Descoberta de 26 800 notas de
50 reais num cofre de Murad leva
à pergunta que não quer calar: afinal,
de onde veio essa dinheirama?
Dois delegados e seis agentes da PF levaram duas horas para contar todo o dinheiro
1. Há 50 000 reais em cada pacote grande
2. Há 5 000 reais em cada maço pequeno
http://veja.abril.com.br/130302/imagens/brasil13.jpg
Na devassa nos escritórios das empresas de Jorge Murad em São Luís, os agentes federais encontraram duas portas de armário trancadas. Foram informados de que ali havia dois cofres e requisitaram as chaves e os segredos. Num deles, encontraram pilhas de documentos. No outro, de 1 metro de altura, acharam ouro em forma de papel: dezenas de maços de dinheiro e um envelope pardo, onde havia mais dinheiro, 150.000 reais. Por quase duas horas, dois delegados e seis agentes da Polícia Federal se ocuparam em contar a dinheirama toda, nota por nota. No fim, somaram 26.800 notas de 50 reais, o que totalizava 1,34 milhão de reais. A maioria dos maços estava amarrada com alças bancárias. O dinheiro foi acondicionado em duas caixas de papelão, lacradas pelos policiais. Encerrada a apreensão da grana, emergiram duas questões elementares: de onde veio o dinheiro e para onde ia. Supondo-se que ninguém esquece 1 milhão de reais num cofre, é impressionante o festival de versões que se ouviu até agora. É o novo show do milhão.
A primeira manifestação veio da governadora Roseana Sarney, afirmando que era normal ter dinheiro vivo no início do mês, quando em geral são feitos os pagamentos de salários dos funcionários. Depois, Roseana disse que não sabia a razão do dinheiro, já que estava afastada do cotidiano das empresas. Em seguida, um advogado da família, Vinícius César de Berredo Martins, declarou que o dinheiro não era da Lunus, empresa em que Roseana e Murad são sócios, mas de uma companhia que funciona no mesmo local, a Pousada dos Lençóis Empreendimentos Turísticos, da qual apenas Murad é sócio. E que essa empresa guardava a dinheirama no caixa para comprar madeira com a qual ergueria 100 chalés num complexo turístico na bela região dos Lençóis Maranhenses – o Parque dos Lençóis Eco Resort. Diante de versões tão díspares, escalou-se o sócio-gerente da Pousada dos Lençóis, Luís Carlos Cantanhede Fernandes, que se encarregaria de dar todas as explicações. Mas o show apenas continuou. Abaixo, as explicações de Fernandes a VEJA:
Fernandes – A maior parte do dinheiro seria usada para comprar o madeirame dos chalés.
Veja – De quem?
Fernandes – De um pessoal do sul do Pará.
Veja – E por que em dinheiro vivo?
Fernandes – É que lá é usual, o pessoal só trabalha com pagamento em espécie.
Veja – Quanta madeira seria comprada?
Fernandes – Isso eu não sei.
Mais tarde, numa nova conversa com VEJA, Fernandes foi questionado sobre o fato de sua empresa se encarregar de comprar madeira "de um pessoal do sul do Pará", considerando que havia uma empreiteira responsável pela construção dos chalés, a Pleno. Fernandes contou que a idéia era repassar o dinheiro para a construtora, tudo em cash, e depois a Pleno faria o pagamento à madeireira, também em cash. "Era para evitar o pagamento de CPMF." Nos termos da explicação de Fernandes, pode-se concluir então que entre o Maranhão e o Pará só se compra madeira carregando malas de dinheiro de um lado para o outro. Quanto ao resto do dinheiro, o sócio-gerente da Pousada dos Lençóis diz que se destinava ao pagamento de funcionários.
Veja – Quantos funcionários a empresa mantém na região do complexo turístico?
Fernandes – Por enquanto nenhum.
Veja – Nenhum?
Fernandes – O dinheiro era para pagar o salário de nossos funcionários em Balsas, onde temos um hotel.
Veja – Quantos funcionários são?
Fernandes – Uns cinqüenta.
Veja – Quanto seria gasto em salários?
Fernandes – Isso eu não sei.
A batida no escritório de Murad rendeu, na semana passada, a divulgação de uma imagem chocante, com o cofre arrombado e as pilhas de notas enfileiradas sobre a mesa. É absolutamente incomum, quase inédito, que uma empresa tenha tanto dinheiro vivo em seu caixa. Na semana passada, VEJA consultou executivos dos principais bancos do país. Segundo eles, só agências matrizes nas praças de São Paulo e do Rio de Janeiro abrem seu caixa com tanto dinheiro. Em três instituições, os executivos nem sequer se recordavam de ter recebido depósitos dessa magnitude algum dia. Numa quarta instituição, ressalvaram-se apenas os casos de grandes redes de supermercados, como Carrefour e Pão de Açúcar, que recebem muitos pagamentos à vista. Mesmo assim, as grandes empresas não guardam tanto dinheiro no próprio caixa. Uma companhia que fatura 3 bilhões de reais por ano, por exemplo, informou a VEJA que o maior valor que já ficou em seu cofre foi de 5.000 reais – e isso cinco anos atrás.
http://veja.abril.com.br/idade/exclusiv ... p_042.html
A família de 125 milhões de reais...
A família Sarney: em 46 anos de vida pública, a fortuna é espetacular
Dois impérios do Maranhão, os Sarney
e os Murad, aparecem unidos na
suspeita de fraudar a Sudam
Murad, nos tempos da CPI da Corrupção no governo Sarney: pizza e inimigo eterno
A mansão dos Sarney no Calhau: terreno de 20 000 metros
http://veja.abril.com.br/idade/exclusiv ... p_046.html