POSITIVO Nome da Garota:Jô
Fez Oral sem camisinha:SIM
Fez Anal:SIM
Beijou na Boca:SIM
Nota:10
Início da noite. Eu caminhava pela Lapa a esmo, como bala perdida que ainda não tinha encontrado um corpo vivo para se aninhar. Ia sozinho, olhando os antigos sobrados iluminados por lâmpadas de neon, pensando comigo sobre a Lapa da Belle Époque, uma sucessão de bordeis, muitos deles habitados por francesas famosas que dominavam o lazer sexual do Rio. Em 1920, a Lapa era conhecida como Montmartre carioca, devido aos grupos de intelectuais que se reuniam para beber na região, intelectuais do porte de Manual Bandeira, Villa-Lobos, Portinari, Di Cavalcanti. Cabarés, clube de jogos, prostitutas e travestis davam vida ao bairro do pecado. A Lapa era a alma libertina da cidade. Outra época, outros charmes. Imagine que diferença, afeiçoado forista, hoje você entra numa Terma do Centro e quando ela está cheia de gente, está cheia de ninguém. O mundo é dos medíocres. Havia também uma sequência de bares conhecidos como Chopes, estabelecimentos frequentados por malandros e com uma programação regular de pequenos espetáculos. São histórias que nos fazem pensar que nascemos na época errada, mas cada período tem a Belle Époque que merece. Veja, forista sem fé, havia um tipo de prostituta diferenciada que chamavam de hetera (do grego), eram mulheres sofisticadas que mantinham casos com clientes e serviam como boas companhias. É o elo perdido do Bop (baba-ovo de puta) contemporâneo. Infelizmente, a partir de 1940, a intensa e glamourosa prostituição do Centro foi sendo empurrada para o Mangue, numa onda moralista semelhante a que vivemos. A Lapa decaiu até ressuscitar capenga para a nossa geração.
Em meio a essas reflexões, entrei no Bar Brasil, lugar que frequento quase todas as semanas, para degustar da boa cozinha que praticam. Peço meu prato favorito, tomo meus chopes e encerro com o néctar dos Deuses batizado como apfelstrudel, uma torta de maçã regada a chantilly que nos prova que a vida vale a pena. Saio do Bar Brasil sublimado pelo paladar e caminho até o Bar das Quengas, foi próximo a ele que estacionei o Sucatão. Sento-me no bar, que conheci como pé-sujo de uma Lapa ainda em ruínas no início dos anos 90, peço uma dose de uísque, peço duas doses, alcanço a terceira e paro. Preocupado com a Lei Seca, arrisco ir com o Sucatão até a bucólica praça Afonso Pena, na Tijuca, de lá pego um táxi para a Vila Mimosa. Já contei aqui que conheci o último resquício da Vila Mimosa no Mangue, quando se resumia literalmente a uma vila insalubre, de casas caindo aos pedaços, no terreno onde hoje fica a estação do metrô do Estácio. Marafonas velhas e carcomidas desfilavam misturadas às garotas jovens e gananciosas. Um lugar feio, acuado, com todos os sinais de que margeava a extinção. A Vila Mimosa renasceu ao se transferir para a Rua Sotero Reis. A rua batizada com o nome de um gramático maranhense do século 19 se transformaria no maior curso de gramática da luxúria dos cariocas.
O Táxi me deixou na árida Rua Ceará por volta da meia-noite. Assim que finquei minhas botas nos paralelepípedos da zona, as luzes se apagaram. Blackout. Um detalhe sobrenatural chamava a atenção, o letreiro do Hotel Canário continuava aceso e refletia uma pálida luz azul dentro do breu, um farol fantasmagórico resistindo às trevas. Sem enxergar quase nada, fiquei parado, forçando a vista, tentando pressentir as presenças que vagavam ao redor. Enxerguei vultos, talvez espectros de libertinos ausentes que um dia transitaram por ali, talvez fantasmas vivos buscando o único destino permitido. Predominava um silêncio de surdo. Eu estava preso, não tinha como sair rompendo aquela escuridão, tive que aguardar os acontecimentos. De repente, a escassa iluminação da Rua Ceará volta a brilhar, ouço um berro de comemoração coletiva erguendo-se do nada. Apressei o passo e respirando forte adentrei na zona.
Fazia frio, um tempero inusitado para a noite carioca. Nuvens cinzas e escuras anunciavam chuva. A primeira vez que pisei na zona recém-instalada na Praça da Bandeira, fiquei extasiado, era uma festa diuturna. Todos os tipos de mulheres passavam por ali. Negras, morenas, loiras. Mulheres frias, calientes, mornas, algumas viciadas, outras alcoolizadas. Um caldeirão de gente que me fascinava. Passei perigos na zona, mas diante de uma ameaça surge o momento em que raciocino mais rápido e consigo contornar os riscos. Fui à Vila para entrar na Mosaico, que dias antes foi manchete no jornal Extra por conta do show de uma atriz pornô e do congestionamento de maníacos sexuais no local.
