Uma puta muito espacial - Autor: Tricampeão V. Stepanovicinsky

Crônicas semanais sobre putaria

Regras do fórum
Responder

Resumo dos Test Drives

FILTRAR: Neutros: 0 Positivos: 0 Negativos: 0 Pisada na Bola: 0 Lista por Data Lista por Faixa de Preço
Faixa de Preço:R$ 0
Anal:Sim 0Não 0
Oral Sem:Sim 0Não 0
Beija:Sim 0Não 0
OBS: Informação baseada nos relatos dos usuários do fórum. Não há garantia nenhuma que as informações sejam corretas ou verdadeiras.
Mensagem
Autor
General
Forista
Forista
Mensagens: 6048
Registrado em: 07 Jun 2005, 17:48
---
Quantidade de TD's: 83
Ver TD's

Uma puta muito espacial - Autor: Tricampeão V. Stepanovicinsky

#1 Mensagem por General » 19 Ago 2009, 22:21

Naquele dia, como esperado, a torcida do América lotou o Maracanã. Não cabia mais nem um gato. Felizmente não levei o Stanislaw. Stanislaw é o meu gato. Levara-o e perdera-o (1). Não por negligência, que pelo menos desse defeito não padeço, mas porque Stanislaw tem o hábito de sair voando quando a situação não lhe agrada. Querem um exemplo de situação desagradável? Uma derrota fragorosa do América, eis aí um bom exemplo.

Decepcionado, enrolei a bandeira, coloquei debaixo do braço e deixei o estádio silenciosamente. Engraçado, a Folha tinha garantido que a vitória seria nossa. Bem, não se pode acertar sempre. Falando em acertar, ou melhor, em errar, só depois notei que a bandeira que eu tinha levado não era a do América, e sim a do PPS. O que indica que eu fora (2) com a bandeira do América ao comício da Marina Silva no dia anterior. Não é à toa que o pessoal do partido ficou me olhando atravessado (3).

Decidi voltar para casa a pé. No caminho, encontrei inesperadamente uma pessoa bastante conhecida: eu mesmo, que vinha andando no sentido contrário. Reconheci-me facilmente devido à extraordinária semelhança com meu irmão Dmitri. Ele não levava nenhuma bandeira do PPS debaixo do braço, certamente porque eu só tinha uma em casa.

- Olá, saudei. Como vamos indo?
- Tirando a derrota presente do América e a futura da Marina, vamos bem, obrigado. Para onde vou?
- Pro Maraca. Venho de lá. Quer dizer, se for em linha reta, é claro. Qualquer mínimo desvio pode levá-lo a qualquer outro lugar, contanto que caminhe um intervalo de tempo suficientemente grande, como dizia nosso avô Radamés.
- Maraca? Tô fora. O jogo já acabou, o América perdeu. Que vou fazer lá?
- Pode ir não assistir ao jogo. Em se tratando do América, não assistir traz sempre muitas vantagens.
- Boa idéia. Vá indo que eu levo nossas coisas pra casa.

Satisfeito, entreguei-lhe a bandeira, a carteira e meus tênis novos, como sugeriu, e tomei o rumo do estádio. A Folha ele não quis levar. Felizmente aceitou meus argumentos, pensei, hoje não estou com saco pra discutir. Eu, ou melhor, ele sempre foi muito teimoso. Sempre acha que tem razão, por mais argumentos irrefutáveis que as pessoas melhor informadas lhe apresentem. Se eu pudesse, mudaria para longe da nossa casa.

Mas já falei bastante de mim. Agora preciso me apresentar. Vladimir Stepanovicinsky, vosso criado. Natural de Quixeramobim, Bulgária, berço ancestral dos Stepanovicinskys. Torcedor do América, como o leitor mais arguto já deverá ter percebido. Tenho um irmão que se chama Dmitri e um gato, que não se chama Stanislaw por não possuir o dom da fala, mas que compensa essa e outras deficiências de caráter pelo incomum dom de voar. Em todo caso, chamam-no Stanislaw, como aliás poderiam chamá-lo Zbigniew, Radamés ou Severino, nomes de parentes meus, ele de forma alguma atenderia, não por preguiça ou surdez, mas porque voar consome todas as suas energias, ao ponto de por vezes tornar-se pequeno demais para ser visível, coitado.

