SAÚDE
Resultado de pesquisa aponta risco menor de infecção em homens com cirurgia
Estudo sugere circuncisão contra Aids
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Pesquisadores financiados pela Agência Nacional de Pesquisas sobre Aids da França divulgaram ontem, no Rio, resultados de um estudo que comprova que a circuncisão em homens diminui consideravelmente o risco de infecção por HIV nessa população.
Para representantes da Organização Mundial da Saúde e da IAS (sigla em inglês da Sociedade Internacional de Aids), os resultados da pesquisa indicam que a circuncisão pode ser uma estratégia eficaz para diminuir os riscos de contaminação entre homens, mas isso não deve substituir outras estratégias de prevenção.
O estudo foi apresentado na 3ª Conferência da IAS sobre Patogênese e Tratamento de HIV/Aids, que acontece no Rio de Janeiro. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores escolheram um grupo de 3.274 jovens do sexo masculino entre 18 e 24 anos no bairro de Orange Farm, na província de Gauteng, na África do Sul. Entre 2002 e 2005, esses jovens, todos sexualmente ativos, foram divididos em dois grupos iguais: um formado pelos que, voluntariamente, aceitaram ser circuncidados e outro pelos que não se submeteram à prática. Todos receberam preservativos.
Após 21 meses de acompanhamento, os pesquisadores concluíram que o número de infectados pelo HIV entre os circuncidados foi de 18 jovens, praticamente um terço do verificado entre os demais: 51. O coordenador do estudo, Bertran Auvert, disse que os resultados foram tão significativos que, por razões éticas, todos os demais foram circuncidados após a conclusão de que a taxa de infecção era muito mais baixa entre os que foram voluntários.
Para confirmar que os resultados na África do Sul podem ser verificados em outros países, o mesmo estudo está sendo feito em Uganda e no Quênia. O continente africano foi o escolhido por ser o que tem a maior proporção da população infectada pelo HIV.
Embora festejada, os organismos internacionais e os próprios autores alertaram que a estratégia tem que ser adotada com cautela.
"Os resultados indicam que essa estratégia pode representar um grande avanço nas técnicas de prevenção ao HIV, mas isso ainda não deve ser utilizado em larga escala pelos governos antes que outras pesquisas confirmem, em diferentes condições, os resultados desse estudo", disse ontem Helene Gayle, presidente da IAS. Outra preocupação dos pesquisadores é que, ao serem divulgados os resultados dessa pesquisa, passe-se a falsa imagem de que a circuncisão é um método 100% eficaz.
No caso da circuncisão masculina, o método se mostrou eficaz para redução do contágio de homens em relações heterossexuais. Não há nenhuma evidência, no entanto, de que a circuncisão feminina diminua os riscos de contágio por parte da mulher.
Uma das explicações técnicas para o número menor de infecção entre circuncidados é que a prática já é conhecida por diminuir o contágio de outras doenças sexualmente transmissíveis e diminuir o período de cicatrização de feridas no pênis.
Segundo o infectologista David Uip, da diretoria do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo, estudos já comprovaram que a circuncisão é profilática não apenas na transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids, como também para o câncer de pênis.