quando me mudei de uma cidade minúscula para uma cidade pequena. Na cidade pequena tinha um monte de coisa que não tinha na minúscula. Calçadão, sinaleira, asfalto, um emprego para o meu pai, uma casa melhor para morarmos e o a maior novidade de todas, um puteiro. Todo mundo da turma chamava o puteiro de "A Boca". Não tinha placa nem nada, mas como o Alemão dizia que A Boca se chamava A Boca, assim ela era chamada. A Boca era um puteiro sórdido e baratíssimo mas era bem perto de onde morávamos. A Boca ficava na frente da igreja, o que era uma atitude um tanto quanto herege em uma cidadezinha do interior na década de 70 e ainda por cima em plena ditadura. A minha mãe e a minha avó me levavam na missa nessa época e sempre na hora de sair eu ficava olhando para A Boca, vendo às vezes uma ou outra puta entrar ou sair e imaginando como seria lá dentro ou como seria fazer sexo com uma mulher. Eu já tinha a maior curiosidade sobre o assunto, já andava desbastando meu pau em punhetas e o meu interesse na Boca era, portanto, natural.
E eu não era o único; O resto dos guris da turma também falavam na Boca, sempre com muitas vontades e muitas incertezas. E falávamos, e falávamos, até que um dia o Aníbal (o cara que tinha as irmãs mais bonitas da turma) resolveu dar uma idéia:
- Porque alguém não vai lá?
- Como assim, porque não? Porque tem que pagar! E pelo que o Alemão fala custa o mesmo preço de um pacote grande de bulitas olho-de-gato! Ninguém de nós tem dinheiro para isso!
- Então vamos nos juntar e pagar para alguém! Quem sabe se fazemos isso para todo mundo no seu dia de aniversário? - Sugeriu o Aníbal.
- Tipo a gente pegar todo o pouco que tem e ver se dá para um ir na Boca? - Disse o Amilcar, outro cara da turma.
- Ótima idéia - Interrompeu o Alemão. - O problema é que o próximo aniversário é do Peter e ele nunca vai topar isso. É agora, na quinta não é? Ele não vai ter coragem. Duvido! Báááááhhhh, duvido!
......
Chegou a quinta-feira. Minha mãe fez um bolo, uma meia dúzia de salgadinhos e comprou refrigerante, coisa simples mas boa e suficiente para um aniversário de 13 anos. Toda a turma estava lá e dava para ver a tensão e apreensão no olhar de todos. Quero dizer, todos menos o Alemão. Ele andava para todo lado com um ar blasé, de quem tinha muita tranquilidade em ir na Boca ou então muita certeza que eu iria desistir.
Festinha acabando, "Manhê, vou lá na esquina com os guris jogar bulita". Assim que nos vimos afastados dos adultos, cada um retirou os trocados do seu bolso. Não tinha quase nada, era uma miséria mesmo. Quem tinha algum dinheiro eram o Amilcar e o Meio (chamado assim porque era o irmão do meio). Cada um dos dois tinha cinco cruzeiros. Juntando a grana de todo mundo (a maior parte composta de moedas) não deu nem 15 cruzeiros. Dava até para comprar um saco de bulitas olho-de-gato no bolicho com esse dinheiro, mas não mais do que isso. Mesmo assim o espírito de aventura falou mais alto:
- Vamos tentar! Agora que juntamos o dinheiro, vamos tentar!
E fomos para A Boca. Quando chegamos lá, batemos na porta e uma senhora abriu.
- O que vocês querem aqui?
Todo mundo ficou quieto e cagado, menos o Aníbal, que consegiu falar.
- Ele quer entrar! Esse aqui ó!
- Vocês são muito jovens e não tem nem dinheiro para entrar aqui!
- Temos sim! Olha só! - E o Aníbal mostrou a ela nossas economias
- Isso não é nada moleque! Agora sai daqui, vai!
- Tia, é aniversário dele! Deixa vai!
