Fui caminhando, incerto do rumo que tomaria. Terça-Feira, dia que alguns velórios são mais festivos do que puteiros. Eu havia acabado de sair de uma reunião na Academia Brasileira de Letras, carregava nas ombreiras do casaco a poeira do tempo daquelas entidades quase centenárias que estiveram comigo. O inverno carioca tem sido glacial, talvez inspirado no coração de algumas putas.
Depois de vagar sem inspiração para atravessar a porta de qualquer bordel, parei num boteco na esquina da Rua do Acre com Marechal Floriano, uma artéria carcomida da região central que sobrevive aos escombros da cidade. No balcão, pedi uma dose de Salinas, pretendia aquecer o corpo e ganhar motivação fálica com minha cachaça preferida. A batalha se aproximava.
Rodeado por velhos sobrados cinzentos, ilhado num pé-sujo, a pele gelada pelo frio que dava ao cenário o toque londrino, um conjunto de elementos que faziam emergir das calçadas o torpor da melancolia. Acredite, forista sem fé, um libertino é composto muito mais por derrotas do que vitórias. Para você, valioso confessionário encarnado nesses olhos curiosos, posso admitir que já levei porrada, tombei embriagado em sarjetas obscuras, broxei mil vezes, mil vezes transei sem camisinha, lancei dinheiro ao ralo, amei vagabundas e fui enganado. Sim, afeiçoado leitor, um libertino é a confissão das cicatrizes, é a exposição das feridas ainda abertas, é a regeneração pelo sexo e pelas paixões promíscuas.
Eis que na terceira dose de Salinas eu a vi, a fugidia e vaporosa Felicidade flutuou pelo botequim como se me procurasse. A Felicidade ama os ébrios. Chamou-me pelo nome com a voz suave de sereia, puxou-me pela mão e me guiou até a 502, na Rua da Alfândega.
Os bordéis do Centro são como alpes suíços, mais afeitos às cabras e aos alpinistas. Mesmo trôpego pelo efeito do álcool, escalei os infinitos degraus da 502 e consegui alcançar a boate.
Poucos clientes e muitas mulheres coabitavam o salão. Não demorei muito para avistar uma morena sarada, num corpo em estilo atlético, pernas longas e afrodisíacas, barriguinha seca, cabelos presos num rabo de cavalo sexy, uma bunda explicitamente arrebitada que poderia estampar com louvor a capa da revista Playboy. Salivei... Como ela não se aproximava de mim, parti para o ataque. Perguntei seu nome: Verena.
Atualmente, a maioria das fêmeas dos nossos cabarés assemelham-se a pôneis insossos, mas Verena é uma cavalona puro-sangue capaz de intimidar os jóqueis mais experientes. Contou-me que era seu primeiro dia na casa e não sabia dizer se permaneceria pelo resto da semana. Vestia uma espécie de jaqueta decotada e aberta na frente, deixando seus pequenos seios durinhos à mostra. Durante a conversa, seus peitinhos espetavam meu braço, um par de agulhas descarregando a temperadíssima eletricidade da luxúria. Convoquei para a alcova.
Quando se despe da pouca roupa, Verena se revela uma escultura grega perdida nesta depressão tropical. Belíssima. Mergulhou em mim num boquete vertiginoso, a cabeça subindo e descendo numa chupada rapel. O tempo curto, eu tinha meia hora para mapear a geografia sinuosa daquela potranca efervescente. Inverti a posição e lambi a chana do monumento feminino deitado somente para os meus olhos, ela gemia baixinho, se contorcia, segurava minha cabeça com força. Pedi para que ficasse de quatro. Que paisagem! Se eu fotografasse, seria um cartão postal cobiçadíssimo pelos maníacos mundo afora. Penetrei-a devagar, sentindo o calor envolver meu pau, fui aumentando o ritmo das estocadas, ela passou a gemer alto, chamava-me de “meu amor”. Gozei. Uma ejaculação brutal. Desabei sem fôlego na cama. Que mulher! Totalmente demais!
Acertei a fatura na recepção. Quando vi a quantidade de degraus que teria que descer com as pernas trêmulas, fiquei frustrado por não poder voar.
A liberdade sem limites é um poder que poucos têm o privilégio de conhecer. Com o cavanhaque ainda cheirando a vagina, entrei no Sucatão, acionei o motor, liguei o rádio e desapareci sob o vulto imponente do relógio da Central do Brasil. Por uma dessas coincidências inexplicáveis da vida, o som que explodiu das caixas era Freedon...
Freedon