Pois bem, um professor que tive na faculdade chamado Nilson José Machado escreveu um livro que discute o conhecimento e sua relação de valor na atual sociedade. Num dos tópicos deste livro ele trata do uso das novas tecnologias e suas implicações nas relações humanas. Fala dos personagens que as pessoas encarnam quando estão por trás de um teclado ou de posse de um celular. Acho esse assunto pernitente ao fórum, pois ele é a prova viva daquilo que o professor escreve em seu livro. Tomo como exemplo eu mesmo, que crio situações fantasiosas e encarno personagens (como toda a história de partido, por exemplo).
Abro esse tópico, portanto, para que avaliem essa situação. Quem aqui assume personagens? E até que ponto isso é bom ou ruim?
Para compreender melhor segue um trecho do livro:
O Parecer e o Ser
"As tecnologias aumentaram enormemente nossa capacidade de simulação de objetos ou de eventos...
Os jogos concretizam situações anteriormente apenas imagináveis na mente, sem possibilidades de representação pictórica ou realização nas telas. As relações interpessoais também foram sensivelmente afetadas pelas simulações associadas aos instrumentos tecnológicos. Hoje, namora-se virtualmente e há quem quase se satisfaça com um quase-amor virtual.
Tal ampliação de horizontes, contudo, pode conduzir a um terceiro risco, associado ao uso intensivo das tecnologias informacionais: trata-se da aparente suficiência do parecer em realção ao ser. Houve época em que o grande embate teórico se situava na relação entre o ter (bens materiais) e o ser (ou tornar-se) pessoa. Hoje, os recursos de multimídia e as redes informacionais conduziram o debate para outra questão, para outro local: não se buscaria mais tantonem o ser nem o ter, mas predominantemente o parecer, com o deslocamento de foco da essência do que se é ou da materialidade do que se tem para a simples concentração das aterições na efemeridade do espetáculo. A preocupação com a aparência predomina, e o brilho atrai mais do que as agruras da construção do caráter. Tudo parece transformar-se em um grande espetáculo....
Em vez de conto de fadas, de fábulas para a extração de valores, o simulacro, a simulação transformam-se em novo e atraente "faz de conta": não é preciso ser um atleta famoso, basta parecer com ele para garantir espaço na mídia ou contratos financeiros. Se à mulher de César não bastava ser honesta e era exigido também que parecesse honesta, atualmente o ser honesto já não é tão decisivo quanto parecer honesto...
Sob o fascínio da simulação, superestimam-se programas de educação a distância, de teleconferências, de realidade virtual, de sexo virtual etc, etc,etc. A existência na tela confunde-se perigosamente com a existência real. E as indiscutíveis possibilidades da simulação como recurso para projetar em sentido técnico imiscuem-se indevidamente nas atividades ordinárias do ser humano...desintegramo-nos ou confundimo-nos em atividades sem sentido, que nos fazem, frequentemente, parecer o que não somos, ou desejar aquilo de que, efetivamente, não precisamos."
Nilson José Machado