Absorto em meus pensamentos, não percebi, ao me aproximar do portentoso Mário Filho, que ele não estava mais lá. Ou melhor, estava lá, mas não lá onde costumava estar, não só ele como todos os demais estádios de futebol do mundo, digo melhor, como todos os demais estádios de qualquer esporte de qualquer dos mundos, a saber, firmemente assente no chão solo pátrio (4), e sim suspenso no ar, flutuando alguns metros acima do chão (5), voando portentosa, plácida e maracanamente, como se fosse um gato.

O Maracanã estava polvilhado de luzes vermelhas piscantes, belo como uma camisa do América. Abaixo dele, vi-o logo, encontrava-se um chorrilho (6) de seres extraterrestres. Que deslizavam lentamente em minha direção, brandindo ameaçadores sabres de luz.

Estava na hora de me tornar um herói, concluí. O mundo agradeceria eternamente minha bravura em encetar contato com esses extraterrestres e depois narrar a aventura. Infelizmente, minhas pernas tremiam demasiadamente e não puderam corroborar minhas primeiras impressões. Resolvi fugir. Para despistar os guardas, corri para onde menos esperavam: direto em cima deles. Minha astúcia, entretanto, não foi suficiente para enganar meus perseguidores. Agarraram-me, arrancaram minhas roupas, menos os tênis novos, que eu já estava levando seguros para casa, é mesmo uma benção a gente conseguir se encontrar consigo mesmo (7), mas o resto os filhos da puta tiraram, depois imobilizaram-me completamente com uma corda laser e me levaram para o interior da nave.

Aproveito para protestar contra o título dessa crônica. Ficou parecendo filme da Sessão da Tarde. Já prevejo a chamada, o locutor fala em off "Ele era um cara muito louco...", aí apareço eu despreocupado falando "Esses cientistas espertalhões enganaram você.", vem o locutor de novo com "... mas um dia ele se meteu em uma tremenda confusão...", apareço eu de novo, agora preocupado, "não tinha uma sonda mais fininha, não?", novamente o locutor "...e agora vai encarar altos perigos enfrentando uma galera da pesada". Peço ao moderador que substitua o título por algo mais neutro, como "hlör u fang axaxas mlö", para evitarmos consequências desagradáveis.

Dentro da nave, fui recebido por uma espécie de sapão com chifres de alce, que se apresentou como "Muvukaniga, o oficial de menor patente a bordo, encarregado dos contatos com as formas de vida inferiores". Muito educado, prontamente estendeu-me a mão. Para ser exato, mão não é um termo suficientemente descritivo. Tratava-se de uma espécie de tromba, intumescida e avermelhada, provida de protuberantes ventosas como as que se encontram nos tentáculos dos polvos, e peluda como bunda de ogro. Evidentemente, não a apertei.

"Felizmente conhecemos a fundo os estranhos hábitos dos terráqueos", observou meu interlocutor, e prontamente passou-me um frasco de álcool em gel. Após lavar minhas mãos com cuidado, cumprimentei-o efusivamente. Não o devia ter feito. Demorei um tempão para desgrudar daquelas malditas ventosas.

Vendo que eu o olhava com interesse, Muvukaniga prosseguiu: "Não se assuste ao ver que não temos boca, terráqueo. Há muitos séculos aprendemos a nos comunicar telepaticamente. Há mais séculos ainda havíamos aprendido a transformar a luz solar em alimento. E há muito, mas muito mais séculos ainda, havíamos aprendido a rir abanando as orelhas. Assim, pudemos eliminar esse orifício do nosso corpo físico, de maneira a nos protegermos melhor de doenças e do mau cheiro das outras espécies.". Na verdade, não havia notado essa peculiaridade dos ETs. Estava pensando em como faria para tomar meu coquetel diário de remédios, pois já tinha passado da hora. Teriam Tamiflu e Cloridato de Clomipramina ( 8 ) a bordo? Para não parecer grosseiro, dissimulei minhas preocupações e puxei papo:

- Sou um grande estudioso das civilizações alienígenas. Sei que vocês vieram do planeta Nibiru. Sei que viajam através de buracos negros. Sei que constroem suas casas com matéria exótica, o que no final leva à ocorrência de enormes bolhas no mercado imobiliário. Sei que todo playboyzinho tem seu carro voador. Sei que todo adolescente pentelho gosta de criar micro buracos negros com seu colisor de hádrons. Sei que falam na língua do pê. Que barulho é esse? Muvuka, que horror, o que está acontecendo com suas orelhas?