A "tia" ficou pensativa e antes que ela pudesse decidir o que fazer, uma morena apareceu por cima do ombro dela. Essa era mais nova, devia ser puta da casa.
- O que está acontecendo?
- Vê se pode, esses moleques estão com uma mixaria de dinheiro e querem entrar só porque é aniversário de um deles.
- Ah, deixa eles entrarem, não tem nenhum freguês a essa hora mesmo.
A tia deu de ombros e nos deixou entrar. Fomos engolfados por uma escuridão inesquecível e logo que chegamos ao centro da sala demos todo o dinheiro à Tia, que então me perguntou:
- Você quer realmente fazer isso?
Respondi que sim e ela chamou umas 5 putas baratas para que eu pudesse escolher. Escolhi uma bem loira e fomos para um quarto sórdido e com cheiro a mofo, sob o olhar de admiração do pessoal da turma. Lá dentro, ela me tirou a roupa, me punhetou um pouco e chupou o meu pau. A sensação daqueles lábios no meu pau era algo novo e indescritível, com o doce sabor da descoberta. Eu gozei em um minuto no boquete mesmo, nem a comi, mas esse havia sido o melhor minuto da minha vida até então. Puta é puta desde aquela época, e ela me mandou embora assim que gozei. “Pelo dinheiro tá muito bom, guri! Agora vai que daqui a pouco chegam os clientes!”
Emergi do quarto com a puta sob uma série de “oooohhhhs” e queixos caídos do pessoal. Foi rápido, mas fiz o serviço. Nos mostraram a saída rapidamente e no caminho para casa e eu estava todo gabola. Tinha recebido um boquete e isso me colocava anos-luz à frente do resto da turma. Eu poderia dizer para todo mundo que uma mulher me chupou o pau e que eu fui na Boca. Eu apenas fiquei com um pensamento receoso no fundo da minha cabeça: E se eu estivesse com cheiro da puta? O cheiro do perfume dela era forte e eu sabia que estava impregnado em mim pois eu o sentia. Não queria ter que explicar nada em casa para os meus pais. Como a casa do Meio era no caminho, expliquei a ele o meu medo e pedi a ele um perfume. Ele me emprestou o perfume dele, o qual passei bastante. Eu pensava que seria mais fácil explicar em mim um perfume de homem (era meu aniversário e eu poderia usar um para a festa) do que explicar perfume de puta.
Cheguei em casa e ao me adentrar da sala a primeira coisa que vejo são meu pai e minha mãe com os braços cruzados e um olhar furioso e reprovador.
- Peter onde você estava? Diga, onde você estava?
Gelei. Na hora vi que tinha dado merda. Tentei falar:
- Na... na.... na.... casa... do Aníbal... jogando... bulita...
- Peter, não mente para nós. Sabemos que você não estava lá. A irmã do Aníbal ouviu a conversa de vocês e contou tudo para os pais dele, que nos avisaram. É verdade que vocês foram na Boca?
- Eu... Eu... Eu....
- Não minta para nós! Sabes que detestamos mentiras. Você foi na Boca? Diga a verdade.
- Eu... Eu... Eu.... Eu fui...
Nesse momento a minha mãe se desata a chorar. “Meu deus, meu próprio filho, onde foi que eu errei? Porquê? Porquê? Fiz o melhor que pude para criá-lo!”. Meu pai me olha com cara de furioso e leva a minha mãe para o quarto dizendo a ela “deixa comigo que eu cuido dele”. Agora estamos só nós dois na sala. Eu choro, ele respira fundo e começa:
- Peter meu filho eu quero tentar entender. Porque você fez isso?
- Não sei pai. Estávamos na turma, aí o Alemão falou nisso, aí a gente se empilhou e resolvemos ir. Como era o meu aniversário eles disseram que iam pagar para mim.
- Foi idéia do Alemão é? Eu sabia que ele era má companhia. De onde saiu o dinheiro?
- Juntamos os trocados de todo mundo. O dinheiro dava para comprar um saco de bulitas olho-de-gato mas resolvemos usar lá.
- Lá na Boca?
- É....
