Por Rodrigo Bueno
Da Folhapress
Em São Paulo
O Corinthians vive de fato uma experiência nova em sua história. No ano
em que mais lida com dinheiro, vê demonstrações de amor raras dentro de
seu elenco.
Dois momentos recentes do time são emblemáticos: a saída infeliz de
Fininho na partida contra o Sampaio Corrêa e o golaço de Coelho na vitória
de quarta por 3 a 0 sobre a Ponte Preta. Nos dois momentos, vários
atletas se beijaram carinhosamente, algo habitual só em outros países.
"Somos um grupo muito jovem, mas há jogadores que se conhecem há muito
tempo. É o meu caso com o Carlos Alberto e o Fininho, por exemplo. Esse
relacionamento faz com que tenhamos muito carinho um pelo outro", disse
o lateral-direito Coelho.
O meia-atacante Carlos Alberto, que chegou ao clube após vitoriosa
passagem pelo Porto, tenta acabar com o que entender ser preconceito no
Brasil. "Em outros países, é normal os jogadores se beijarem. Eu beijo os
jogadores mais próximos, mas na boca não", disse ele, referindo-se à
famosa cena em que Tevez e Maradona se beijaram com fervor na Argentina
-o fato ocorreu após a conquista do ouro em Atenas.
Tevez, pouco após ser apresentado no Corinthians, já quebrou um pouco a
rotina. O goleiro kkkkkkkkk Costa foi cumprimentá-lo no final do Brasileiro
passado, e ele abraçou carinhosamente o companheiro e o beijou no
rosto. O goleiro olhou para o argentino com estranheza, mas permitiu a
aproximação do novo amigo.
Os jogadores mais jovens do time, que são os que mais têm se beijado,
dizem que não chega a ser uma novidade a troca de beijos no elenco. "Não
é uma influência por causa dos argentinos que estão chegando. Desde o
ano passado, nós nos beijávamos no vestiário antes dos jogos. Acho que é
normal. O brasileiro está acabado com esse preconceito", disse o
volante Wendel, outro que destacou no jogo de quarta, o melhor do time na
temporada.
Além dos argentinos, que culturalmente se beijam, um iraniano e um
gaúcho têm contribuído para a nova moda no clube. Na quarta, após o jogo,
Kia Joorabchian, parceiro do time, foi aos vestiários e beijou o técnico
Tite. Kia, desde que começou a ter contato com dirigentes do clube, pôs
em prática seu hábito de beijar no rosto as pessoas com quem se
relaciona.
Alguns dirigentes estranharam esse comportamento, que virou até motivo
de piada no clube.
O atacante Gil, um dos mais experientes do time, ainda não se rendeu de
todo à cultura do beijo, mas diz não ver problemas em interpretações
equivocadas do caso.
"É uma coisa que vejo mais lá fora [no exterior]. O Ronaldo beija a
cabeça do Roberto Carlos. Quem quer se beijar se beija. O nosso time está
se expressando dessa maneira. Acho que não vão pensar coisa errada. O
corintiano é mais associado a maloqueiro."
Vampeta, ex-companheiro de Gil, espalhou o apelido pejorativo de
'bambi' dos são-paulinos, rivais, no clássico de domingo. O volante Renan, do
São Paulo, questionou nos últimos dias esse apelido: "Os corintianos se
beijam, e nós é que somos bambis?"
Luís Moraes, ex-presidente e atual conselheiro da Gaviões da Fiel,
maior torcida organizada do Corinthians, disse que até agora não houve
motivo para condenar os beijos no elenco corintiano.
"Não pode é haver exagero. Beijar é uma cultura de cada um. Vejo aqui
[Gaviões] que alguns até se beijam, mas são aqueles que têm uma
irmandade, que são bem próximos, como uma família", afirmou Luís Moraes, o
Dentinho.
Segundo a Folha de S.Paulo apurou, Kia e Tite não deram o primeiro
beijo ontem. Apesar de o técnico ter dito no ano passado que nem se
sentaria para conversar com o iraniano, eles já se aproximaram bastante nas
últimas semanas. Tite ainda pôde beijar ontem toda a família no Pacaembu.