"Não é nada, terráqueo. Não se ofenda. Já esperávamos por esse comportamento. Na verdade, nós o estudamos há muito tempo. Você foi escolhido para acasalar-se com a princesa Babalon."

------------------------------------ CONTINUA

Notas:

(1) Pretérito mais que perfeito do indicativo usado como pretérito imperfeito do subjuntivo e como futuro do pretérito do indicativo, forma preciosística encontrável em alguns escritores clássicos. (nota do autor)

(2) Pretérito mais que perfeito do indicativo usado como pretérito mais que perfeito do indicativo mesmo, forma nem um pouco preciosística encontrável apenas em alguns escritores barrocos. (nota do tradutor)

(3) A bandeira do América RJ é vermelha, como a do PT. (nota do Zé da Silva)

(4) Trocadilho: a palavra chão possui tanto o significado de "superphícia aonde pode-se pôr o pé e andaire" quanto o de "plano, lizo, sem altos nem baixos, simples, lhano", de acordo com o Diccionáryo de Como Bem Phalaire a Lingoa Portogueza, de Severino Stepanovicinsky. (nota do revisor)

(5) Aqui não houve trocadilho. (nota do tio do administrador)

(6) A literatura especializada não registra o coletivo de ETs. Usamos o que achamos mais adequado. (nota do moderador)

(7) Procurar "auto-ajuda" no Google. (nota do coordenador)

( 8 ) Remédio que não é tarja preta, e sim vermelha, e que o autor é naturalmente assim, mesmo antes de ter tomado. (nota do estagiário)

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

General
Forista
Forista
Mensagens: 6048
Registrado em: 07 Jun 2005, 17:48
---
Quantidade de TD's: 83
Ver TD's

#2 Mensagem por General » 19 Ago 2009, 22:23

Trica,
Que porra de sms que tu me mandou dizendo que o certo era "hlör u fang axaxas mlö" ?

Não pude retornar na hora pois estava na aula de aramaico.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Avatar do usuário
Nazrudin
Forista
Forista
Mensagens: 7313
Registrado em: 22 Mai 2005, 19:50
---
Quantidade de TD's: 441
Ver TD's

#3 Mensagem por Nazrudin » 20 Ago 2009, 07:53

hehehe, ri-lo por que qui-lo. Estou convencido... de que nunca na historia desse país.... não, nao é isso! Estou convencido de que o gpguia produz alterações na psique humana que não haviam sido previstas nas teorias tradicionais, acho, ou melhor, penso que o estudo das piramides, do culto ao felino sagrado, da influência maracanistica do frenesi coletivo e do uso abusivo de medicamentos possam nos dar pistas.

Favor nao deixar os perturbados leitores do gpguia aguardarem muito tempo pela continuação. Suas mentes doentias podem começar a imaginar COISAS com a Babalon, o Eu² e o orelhudo, uma muvuca só.....

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Maldito
Forista
Forista
Mensagens: 3327
Registrado em: 15 Jun 2007, 20:32
---
Quantidade de TD's: 132
Ver TD's

#4 Mensagem por Maldito » 22 Ago 2009, 16:11

Nazrudin escreveu:Estou convencido de que o gpguia produz alterações na psique humana que não haviam sido previstas nas teorias tradicionais, acho, ou melhor, penso que o estudo das piramides, do culto ao felino sagrado, da influência maracanistica do frenesi coletivo e do uso abusivo de medicamentos possam nos dar pistas.
Nazrudin,

Deve ser efeito da cola que o Tri usou para prender a peruca à cabeça... he he he...

Trica,

Torcedores do América são seres quase tão raros quanto ETs. Moro perto de Maraca e os vejo ocasionalmente. A torcida inteira cabe em uma Kombi. He he he...

Estou ansioso pela continuação.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Fortimbrás
Forista
Forista
Mensagens: 3715
Registrado em: 06 Mar 2004, 20:42
---
Quantidade de TD's: 33
Ver TD's

#5 Mensagem por Fortimbrás » 23 Ago 2009, 15:41

Grande Trica!

Só aqui no Gpguia mesmo, pra ler algo assim.

Genial! Muitas vezes, conseguimos encontrar as nossas próprias palavras através das tresloucadas erupções verbais dos lunáticos desse nosso imenso Brasil. Não é tarefa para qualquer um lapidar sandices e transfomá-las em algo agradável e prazeiroso de ler.

