No Brasil, ainda estamos no começo do processo, quando se fala da questão agrária.Nazrudin escreveu:Foi o que pensei e sinceramente, embora concorde com o raciocínio, não o vejo acontecendo.Tricampeão escreveu: É muito fácil entender a evolução do MST.
No início, era um movimento pacífico a favor da reforma agrária. Limitavam-se a pedir e protestar. O que acontecia então? Os órgãos da repressão massacravam e os meios de comunicação falavam mal de qualquer forma. Quem viveu essa época certamente se lembra perfeitamente disso. Depois de tomar muita paulada, experimentaram ser um pouco mais agressivos, pois não tinham nada a perder. Passaram a ocupar terras devolutas e a destruir colheitas irregulares. Com isso, conseguiram mais resultados. Agora, não tem mais volta.
A prática dos movimentos sociais sempre aponta na mesma direção. Quem espera, nunca alcança. Na Europa também aconteceu, não foi só aqui no Brasil. E na Europa, não são apenas os camponeses que estão abandonando a via contemplativa; outros movimentos sociais já passaram à ação, como os ecologistas, por exemplo.
No caso do MST, ou melhor, dos movimentos camponeses mundiais, existe ainda um outro componente. Já se viu que a reforma agrária não é suficiente. Não adianta conseguir terra; não adianta nem mesmo conseguir terra com crédito com tecnologia com meios de distribuição adequados. O que se busca hoje é uma revolução agrária, uma mudança profunda das estruturas, porque é preciso derrotar o grande inimigo da humanidade que é o agronegócio.
O MST ainda age dentro da lei, como mencionei. Já ultrapassou o primeiro estágio, onde se alimentavam ilusões com respeito à lisura da imprensa e da estrutura estatal (judiciário, polícia, legislativo). Mas ainda não ultrapassou o segundo, onde passou a buscar ações de impacto para chamar a atenção da opinião pública para os crimes cometidos pelos latifundiários.
Acontece que esse segundo estágio já foi ultrapassado em vários países, e basta ler a imprensa estrangeira para constatar isso. Exemplifiquei com a China apenas por ser um caso amplamente conhecido. O MST chegará lá.
Além disso, em outros segmentos da atividade humana que não a agropecuária, aqui mesmo no Brasil já tivemos exemplos de movimentos sociais que passaram ao estágio de afrontar a lei diretamente e se deram bem.
Por exemplo, os operários industriais, que, na década de 1970, perceberam que deviam desobedecer as leis promulgadas pela ditadura militar. Ao fazê-lo, a repressão sobre o movimento aumentou um pouco, mas a vitória chegou, ao final. O movimento percebeu não apenas que a imparcialidade da imprensa e da justiça eram só fachada e que não perderiam nada passando por cima dessas instituições; também percebeu, o mais importante, que não se tratava apenas de obter concessões, mas de destruir o regime. Na época, nada disso era óbvio para quem estava do lado de fora.