PRS escreveu:O obstáculo é simples, na verdade - é uma questão cultural, só isso.
[...]
...o cara terá de aceitar que a esposinha/namoradinha/filhinha/mãezinha também PODE liberar o rabinho por numa grana sem neuras. Quantos vão aceitar isso?
A sociedade que você imagina está há anos-luz depois da legalização, num mundo em que a prostituição, além de legalizada, é considerada uma profissão como outra qualquer, sem nenhuma diferença.
Vejo a aceitação da prostituição parecida com a tolerância que as pessoas vêm apresentando com a infidelidade matrimonial:
(1) Há séculos, era crime punível com a morte. Em algumas sociedades ainda é. O machismo prevalece, sendo que as mulheres são punidas com mais frequência e rigor.
(2) Depois, se não havia punição direta, havia punição velada, como foi bem retratado no livro e filme "
A Letra Escarlate".
(3) Em seguida, nas últimas décadas, mesmo quando não havia punição, o tabu persistia. Quem praticava o ato era visto como o culpado pelo término do casamento, perdia a guarda dos filhos, era obrigado a pagar pensão, era vítima de preconceito, etc. Além do mais, o adúltero poderia ser assassinado pelo traído, em caso de flagrante, e o criminoso não sofreria punições sérias.
(4) Atualmente, o adultério não é crime, nem tabu, e praticamente não é alvo de preconceito. Não é motivo para divórcio, nem perda da guarda dos filhos. A infidelidade é tema de músicas, a maioria trai, pouquíssimos se sentem impedidos em trair, mas ninguém quer ser traído. Ainda somos hipócritas nesse quesito.
(5) Daqui a algumas décadas, ou séculos, talvez "infidelidade", "ciúmes" e "monogamia" sejam considerados tabus tão idiotas quanto o da virgindade, e todos vivam o tal do "
poliamor" que a Regina Navarro Lins (e os hippies) tanto prega.
Esquecendo a infidelidade e voltando à prostituição, estamos ainda no item (3): prostitutas e seus clientes são vistos como párias na sociedade, alvo de preconceito e às vezes considerados criminosos.
A legalização da prostituição seria o item (4): sem tabu, sem preconceito, bem aceito na sociedade, mas ainda com alguma hipocrisia.
O item (5) é o mundo imaginado pelo
PRS, no qual qualquer mulher pode se prostituir livremente sem que ninguém se incomode com isso, nem seu pai, nem seu marido, filhos ou irmãos. Nos apêndices do livro "
Pagando Por Sexo", Chester Brown imaginou um mundo assim.
PRS escreveu:...para a GP deixar de ser discriminada em primeiro lugar precisa mudar a cabeça do cliente
Concordo com a frase, mas não com a explicação que veio depois.
Pra discriminar, legalizar, deixar de ser tabu e não ser mais alvo de preconceito, a prostituição precisa ser vista sem a hipocrisia que a maioria das pessoas ainda possui.
Prostitutas e putanheiros não querem ser vistos como tais. Até aí tudo bem. Mas o pior é que pregam comportamentos contrários ao que seguem na intimidade. Da mesma forma como um gay enrustido pode ser homofóbico, putanheiros podem considerar a puta como a ralé do sexo feminino, e prostitutas consideram seus clientes como o pior tipo de homem possível. Políticos e religiosos (e qualquer um) podem ser putanheiros, mas pregam o abolicionismo, para não serem criticados pelos outros putanheiros enrustidos.