Cheguei ao Centro com o fim da tarde se pronunciando, havia um movimento frenético e alegre de pessoas deixando o serviço, o que comprova que o trabalho é uma exigência que só dignifica o patrão. Bebi um chope no balcão de um bar no Beco da Sardinha, o líquido geladíssimo rasgou minha garganta com a missão irrevogável de refrescar-me do calor. Havia uma euforia no ar, um sentimento que parecia incompreensível numa terça-feira. Iniciei minha romaria sexual subindo as escadas do Texas Show, o que encontrei no alto do sobrado foi um cenário composto por uma única mulher e nenhum cliente, recuei em fuga. Voltei a caminhar pela Marechal Floriano em direção à Central, no meio do percurso paro num boteco, peço uma cerveja, encho o copo e me entrego ao deleite momentâneo da meditação. Não se vive as delícias da existência sem que você interrompa por alguns instantes o fluxo histérico da rotina, é nessa essência que residem todos os orgasmos. Sim, forista sem fé, o libertino nasceu da filosofia, a filosofia da alcova.
Voltei à marcha e escalei as escadas da Afrodite. Havia algumas mulheres e clientes, avistei uma potranca alta e encorpada, dessas recheadas com aveia Quaker e suco de açaí, daquelas visões capazes de causar trombose peniana. Chamei-a para conversar. Ela se senta ao meu lado, peço que pegue um latão de Brahma e dividimos o álcool. Como de costume, pergunto o que ela não faz na cama e a menina me responde que não beija na boca... Intrigado, pergunto o porquê de só colocar restrição ao beijo na boca e ela me diz que é algo muito íntimo para se fazer num programa. Acredito que meu queixo sofreu uma queda tão vertiginosa que deve ter tombado até a Presidente Vargas. A puta pensa que é a Julia Roberts em “Uma Linda Mulher”. Inacreditável. Só faltou que eu acreditasse ser o Richard Gere para o delírio ser completo. Desisti da mulher e da Afrodite.
Decidi ir até o Club 26, uma casa relativamente nova que fica na Praça Monte-Castelo, 26. É ao lado da igreja da Rua Uruguaiana. A 26 não pode ser classificada exatamente como um trash, é uma casa com asseio, boa iluminação, organizada, tem algum conforto e boa decoração. É um estabelecimento intermediário, está entre os trashs e o que chamamos de primeira divisão. O elenco é de alta rotatividade, o que você vê hoje pode não reencontrar amanhã. Assim que entrei, uma mulata bonita, porte médio, foi se aproximando de mim num rebolado de enguia no cio. Gostei da menina à primeira vista. Sentou-se ao meu lado e começamos a conversar. Carla é seu nome, bunda bonita, seios pequenos, coxas grossas e um rosto atraente. A intuição me fez acreditar que é uma dessas mulheres que se entregam na cama. Não errei no julgamento. Fomos à alcova.
Os quartos da 26 são pequenos, mas extremamente limpos. Uma luz azulada num simulacro de lampião ilumina o cômodo. Carla tira a roupa e me tasca um beijo de interromper a respiração. Peço que ela se deite e vou lambendo seu corpo colorido em jambo até alcançar a vagina completamente encharcada pela excitação. A garota geme, torce o tronco, agarra minha cabeça com as coxas e exprime gozar. Deito e ela vem por cima me dando um banho de gata espetacular, sua língua explorou minha pele e minha alma. Deliciosa. Com o pênis quase atravessando a Via Láctea, peço que Carla fique de quatro, ela se posiciona empinando o rabo em direção às estrelas e eu a penetro com a ansiedade dos idosos. Poderia dizer que gozei, mas seria empobrecer o fenômeno. Eu explodi, acho que vi até a cascata do Hotel Meridian em algum remoto réveillon. Desabei nocauteado no colchão do cubículo.
Voltando para casa num vagão do metrô, pensei que viver talvez não tenha sentido se não descobrirmos que são os pequenos momentos de êxtase que dão brilho à vida. O êxtase não é uma ideia profunda, é um ímpeto, uma busca, uma fome insaciável dos que não se reprimem. Eros é a nossa essência e Platão ensina que “eros” é a procura do que nos faz falta. A textura de glúteos esféricos pode ser mais motivadora do que qualquer palestra do Leandro Karnal. Sim, o libertino nasce e renasce da filosofia e da contemplação. Afinal, o que é o orgasmo, senão o mais intenso nirvana. A próxima página ainda está em branco, mas é nela que talvez se inscreva a nossa maior aventura. Ousa, porque a vida é para os ousados.