Esta pequena pérola, na minha opinião, é umas das melhores crônicas que já li aqui neste espaço.

Se não for mesmo a melhor.

Parabéns!

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Peter_North
Forista
Forista
Mensagens: 4809
Registrado em: 24 Jun 2005, 15:01
---
Quantidade de TD's: 190
Ver TD's

#6 Mensagem por Peter_North » 23 Ago 2009, 16:50

Sensacional Trica, parabéns.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

faregiador
Forista
Forista
Mensagens: 2645
Registrado em: 27 Fev 2006, 04:01
---
Quantidade de TD's: 54
Ver TD's

#7 Mensagem por faregiador » 23 Ago 2009, 19:54

Muito bom, Trica ! Aguardando a continuação.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Tricampeão
Forista
Forista
Mensagens: 13803
Registrado em: 22 Set 2005, 16:06
---
Quantidade de TD's: 56
Ver TD's

#8 Mensagem por Tricampeão » 26 Ago 2009, 19:19

Agradeço os elogios, ainda mais significativos por virem de colegas que também contribuem regularmente para esta notável seção, todos com brilhantismo.

Uma palavra a respeito da alusão à torcida do América: aprendi com os geniais escritores argentinos que a maneira mais efetiva de começar um conto fantástico é por meio de uma frase peremptória, precisa e absurda. Exemplos: "Hoje, nesta ilha, aconteceu um milagre."; "O Universo (que outros chamam a Biblioteca) compõe-se de um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no centro, cercados por balaustradas baixíssimas."; "No princípio, criou Deus os céus e a terra". Acredito ter conseguido obter algo similar.

Outra palavra, agora a respeito do estilo: depois que terminei de ler "O Púcaro Búlgaro", fiquei com a impressão de que seria muito difícil escrever daquela forma. Agora, vejo que não é tanto, basta ter inspiração suficiente. Não sei de onde a tirava Campos de Carvalho, ele era procurador de justiça, não administrador de hospício como eu. O fato é que a continuação já está quase pronta, deve sair até o final da semana.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

General
Forista
Forista
Mensagens: 6048
Registrado em: 07 Jun 2005, 17:48
---
Quantidade de TD's: 83
Ver TD's

#9 Mensagem por General » 04 Set 2009, 00:18

Tricampeão escreveu:hlor u fang axaxas mlö


Pausa para reflexão filosófica: por mais livros sobre teorias de conspiração que você já tenha lido, os seres do espaço sempre encontram um jeito de nos surpreender. Mais essa agora, eu, Vladimir Florestalovich Stepanovicinsky, es-co-lhi-do pelos ETs mais style do Universo para grampear uma princesa alienígena. Qual seria o objetivo deles?

"Perdão, mas não pude deixar de escutar seus pensamentos.", disse então Muvukaniga, "A telepatia nos trouxe várias inegáveis vantagens, mas também alguns incômodos. Não conseguimos mais mentir, nem evitar ouvir coisas desagradáveis que os outros pensem. A putaria em nosso planeta, como você pode imaginar, extinguiu-se. Ocorreu o mesmo com a política, o comércio de naves espaciais usadas e o truco. Respondendo à pergunta que você não chegou a fazer: descobrimos um pequeno planeta a trezentos e quarenta anos-luz daqui, e queremos povoá-lo. Se mandarmos alguns de nós, seres muito evoluídos, não se adaptarão às rudes condições locais. A princesa Babalon foi manipulada geneticamente de forma a ser burra como um calço de porta, mas infelizmente ainda não descobrimos como fazer o mesmo com machos. Broxam quando eliminamos um número muito grande de neurônios. Já para as fêmeas, parecem não fazer falta."
- Muvuka, meu velho, vou te dar uma dica. Tenho o mesmo problema. É fácil de resolver, é só usar Cloridrato de Clomipramina (1). É pá pum. O pau levanta de novo na hora. Só que causa ejaculação precoce, mas pra isso tem...
"Esses remédios foram banidos da nossa galáxia há muito tempo, por causa de seus terríveis efeitos colaterais. Por isso dependemos de sua ajuda, terráqueos."

