Onde Vivem os Monstros? (2009)
7,5 (0 a 10)
Era tudo o que eu esperava. Spike Jonze é um sujeito que tem uma percepção do cinema que deveria ser mais difundida por aí. Em seu mais novo trabalho, ele aproveita tudo o que a linguagem cinematográfica pode oferecer para dar movimento a uma narrativa. Mais do que ousadia, isso se chama bom senso. Em Onde vivem os monstros a técnica é perfeitamente dosada com a criatividade. Saí da sala de projeção com a convicção de que é para isso que existe a sétima arte: através da ousadia, permitir que os olhos possam ir o mais além possível da tela.
O filme é uma adaptação de um famoso livro infantil - que só agora ganhou uma edição em português - escrito pelo também ilustrador Maurice Sendak. O personagem principal é Max, um menino cuja imaginação o permite criar histórias fantásticas. Porém, sem ter com quem compartilhá-las, acaba tendo que enfrentar uma solidão forçosa. Um dia, se revolta com a mãe e foge de casa. Vai parar, então, em um mundo habitado por enormes criaturas, das quais vira rei.
O interessante é observar que em momento algum, no livro e no filme, as criaturas são chamadas de monstros. São coisas. Erro da tradução. Coisas selvagens, sobre as quais não se tem controle, a não ser que haja um rei, uma consciência. Cada uma das criaturas, selvagens por vagarem livremente, sem comando, representa um traço da personalidade humana. Max, o protagonista, tenta a todo custo fazer com que todos os seus monstros convivam em paz.
As criaturas são realmente impressionantes. Humanizadas, são capazes de dialogar com o espectador sem exageros cartunescos. Sofrem, choram e se irritam. As discussões entre elas e Max são firmes, angustiantes, emocionantes e até mesmo, em certas sequências, perturbadoras. O tom de medo e melancolia está presente em cada linha. Contribuem para a narrativa uma fotografia extremamente bem cuidada, com luz e sombra bem trabalhadas, e uma trilha sonora original de se tirar o chapéu, composta por Karen O, a líder dos Yeah Yeah Yeahs.
Segundo notas da produção, Jonze se desentendeu com a Universal, primeiro estúdio a bancar a empreitada. Foi então para a Warner, que também não achou muita graça no primeiro corte do filme, uma vez que esperava um produto com mais apelo familiar. Ainda assim, Jonze bateu o pé e montou uma obra que esteticamente se assume para públicos mais maduros, mesmo que, lá no fundo, trate da imaturidade.
Ainda que a carga dramática se acentue perto do desfecho, Onde vivem os monstros emociona o espectador pelo conjunto da obra, e não por cenas pontuais. Meus olhos, por exemplo, ficaram marejados durante as sequências mais agitadas. Prova de que o cinema pode, quando bem intencionado, emocionar sem clichês baratos.
E lá vai Spike Jonze contando uma história... É para isso que serve o cinema.
Isso é cinema!
Roubado desse blog:
http://www.cinefiloeu.com/2010/01/6-ond ... -wild.html
Achei tão ótima essa resenha que depois que li, desanimei em escrever.
Na verdade fui assistir esse por causa da trilha, e a integração filme/audio é perfeita, um som meio que tribal que remete a fúria e melancolia interior dos personagens.
A história é bacana e nos remete ao universo infantil e essa frase resume a intenção do diretor: "montou uma obra que esteticamente se assume para públicos mais maduros, mesmo que, lá no fundo, trate da imaturidade."