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Mas vamos lá! Amigos do Guia, vamos agora nos divertir com um dos maiores passatempos do Sr. Alphonzo, refutar argumentos religiosos.
natanbhz escreveu:Deus existe?
Os grandes pensadores de todos os tempos, os maiores filósofos e estudiosos nos campos da cosmologia e da metafísica, têm dedicado sua inteligência e seu tempo à pesquisa e ao entendimento da figura do Criador de todas as coisas e seres do Universo, este tomado no sentido amplo. Criaram até uma ciência para isso: a TEODICÉIA. Dois assuntos principais foram objeto do exame desses estudiosos: a) a existência de Deus, e b) a essência de Deus.
Não! Eles não criaram nenhuma ciência, teodiceia provem da teologia que não é ciência, é no máximo uma afronta a filosofia. Teodiceia é mais um exercício da religiosidade, e não do pensamento. Como Hume disse:
"Se pegarmos num qualquer volume de teologia ou metafísica escolástica, por exemplo, perguntemos: Contém algum raciocínio abstrato acerca da quantidade ou do número? Não. Contém algum raciocínio experimental relativo a questão de fato e existência? Não. Lançai-o às chamas, porque só pode conter sofisma e ilusão."
natanbhz escreveu:Deus Existe? O grande filósofo da França, Descartes, baseia-se no chamado argumento ontológico, para afirmar que sim: eu tenho idéia de um ser, de um ente perfeito; este ente perfeito tem que existir, porque se não existisse faltar-lhe-ia a perfeição da existência e então não seria perfeito. É o argumento pela evidência.
O argumento ontológico? Nah! Este é fácil! Para facilitar a compreensão dos companheiros, vou colar aqui uma pequeno texto do Dawkins que coloca numa linguagem infantil este infantil argumento:
"Aposto com você que consigo provar que Deus existe."
"Aposto que não consegue."
"Tudo bem, então. Imagine a coisa mais perfeita, perfeita, perfeita possível."
"Tá bom, e agora?"
"Agora, essa coisa perfeita, perfeita, perfeita é de verdade? Ela existe?"
"Não, está só na minha cabeça."
"Mas se ela fosse de verdade ela seria ainda mais perfeita, porque uma coisa perfeita perfeita de verdade teria que ser melhor que uma coisa imaginária boba. Então provei que Deus existe. Nananananã-ã. Os ateus são uns insensatos."
Mesmo que o argumento ontológico fosse válido, então deus existe devido a um jogo de palavras?
Mas ele não é valido, Kant foi capaz de identificar a falacia deste deste argumento, a frágil pressuposição de que a existência é mais perfeita do que a existência.
natanbhz escreveu:Outro vulto notável do pensamento francês foi Voltaire. Seu raciocínio é prático, ao afirmar: “O Universo me espanta e não posso imaginar que este relógio exista e não tenha relojoeiro“. Assim, diante da realidade do Universo, é forçoso reconhecer que ele foi feito por alguém. Se esse alguém não foi o homem, só pode ter sido Deus, mas este nos concede sempre o benefício da dúvida, não é mesmo?
Este frase é de Voltaire mesmo? Que eu me lembre ele era iluminista. Se bem que não conheço a obra dele... em fim.
A raiz deste argumento é a não compreensão da evolução. Dada a complexidade do mundo, todos nos concordamos que obra do acaso não pode ter sido. A evolução é o contrários de acaso, ela é este relojoeiro que "modelou" a vida como conhecemos através dos anos. É a única explicação plausível que temos para a vida. Creditar isto a um designer, na verdade, cria um problema muito maior do que resolve, afinal, por mais improvisável que certos eventos sejam, e designer é, automaticamente, muito mais improvável.
natanbhz escreveu:Deve-se, porém, ao famoso S. Tomaz de Aquino, autor da não menos famosa Summa Theológica, a prova da existência de Deus mais convincente, baseada nos argumentos metafísicos.
Ele diz que a existência de Deus pode ser provada por cinco vias, que são a do movimento, da causalidade, dos seres contingentes, dos graus de perfeição dos seres e da ordem do mundo. Esses argumentos assim se sintetizam:
1 – Se no mundo existe movimento ou mudança, que caracteriza o vir-a-ser, deve existir um motor primeiro que não seja movido por nenhum outro, pois se tudo fosse movido, teríamos o efeito sem causa;
2 – Há uma causa absolutamente primeira, transcendente às causas em geral; assim, se existem as causas segundas, deve existir a causa primeira, porque as causas segundas são efeitos.
3 - Existem seres contingentes, que não possuem em si mesmos a razão de sua existência, que são mas poderiam não ser; se existem seres contingentes, deve existir um ser necessário;
4 - Nas coisas existem vários graus de perfeição, referentes à beleza, à bondade, à inteligência, à verdade; então deve haver um ser infinitamente perfeito, porque o relativo exige o absoluto;
5 - Prova pela ordem do mundo, pela organização complexa do Universo, pelo governo das coisas, tudo devido a uma inteligência ordenadora, superior, absoluta, necessária.
Novamente, Dawkins:
As cinco "provas" declaradas por Tomás de Aquino no século XIII não provam nada, e é fácil - embora eu hesite em dizê-lo, dada sua eminência - mostrar como são vazias. As três primeiras são apenas modos diferentes de dizer a mesma coisa, e podem ser analisadas juntas. Todas envolvem uma regressão infinita - a resposta a uma pergunta suscita uma pergunta anterior, e assim ad infinitum.