Não nego que a perspectiva de quebrar o galho da princesa Babalon tenha me agradado. Apesar desses ETs serem feios pra caralho, havia outras coisas a levar em conta: a glória de ser o primeiro torcedor na história do América a ser abduzido por uma nave espacial e depois obrigado a copular com uma fêmea alienígena, a possibilidade de um rico intercâmbio intelectual com uma raça de seres tecnologicamente avançadíssimos e, admitamo-lo, não é todo dia que se troca o óleo de graça, sem ter que pagar nem o motel nem cerveja pra quenga. O principal, no entanto, era que eu tinha sido es-co-lhi-do, entre vários bilhões de seres humanos, para ser o consorte de uma pincesa e iniciar uma nova civilização. Missão pra lá de nobre têm esses ETs, semear vida inteligente galáxias afora.

"Não há nada de nobre no nosso ato, humano. Fazemos isso por diversão, apenas. Todos sabem que, havendo condições para a manutenção da vida em algum lugar, é questão de tempo até que uma civilização avançada se desenvolva por si só, sem a menor necessidade de interferência de seres de outro planeta (2)."
- Como é que é? Fazem por diversão?, retruquei, um tanto desapontado, Mas que graça tem isso?
"Melhor que passar o domingo assistindo América x Canto do Rio, como você. Não temos muitas opções de lazer, a putaria em nosso planeta não existe mais, lembra-se? Outra coisa, você não é o único; pretendemos produzir cerca de uma dúzia de pioneiros, por isso trouxemos alguns humanos para cá".

Moderador, favor riscar a frase "o principal, no entanto, era que eu tinha sido es-co-lhi-do, entre vários bilhões de seres humanos, para ser o consorte de uma pincesa e iniciar uma nova civilização." do parágrafo aí em cima.

- Muvuka, estou curioso em saber que avançados critérios científicos interplanetários vocês usam para selecionar os homens mais adequados.
"Pois não. Primeiro, invadimos os computadores das editoras e pegamos a lista dos assinantes de revistas sobre teorias de conspiração. Depois cruzamos informações diversas sobre consumo de remédios controlados, comportamento em situações de supostas pandemias e opiniões sobre temas polêmicos, como drogas, por exemplo. O teste final é colocar um espelho no caminho do sujeito, se ele conversar com sua própria imagem e der meia volta, está apto para a missão. Diga-se de passagem, voltar sem a carteira e o tênis, você foi o único. Tirou a nota máxima.
- Hummm.... Obrigado... eu acho... Vocês só coletam brasileiros ou gringos também servem?
"Worm holes duram apenas alguns bilionésimos de segundo, por isso só temos tempo de passar por um único país. Em Portugal, é claro, haveria mais opções. Mas não queremos que as meninas da nova civilização tenham bigode. Nós ETs somos muito exigentes no quesito estética."

Assim dizendo, levou-me a um grande átrio onde havia alguns sofás, todos vazios. "Você se atrasou demais, todos os demais já subiram para copular com suas respectivas princesas. Não esperávamos que viesse descalço.", observou Muvukaniga, com um ligeiro tremor de orelhas.

Dali a pouco, começaram a aparecer outros seres humanos que retornavam dos quartos. Reconheci algumas caras familiares: Alexandre Frota, Paulo Zulu, Davino Servídio, Pedro Bó, Tiririca, Paivinha, Roberto Freire, esse até cumprimentei mas não me reconheceu, ou então ficou chateado com aquela parada da bandeira no comício, Zecharia Sitchin, meu irmão Dmitri, cacete, moderador, favor riscar a frase "a glória de ser o primeiro torcedor na história do América a ser abduzido por uma nave espacial e depois obrigado a copular com uma fêmea alienígena" do parágrafo ali de cima, tinha também um ex-BBB que eu não lembro o nome.

Finalmente chegou a minha vez. Muvukaniga me passou os comprimidos pra paumolice e me fez entrar nos aposentos da princesa Babalon, não sem antes me instruir "Vá metendo logo de cara, não fique com conversa fiada. Ela não consegue se comunicar, pois a telepatia é inviável para as mentes fracas. Seria tentá-lo e cagar na calça imediatamente. É pena, pois seria ótima para nos explicar certas piadas dos humanos, que nunca conseguimos entender. Potokaniga, fique de guarda aqui na porta enquanto... despeço-me dos outros... convidados."