- Hunf! Trocaram um saco de bulita por essa merda toda. E que imoralidade, por dinheiro não pouparam nem uma criança. Foi a primeira vez, eu espero?
- Sim pai, foi sim, a primeira e única.
- Menos ruim. E esse perfume todo, meu filho, deixa eu adivinhar: É para ocultar o cheiro que tu pegou lá na Boca né?
- Sim.
- Eu sabia. Meu filho, o que eu faço contigo? Alguém te deu má educação para te levar a algo tão desprezível? Aqui não te damos exemplos de caráter?
- Sim pai vocês são grandes exemplos mas eu tinha curiosidade. Eu tinha que saber como é.
- Curiosidade... É sempre assim. Viu o que essa tua curiosidade causou? A tua mãe está se esvaindo em lágrimas lá no quarto. Olha o que ela já fez por ti e pensa na decepção que estás causando a ela. Espero que tenha sido uma experiência ruim que não vais nunca mais repetir.
- Eu juro! Nunca mais!
- Verdade? Não sei se posso confiar nisso. Gostou de ir lá?
- Não! Não gostei!
- Fala a verdade. Eu te conheço e sei quando estás mentindo.
- Poxa pai, eu... eu... eu gostei sim. É claro que gostei. É errado gostar?
Nesse momento meu pai ficou lívido e levantou-se, furioso:
- É claro que é! Porra, parece que eu nunca te ensinei nada! O que eu faço contigo? Bem sabes que eu detesto te castigar mas isso não pode passar em branco. É uma imoralidade grande demais!
- Desculpa pai!
- Desculpa vírgula. Quer dizer então que tu gostou é? Ah, mas vais ver só. Vou te mandar para uma temporada de alguns meses lá na fazenda da Tia Guilhermina, vais ajudar eles na colheita de batata pra tu ver o que é bom. Vou te afastar desse pessoal, tudo má companhia.
- Poxa pai, por favor me desculpa!
- Não tem desculpa! Vou fazer o que for necessário mas nunca vou permitir que meu filho se torne um maconheiro!
- Desculpa pai por fav.... Hein? O quê? Maconheiro? Como assim?
- Claro, ou o que tu pensas que vais virar se frequentar boca de fumo? Ainda mais experimentando e gostando.
- Boca... de fumo? Peraí pai...
- Peraí nada. É fazenda da Tia pra ti agora mesmo.
- Pai a boca que eu fui não tem nada a ver com maconha, não é uma boca de fumo!
- Como assim? Que boca é essa então?
- É boca de mulher, pai...
- Mulh... Oh... A boca... claro... peraí... então a Boca essa que vocês combinaram de ir não é uma boca de fumo?
- Não é não pai. Eu juro! É de mulher! É aquela Boca na frente da igreja!
- Aquela da frente da igreja? Isso é verdade ou estás inventando pra te escapar?
- É verdade sim, eu juro, pode ir lá e perguntar pra Katia que foi a moça que fez coisas em mim.
- Katia? Uma loira? Não acredito... quer dizer, eu acredito, agora pára de chorar e me desculpa, por favor. Achávamos que vocês tinham juntado dinheiro pra te comprar droga na boca de fumo. Calma filho, calma. Vai para o teu quarto e esqueça essa conversa que tivemos. Deixa que eu falo com a tua mãe.
Fui para o quarto mas logo saí e encostando a orelha na porta do quarto deles ouvi o pai dizendo pra mãe que nada tinha acontecido, que foi tudo um engano e que nunca mais, com ênfase no nunca mais, iríamos tocar no assunto. De fato, nunca mais se falou no episódio. No outro dia encontrei um saco grande de bulitas olho-de-gato em cima da minha cama, claro que era presente do meu pai. O pessoal passou a me respeitar em dobro: Eu não apenas havia ido Na Boca mas também era o dono de um saco cheio de bulitas, e das olho-de-gato. Fiquei tão respeitado que um dia a irmã do Aníbal veio falar comigo e... Bom, isso eu conto em outra oportunidade.