O libertino também envelhece, mas é um envelhecimento diferente do homem comum, é um fenômeno peculiaríssimo. Imagine a criança que brinca numa casa, mas sem nunca deixar de ser criança, um Peter Pan libidinoso. O tempo passa, a casa começa a ficar carcomida, surgem goteiras, mofo nas paredes, rachaduras no teto, mas a criança continua ali, sempre criança, sempre peralta e inquieta. Sim, forista sem fé, assim é o libertino, o corpo envelhece, mas a alma rejuvenesce com a maturidade. A casa cai, mas o libertino continua ali, aprisionado como um eterno moleque jogando pelada no terreno baldio que restou. Quer identificar um libertino? Busque a alma, seja por trás do olhar de garoto ou disfarçada sob os cabelos brancos de um discípulo de Matusalém. A alma do libertino guarda a chama imortal da luxúria. O sexo é sua Terra do Nunca.
A noite de quinta-feira estava glacial, de ouvir dentes trincando pelas calçadas. Estacionei na Rua Ceará quando o relógio se aproximava da marca da meia-noite. Eu vestia um casaco escuro e um tênis de cano longo, o entorno da Vila Mimosa transpirava uma atmosfera noir. Tranquei o Sucatão e fui caminhando pela Sotero Reis, encontrei a zona vazia, poucos homens e ainda menos mulheres, quase uma cidade fantasma. É chocante ver a zona pouco frequentada, é como entrar numa igreja sem padres, sem missa. Percebendo que não encontraria nenhuma aventura, preferi retornar ao carro e procurar aventuras em outra região.
Aciono o motor, Sucatão ronca como um leão que desperta de sono profundo, ligo o rádio e uma batida conhecida emerge das caixas de som, Sympathy For The Devil, com The Rolling Stones. Acelero e os pneus ganham a escuridão do asfalto rasgada pelo clarão dos faróis do automóvel. Você tem razão, afeiçoado colega, a partir de agora qualquer aventura é possível...
Sympathy for the Devil
Desemboco na Av. Francisco Eugênio, havia um grande fluxo de carros, predadores atrás de mulheres da pista. Segui a corrente e fui obrigado a parar diante de uma retenção do trânsito. Nesse momento, batem no vidro do carona, uma mulata me gesticulava do lado de fora, queria dizer alguma coisa. Abro a janela. A menina era bonita, lábios carnudos, cabelos cacheados e um insinuante par de seios que convidava minha boca para um mergulho de fôlego. Afroescultural.
– Vamos esquentar o frio, amor? – Ela fala.
A princípio, eu não estava muito interessado, mas decidi perguntar os valores.
– Amor, é 50 reais o boquete e a gente pode ir a uma garagem aqui do lado pra ficar mais à vontade e com segurança.
Uma garagem... Certa vez uma puta de Copacabana me levou para dentro de uma garagem de um prédio na Av. Atlântica, o porteiro alocava vagas para as sacanagens da alta madrugada. A mulata passou a língua pelos lábios que me fez quase sentir a sua boca deslizando pelo meu pênis. Irresistível. Aceitei a proposta e ela entrou no carro. Confesso, tenho muitas restrições em pegar garotas de pista atualmente, considero arriscado, com possibilidades de ciladas perigosas. Mas arrisquei, porque a vida é para os ousados.
Ela me indicou o caminho, entramos numa perpendicular ao lado de um posto de gasolina, saindo de frente para a Quinta da Boa Vista. Entro na penumbrosa garagem, várias moças se concentravam no local. A mulata cochicha alguma coisa com um sujeito e ele aponta para o fundo, mostrando onde devíamos estacionar. Apesar da pouca luz, vi que minha acompanhante estava de microssaia justa, deixando expostos os dois nacos de coxas roliças que sustentavam seu corpaço de pé. Ela foi logo tirando a blusa e o sutiã, me ofereceu os peitões e eu caí de boca como um andarilho desidratado que vagou 10 dias pelo deserto. Chupei muito aqueles seios bonitos e duros. Creia, meu companheiro, os peitos da mulata pareciam duas pedras ornadas por mamilos macios. Ela puxou meu cinto, abriu meu zíper, arriou minha calça e abraçou meu pau com a boca gulosa, sem piedade, determinadíssima a extrair a última gota viva de sêmen.
Escutei Amy Winehouse invadindo o carro cantando Rehab...
Rehab
Explodi na boca da mulata com a potência de uma caixa de bananas de dinamite, a menina recuou a cabeça, assustou-se com o forte esguicho de espermas que recebeu na garganta. Eu só conseguir pronunciar uma expressão, sôfrego e arfando:
– Puta que pariu...
Acertei as contas com a moça e manobrei o Sucatão para o seu habitat natural, as ruas. Gozei tanto que meu coração ainda palpitava forte. Que boquete!. Pego o viaduto, desço ao lado do Maracanã e a estátua do Bellini me saudou erguendo a Jules Rimet. As luzes de vapor de mercúrio refletiam a palidez da noite, o céu continuava recoberto por nuvens cinzas e escuras, o rádio permanecia ligado. Aumentei o volume e Beat It acordou meus ouvidos na voz de Michael Jackson.
Beat It
Senti vontade de parar e dançar. Não, não direi se me entreguei ou não ao embalo do som, estimado leitor, ainda não criamos intimidade para confissões sobre os nossos ridículos impulsos. O que posso prometer é que a saga continuará e a minha criança prossegue saltando eufórica na casa cuja tinta está desbotando e o verniz se soltando da madeira. O tempo e a gravidade tentam nos esmagar, mas o legítimo libertino desafia até as leis da física. I'll be back...