Não me canso falar sobre a deferência com que me tratam na maior boate da Mimosa. Já existiu ocasião de eu ter mesa em posição privilegiada e reservada com meu nome. Isso me provou que a diferença não é o lugar ou as mulheres, a diferença é a forma como tratam a sua presença. Os anos passam e continuo sendo considerado como um amigo da casa. Não é um gesto fugaz ou de ocasião, é um carinho perene pelo cliente. Por isso, nestes dias de pandemia, só tenho me arriscado a frequentar esporadicamente a Mosaico.
Faço aqui uma pausa para aquele forista que está reclamando dos meus longos relatos. Perceba, estimado companheiro das minhas viagens boêmias, como é possível aceitar que uma jornada pelas madrugadas seja narrada como se fosse uma ida a padaria? Vejo aqui camaradas que relatam o sexo como se fosse um trabalho universitário. Sinceramente, se minhas noites na vida se assemelhassem a um TCC, eu já teria cometido suicídio. Não, forista sem fé. O dia é uma rotina, mas a noite é o imprevisível. O dia é o mono, a noite é o estéreo. O dia é o barulho, a noite é a música. Eu não escrevo TDs, eu componho as sinfonias que ouço e vejo sob as estrelas.
Voltemos. A pista da Mosaico estava sortida de boas mulheres. Belos e diversos tipos femininos rebolavam na sinuosidade pecaminosa que preenche as mulheres da noite. Fui atrás da última menina que eu comi, mas não a encontrei. Pedi um martíni e fiquei paquerando. Avistei uma branquinha de cabelos negros, porte médio, bunda arrebitada e seios pequenos com o desenho de um par de peras. Bonita e sexy dentro de um fio dental microscópico. Convoquei a menina e conversamos por uns minutos. Joana seu nome. Paguei uma vodca. Alcova.
Dentro do quarto, nus, vi um corpo exuberante. Uma pele alvíssima, lisinha, imaculada. Sem marcas. Os seis durinhos e pequenos tinham bicos rosados que apontavam para o espaço sideral. Ela pediu que eu a chamasse de Jô e me deu um beijo avassalador, como poucas vezes recebi dentro de um puteiro. Beijo de fazer o pau levitar como faquir indiano. Deitei-me com o prego em riste e a barriga se espalhando como pudim fora da geladeira. Jô veio por cima, me conectou a sua tomada e se remexeu frenética, gerando descargas elétricas de alta tensão. Quase a nocaute, pedi que ela me chupasse. Se o beijo era espetacular, a chupada foi transcendental. Sim, afeiçoado forista, existem mulheres que não são uma transa qualquer, são experiências místicas. Jô é dessas mulheres. Fica de quatro e me lança um olhar fumegante. Jô respinga sensualidade. Molhou um dos dedos e lubrificou o cu, sem deixar de me encarar. Sempre fico em dúvida se o meu combalido pênis terá a devida potência para penetrar num ânus. Depois dos 50 não há certezas, só dúvidas. Consegui entrar naquele universo mágico que faz o portal do intestino grosso. Uma delícia. Jô gemia algo, como quem gosta de ser sodomizada. A resistência de um velho nunca é resistência, é sempre prorrogação. Gozei horrores. Gozei parte da alma. Caí desfalecido no colchão de origem duvidosa com respiração de infartado. Não, dileto forista. Não espere da Mosaico lençóis de cetim, travesseiros de pena de ganso, almofadas de veludo. A Mosaico é o mundo real, com mulheres reais, com orgasmos reais e imaginários. A Mosaico talvez seja um pedaço da alma da antiga Lapa que escolheu renascer na zona.
Fui caminhando de volta à Rua Ceará, pairava uma neblina fosca sobre tudo. Eu precisava pegar um táxi e resgatar o Sucatão na praça Afonso Pena. Fiquei em pé, sob o letreiro inapagável do Hotel Canário. Ser libertino não é uma escolha, não é um ensaio. Ser libertino é uma marca humana. Sou desses sujeitos que gostam de estar sozinhos, a minha companhia me basta. Não costumo andar em bandos nem aprecio. A solidão constrói a intensidade. Vejo um amarelinho se aproximando, faço sinal, o carro para. Antes de embarcar, tento enxergar além da neblina, não consigo. A madrugada é uma deusa que não revela o que o Sol desnuda. E o libertino é aquele que persegue os mistérios além da neblina. E o táxi enfurnou-se comigo no negrume do asfalto.