Ah, que bom saber que nem a Copa do Mundo, nem a conquista do tetra contaminaram nossas duas maiores equipes com o chamado futebol de resultado!
Ontem, no Morumbi, São Paulo e Palmeiras mostraram um futebol vivo, nervoso, inteligente, agressivo, na combinação exata de competição e arte, disciplina tática e improvisação, coletivo e individual.
Isso tudo, com dois padrões distintos de disposição em campo dos times. O São Paulo, mais criativo na sua organização, entrou no gramado com um sistema fluido, um 3-5-2 móvel, onde Válber, como líbero de verdade, ficava na sobra pelo meio e saía jogando com o talento que Deus lhe deu.
A escoltá-lo pela direita, Júnior Baiano; pela esquerda, Gilmar. Contudo, ambos também com liberdade para sair jogando, quando assim as circunstâncias do jogo permitiam.
Nas laterais, Vítor e André estiveram o tempo todo atentos à marcação de seus respectivos setores. Mas, quando de posse da bola, avançavam tanto junto à linha quanto pelo meio, conforme o posicionamento dos jogadores de frente.
No meio-campo, Axel, Cafu e Palhinha, um pouco mais à frente, distribuindo o jogo para Euller e Muller lá na frente.
Já o Palmeiras veio com sua formação habitual, mais ortodoxa, com dois zagueiros centrais, dois laterais sempre prontos para disparar ao ataque, César Sampaio e Mazinho revezando-se na organização de jogo e no combate do meio-campo, recebendo o auxílio constante de Zinho e eventual de Evair, enquanto Edmundo e Edílson movimentavam-se lá na frente, em constante revezamento pela direita e pelo centro do ataque.
Esse cenário propiciava ao Palmeiras maior domínio do campo e da bola. Mais sólido, mais compacto em todas as linhas, controlava o jogo, embora esbarrasse numa defesa intransponível.
Já o tricolor oferecia a bola e o campo, ficando com os contragolpes, que eram mortíferos. Tanto que, aos 18min do primeiro tempo, numa rápida combinação entre Palhinha, Muller e Euller, jogada em altísssima velocidade, marcou seu primeiro gol.
Esse foi o ponto de desequilíbrio. A partir daí, o Palmeiras começou a dar sinais de ansiedade. Queria porque queria o gol de empate, enquanto o tricolor se multiplicava na defesa e saía em velozes contra-ataques.
O problema é que Cafu, com o joelho direito baleado, não conseguia se aproximar de Euller e Muller com a precisão e rapidez que lhe são peculiares. Apesar disso, logo aos 13min do segundo tempo, um passe magnífico de Palhinha serviu Euller montado no vento. O tempo da chegada de Euller na bola, a matada e o chute fatal foi um piscar de olhos.
Resultado: 2 a 0 e jogo definido, já que o ataque palestrino entrou num processo de entropia, sobretudo Edmundo, apesar da bela jogada que ele realizou no final, salva, em cima da risca, por Ronaldo Luís, item do Guiness nessas jogadas.
Já nos descontos, Evair, cuja agressividade foi desperdiçada, quando o técnico o exilou na ponta, cobrou a falta com um rigor geométrico, no ângulo, que resultou no gol de honra palestrino.
Assim, o São Paulo, a exemplo do Independiente da Argentina, vai criando a legenda de time "copero", aquele predestinado a ganhar a Libertadores, enquanto o Palmeiras resgata sua velha tradição dos tempos da Academia: aqui, ganha tudo, mas derrapa na disputa que leva ao título mundial.
Foi, enfim, um exemplo vivo de que o nosso futebol pode buscar o resultado, sem desprezar o espetáculo.
ALBERTO HELENA JR