Sábado, aos 26 dias de Fevereiro do ano de 2005. 3 da tarde. Verão.
Atravesso a rua sete de abril em direção a Avenida Ipiranga sob o alvo implacável da chuva. No meio do caminho ela cessa e eu continuo, caminho mais 10 passos e olho pra cima, olho pro céu acinzentando e vejo algumas nuvens se dissipando e isso me chateia. Eu gosto da chuva. A sensação de olhar as pessoas se escondendo dela, correndo para algum abrigo e eu ali sossegadão a encará-la de frente, ou melhor, de baixo, dá uma sensação de superioridade em relação aos cuzões que fogem da água. É como se fosse uma arena romana as avessas onde milhares de pessoas são jogadas aos leões e eu ali sendo o único espectador da carnificina. Puro delírio. Percebam que água não arranca pedaço, ela apenas molha
.
Sigo em frente e observo um tumulto de pessoas aglomeradas. Chego mais próximo e noto que o último quarteirão da 7 de abril está interditado. Fitas amarelas interrompem a passagem de pedestres e automóveis sobrando apenas um estreito espaço do lado direito da calçada para se passar. Por um momento penso em voltar e fazer outro caminho mas desisto dessa idéia e resolvo encarar. Muita gente aglomerada nesse espaço faz com que a passagem por ele se torne uma aventura fazendo lembrar aqueles shows gratuítos em local aberto onde as pessoas disputam espaço e ar ao mesmo tempo num movimento caótico de gente pra lá e pra cá. Sufocante. Conforme caminho na tentativa de ultrapassar aquele obstáculo humano e sair daquele sufoco tento descobrir qual o motivo daquele tumulto todo. Sem entender nada olho pro lado e pergunto para um sujeito parado junto a parede a observar tudo tranquilamente. "Estão gravando um comercial da Coca-Cola." Certo. Decepcionado com a resposta consigo finalmente romper a barreira e chegar ao meu destino:Estação de metrô República.
Desço as escadas, viro a esquerda e começo a procurá-la. Nada dela. 3 e 15 da tarde. Um quarto de hora para atravessar 3 quarteirões de uma rua e romper uma barreira humana através de um corredor polonês-tupiniquim. Nada mal, penso.
Não tarda muito e avisto Elektra atravessando as glamourosas catracas do metrô. De calça rasgada e camiseta básica ela vem em minha direção.Gostosa
Eu timido e recatado a comprimento. Gosto de chuvas e de mulheres, porém, as águas da chuva não me intimidam. Mas a fera é mansa. Subimos as escadas rolantes, atravessamos a 7 de abril e damos a volta no quarteirão fugindo da multidão tentamos um ângulo melhor para observar a gravação do tal comercial. Talvez a Daniella Cicarelli estivesse ali, no meio da rua a pagar um boquete para o Ronaldinho. Ela chupa o pau dele avidamente quando então a camêra se aproxima e foca o rosto do fenômeno completamente rendido com cara de doidão enquanto aquela boca enorme lhe chupa os bagos. A imagem agora é da Cicarelli que puxa da mão de Ronaldo uma garrafa de coca no lugar do pau. Ela olha pra camêra e diz "finalmente consegui abrir a garrafa". E o Ronaldinho diz "tudo que é difícil é mais gostoso" "Faça que nem eu a Dani beba coca-cola que a vida se torna mais fácil e saborosa ao mesmo tempo". E o fenômeno abre aquele sorriso com os dentões pra fora.
Puro delírio!
Mas ninguém famoso ali estava. Nada de ILha de Caras. Só a 7 de Abril, suja e molhada a servir de cenário para mais um comercial tosco de TV.