Nenhum luxo encontrei na peça exígua. Havia uma cama, bastante larga para os padrões humanos, para os padrões Babalonianos, bastante estreita (3). Vi um armário com aspecto lúgubre. Vi uma poltrona no estilo elisabetano e um engenhoso dispositivo para pentear chifres de alce. Vi a foto de um submarino que lutava contra uma tempestade de areia. Vi um espelho que nada refletia. E doze exemplares idênticos da Ilíada que compartilhavam uma estante com os cupins. Vi uma janela, da qual pendia uma aranha quebrada. A pele de um gato, que era ao mesmo tempo tapete, toalha de mesa e cobertor. Um aquário, ao qual faltava apenas o canto inferior esquerdo. Dois quarteirões habilmente transplantados do centro de Londres. Uma máquina de rasgar dinheiro. A princesa Babalon (4).

Fisicamente, a princesa Babalon correspondia perfeitamente às minhas expectativas, o que foi sumamente vexatório. Aquele bucho nem de calça branca ficaria minimamente comível. Via-se claramente que seus chifres de alce eram apliques. Percebiam-se restos de comida alienígena debaixo do sovaco de sapo, indicando que tomar banho não fazia parte dos seus hábitos. A silhueta indicava grande intimidade com todos os ácidos graxos conhecidos. A pele não estava bem depilada, e no meio da cabeleira hirsuta brincavam despreocupados alguns artrópodes displicentes. O sorriso era comprometido pela cera no interior das orelhas (5).

A foda foi bastante burocrática. Não beijou, por motivos óbvios. Mas fez um chupetex até legal com as ventosas. Segurei pra não gozar, pois à porra estava reservado um destino humanitário, por assim dizer. Declinarei de descrever o aspecto da xana da princesa Babalon. Já contei como são as mãos desses aliens, por aí imaginem como a buceta era bonita. Isso, entretanto, não foi o bastante para dissuardir-me de aplicar-lhe um valente minete (6), pois ela montou na minha boca e não me deixou respirar enquanto não me convenceu. Depois dessas preliminares, a doce Babalon pegou debaixo da cama um pote que continha uma pasta cor de tijolo e consistência de massa corrida para paredes e com ela besuntou o buzanfã. Chegara a hora da verdade.

Não tive dificuldades para penetrá-la, muito pelo contrário, a buça era bem larga para os padrões humanos. "Só faltava essa, o cara tem pinto pequeno", ouvi alguém dizer, ou melhor, pensar, mas não era a voz do Muvukaniga, será que eu estou sendo observado, pensei, a princesa Babalon, expedita, tirou um rolo de fita crepe da gaveta e enrolou meu pau até ficar grosso o suficiente pra dar pressão no interior daquela caverna, comecei a bombar, estava bom, parece que as ETs têm ventosas em outros pontos estratégicos também, ouvi ao longe alguns gritos, fiquei intrigado pois achava que as demais metelanças já houvessem terminado, mas não pude nem concluir meu pensamento, sofro de ejaculação precoce e não havia tomado o remédio antes, gozei logo.

Consumado o coito, a princesa Babalon passou delicadamente os tentáculos em torno do meu pescoço e me atirou para fora do quarto violentamente. Acho que a frase "a possibilidade de um rico intercâmbio intelectual com uma raça de seres tecnologicamente avançadíssimos" pode ser riscada daquele parágrafo também, moderador. Pelo menos, a piranha tinha local, não paguei nada e não tive que ouvir PPP. Ainda fiquei no lucro, apesar de a foda não ter durado nem quinze minutos. Parafraseando os populares, a puta barata não se olham os dentes, ditado ainda mais verdadeiro que o habitual quando referido à princesa Babalon.

Lá fora, não havia ninguém. Enquanto conferia para ver se não tinha nenhum osso quebrado, ouvi a voz familiar de Muvukaniga: "Potokaniga, o que está fazendo aqui na sala de cafezinho? Por que deixou seu posto?", e uma resposta de uma voz também familiar, era a que eu tinha ouvido lá dentro do quarto, "Chefe, o terráqueo ainda demora lá dentro, o pau dele custa a subir.", ao que o outro replicou imediatamente "O retardado toma remédio que causa ejaculação precoce, volte já pra lá antes que ele fuja. Você sabe o que aconteceria se algum desses terráqueos revelasse aos demais o que acontece aqui. Assim que ele sair, leve-o imediatamente para a câmara de sugagem cerebral."

Sugagem cerebral! Já havia lido algo a respeito disso. Em Nibiru usavam-na para evitar que as cabeças dos prisioneiros, habitualmente empregadas como bolas de futebol, espalhassem os miolos pelo gramado. Com o entusiasmo pela foda gratuita inesperada, havia-me esquecido de quão sanguinários são os alienígenas em geral.