1 - O Motor que Não é Movido. Nada se move sem um motor anterior. Isso nos leva a uma regressão, da qual a única escapatória é Deus. Alguma coisa teve de fazer a primeira se mover, e a essa alguma coisa chamamos Deus.
2 - A Causa sem Causa. Nada é causado por si só. Todo efeito tem uma causa anterior, e novamente somos forçados à regressão. Ela só é concluída por uma causa primeira, a que hamamos Deus.
3 - O Argumento Cosmológico. Deve ter havido uma época em que não existia nada de físico. Mas, como as coisas físicas existem hoje, tem de ter havido algo de não físico para provocar sua existência, e a esse algo chamamos Deus.
Esses três argumentos baseiam-se na ideia da regressão e invocam Deus para encerrá-la. Eles assumem, sem nenhuma justificativa, que Deus é imune à regressão. Mesmo que nos dermos ao duvidoso luxo de conjurar arbitrariamente uma terminação para a regressão infinita e lhe dermos um nome, não há absolutamente nenhum motivo para dar a essa terminação as propriedades normalmente atribuídas a Deus: onipotência, onisciência, bondade, criatividade de design, sem falar de atributos humanos como atender a preces, perdoar pecados e ler os pensamentos mais íntimos. Por falar nisso, aos especialistas em lógica não escapou que a onisciência e a onipotência são incompatíveis entre si. Se Deus é onisciente, ele já tem de saber que vai intervir para mudar o curso da história usando sua onipotência. Mas isso significa que ele não pode mudar de ideia sobre a intervenção, o que significa que ele não é onipotente. Karen Owens captou esse divertido paradoxo em um verso igualmente cativante:
Pode Deus onisciente, que
Sabe o futuro, encontrar
A onipotência de
Mudar Sua ideia futura?.
Para retomar a regressão infinita e a ineficácia de invocar Deus para encerrá-la, seria mais parcimonioso conjurar, digamos, a "singularidade do big bang" ou algum outro conceito físico ainda desconhecido. Chamar isso de Deus é na melhor das hipóteses inútil e, na pior, perniciosamente enganador. A Receita Absurda para fazer Filés Esfarelosos,** de Edward Lear, convida-nos a "tomar algumas tiras de carne e, depois de cortá-las nos menores pedaços possíveis, prosseguir cortando-os ainda menores, oito ou quem sabe nove vezes".*** Algumas regressões chegam, sim, a uma terminação. Os cientistas costumavam ficar imaginando o que aconteceria se se pudesse dissecar, digamos, o ouro nas menores partículas possíveis. Por que não se poderia cortar uma dessas partículas pela metade e produzir um farelo ainda menor de ouro? A regressão nesse caso é encerrada de maneira decisiva pelo átomo. A menor partícula possível de ouro é um núcleo que consista de exatamente 79 prótons e um número ligeiramente maior de nêutrons, acompanhado de um enxame de 79 elétrons. Se se "cortar" o ouro além do nível de um único átomo, qualquer coisa que se obtiver já não será mais ouro. O átomo fornece uma terminação natural ao tipo de regressão dos Filés Esfarelosos. Não está de maneira nenhuma claro que Deus seja uma terminação natural para a regressão de Tomás de Aquino. Isso para dizer o menos, como veremos adiante. Avancemos na lista de Tomás de Aquino:
4 - O Argumento de Grau. Percebemos que as coisas do mundo diferem entre si. Há graus de, digamos, bondade ou perfeição. Mas só julgamos esses graus se em comparação a um máximo. Os seres humanos podem ser tanto bons quanto ruins, portanto o máximo da bondade não pode estar em nós. Tem de haver, portanto, algum outro máximo para estabelecer o padrão da perfeição, e a esse máximo chamamos Deus.
Isso é um argumento? Também seria possível dizer: as pessoas variam quanto ao fedor, mas só podemos fazer a comparação pela referência a um máximo perfeito de fedor concebível. Tem de haver, portanto, um fedorento inigualável, e a ele chamamos Deus. Ou substitua qualquer dimensão de comparação que quiser, derivando uma conclusão igualmente idiota.
5 - O Argumento Teleológico, ou O Argumento do Design. As coisas do mundo, especialmente as coisas vivas, parecem ter sido projetadas. Nada que conhecemos parece ter sido projetado a menos que tenha sido projetado. Tem de haver, portanto, um projetis-ta, e a ele chamamos Deus.* Tomás de Aquino usou a analogia de uma flecha avançando para o alvo, mas um míssil antiaéreo moderno guiado a calor teria se adequado melhor a seus propósitos.
O argumento do design é o único que ainda é regularmente usado hoje em dia, e ainda soa para muita gente como o argumento determinante do nocaute. O jovem Darwin ficou impressionado com ele quando, estudante de graduação em Cambridge, o leu na Teologia natural de William Paley. Infelizmente para Paley, o Darwin maduro virou a mesa. Provavelmente jamais houve uma derrubada tão devastadora de uma crença popular através de um raciocínio inteligente quanto a destruição do argumento do design perpetrada por Charles Darwin. Foi totalmente inesperado. Graças a Darwin, já não é verdade dizer que as coisas só podem parecer projetadas se tiverem sido projetadas. A evolução pela seleção natural produz um excelente simulacro de design, acumulando níveis incríveis de complexidade e elegância. E entre essas eminências do pseudodesign estão os sistemas nervosos que - entre seus feitos mais modestos - manifestam comportamentos de busca a um alvo que, mesmo num inseto minúsculo, se parecem ainda mais com um míssil sofisticado guiado a calor do que com uma simples flecha indo para o alvo. Retornarei ao argumento do design no capítulo 4.