A Elektra parecia em casa. Sentamos na mesa do bar e pedimos cerveja na verdade preferiria coca-cola, algo subliminar me induzia a isso. Mas resolvo encarar a cerva. Bebemos. Olho para aquela mulher o ouço sua histórias a fluir de sua voz de sotaque gaúcho. Ela me parece alguém madura e decidida em um primeiro instante. Mas há um q de insegurança em seu olhar, um mundo obscuro eu sei
Mas ela é bem articulada e eu nem tanto. Ouço. É peculiar perceber que diante de mim está um típica garota de classe média que poderia ser a companheira de trabalho, vizinha ou colega de classe de muitos aqui. Ou talvez até seja...de alguns. Mas seu lado trash falava mais alto naquele instante e então resolvemos partir para o porão propriamente dito. Ela estava decidida a encarar a aventura de peito
(e que peito) aberto. Saímos do bar e um cara nos pára, um garçom. Para perguntar se havíamos pago a conta. Primeiro mico hehehehehe. Tivemos que voltar pra dar satisfação aos filhos da puta. O caixa disse "limpos".
Saímos daquela porra sem sequer o garçon nos pedir desculpas por aquela gafe. Mas tudo bem. Coisas do centrão.
Entramos na Barão de LImeira. Começo a sentir um aperto no estômago, a cerveja na barriga vazia faz efeito. Eu não havia almoçado. Procuro me concentrar. Elektra observa alguns meninos sentados em um canto da rua a cheirarem cola. Ela não parece muito espantada com a cena mas apenas um pouco comovida. Para mim me resta a indiferença.
Chegamos ao predião. Elektra, corajosa, resolve subir as escadas. Tranquilamente. Ela procura se mostrar calma e serana. Eu procuro esconder meu desconforto causado pela cerveja na barriga vazia. Subimos, subimos. Ao som de muito forró num típico dia de sábado a trombar com nordestinos e bolivianos a descer e subri aquele inferno. As putas dalí olham para Elektra num misto de curiosidade e espanto. Elektra olha para as putas dali num misto de curiosidade e estranheza e as vezes surpresa.
Chegamos ao sétimo andar. Resolvemos parar ali para descansar. Apresento Elektra a gerentinha peituda e esta, a princípio surpresa pela presença de Elektra, se mostra simpática e receptiva.Momento insólito. Sento e respiro fundo, o efeito da cerveja parece se agravar. Tomo um guaraná enquanto as duas conversam. Apesar do som alto de forró tento ouvir o que as duas conversam. Elektra começa a perguntar coisa pra geretinha como se estivesse interessada em faze parte do plantel
Como funciona o esquema???? E por aí vai...Sinistro
Elektra me parece desconfortável então peço permissão para que Elektra pudesse ver os quartos como desculpas para encerrar a conversa. Levo-a até os cubículos, abatedouros que conheço tão bem. Elektra olha para os lençóis encardidos paracendo sentir-se aliviada com aquela visão dos infernos. Talvez nesse exato momento venha em sua mente a lembrança dos lençóis macios e limpos que a aguardam em seu flat. Em meus pensamentos perdidos imagino Elektra nua deitada sobre aquela cama suja longe de seu flat ali como se fosse da casa...E eu pronto para traçar ela por 15 contos naquela podridão de lugar...
Elektra sorri. Eu acordo. Me sinto mal. Preciso de ar fresco e então vamos até a sacada onde eu posso respirar melhor, do local avistamos um prédio de hotel de bela arquitetura e sete andares abaixo da gente. Sinto vertigem.
Resolvemos partir. Descemos as escadas ainda sob os olhares curiosos das pessoas. Chegamos ao terreo e ao pisar a calçada o semblante de Elektra é de um alivio de quem acabara de acordar de um pesadelo.
Eu "o que achou?"
Elektra "Pensei que fosse pior"
Mas posso ler em em seus pensamentos...
"Meu Deus! Isso é como um pesadelo...algo do tipo ser desejada pelo própio pai
isso é pior que o complexo de Elektra. Esse foi meu pior pesadelo
Até a próxima Elektra, até a próxima...