Salvaram-me minha prodigiosa memória e minha extraordinária capacidade de raciocínio lógico. Lembrei-me que havia uma pele de gato no quarto; concluí que devia andar por ali o resto do gato. Evidentemente, prosseguiu meu cérebro a todo vapor, não pode ser visto, por não ter mais exterior, apenas interior. E mais: um gato normal, por pudor, não ficaria andando pelado por uma nave espacial cheia de aliens; é óbvio que ele estaria muito próximo. Passei a desferir pontapés em todas as direções. Depois de acertar minha canela umas três ou quatro vezes, ouvi com nitidez um miado pungente (7). Agarrei o gato, que por não ter pele, estava bastante escorregadio. Por sorte, devido ao calor que fazia na Cidade maravilhosa, as janelas da nave estavam todas abertas. Instruí ao meu salvador que tratasse de voar vigorosamente para que não nos esborrachássemos lá em baixo, afinal de contas estávamos a quase vinte metros do chão, e pulei com ele pela janela.

Pena que o desgraçado do gato não tenha obedecido. Ou não entendia a nossa língua ou ficou aborrecido com a botinada que levou e não quis reconhecer-me como seu novo dono. Felizmente caí de cabeça e não me machuquei. Corri de volta para casa, deixando para trás o felino infeliz e os ETs ingratos, inclusive a mãe de meu futuro filho. De que destino terrível escapei, pensei, passar por um sugador de cérebros deve ser uma experiência traumatizante. Minha sanidade mental certamente ficaria comprometida para sempre. Eu me tornaria irremediavelmente hipocondríaco. Eu começaria a imaginar coisas. Eu passaria a acreditar em um monte de superstições idiotas. Eu perderia a capacidade de discutir. Por isso precisava fugir de qualquer maneira.

E teria conseguido, se aquele maldito espelho não estivesse ainda no meio do caminho ( 8 ).
--------------------------------------------------------
Notas:

(1) Ver nota 8 da primeira parte.(nota do estagiário da primeira parte)
(2) CHUUUUUUUUUUPA, Vlad. (nota do Carnage)
(3) Quiasmo, figura de linguagem também conhecida como antimetábole, que vem do grego Khiasmós (disposto em cruz), e que consiste no consiste no cruzamento de grupos sintáticos paralelos, de forma que o grupo de vocábulos do primeiro se repete no segundo em ordem inversa. Um ou ambos os grupos podem ter o sentido também invertido: "Melhor é merecê-los sem os ter/Que possuí-los sem os merecer.". (nota do professor Pasquale)
(4) Tsk, tsk. (nota do psicólogo da família Stepanovicinsky)
(5) R$ 81,90. (nota do provedor de Internet)
(6) Manobra também conhecida como cunilíngua, chupada e beijo australiano (nota do leitor)
(7) Nenhum animal foi ferido durante a redação desta história. (nota do fiscal do Ibama)
( 8 ) Os espelhos e a cópula são abomináveis. (nota de Jorge Luis Borges)

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Avatar do usuário
Nazrudin
Forista
Forista
Mensagens: 7313
Registrado em: 22 Mai 2005, 19:50
---
Quantidade de TD's: 441
Ver TD's

#10 Mensagem por Nazrudin » 05 Set 2009, 10:05

Trica, fico a imaginar, ora pois, o quanto vc. se diverte com tudo que é postado aqui. Apesar da carranca barbuda, e de ser gordo, vc. é um camarada legal. O texto é divertidissimo e exige um preparo do leitor, tem que acompanhar o gpguia! De certa maneira, é uma homenagem, para não dizer um presente a esse manicômio. A referencia a calça branca e da fita crepe foi magistral; e tantas outras....

O final foi totalmente Matrix! Parabéns.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Mr hyde
Forista
Forista
Mensagens: 2471
Registrado em: 24 Ago 2005, 22:32
---
Quantidade de TD's: 30
Ver TD's

#11 Mensagem por Mr hyde » 19 Out 2009, 22:04

Trica, muito bom...
mas tem certeza que escapou ileso...
Hummmm
passar por um sugador de cérebros deve ser uma experiência traumatizante
Grade Tricampeão.
Parabens pela criatividade e por prender a nossa atenção até o fim.
abs

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Responder
  • Tópicos Semelhantes
    Respostas
    Exibições
    Última mensagem

Voltar para “Crônicas”