Pedro ficou viúvo. E como sentia por sua Maria.
No dia do velório poucos choraram. Mulher carinhosa, dedicada, amada por sua família, todos aliviados com o desfecho rápido da doença maldita. Senhora de idade, avó, não merecia sofrer.
O velho uma rocha. Cumprimentou a todos, riu das lembranças carinhosas da esposa, todos com afeto pela risada espontânea e estrondosa que só ela sabia dar. Caixão pesadinho. Pedro se lembrou das coxas grossas de Maria, uma encoxadinha ele não deixava escapar. Na boca escarlate a lembrança viva contrastando com a pele mais alva do cadáver. O abraço dos filhos, netos, o que dizer ao pater familias?
Retorna à casa vazia guiando o carro novo que prometia mais conforto para amada. Tudo em ordem, silêncio mortal. Pedro toma dois comprimidos que o médico receitou e dorme sono pesado, sem sonhos.
Acorda no horário de sempre e não busca pelo pezinho quente de Maria. Toma um copo de água na cozinha e vai direto pra rua buscar o jornal. Homem-relógio sentou-se no vaso e, lendo através do papel, finalmente relaxa e sem se preocupar em conter-se, dá vazão as suas emoções. As notícias do dia afogadas no calor das lágrimas.
Tinha poucos amigos e sempre um tanto fechado, a Maria era quem lhe entendia. Sentia um ardor no peito, o gosto da angustia na boca, na nuca a pressão dos famintos. Saudades da Maria.
Foi no médico achando que estava depressivo e esse lhe viu outra coisa. – A saúde é de ferro, a cabeça é boa. Acho que o Sr. deveria sair, namorar, tem ainda muita energia pra gastar. A solidão é o seu pior inimigo.
Então tinha uma peleia pela frente. Iria enfrenta-la como sempre fizera, de peito aberto e um olhar de desplante. Com a Maria foi assim, a paixão veio fácil, difícil foi convencer a família dela. E então não provara sua capacidade, não pôs os filhos nos melhores colégios, não deu o sangue pela família?
De viúvas não queria saber, ninguém nunca lhe substituiria a Maria. Desquitadas não eram de confiança. As solteiras muito jovens e insultar a família ele não iria. Acabou resolvendo-se nos classificados do jornal.
Homem ele era. Não se intimidou com a profusão de ofertas. Cuidou apenas para não ofender a Maria com uma sósia que lhe pudesse confundir o amor. Descartou as morenas de pele muito branca e se encarregou das demais. Loira, ruiva, morena de pele queimada, uma pretinha quem nunca experimentou não sabe o que está perdendo. Muito magra era riscada e as demais degustadas. Sempre educado, deixava o combinado dentro de um envelope que era para não se ofenderem.
A família se dava por satisfeita pela vitalidade do velho e, ciumentos, lhes tranqüilizava a escolha da solidão. Do dinheiro cuidava ele, então já não tinha lhes passado quase tudo? Sentia falta da Maria nas pequenas coisas, uma diarista ia ao apartamento duas vezes por semana. Um pouco de resignação resolve quase tudo.
Afeiçoou-se a algumas meninas e parou de ciscar em tudo quanto é canto. Reconheceu quem eram as que melhor lhe atendiam e que lhe satisfaziam plenamente. Ficou surpreso com as habilidades da modernidade, então não se fisga o peixe pela boca? Coxa grossa malhada, peitos inflados, a gente estranha, mas até que não é ruim...
Homem de hábitos ele era, sonhava com a eterna namorada, acordava e ia buscar o jornal. A Maria sempre guardada em seu coração.
No dia do velório poucos choraram. Mulher carinhosa, dedicada, amada por sua família, todos aliviados com o desfecho rápido da doença maldita. Senhora de idade, avó, não merecia sofrer.
O velho uma rocha. Cumprimentou a todos, riu das lembranças carinhosas da esposa, todos com afeto pela risada espontânea e estrondosa que só ela sabia dar. Caixão pesadinho. Pedro se lembrou das coxas grossas de Maria, uma encoxadinha ele não deixava escapar. Na boca escarlate a lembrança viva contrastando com a pele mais alva do cadáver. O abraço dos filhos, netos, o que dizer ao pater familias?
Retorna à casa vazia guiando o carro novo que prometia mais conforto para amada. Tudo em ordem, silêncio mortal. Pedro toma dois comprimidos que o médico receitou e dorme sono pesado, sem sonhos.
Acorda no horário de sempre e não busca pelo pezinho quente de Maria. Toma um copo de água na cozinha e vai direto pra rua buscar o jornal. Homem-relógio sentou-se no vaso e, lendo através do papel, finalmente relaxa e sem se preocupar em conter-se, dá vazão as suas emoções. As notícias do dia afogadas no calor das lágrimas.
Tinha poucos amigos e sempre um tanto fechado, a Maria era quem lhe entendia. Sentia um ardor no peito, o gosto da angustia na boca, na nuca a pressão dos famintos. Saudades da Maria.
Foi no médico achando que estava depressivo e esse lhe viu outra coisa. – A saúde é de ferro, a cabeça é boa. Acho que o Sr. deveria sair, namorar, tem ainda muita energia pra gastar. A solidão é o seu pior inimigo.
Então tinha uma peleia pela frente. Iria enfrenta-la como sempre fizera, de peito aberto e um olhar de desplante. Com a Maria foi assim, a paixão veio fácil, difícil foi convencer a família dela. E então não provara sua capacidade, não pôs os filhos nos melhores colégios, não deu o sangue pela família?
De viúvas não queria saber, ninguém nunca lhe substituiria a Maria. Desquitadas não eram de confiança. As solteiras muito jovens e insultar a família ele não iria. Acabou resolvendo-se nos classificados do jornal.
Homem ele era. Não se intimidou com a profusão de ofertas. Cuidou apenas para não ofender a Maria com uma sósia que lhe pudesse confundir o amor. Descartou as morenas de pele muito branca e se encarregou das demais. Loira, ruiva, morena de pele queimada, uma pretinha quem nunca experimentou não sabe o que está perdendo. Muito magra era riscada e as demais degustadas. Sempre educado, deixava o combinado dentro de um envelope que era para não se ofenderem.
A família se dava por satisfeita pela vitalidade do velho e, ciumentos, lhes tranqüilizava a escolha da solidão. Do dinheiro cuidava ele, então já não tinha lhes passado quase tudo? Sentia falta da Maria nas pequenas coisas, uma diarista ia ao apartamento duas vezes por semana. Um pouco de resignação resolve quase tudo.
Afeiçoou-se a algumas meninas e parou de ciscar em tudo quanto é canto. Reconheceu quem eram as que melhor lhe atendiam e que lhe satisfaziam plenamente. Ficou surpreso com as habilidades da modernidade, então não se fisga o peixe pela boca? Coxa grossa malhada, peitos inflados, a gente estranha, mas até que não é ruim...
Homem de hábitos ele era, sonhava com a eterna namorada, acordava e ia buscar o jornal. A Maria sempre guardada em seu coração.